Protágoras Fragmentos

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Protágoras de Abedera.

 

PROTÁGORAS (Nasceu em Abdera. Viveu aproximadamente entre 492/0-422/1 a.C. É filho de Meândrio, embora seja tal informação duvidosa)

 

Seu pai teria sido um homem rico que tivera a oportunidade de receber em sua casa Xerxes, rei da Pérsia, quando ocorreu a invasão da Grécia (480 a. C.). Reconhecido pela hospitalidade, o rei proporcionara a Protágoras desfrutar, na sua juventude, da educação dos magos persas. O contacto com aquela cultura influiu nas suas ulteriores posições religiosas, supõe-se.

 

Os magos persas não educam os que não são persas, a não ser por ordem do rei.

 

Viveu cerca de setenta anos, quarenta dos quais dedicados à profissão de sofista.

 

Foi conselheiro de Péricles. Na sequência desta relação de amizade, foi encarregado, em 444-443 a.C., de redigir a Constituição de Túrio, colônia pan-helênica na Magna Grécia (hoje sul da Itália).

 

Quanto à proximidade entre Protágoras e Péricles, é Plutarco, no seu Péricles, quem informa. “Quando um determinado indivíduo, no pentatlo, atingiu involuntariamente com um dardo Epítimo de Farsália e o matou, [Péricles] passou um dia inteiro a discutir com Protágoras se, segundo o juízo mais correcto, se deviam considerar como culpados do funesto acontecimento o dardo, o lançador de dardo ou os organizadores dos jogos.

 

Por causa das opiniões que expressou no começo do tratado Dos Deuses, foi movido contra ele um processo por impiedade e no prosseguimento do mesmo, teria sido expulso de Atenas e banido do território grego, ao mesmo tempo que os seus livros eram confiscados e queimados na praça pública. Segundo um relato recorrente em múltiplas fontes, morreu afogado num naufrágio no decurso da viagem marítima que se seguiu à condenação. O prestígio de que gozou entre os seus contemporâneos e, posteriormente, na época helenística, explica que a sua estátua figurasse no grupo dos filósofos ilustres, diante de um conjunto de estátuas de poetas igualmente famosos, descobertas no Egito, em 1951, nas escavações arqueológicas de Mênfis.

 

Filócoro conta que, durante a viagem que fez por mar, em direção à Sicília, o seu barco se afundou; a isto alude Eurípides no seu Ixíon. Alguns dizem que morreu na viagem, depois de ter vivido cerca de noventa anos. Apolodoro afirma, pelo contrário, que morreu com setenta anos e que exerceu o ensino sofístico durante quarenta anos, estando no seu apogeu por alturas da 84ª Olimpíada.

 

Era um sofista, mestre na arte política (techne politike), ensinando aos seus discípulos a forma de excelência (arete), que se manifesta na prudência (euboulia), que torna os homens capazes de intervir com êxito nas diversas situações correntes da vida, no plano doméstico e no plano público, não só através das palavras proferidas como através das ações. Com efeito, ao comprometer-se a educar os jovens para o exercício da cidadania, o modelo de paideia [educação] que orienta o seu magistério assenta no primado da cultura geral e das artes do logos, tidas como indispensáveis aos participantes nas atividades da polis.

 

São-lhe atribuídas as seguintes obras:

 

Arte da Erística,

Da Luta,

Da Matemática,

Do Estado,

Da Ambição,

Das Virtudes,

Da Situação Originária,

Sobre os que estão no Hades,

Dos Erros Humanos,

Discurso imperativo,

Ação judicial sobre o pagamento de honorários,

Antilogias.

 

Este catálogo é informado por Diógenes Laércio.

 

As fontes nas quais o estudioso deverá fundamentar-se sobre Protágoras são os testemunhos de Platão, de Aristóteles e de Sexto Empírico, não podendo deixar de atender aos condicionalismos dos diferentes autores.

