Maraãvilhosos,
O quadro acima é de autoria da Antonia Angela, de 4 anos, pintado em 10.09.14! Não saiu ao pai? Risos.
Maraãvilhosos,
Uma historinha do eixo Maraã-Manaus:
Poesia: deleite-se ou delete-me (29.08.14).
Maraãvilhosos,
Maraãvilhosos,
Uma nova história de Maraã.
(O trecho é das memórias de uma conversa com uma amiga).
- Depois desse episódio, mas não por sua causa, fui estudar na cidade de Tefé. Morava na casa da minha tia Hagar, por ironia do destino ela me acolherá em sua casa em Manaus no meu primeiro ano de faculdade, quando fui “despejado” da casa do meu avô. Fiquei pouco tempo, não sei o motivo, e voltei para Maraã. Quando lá cheguei, fui matriculado na primeira série. Em Maraã estava sendo implantada a educação regular, paralelamente ao funcionamento do MOBRAL. Para lá acorreram os professores: Darcy, Gerson e Gilda, os primeiros a ocuparem a casa invadida pelo Oswaldo...
- Com sua ajuda!
- Sem detalhes, querida.
- Tens vergonha do teu passado?
- Claro que não. Se tivesse não estava te contando. Mas o certo é que fui matriculado na primeira série do primeiro grau. Meu professor era um senhor que não era do grupo dos professores que lá chegaram. Trabalhava na companhia de energia e foi aproveitado como “maestro”, seu nome, João Batista. Era um chato. Só que, minha irmã Júlia e o meu amigo França Pachola, que sabiam menos do que eu, estavam na segunda série. Aquilo era uma injustiça, mas eu não sabia como repará-la. Certo dia, na sala de aula, meu lápis quebrou a ponta e eu não tinha apontador. Comecei a roer a madeira do lápis para aparecer o grafite. Minha boca começou a ficar cheia de madeira e saliva. Eu não podia cuspir e comecei a ficar inquieto. O professor viu e perguntou o que estava acontecendo. Eu não podia falar e tentei me comunicar por gestos: mostrava o lápis e apontava para minhas bochechas alargadas e fazia grunidos incompreensíveis. O professor não teve dúvidas, me expulsou da sala e me mandou para a diretoria. No caminho consegui cuspir a nojeira e fui conversar com a diretora, a professora Darcy Barbosa Litaiff. Ela me perguntou o que tinha acontecido e eu narrei a história real e, no final, falei da injustiça da qual estava sendo vítima. Ela me disse que ia fazer um teste comigo, se eu respondesse tudo corretamente, iria para a segunda série. Não deu outra. No dia seguinte eu já estava na segunda série.
- A safadeza, às vezes, compensa!
- Eu não fiz safadeza, simplesmente eu não tinha apontador.
- Realmente, desculpe, no seu caso não foi maldade. Se é que estás contando-me a verdade.
- E eu teria motivos para mentir?
- Sei lá! Nunca se sabe!
- Esta foi uma das etapas que pulei na vida. Um dia te conto outra, só te adianto que tem a ver com minha transferência escolar quando fui para Manaus.
- Não pode ser agora?
Dica de leitura: “Sócrates, um filósofo bastardo” (em: http://www.osoriobarbosa.com.br/node/585). O título, em si, já é provocativo, a despeito dos portugueses, como é o caso do autor, ser comedido no uso das palavras.
A foto abaixo (e a arrumação do cenário) é minha:
A foto é de 1986 (dia de uma eleição) e está no Bar e Restaurante Violeta, na rua Augusta. A Erdinger não me pagou nada! (rs).
Abraços,
Osório
POEMEMOS:
e,
Falemos baixo nesta alcova...
Falemos baixo nesta alcova
em que as horas estão paradas.
O relógio diz qualquer coisa
a nossas almas abraçadas.
Eis aqui a Lâmpada e o Livro,
dos pobres o único portento.
O relógio nos diz que a vida,
o amor, a luta, o sofrimento.
Falemos baixo. Nesta alcova,
o silêncio entreabre-se em flores.
O relógio nos diz que a vida
é feita de pranto e amores.
