06.08.10
Caros todos,
É final se semana! Espero que continue bão como foi a semana.
A colega Lina – PRR3, quase é causadora de um ataque cardíaco fulminante. Explico.
07.01.11
Caroas todoas,
Abaixo algo que tentei enviar na última sexta-feira de 2010 mas não consegui (a caixa estava lotada). Porém, aproveito para iniciar 2011. Eis:
01.04.11
Caraos todaos,
Um colega, preocupado com a minha reputação, escreveu:
06.05.11
Caraos todaos,
(o baixo está no blog: http://blogdoosoriobarbosa.blogspot.com/)
Vejam que legal:
10.06.11
Caroas todoas,
(o baixo está no blog: http://blogdoosoriobarbosa.blogspot.com/)
Bloco 15
POESIA: deleite-se ou delete-me (bloco 15)
05.08.11
Caroas todoas,
(o abaixo AINDA NÃO está no blog: http://blogdoosoriobarbosa.blogspot.com/)
Semana passada escrivinhei sobre alguns livros que li e uma moça do Rio Grande do Sul, me enviou o carinhoso e-mail abaixo transcrito, e me perguntou:
“@prrs.mpf.gov.br> 07/29/11 11:51 am >>>
Prezado colega Osório.
Você nem imagina como eu gosto de ler os seus e-mails, gosto mesmo.
E agora então, que estás dando dicas de livros, bons livros, diga-se de passagem... Eu amo ler, leio muito e gostaria que, se possível, me indicasse alguns livros que te "marcaram". Eu leio muito e tenho inúmeros livros que me marcaram, em várias fases da minha vida, muito bons.
No momento estou lendo "O Outro Lado da Meia Noite, do Sidney Sheldon".
Eu já li esse livro quando eu tinha 19 anos de idade e não lembrava mais da história, agora estou relendo. Muito bom, mas hoje, passadas mais de duas décadas, a releitura é outra, né? Você também gosta de reler livros lidos há muitos anos?
Um forte abraço.
Já o conterrâneo da delicada e bondosa amiga, Cícero, para servir de contrapeso, vem com essa:
"Cicero Augusto Pujol Correa" <Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.> 07/29/11 2:35 pm >>>
"Feixo", Osório?
É nisso que dá escrever errado por graça.
Pára de ler porcarias como La Allende, que é merda pura,
E VAI LER UM BOM DICIONÁRIO, como o Houaiss, por ex.
Ou pede emprestados os bons clássicos do Luiz.
Abraços
Cícero”.
Disse à gaúcha:
”Prezada xxxx,
Você não imagina como eu gosto de pessoas que lêem os meus e-mail, gosto mesmo! Logo, saiba de uma coisa: você é muito gostada!
O livro que mais me marcou, acredito, foi D. Quixote! Já leu?
Não costumo reler, mas acredito que estou precisando! Não lembro de mais nada, dentre outros, dos seguintes livros: "Processo", do Kafka e "Cem anos de solidão", do Gabriel Garcia Marques, por exemplo.
Você me deixou muito feliz com sua mensagem.
Outrão n’ocê.
Osório”.
Pru Cícero, digo, querido, não tenho mais cura, mas será que Cervantes cerve?
Agora digo, repetindo: o livro que mais marcou/marca minha vida é “D. Quixote de La Manha”, de Miguel de Cervantes, que li pela primeira vez antes dele ter sido eleito “o melhor livro do mundo”, mas já o li novamente mais umas cinco vezes!
Muitas leituras? Nem tanto, pois cada leitura, como sabem, é uma nova (“não se lê o mesmo livro duas vezes”, já o disse o orador grego/gaúxo Cícero), e o livro sempre me surpreende em cada nova relida por sua enorme riqueza. Cervantes tinha um conhecimento “enciclopédico”, como se costuma dizer. Conheci de tudo um muito, parece.
Lembro que, certa vez, perguntei a uma amiga, Dra. Claud, que é pessoa de muitas leituras, se ele já tinha lido o Quixote e, para minha surpresa, ela respondeu que não.