 

No que respeita a Platão, a doutrina segundo a qual o homem é a medida de todas as coisas perspectiva-se no âmbito da problemática epistemológica do conhecimento verdadeiro. No atinente a Aristóteles, a discussão da tese, atribuída ao sofista de Abdera, acerca da possibilidade de formular discursos antitéticos sobre quaisquer realidades era encarada à luz da preocupação de salvaguardar o princípio da não contradição, condição sine qua non da ontologia e da ciência. Na óptica de Sexto Empírico, representante do cepticismo nos séculos II-III d.C., o que se punha em causa, de forma mais premente, eram as consequências corrosivas que, no plano metodológico, a defesa da verdade de todas as opiniões trazia consigo, quanto ao critério de distinção entre o verdadeiro e o falso.

 

As teses protagóricas são:

 

1 - a preocupação com a correção dos nomes;

 

2 - a tese de que não é possível contradizer;

 

3 - a defesa da enunciação de juízos antitéticos sobre todas as coisas;

 

4 - a doutrina do homem como “medida” das coisas;

 

5 - a arte de tornar mais forte o argumento mais fraco.

 

Ditos e feitos de Protágoras:

 

a) “De todas as coisas o homem é a medida das que são que são, das que não são que não são”;

 

b) “Não posso saber se os deuses existem ou não existem nem que forma têm. Muitas coisas impedem esse saber: a obscuridade do assunto e a brevidade da vida humana”;

 

c) Dizia que a alma nada mais é do que as sensações, conforme afirma Platão no Teeteto;

 

d) Afirmava que tudo é verdadeiro;

 

e) Foi o primeiro a afirmar que sobre todos os assuntos existem dois argumentos antitéticos entre si e utilizou-os, arguindo mediante perguntas e respostas, prática que ele iniciou;

 

f) Foi o primeiro a distinguir os tempos do verbo;

 

g) Expôs a importância do momento oportuno;

 

A doutrina do kairos, “momento oportuno”, associada à tradição pitagórica, é expressamente atribuída a Górgias e constitui um elemento muito importante da retórica sofística em geral, na medida em que o sucesso da prática persuasiva advinha, de maneira decisiva, da ajustada captação do tempo favorável à intervenção. A valorização da “ocasião propícia” representa uma noção qualitativa de temporalidade, muito importante no uso adequado do discurso.

 

h) Tratou de organizar debates e a introduzir artifícios lógicos para os que se dedicam às disputas;

 

Orgaqnizar o debate trata-se dos “combates de argumentos” ou “discursos”.

 

i) E, pondo de parte o sentido, centrou-se nos nomes e assim criou este gênero de discursos erísticos.

 

A tradução proposta não é consensual, mas, ao traduzir dianoia por “sentido”, entende-se “o conteúdo de pensamento” a que o termo se reporta, em contraposição à consideração meramente verbal das palavras em si mesmas. Untersteiner verte da seguite maneira: “Protágoras deixando de parte o conteúdo do pensamento, estabeleceu a discussão na palavra, dando origem à atual raça superficial de erísticos”. Uma leitura distinta é feita por Carl Joachim Classen. Sobre a distinção entre “dialéctica, antilógica e erística”, veja-se o esclarecedor cap. 6 da obra de G. B. Kerferd, The Sophistic Movement, cit., pp. 59-67 [esta obra já está traduzida para o português].

 

j) Foi o primeiro a propor o gênero socrático de argumento. [Osório diz: na verdade, parece que é o contrário. Sócrates usa o gênero protagórico!].

 

l) Foi também o primeiro a usar na discussão o argumento de Antístenes que tenta demonstrar que não é possível contradizer, conforme Platão diz no Eutidemo. [Osório diz: na verdade, parece ser o contrário. Antístenes usa o argumento protagórico].

 

m) Foi ainda o primeiro a criar métodos de refutação às teses propostas, como diz o dialético Artemidoro, na sua obra Contra Crisipo.

 

n) E foi o primeiro a inventar a chamada “rodilha de transporte”, sobre a qual se colocam os fardos, como diz Aristóteles na obra Da Educação; era de fato um carregador, como também diz algures Epicuro; e, deste modo, foi enaltecido por Demócrito que o viu a juntar lenha. [Osório diz: estas afirmativas parecem conflitar com as de que seu pai era rico!].

 

o) Foi o primeiro a dividir o discurso em quatro partes: pedido, pergunta, resposta, ordem (para outros, pelo contrário, em sete: narração, pergunta, resposta, ordem, exposição, pedido, intimação), a que também chamou fundamentos dos discursos. Mais tarde, Alcidamante fala de quatro partes do discurso: afirmação, negação, interrogação, alocução.