Ao nosso lado, o Sonho inclina
seu olhar claro, que se fana.
Enquanto isso, o tempo caminha
(Oh!, o ruído da luta humana.)
Autor: Henry Spiess. Tradução de Carlos Drummond de Andrade
MASSI, Augusto, GUIMARÃES, Júlio Castanon (org. e nota). Poesia traduzida: Carlos Drummond de Andrade. Introdução de Júlio Castanon Guimarães. - São Paulo: Cosac Naify, 2011. p. 355.
e,
Sabedoria
O sábio não é sábio verdadeiro
Se à visão interior cerrar os olhos.
Sábio é seguir o coração. Sem mapa,
colombo achou um mundo entre os abrolhos.
Autor: George Santayana. Tradução de Carlos Drummond de Andrade
MASSI, Augusto, GUIMARÃES, Júlio Castanon (org. e nota). Poesia traduzida: Carlos Drummond de Andrade. Introdução de Júlio Castanon Guimarães. - São Paulo: Cosac Naify, 2011. p. 351.
Maraãvilhosos,
Paulo Vanzolini, mestre saudoso, era genial, todos sabemos, pode ser visto no endereço abaixo indicado, de onde colhi as duas pérolas a seguir:
"A mata é uma dessas coisas em que o todo é mais que a soma das partes". (Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=U2nosFwKxoI).
e,
"O povo de cada um pessoalmente eu não gosto, mas do poro em geral em gosto muito". (Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=U2nosFwKxoI).
Você sabe quem é o autor desta maravilhosa dedicatória? Se sim, me diga.
Já aconteceu de você, durante o sonho, ter ideias brilhantes que você, com preguiça de ir anotar, jura que de tão brilhanete jamais a esquecerá? Comigo vive acontecento isso!
E as coisas que guardamos com tanto carinho que depois não sabemos onde está?
Pois é! A dedicatória acima é de um escritor famoso, razão pela qual "eu jamais me esqueceria" de quem se trata. Ledo engano!
Fotografei ainda uma página do livro que contem as seguintes estrofes:
"Vem chuva de outovno
tornar o seu unforme
mais pesado ainda.
Amargura e raiva -
eu cuspo negros, as pevides
negras da melancia.
Estrelas brilham no céu -
na terra, mulher curvada
ao saco de comida."
Imagine, caso ocorre o absurdo de eu esquecer quem era o autor, socorrer-me-ia da internet. Digitei e... nada!
Abraços,
Osório
POEMEMOS:
Estradas
A você, ilustre sabido.
Que interrogou o meu fim,
Digo que não sei saber a vida
Que levam os ladrões e as mendigas;
Mas sei dum trem sem trilhos
Que corrompe alguns caminhos
Pondo trombas em passarinhos
E asas em andarilhos.
Autor Antonio Luiz Junior (Tony).
e,
Trato do homem
Maria andava elegante
Dentro de uns trapos que tinha
No acalcanhado pisante
Tinha um pisar de rainha
Viçosa e petulante
Morando comigo na beira da fome
Diga ireide o que quiser,
O que mais enfeita a mulher
Ainda é o trato do homem
Maria largou de mim
A fim de subir na vida
Deu certo ninguém duvida
Porém não completamente
Quem é do jogo bem sente
Que alguma coisa lhe falta
Maria levou pra alta, viva cidade ternura
Um rosto que é uma pintura
Um corpo que é um desacato
Só esqueceu de levar, colega,
A mão que lhe dava o trato.
Autor: Paulo Vanzolini.
(quem desejar ouvir: https://www.youtube.com/watch?v=QXCFhCi-9zs)
e,
A bunda, que engraçada
A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.
Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora – murmura a bunda – esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.
A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.
A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.
Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar
Esferas harmoniosas sobre o caos.
A bunda é a bunda
redunda.
Autor: Carlos Drummond de Andrade.
