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Poesia: deleite-se ou delete-me (25.12.15).

 

Maraãvilhosos,

Cris

 

Odisseus (o Ulisses dos romanos), quando, após a guerra de Troia, retronava para sua Ítaca e para sua amada Penélope e seu filho Telêmaco, ficou, por 7 anos, em uma ilha com uma linda e sábia deusa (o fato de ser deusa já diz tudo, não é mesmo?), mas vivia cada vez mais triste, até que Zeus determinou que Hermes (o deus mensageiro, daí a palavra hermenêutica) fosse dizer à deusa que ela deveria permitir a partida de seu amado prisioneiro. A deusa, como não podia resistir a uma ordem como essa, aceitou a determinação.

Quando da partida do amado, que não a amava, a deusa sugeriu e Odisseus deu a explicação pela qual iria partir – a despeito de na ilha ele ter uma das mulheres mais lindas em seus braços, além de ter vida eterna e tudo o mais do bom e do melhor à sua disposição –, e que são estas:

 

Oh Deusa venerável, não te escandalizes! Perfeitamente sei que Penélope te está muito inferior em formosura, sapiência e majestade. Tu serás eternamente bela e moça, enquanto os Deuses durarem: e ela, em poucos anos, conhecerá a melancolia das rugas, dos cabelos brancos, das dores da decrepitude e dos passosque tremem apoiados a um pau que treme. O seu espírito mortal erra através da escuridão e da dúvida; tu, sob essa fronte luminosa, possuis as luminosas certezas. Mas, oh Deusa, justamente pelo que ela tem de incompleto, de frágil, de grosseiro e de mortal, eu a amo, e apeteço a sua companhia congênere! Considera como é penoso que, nesta mesa, cada dia, eu coma vorazmente o anho das pastagens e a fruta dos vergéis, enquanto tu ao meu lado, pela inefável superioridade da tua natureza, levas aos lábios, com lentidão soberana, a Ambrósia divina! Em oito anos, oh Deusa, nunca a tua face rebrilhou com uma alegria; nem dos teus verdes olhosrolou uma lágrima; nem bateste o pé, com irada impaciência; nem, gemendo comuma dor, te estendeste no leito macio... E assim trazes inutilizadas todas as virtudes do meu coração, pois que a tua divindade não permite que eu te congratule, te console, te sossegue, ou mesmo te esfregue o corpo dorido com o suco das ervas benéficas. Considera ainda que a tua inteligência de Deusa possui todo o saber, atinge sempre a verdade: e, durante o longo tempo que contigo dormi, nunca gozei a felicidade de te emendar, de te contradizer, e de sentir, ante a fraqueza do teu, a força do meu entendimento! Oh Deusa, tu és aquele ser terrífico que tem sempre razão! Considera ainda que, como Deusa, conheces todo o passado e todo o futuro dos homens: e eu não pude saborear a incomparável delícia de te contar à noite, bebendo o vinho fresco, as minhas ilustres façanhas e as minhas viagens sublimes!

Oh Deusa, tu és impecável: e quando eu escorregue num tapete estendido, ou me estale uma correia da sandália, não te posso gritar, como os homens mortais gritam às esposas mortais: .... “Foi culpa tua, mulher!” erguendo, em frente à lareira, um alarido cruel! Por isso sofrerei, num espírito paciente, todos os males com que os Deuses me assaltem no sombrio mar, para voltar a uma humana Penélope que eu mande, e console, e repreenda, e acuse, e contrarie, e ensine, e humilhe, e deslumbre, e por isso ame dum amor que constantemente se alimenta destes modos onde antes, como o lume se nutre dos ventos contrários!”.

 

Estas letras são de Eça de Queirós, um dos muitos imortais portugueses e, confesso, com elas molhei algumas das páginas desse breve e maravilhoso conto que se chama: “A perfeição”, sendo que perfeita, também, é a escrita desse mestre!

 

Até mais,

 

Abraços,

 

Osório

 

POEMEMOS:

 

A noite é longa

como uma dor que prolonga

uma outra dor sem remédio.

Para quem vive no tédio,

a noite, como ele é longa!

 

Pobre vida, nas tormentas

do mar, as noites são lentas

e custam bem a passar.

Lá nas tormentas do mar,

as noites são as tormentas!

 

A noite é breve

como um voo que descreve

uma andorinha no espaço.

O amor... Um rápido abraço,

um biejo... A noite é tão breve!

 

Depois... Ó vida! Tormentas

de mar... As noites são lentas

e custam bem a passar.

Lá nas tormentas do mar,

as noites são as tormentas!

 

E os olhos põem-se a chorar...”.

 

e,

 

Bonheur Manquê

 

Eu sei que o seu olhar é lindo e que ao seu marido

ele não deu, nunca, um desgosto conjugal.

Eu sei que o seu puder pode ficar ferido

com um simples madrigal.

 

...................................

 

Para melhor ouvir o que ela me dizia,

eu, cderta vez, os seus cabelos esfrolei.

E, em meio à multidão, por seu vestido, um dia

sem querer, me rocei.

 

...................................

 

Outros segredos há, que ocultarei, no entanto.

Aí de mim, eu que sempre os eus passos segui,

euque tanto a sonhei e que a conheço tanto,

jamais a conheci.

 

Autor: Onestaldo de Pennafort, “Poesias”, Coleção “Rex”, Rio de Janeiro, 1954, pp. 99 e 129, respectivamente.

 

 

Onestaldo é, no mínimo, diferente!

 

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