 

Conta-se que uma vez, depois de ter reclamado o pagamento ao seu discípulo Evatlo que dizia: “mas eu ainda não alcancei uma vitória”, ele retorquiu: “mas se eu te vencer nesta disputa devo receber pagamento, porque a venci; se a venceres tu, devo receber pagamento, porque tu a venceste”.

 

p) Foi o primeiro a introduzir o uso da discussão mediante remuneração e transmitiu-o aos Gregos, fato que não é censurável, pois esforçamo-nos mais pelas coisas que pagamos do que por aquelas que obtemos gratuitamente.

 

Platão escreveu um diálogo sobre ele, cujo título é Protágoras.

 

Protágoras não só defende a possibilidade do ensino da excelência, como auto-reclama que é um bom mestre, garantindo ao discípulo uma progressão diária na aprendizagem. A forma verbal usada, “epididonai”, corresponde à ação de “se acrescentar”, adequada à ideia de “progresso”, para a qual a língua grega não dispõe de um vocábulo específico. Esta noção é reforçada pela afirmação de que tal expansão se realiza no sentido do melhor (epi to beltion).

 

Platão, no Protágoras, 328 b, faz o personagem dizer: “Por essa razão, eu determinei a seguinte maneira de combinar o pagamento: sempre que alguém aprender comigo, se quiser, dá-me o dinheiro que eu estipulo; se não quiser, entrará num templo, sob juramento, e deixará tanto quanto declara corresponder ao valor dos ensinamentos.”

 

Este passo foi interpretado por muitos estudiosos como um argumento a favor da coexistência das posições protagóricas com o respeito pela religião tradicional, dado o reconhecimento do carácter vinculativo do juramento proferido no templo; ressalta, assim, que o agnosticismo professado por ele não implicava qualquer forma de ateísmo.

 

Protágoras propõe-se ensinar a euboulia (prudência, bom conselho, sensatez), a fim de que, desenvolvendo a sabedoria prática, o jovem se torne capaz de intervir adequadamente no plano doméstico e no plano público que com palavras quer com acções. Essas oposições – privado/público, palaras/ ações – reaparecem constantemente como lugares-comuns na representação helénica das coisas.

 

Num procedimento habitualmente utilizado, Sócrates sintetiza incisivamente o ponto de vista do interlocutor: Protágoras reconhece ser mestre de arte política (tecnh politikh) e compromete-se, de facto, a educar os demais na cidadania, fazendo dos homens bons cidadãos (agaqouz politaz).

 

Protágoras autodeclara-se “sofista”, e as características associadas a tal nome são as que convergem na definição extrínseca do mesmo sofista: em primeiro lugar, pela função exercida e pelo seu respectivo estatuto como professor de cultura geral e de excelência (paideusewz kai aretZz didaskalon); em segundo lugar, por receber remuneração (mioqon) pela prática desse ofício.

 

Platão, no Protágoras, 329 b., faz Sócrates dizer: Protágoras aqui presente é capaz de proferir longos e belos discursos, como se torna evidente, e é também capaz, quando interrogado, de responder com brevidade; e, se é ele o que interroga, é capaz de aguardar pacientemente e aceitar a resposta, mérito manifestado por poucos.

 

Ainda Platão, no Ménon, 91 d., por SÓCRATES diz: “Eu sei que um só homem, Protágoras, adquiriu mais riquezas por causa do seu saber do que Fídias, que, de forma brilhante, produziu obras belas, e do que outros dez escultores”. Depois continua: (91 e). “Mas Protágoras, às ocultas de toda a Grécia, corrompia os discípulos e mandava-os embora piores do que quando os recebia; fê-lo durante mais de quarenta anos. Penso que este homem morreu perto dos setenta anos, tendo passado quarenta na sua profissão. E durante todo este tempo, até ao dia de hoje, não deixou de gozar de uma boa reputação.

