Maraãvilhosos,
Uma nova história de Maraã.
(O trecho é das memórias de uma conversa com uma amiga).
- Depois desse episódio, mas não por sua causa, fui estudar na cidade de Tefé. Morava na casa da minha tia Hagar, por ironia do destino ela me acolherá em sua casa em Manaus no meu primeiro ano de faculdade, quando fui “despejado” da casa do meu avô. Fiquei pouco tempo, não sei o motivo, e voltei para Maraã. Quando lá cheguei, fui matriculado na primeira série. Em Maraã estava sendo implantada a educação regular, paralelamente ao funcionamento do MOBRAL. Para lá acorreram os professores: Darcy, Gerson e Gilda, os primeiros a ocuparem a casa invadida pelo Oswaldo...
- Com sua ajuda!
- Sem detalhes, querida.
- Tens vergonha do teu passado?
- Claro que não. Se tivesse não estava te contando. Mas o certo é que fui matriculado na primeira série do primeiro grau. Meu professor era um senhor que não era do grupo dos professores que lá chegaram. Trabalhava na companhia de energia e foi aproveitado como “maestro”, seu nome, João Batista. Era um chato. Só que, minha irmã Júlia e o meu amigo França Pachola, que sabiam menos do que eu, estavam na segunda série. Aquilo era uma injustiça, mas eu não sabia como repará-la. Certo dia, na sala de aula, meu lápis quebrou a ponta e eu não tinha apontador. Comecei a roer a madeira do lápis para aparecer o grafite. Minha boca começou a ficar cheia de madeira e saliva. Eu não podia cuspir e comecei a ficar inquieto. O professor viu e perguntou o que estava acontecendo. Eu não podia falar e tentei me comunicar por gestos: mostrava o lápis e apontava para minhas bochechas alargadas e fazia grunidos incompreensíveis. O professor não teve dúvidas, me expulsou da sala e me mandou para a diretoria. No caminho consegui cuspir a nojeira e fui conversar com a diretora, a professora Darcy Barbosa Litaiff. Ela me perguntou o que tinha acontecido e eu narrei a história real e, no final, falei da injustiça da qual estava sendo vítima. Ela me disse que ia fazer um teste comigo, se eu respondesse tudo corretamente, iria para a segunda série. Não deu outra. No dia seguinte eu já estava na segunda série.
- A safadeza, às vezes, compensa!
- Eu não fiz safadeza, simplesmente eu não tinha apontador.
- Realmente, desculpe, no seu caso não foi maldade. Se é que estás contando-me a verdade.
- E eu teria motivos para mentir?
- Sei lá! Nunca se sabe!
- Esta foi uma das etapas que pulei na vida. Um dia te conto outra, só te adianto que tem a ver com minha transferência escolar quando fui para Manaus.
- Não pode ser agora?
Dica de leitura: “Sócrates, um filósofo bastardo” (em: http://www.osoriobarbosa.com.br/node/585). O título, em si, já é provocativo, a despeito dos portugueses, como é o caso do autor, ser comedido no uso das palavras.
A foto abaixo (e a arrumação do cenário) é minha:
A foto é de 1986 (dia de uma eleição) e está no Bar e Restaurante Violeta, na rua Augusta. A Erdinger não me pagou nada! (rs).
Abraços,
Osório
POEMEMOS:
e,
Falemos baixo nesta alcova...
Falemos baixo nesta alcova
em que as horas estão paradas.
O relógio diz qualquer coisa
a nossas almas abraçadas.
Eis aqui a Lâmpada e o Livro,
dos pobres o único portento.
O relógio nos diz que a vida,
o amor, a luta, o sofrimento.
Falemos baixo. Nesta alcova,
o silêncio entreabre-se em flores.
O relógio nos diz que a vida
é feita de pranto e amores.
Ao nosso lado, o Sonho inclina
seu olhar claro, que se fana.
Enquanto isso, o tempo caminha
(Oh!, o ruído da luta humana.)
Autor: Henry Spiess. Tradução de Carlos Drummond de Andrade
MASSI, Augusto, GUIMARÃES, Júlio Castanon (org. e nota). Poesia traduzida: Carlos Drummond de Andrade. Introdução de Júlio Castanon Guimarães. - São Paulo: Cosac Naify, 2011. p. 355.
e,
Sabedoria
O sábio não é sábio verdadeiro
Se à visão interior cerrar os olhos.
Sábio é seguir o coração. Sem mapa,
colombo achou um mundo entre os abrolhos.
Autor: George Santayana. Tradução de Carlos Drummond de Andrade
MASSI, Augusto, GUIMARÃES, Júlio Castanon (org. e nota). Poesia traduzida: Carlos Drummond de Andrade. Introdução de Júlio Castanon Guimarães. - São Paulo: Cosac Naify, 2011. p. 351.