(para ouvir: https://www.youtube.com/watch?v=XQbxqY2QtHc)
Maraãvilhosos,
Sempre achei que poesia e futebol rimam, e a pena de Eduardo Galeano retratando o retratado acima comprova esta afirmativa. Vejam:
Garrincha
Algum de seus muitos irmãos batizou-o de Garrincha, que é o nome de um passarinho inútil e feio. Quando começou a jogar futebol, os médicos o desenganaram: diagnosticaram que aquele anormal nunca chegaria a ser um esportista. Era um pobre resto de fome e de poliomielite, burro e manco, com um cérebro infantil, uma coluna vertebral em S e as duas pernas tortas para o mesmo lado.
Nunca houve um ponta-direita como ele. No Mundial de 58, foi o melhor em sua posição. No Mundial de 62, o melhor jogador do campeonato. Mas ao longo de seus anos nos campos, Garrincha foi além: ele foi o homem que deu mais alegria em toda a história do futebol.
Quando ele estava lá, o campo era um picadeiro de circo; a bola, um bicho amestrado; a partida, um convite à festa. Garrincha não deixava que lhe tomassem a bola, menino defendendo sua mascote, e a bola e ele faziam diabruras que matavam as pessoas de riso: ele saltava sobre ela, ela pulava sobre ele, ela se escondia, ele escapava, ela o expulsava, ela o perseguia. No caminho, os adversários trombavam entre si, enredavam nas próprias pernas, mareavam, caíam sentados.
Garrincha exercia suas picardias de malandro na lateral do campo, no lado direito, longe do centro: criado nos subúrbios, jogava nos subúrbios. Jogava para um time chamado Botafogo, e esse era ele: o Botafogo que incendiava os estádios, louco por cachaça e por tudo que ardesse, o que fugia das concentrações, pulando pela janela, porque dos terrenos baldios longínquos o chamava alguma bola que pedia para ser jogada, alguma música que exigia ser dançada, alguma mulher que queria ser beijada.
Um vencedor? Um perdedor com boa sorte. E a sua sorte não dura. Bem dizem no Brasil que se merda tivesse esse valor, os pobres nasceriam sem cu.
Garrincha morreu sua morte: pobre, bêbado e sozinho.
Autor: Eduardo Galeano, Futebol ao sol e à sombra, L&PM, Porto Alegre, 2013, p. 106/107.
A FLIP deste ano homenageia Millôr Fernandes. Um artista das ruas de São Paulo não deixo o evento passar em branco. Olhem:
Outra das ruas de São Paulo:
Aliás, quem anda fazendo sucesso em São Paulo é...
Mas, também:
O autor desta maravilha é chileno! Esqueci o nome dele, mas, em breve, lhes direi, pois irei anotar! A idade, sabe como é que é!,
Mas nem só de racionalidade e beleza vive São Paulo. A besta também se solta por aqui, como ocorre, naturalmente, onde quer que esteja o ser humano. Cabe a nós nos policiarmos sem o cassetete dos outros. Vejam o exemplo do “a que ponto chegamos”:
Poderia fazer várias perguntas sobre o acima, mas deixo apenas estas:
1 – Cantada de “sapatão” também é assédio?
2 – E se a cantada der resultado? O cantador deve ser enforcado?
3 – Mesmo a sapatão que escreveu e/ou apoia a idiotice acima resistiria a uma cantada de um Brad Pitt?
Tem horas que o mundo ora, mas não reza!
Obs.: palavras de baixo calão, apenas e quando estritamente necessárias, pois meus filhos leem o que costumo escrever. E se não quero para eles, não quero para os seus.
Abraços,
Osório
POEMEMOS:
Cabocla,
quero muito sentir teu cheiro de terra molhada,
teu sabor de frutas frescas,
olhar contigo o verde do campo entranhando-se no azul do céu...
Tudo isso encontrarei em nosso longo beijo de boca.
e,
Desencontros
Eu parti
Ela chegou
Perdeu eu
Perdeu ela
Ficou triste o amor.
São Paulo-SP, 10.05.04.
e,
Fimdetarde
O sol se foi...
A noite chegou e com ela trouxe os meus fantasmas.
Sobressaltos, assombrações, vertigens e medo compõem a paisagem vista pelos meus pensamentos.
Solidão, angústia, sofrer.
Onde está o teu sorriso para acordar-me desse pesadelo que é a vida quando estás ausente?
Búzios-RJ, 10.08.02.