 

Fídias, escultor ateniense a quem se devem os frisos do Pártenon e as monumentais estátuas de Atena e de Zeus, entre muitas outras obras de arte, foi contemporâneo de Protágoras, fazendo também parte dos meios intelectuais e artísticos ligados a Péricles. Nasceu, assim, por volta de 490 a.C. Sócrates critica a desproporção dos proventos recebidos pelo ilustre artista e pelo sofista, cuja ação, alegadamente educativa, teve efeitos perniciosos junto de gerações sucessivas de jovens.

 

A acusaão de Platão no Ménon, contradiz aquilo que Protágoras dizia acerca do seu próprio ensino, comprometendo-se perante os seus futuros discípulos quanto aos resultdos positivos que, dia após dia, estes alcançariam no sentido do melhor. Cf. A 5.

 

Platão, no Crátilo, 385 e segs., faz Sócrares repetir: “Como Protágoras sustentava ao dizer que o homem é a medida de todas as coisas, tal como as coisas me parecem ser, assim elas são para mim; tal como elas te parecem a ti, assim elas são para ti”.

 

Sexto Empírico, nos Esboços Pirrônicos, 1, 216 e segs., explica: Com “medida” quer dizer “critério” e com “coisas” quer dizer “objetos”. Assim, ele pode afirmar que o homem é o critério de todas as coisas, das que são que são, das que não são que não são. Também por causa disto estabelece apenas o que aparece a cada um e assim introduz o princípio da relatividade. Os homens, no entanto, apreendem umas vezes uns aspectos, outras vezes outros, consoante as suas diferentes disposições: aquele que tem uma disposição conforme com a natureza apreende na matéria os aspectos que podem aparecer aos que têm uma disposição conforme com a natureza; aquele que tem uma disposição contra a natureza apreende os aspectos que podem aparecer aos que têm uma disposição contra a natureza. (219) O mesmo raciocínio se aplica à idade e conforme uma pessoa está adormecida ou desperta, conforme, portanto, toda a espécie de variação individual. De fato, segundo Protágoras, o homem é o critério das coisas que são. Todas as coisas que aparecem ao homem existem, as que não aparecem não existem.

 

Ao admitir apenas ta jainomena”, “as coisas como aparecem a dada um”, introduz “to proz ti”, ou seja, “o com relação a...”, correspondendo tal princípio a considerar que os juízos sejam correlativos aos pontos de vista de cada indivíduo.

 

As razões (touz logouz) de todos os fenômenos (panwn twn jainomenwn) encontram-se subjacentes na matéria (en tZi ulhi), pelo que a matéria tem a capacidade, na medida das suas potencialidades, de ser tudo o que aparece a todos os indivíduos.

 

Diz Sexto Empírico, no Contra os Matemáticos, 7, 389. “Não se pode dizer que toda a aparência é verdadeira, porque o argumento pode ser voltado contra ele próprio, como ensinavam Demócrito e Platão, objetando a Protágoras: com efeito, se toda a aparência é verdadeira, também a opinião de que nem toda a aparência é verdadeira, fundada na aparência, será verdadeira; e, assim, a opinião segundo a qual toda a aparência é verdadeira tornar-se-á falsa”.

 

Subentende-se “que é” para cada um “isso” que para cada um “parece ser”, sem que tal implique uma tomada de posição quanto à realidade objetiva das coisas, existentes em si mesmas. Para o sofista, o que estaria em causa seria a verdade dos fenômenos que se apresentam ao sujeito como correlato imediato da sua percepção das coisas, sem assumir, a partir daí, uma posição explícita sobre a natureza destas. Por conseguinte, consideramos plausível a interpretação das teses de Protágoras como uma forma de relativismo, baseado na defesa de múltiplos pontos de vista verdadeiros sobre os objetos que nos são dados na experiência.