- Mas como não?! Você nunca leu o D. Quixote? Perguntei entre surpreso e inconformado e decepcionado.
Eis que ela, carinhosamente e com sabedoria que levarei para resto da vida (especialmente diante dos meus nove mil livros que ainda não li), disse:
- Habib (querido em árabe?), não li não só D. Quixote como tantos outros livros que ainda pretendo ler.
Caí em mim e vi pude ver que padeço do mesmo “mal” que quis atribuir à minha amiga: falta eu ler ainda muuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiita coisa!
Como sabem aqueles que o leram, D. Quixote trás várias histórias que podem ser lidas separadamente, e, sendo assim, quero dividir com aqueles que ainda não leram a que abaixo transcrevo, e, com aqueles que já a leram, que tal relembrar?
Na releitura que fiz agora, da história abaixo, me dei conta de como Cervantes trabalha bem os “duplos discursos”, que vêm dos “sábios sofistas” gregos, especialmente Protágoras. Assim é que ao iniciarmos a leitura condenamos a Marcela, mas depois... bem, depois vocês concluam.
É uma lição especial para aqueles que labutam no dito “mundo do Direito”.
A tradução é de: Francisco Lopes de Azevedo Velho de Fonseca Barbosa Pinheiro Pereira e Sá Coelho (1809-1876) Conde de Azevedo Antônio Feliciano de Castilho (1800-1875) Visconde de Castilho.
A linguagem é rebuscada mas perfeitamente inteligível (há uma tradução do Sérgio Molina, editora 34 que atualiza um pouco a melodia cervantina).
Cervantes era antes de tudo um poeta! Vejam como ele descreve sua amada, apenas para abrir-lhe o apetite da leitura, já que o trecho está contido num dos dois capítulos abaixo. Olhem, mirem e espelhem-se, senhores:
“Não poderei afirmar se a minha doce inimiga gosta, ou não, de que o mundo saiba que eu a sirvo. Só posso dizer, em resposta ao que tão respeitosamente se me pede, que o seu nome é Dulcinéia, sua pátria Toboso, um lugar da Mancha; a sua qualidade há-de ser, pelo menos, Princesa, pois é Rainha e senhora minha; sua formosura sobre-humana, pois nela se realizam todos os impossíveis e quiméricos atributos de formosura, que os poetas dão às suas damas; seus cabelos são ouro; a sua testa campos elísios; suas sobrancelhas arcos celestes; seus olhos sóis; suas faces rosas; seus lábios corais; pérolas os seus dentes; alabastro o seu colo; mármore o seu peito; marfim as suas mãos; sua brancura neve; e as partes que à vista humana traz encobertas a honestidade são tais (segundo eu conjecturo) que só a discreta consideração pode encarecê-las, sem poder compará-las.”
Que tenham todos uma sexta-feira escrita em vermelho, a cor do sangue, aquele que faz nossos corações pulsar diante do ser amado e demonstra a força do nosso querer.
Abraços,
Osório
Com a palavra, o Miguel (destaquei em cor diversas algumas passagem que considero mais fortes, neste momento):
“CAPÍTULO XIII
Em que se dá fim ao caso da pastora Marcela, com outros sucessos.
Mal que o dia começou a aparecer nas varandas do Oriente, quando dos seis cabreiros cinco se levantaram, e foram despertar a D. Quixote, e perguntar-lhe se estava ainda resolvido a ir ver o famoso enterro de Crisóstomo, que, sendo assim, eles lhe fariam companhia.
D. Quixote, que outra coisa não desejava, levantou-se e ordenou a Sancho aparelhasse o Rocinante, e albardasse o burro com presteza, o que ele fez; e assim se puseram logo todos a caminho.
