Caroas todoas,
começar o ano com uma sexta-feira em que, obviamente, é feriado, não há cartão de crédito que pague!
Maraãvilhosos,
Odisseus (o Ulisses dos romanos), quando, após a guerra de Troia, retronava para sua Ítaca e para sua amada Penélope e seu filho Telêmaco, ficou, por 7 anos, em uma ilha com uma linda e sábia deusa (o fato de ser deusa já diz tudo, não é mesmo?), mas vivia cada vez mais triste, até que Zeus determinou que Hermes (o deus mensageiro, daí a palavra hermenêutica) fosse dizer à deusa que ela deveria permitir a partida de seu amado prisioneiro. A deusa, como não podia resistir a uma ordem como essa, aceitou a determinação.
Quando da partida do amado, que não a amava, a deusa sugeriu e Odisseus deu a explicação pela qual iria partir – a despeito de na ilha ele ter uma das mulheres mais lindas em seus braços, além de ter vida eterna e tudo o mais do bom e do melhor à sua disposição –, e que são estas:
“Oh Deusa venerável, não te escandalizes! Perfeitamente sei que Penélope te está muito inferior em formosura, sapiência e majestade. Tu serás eternamente bela e moça, enquanto os Deuses durarem: e ela, em poucos anos, conhecerá a melancolia das rugas, dos cabelos brancos, das dores da decrepitude e dos passosque tremem apoiados a um pau que treme. O seu espírito mortal erra através da escuridão e da dúvida; tu, sob essa fronte luminosa, possuis as luminosas certezas. Mas, oh Deusa, justamente pelo que ela tem de incompleto, de frágil, de grosseiro e de mortal, eu a amo, e apeteço a sua companhia congênere! Considera como é penoso que, nesta mesa, cada dia, eu coma vorazmente o anho das pastagens e a fruta dos vergéis, enquanto tu ao meu lado, pela inefável superioridade da tua natureza, levas aos lábios, com lentidão soberana, a Ambrósia divina! Em oito anos, oh Deusa, nunca a tua face rebrilhou com uma alegria; nem dos teus verdes olhosrolou uma lágrima; nem bateste o pé, com irada impaciência; nem, gemendo comuma dor, te estendeste no leito macio... E assim trazes inutilizadas todas as virtudes do meu coração, pois que a tua divindade não permite que eu te congratule, te console, te sossegue, ou mesmo te esfregue o corpo dorido com o suco das ervas benéficas. Considera ainda que a tua inteligência de Deusa possui todo o saber, atinge sempre a verdade: e, durante o longo tempo que contigo dormi, nunca gozei a felicidade de te emendar, de te contradizer, e de sentir, ante a fraqueza do teu, a força do meu entendimento! Oh Deusa, tu és aquele ser terrífico que tem sempre razão! Considera ainda que, como Deusa, conheces todo o passado e todo o futuro dos homens: e eu não pude saborear a incomparável delícia de te contar à noite, bebendo o vinho fresco, as minhas ilustres façanhas e as minhas viagens sublimes!
Oh Deusa, tu és impecável: e quando eu escorregue num tapete estendido, ou me estale uma correia da sandália, não te posso gritar, como os homens mortais gritam às esposas mortais: .... “Foi culpa tua, mulher!” erguendo, em frente à lareira, um alarido cruel! Por isso sofrerei, num espírito paciente, todos os males com que os Deuses me assaltem no sombrio mar, para voltar a uma humana Penélope que eu mande, e console, e repreenda, e acuse, e contrarie, e ensine, e humilhe, e deslumbre, e por isso ame dum amor que constantemente se alimenta destes modos onde antes, como o lume se nutre dos ventos contrários!”.
Estas letras são de Eça de Queirós, um dos muitos imortais portugueses e, confesso, com elas molhei algumas das páginas desse breve e maravilhoso conto que se chama: “A perfeição”, sendo que perfeita, também, é a escrita desse mestre!
Até mais,
Abraços,
Osório
POEMEMOS:
“A noite é longa
como uma dor que prolonga
uma outra dor sem remédio.
Para quem vive no tédio,
a noite, como ele é longa!
Pobre vida, nas tormentas
do mar, as noites são lentas
e custam bem a passar.
Lá nas tormentas do mar,
as noites são as tormentas!
A noite é breve
como um voo que descreve
uma andorinha no espaço.
O amor... Um rápido abraço,
um biejo... A noite é tão breve!
Depois... Ó vida! Tormentas
de mar... As noites são lentas
e custam bem a passar.
Lá nas tormentas do mar,
as noites são as tormentas!
E os olhos põem-se a chorar...”.
e,
Bonheur Manquê
Eu sei que o seu olhar é lindo e que ao seu marido
ele não deu, nunca, um desgosto conjugal.
Eu sei que o seu puder pode ficar ferido
com um simples madrigal.
...................................
Para melhor ouvir o que ela me dizia,
eu, cderta vez, os seus cabelos esfrolei.
E, em meio à multidão, por seu vestido, um dia
sem querer, me rocei.
...................................
Outros segredos há, que ocultarei, no entanto.
Aí de mim, eu que sempre os eus passos segui,
euque tanto a sonhei e que a conheço tanto,
jamais a conheci.
Autor: Onestaldo de Pennafort, “Poesias”, Coleção “Rex”, Rio de Janeiro, 1954, pp. 99 e 129, respectivamente.
Onestaldo é, no mínimo, diferente!
Maraãvilhosos,
(a arte de sumir com o carcará, é minha! Rs)
Maraãvilhosos,
Eu nasci e me criei ouvindo o pai dela!
Meu pai era fã incondicional do Nelson Gonçalves.
Maraãvilhosos,
Ando numa fase, de mão dupla, muito Nelson Cavaquinho (“Me dê as flores em vida”)! E como recebi uma flor em vida, quero dividir com todos o presente com o qual me perfumou a alma o Poeta. Eis o que disse:
José Osterno Campos de Araujo - 21/10/15 18:59
Caro Colega e Poetíssimo Osório,
Acabei a leitura (ou seria melhor dizer DELEITE) de teu precioso "Poemas Passionais".
Ainda embriagado da mais pura poesia, destaco (tarefa assaz difícil, ante tantas preciosidades): Vinho Encorpado e Destino, simplesmente belíssimos, além, é claro, de Lia, Fase de Ciúmes, bebo para esquecer, Anúncio, A Mulher Dormindo, Aline e Adriana, obviamente sem desmerecer os demais.
Que Deus lhe dê mais e mais transpiração (muita) e inspiração (também) para mais e mais poesia.
Que em você a poesia seja tanta e tanta .... até morrer (velhinho).
Abraço do colega que o admira,
Osterno
Posso eu negar que já ganhei um prêmio Nobel? Nunca!
Muito obrigado, de novo, ao estimado bi-Colega, Amigo e Poeta Osterno, a quem externo minha profunda gratidão já pelo simples carinho da leitura.
Maraãvilhosos,
(foto)
No dia 22 de setembro próximo passado fiz aniversário!