 

Platão, no Eutidemo, 286 b-c., faz Sócrates afirmar: “Mas tendo eu ouvido de muitos e muitas vezes este argumento de que não é possível a contradição, fico sempre admirado. Também os discípulos de Protágoras e os pensadores ainda mais antigos fazian uso dele. A mim parece-me que ele é estranho e que subverte não só os outros argumentos como também se subverte a si próprio. Aristóteles, Metafísica, 4, 4, 1007 b 18. Por outro lado, se todas as declarações contraditórias são verdadeiras ao mesmo tempo e em relação ao mesmo assunto, é evidente que todas as coisas serão uma só. Uma trirreme, um muro e um homem serão o mesmo, se de todas as coisas é permitido afirmar ou negar qualquer coisa, como devem necessariamente admitir os que sustentam o argumento de Protágoras. Se a alguém parece que o homem não é uma trirreme, é evidente que não é uma trirreme; de modo que também o é, se a declaração contraditória for verdadeira. Aristóteles, Metafísica, 11, 6,1062 b 13. Aquele disse que o homem é a medida de todas as coisas, não dizendo outra coisa senão que o que parece a cada um é seguramente isso. Mas, sendo assim, a mesma coisa é ser e não ser, má e boa e o mesmo se diz em relação às afirmações opostas, pelo fato de que muitas vezes uma coisa parece bela a uns e o contrário a outros e a medida é o que aparece a cada um. [Osório diz: aqui se atribui a Protágoras uma verdade (“se todas as declarações contraditórias são verdadeiras”)... ora, se ele diz que não há verdade, como poderia dizer que as declarações contraditórias são verdadeiras? Nem isso ele assumiu, pois isso contradiz o seu pensamento]

 

Cf. DK A l, 51. Em nota a esse passo, Untersteiner (I Sofisti, cit., p. 17) acentua que, para Protágoras, as sensações com que a alma se identifica originam os chamados estados de consciência, sendo a alma destituída de qualquer autonomia substancial. [Osório diz: o livro de Untersteiner já está traduzido para o português].

 

Sêneca, em Cartas, 88, 43., afirma que “Protágoras diz que se pode argumentar a respeito de todas as coisas, com o mesmo sucesso, tomando qualquer um dos dois lados, mesmo sobre este princípio de todas as coisas serem defensáveis, tomando qualquer um dos lados.”

 

Aristóteles, Retórica, 2, 24,1402 a 23. Nisto consiste o “tornar mais forte o argumento mais fraco”. E daí que as pessoas, com razão, suportassem mal o que Protágoras professava fazer, pois é uma falsidade e verosimilhança não verdadeira, mas aparente, sem valor em nenhuma arte, a não ser na retórica e na erística. Estêvão de Bizâncio. Com a entrada de “Abdera”, Protágoras, segundo conta Eudoxo, criou o argumento mais forte e o argumento mais fraco e ensinou os seus discípulos a censurar e a elogiar a mesma pessoa.

 

Quando um fazedor de poemas o insultava por ele não aprovar seus poemas, Protágoras respondeu: “Meu caro, é melhor para mim ouvir insultos da tua parte do que ouvir os teus poemas.

 

Aristóteles, afirma, na Retórica, 3, 1407 b 6: “Em quarto lugar, há que distinguir os gêneros das palavras, tal como Protágoras: masculino, feminino e neutro.

 

O sentido de alguns termos retóricos:

 

1) “Diplasiologia” corresponde à repetição de palavras,

 

2) “Gnomologia” assenta no emprego de lugares-comuns, num estilo sentencioso,

 

3) “Iconologia” baseia-se no recurso a imagens ou a linguagem figurada.

 

Protágoras foi o primeiro a tratar dos gêneros gramaticais, no âmbito dos requisitos que devem ser respeitados, com vista ao uso correto da linguagem: a sua motivação seria, pois, predominantemente prática. Assim, o estudo das questões relativas à linguagem explicar-se-ia à luz da importância social e política atribuída ao domínio das artes do logos.

 

Aristóteles, nas Refutações Sofísticas, 14, 173 b 17, explica o que é “Solecismo”. Pode cometer-se um erro, não o cometer e parecer que se cometeu e não parecer e cometê-lo; por exemplo, como dizia Protágoras, se “enfurecimento” e “elmo” são masculinos, quem diz “funesta” comete um solecismo segundo este, mas não parece aos outros, enquanto aquele que diz “funesto” parece que comete um solecismo e não o cometem.

 

O mesmo Aristóteles, na Poética, 19, 1456 b 15, comenta as críticas de Protágoras a Homero, dizendo: “Quem aceitaria as críticas que Protágoras dirige a Homero, quando este, pensando que está a fazer uma prece, dá uma ordem, no verso: “Ó deusa, canta a cólera”? Na sua opinião, exortar a fazer ou a não fazer algo é uma ordem.