Não tinham andado um quarto de légua, quando, ao atravessarem uma senda, viram vir para eles obra de seis pastores vestidos com pelicos negros, e as cabeças coroadas com grinaldas de cipreste e amargoso eloendro; e empunhava cada um sua vara grossa, vindo no mesmo rancho dois fidalgos a cavalo, para de jornada muito bem vestidos, e com três moços, que a pé os acompanhavam.
Logo que chegaram uns aos outros, saudaram-se cortesmente de parte a parte, e perguntando-se mutuamente para onde iam, souberam que todos eles iam para o lugar do enterro; e assim, deram em caminhar de parceria. Um dos de cavalo disse para o companheiro:
— Parece-me, senhor Vivaldo, que havemos de dar por bem empregada a demora que tivermos em ver este famoso enterramento, que bem famoso não pode ele deixar de ser, segundo as estranhezas que estes pastores nos têm contado, tanto do morto, como da pastora sua homicida.
— Assim acho eu também — respondeu Vivaldo; — não só um dia gastara eu, senão até quatro, pelo interesse de presenciar esta novidade.
Perguntou-lhe D. Quixote o que era que tinham ouvido de Marcela e Crisóstomo. Respondeu-lhe um dos caminhantes que de madrugada se tinham encontrado com aqueles pastores e, pelos terem visto em concerto de tanto desconsolo, lhes tinham perguntado a razão por que iam daquela maneira. Contara-lha um deles, encarecendo-lhes a estranha condição e formosura de uma pastora chamada Marcela, os amores de muitos que a requestavam, e a morte daquele Crisóstomo, a cujo saimento iam. Finalmente confirmou sem discrepância o mesmo que já o Pedro havia contado a D. Quixote.
Desta prática passou-se a outra, perguntando o que se chamava Vivaldo ao nosso fidalgo, por que motivo andava armado daquela maneira, por terra tão pacífica.
— O exercício que professo — respondeu D. Quixote — não me deixa jornadear de outra maneira. O bom passadio, o regalo, e o descanso inventaram-se para os cortesãos mimosos; mas o trabalho, o desassossego e as armas fizeram-se para aqueles que o mundo chama cavaleiros andantes, dos quais eu, ainda que indigno, sou um, e o mínimo de todos.
Apenas tal lhe ouviram, ficaram-no desde logo tendo por desconsertado do juízo; e para examiná-lo melhor, e reconhecer que gênero de desvario era o seu, tornou Vivaldo a perguntar-lhe que vinham a ser cavaleiros andantes.
— Nunca leram Vossas Mercês — respondeu D. Quixote — os anais e histórias de Inglaterra, que tratam das famosas façanhas do Rei Artur, a quem geralmente em nosso romance castelhano chamamos o Rei Artus, e de quem é tradição, antiga e comum em todo aquele reino da Grã-Bretanha, que não morreu, mas sim que por arte de encantamento se converteu em corvo, e que, andando os tempos, há-de outra vez reinar, recobrando o seu reino e cetro, sendo por esta razão que ninguém é capaz de provar que desde então até hoje inglês nenhum tenha morto corvo? Pois bem; em tempo daquele bom Rei foi instituída aquela famosa ordem dos cavaleiros da Távola Redonda, e ocorreram (como pontualmente ali se conta) os amores de D. Lançarote do Lago com a Rainha Ginevra, sendo neles medianeira e sabedora aquela tão honrada D. Quintanhona, donde procedeu aquele tão sabido romance, e tão decantado em nossa Espanha, de:
Nunca fora cavaleiro
de damas tão bem servido,
como fora Lançarote
de Bretanha arribadiço;
com toda a mais série, tão doce e suave, das suas amorosas e fortes façanhas. Pois desde então se foi de mão em mão dilatando aquela ordem de cavalaria, por muitas e diversas partes do mundo. Nela foram famosos, e conhecidos por seus feitos o valente Amadis de Gaula, com todos os seus filhos e netos até à quinta geração; o valoroso Felismarte de Hircânia; o nunca assaz louvado Tirante-el-Blanco; e quase já em nossos dias vimos, ouvimos, e tratamos, ao invencível e generoso cavaleiro D. Belianis de Grécia. Ora aqui está, meus senhores, o que é ser cavaleiro andante; e o que referido tenho é a ordem da sua cavalaria, na qual (como também já disse) eu, ainda que pecador, fiz profissão; e o mesmo que professaram os cavaleiros mencionados professo eu também; por isso ando por estas solidões e descampados buscando as aventuras, com ânimo deliberado de oferecer o meu braço e a minha pessoa à mais perigosa que a sorte me deparar, em ajuda dos fracos e necessitados.