 

Sobre a abolição do critério, diz Sexto Empírico, Contra os Matemáticos, 7, 60.: “Alguns incluíram também Protágoras de Abdera no grupo dos filósofos que aboliram o critério, porque afirma que todas as aparências e todas as opiniões são verdadeiras e que a verdade é algo de relativo, pois que tudo o que é aparência ou opinião para um indivíduo existe para ele. Assim, ao começar os Discursos Demolidores, declarou: “o homem é a medida de todas as coisas, das que são que são, das que não são que não são.”

 

Sexto Empírico, médico e filósofo céptico que teve o seu apogeu por volta de 200 d.C., interessa-se, em particular, pela questão do critério (krithrion), que identifica com “medida” (merton), no contexto do fr. 1. Assim, a doutrina segundo a qual todas as opiniões são verdadeiras tem consequências devastadoras, dada a impossibilidade de distinguir o verdadeiro do falso, o que torna a ciência inacessível.

 

Numa obra intitulada Grande Tratado, Protágoras disse: “O ensino requer disposição natural e exercício” e “é preciso aprender começando desde jovem.” Não teria dito isto, se ele próprio tivesse sido um tardio, como pensava e dizia Epicuro em relação a Protágoras.

 

“São enumerados como requisitos da aprendizagem a disposição natural, o exercício e o ensino”.

 

Protágora tratou Dos Deuses

 

Afirma Eusébio, em Preparação Evangélica, 14, 3, 7., que: “Protágoras, tendo-se tornado discípulo de Demócrito, adquiriu reputação de ateu. Diz-se que, no tratado Dos Deuses, usou esta introdução: “Não sei.... a forma que os deuses podem ter.”

 

A frase é:

 

“Não posso saber se os deuses existem ou se não existem ou que forma podem ter; muitos são os obstáculos desse saber: a obscuridade e a brevidade da vida humana.”

 

Protágoras adquiriu reputação de ateu a partir da posição, aí expressa, quanto à impossibilidade de se pronunciar sobre os deuses, o que originou as perseguições de que foi alvo: cf. A 1, 2, 3, 4, 12, 23. Julgamos, no entanto, que se trata de um agnosticismo que deverá ser entendido à luz dos princípios enunciados no fr. 1: sendo o homem “medida” das realidades de que tem experiência direta, o caráter “invisível” dos deuses justifica as limitações quanto ao conhecimento dos mesmos. O contraste entre a brevidade da vida humana e a enorme complexidade das questões com que cada indivíduo se depara constitui algo de recorrente na descrição do estatuto trágico dos seres mortais dotados de razão, o que se torna mais flagrante ao comparar a condição dos homens com a dos deuses.

 

Escreveu Protágoras as Antilogias I e II

 

O autor de Histórias Variadas, Favorino, afirma que A República de Platão, também se encontra quase toda em Protágoras, nas Antilogias.

 

A acusação de plágio movida contra Platão poderia explicar-se pelo fato de Protágoras se ter ocupado do conceito de justiça e porventura da caracterização de uma polis ideal em obras que não chegaram até nós.

 

Dedicou-se Protágoras a Arte da Erística

 

Cicero, em Bruto, 12, 46., noticia que: “Foram escritos e preparados por Protágoras desenvolvimentos sobre temas importantes de caráter geral, que agora se consideram lugares-comuns (loci communes). Quitiliano, 3, l, 10. Protágoras de Abdera, com quem se diz que Evatlo tinha aprendido por 10 000 dinheiros a arte que ele inventara. Ibidem, 12. Destes, diz-se que os primeiros a discutir os luga-comuns (loci communes) foram Protágoras e Górgias; Pródico, Hípias, o referido Protágoras e Trasímaco foram os primeiros a discutir os afetos.

 

Para Quintiliano (famoso teorizador retórico que viveu e ensinou em Roma no século I d.C.), era importante referir não só os que se tinham interessado pelos “lugares-comuns”, mas também e, de um modo muito especial, todos aqueles que tinham tratado as paixões, reconhecendo a pertinência da afetividade no domínio da arte de persuasão.

 

O sempre citado Diógenes Laércio afirma: Protágoras foi o primeiro a sustentar que em todos os assuntos existem dois argumentos antitéticos entre si.

 

Escreveu Portágoras também Da Matemática

 

Protágoras conhecia, também, matemática, como informa Aristóteles, na Metafísica, 3, 2, 997 b 32. Nem isto é verdade, que a geodésia trate das grandezas sensíveis e corruptíveis, pois, destruídas estas, também aquela seria destruída. Mas, por outro lado, a astronomia não trata nem das grandezas sensíveis enm do céu que vemos. As linhas sensíveis não são tais como o geômetra as define; nenhuma das coisas sensíveis é reta ou curva desse modo; o círculo toca a tangente não apenas num ponto, como Protágoras sustentou, ao refutar os geômetras.

 

Outra obra de Protágoras é Da luta

 

Sobre o tema “luta” Platão, informa no Sofista, 232 d-e: Estrangeiro: –  resposta de todas artes em geral e de cada uma em particular, os argumentos que que se devem usar em controvérsia contra cada praticante de uma arte encontram-se em obras escritas e publicadas, para quem os quiser conhecer. Teeteto: – Parece-me que te referes às ideias de Protágoras sobre a luta e as outras artes. 233 a. – Como poderia um ignorante dizer algo de sensato diante de alguém que sabe?  – Não poderia de modo algum.

 

Sobre como se educar, Protágoras diz:

 

Estobceu, no Florilégio, 3, 29, 80, afirma: “Protágoras dizia que não existia prática sem arte, nem arte sem prática.

 

Plutarco também esclarece, no Do Exercício, 178, 25, que “Protágoras mais adiante disse: “A educação não germina na alma, se não se aprofunda muito.”

 

Para alguns intérpretes, a utilização de uma imagem agrícola, a da germinação, aludia à complexidade do processo que se desenvolve na intimidadede de cada um e que, sendo espontâneo, exige, simultaneamente, um cuidado prolongado, envolvendo fatores externos. As dificuldades da educação justificam o imperativo de começar a mesma desde muito novo. Também o requisito de “aprofundar muito”, para que a dita educação seja bem sucedida, aponta para a sabedoria associada à “compreensão”, contraposta à polumaqia ou seja, à mera aquisição de saberes avulsos sobre muitas coisas, próprio do enciclopedismo superficial, já criticado por Heráclito de Éfeso (DK 22 B 40) e alvo das irônicas críticas platônicas.

 

Em textos Greco-Siríacos, traduzidos por Ryssel, é informado que: “Protágoras disse: “O esforço, o trabalho, a instrução, a educação e a sabedoria são a coroa de glória que é tecida a partir das flores de uma língua eloquente e colocada na cabeça dos que a amam. O uso da língua não existe sem esforço; também as suas flores são copiosas e sempre novas: os espectadores, os que aplaudem, os mestres alegram-se; os estudantes fazem progressos e os tontos aborrecem-se, ou talvez nem sequer se aborreçam, pois não são suficientemente inteligentes.”

 

Protágoras tratou da organização da sociedade, também e fundamentalmente.

 

Platão, no seu Protágoras, 320 c e segs., deixou consignado o “Mito de Prometeu”, por intermédio do qual Protágoras explicou a manutenção da vida em sociedade. Diz ele que: “Então Zéus, temendo que a nossa espécie perecesse toda, manda Hermes levar aos homens um sentimento de respeito e de justiça, a fim de que houvesse princípios ordenadores das cidades e laços conciliadores de amizade”.

 

Eurípides, em As Bacantes, 199 e segs., repete a lição de Protágoras:

 

CADMO: - Não desprezo os deuses, pois sou um mortal.

 

TIRÉSIAS: - Sobre os seres divinos não imaginemos nada.

Nenhum argumento destruirá tradições ancestrais,

que são uma herança tão antiga como o tempo,

nem mesmo se mentes superiores descobrirem o saber.

 

Fonte: todas as informações acima sobre Protágoras foram retiradas de: SOFISTAS – testemunhos e fragmentos, tradução e notas: Ana Alexandre Alves de Sousa e Maria José Vaz Pinto, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Lisboa, 2005, a qual, portanto, deve ser consultada.

 

 

 
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