Por tudo isto, acabaram os ouvintes de se inteirar da falta de juízo de D. Quixote, e da espécie de loucura que o dominava; do que os tomou a mesma admiração, que a todos os que pela primeira vez a presenciavam.
Vivaldo, que era sujeito mui discreto, e de gênio alegre, para suavizar o fastio do pouco espaço que diziam lhes restava ainda para andar até à serra da sepultura, quis dar-lhe ocasião para que levasse por diante os seus desatinos, e disse-lhe:
— Parece-me, senhor cavaleiro, que a profissão de Sua Mercê é das mais apertadas que há no mundo; e persuado-me de que nem a dos frades cartuxos é tão rigorosa.
— Tão rigorosa talvez que o seja — respondeu o nosso D. Quixote — porém tão necessária, duvido muito; porque, se se há-de dizer toda a verdade, não faz menos o soldado que executa o que lhe manda o capitão, do que o próprio capitão, que lho ordena. Venho a dizer que os religiosos, com toda a paz e sossego, pedem ao céu o bem da terra; e nós, os soldados e cavaleiros, executamos o que eles só requerem, porque a defendemos com o valor do nosso braço, e ao fio da nossa espada, não debaixo de teto, mas em campo descoberto, oferecidos em alvo aos insofridos raios do sol do verão, e aos arrepiados gelos do inverno. Deste modo, somos ministros de Deus na terra, e braço pelo qual se executa no mundo a sua justiça. E como as coisas da guerra, e as concernentes a elas, não se podem pôr em execução senão suando, cansando, e trabalhando excessivamente, segue-se que os que a professam têm sem dúvida maior trabalho que os outros, que em sossegada paz estão pedindo a Deus que favoreça aos que podem pouco. Não quero eu dizer (nem pelo pensamento me passa) que é tão bom estado o de cavaleiro andante, como o de religioso na sua clausura; só quero inferir que isto que eu padeço é sem comparação mais trabalhoso e aperreado, mais faminto e sedento, miserável, roto, e bichoso, pois é certíssimo que os cavaleiros andantes passados contavam muitas aventuras ruins no decurso de suas vidas, e, se alguns chegavam a ser Imperadores, pelo esforço do seu braço, à fé que bastante suor e sangue lhes custou; e se àqueles, que a tais graus subiram, houvessem faltado encantadores e sábios para os ajudarem, bem defraudados teriam ficado de suas esperanças.
— Desse parecer também eu sou — disse o caminhante — mas há uma coisa, entre outras muitas, que me destoa da boa razão nos cavaleiros andantes; e é, que, vendo-se em ocasião de cometerem uma grande e perigosa aventura, em que a vida lhes vai num fio, nunca nesses apurados lances se lembram de encomendar-se a Deus, como qualquer outro cristão; a que se encomendam é às suas damas, com tanta ânsia e devoção, como se o Deus fossem elas; o que para mim cheira o seu tanto a coisas de pagão.
— Senhor meu — disse D. Quixote — isso é que por maneira nenhuma pode deixar de ser assim; e mal iria ao cavaleiro andante que outra coisa fizesse. Isto é já uso autorizado, e posse velha na cavalaria andantesca; a saber: que, se o cavaleiro andante, ao acometer algum grande feito de armas, tivesse a sua senhora diante, poria nela os olhos branda e amorosamente, como pedindo-lhe que o favorecesse no duvidoso transe em que se ia empenhar; e, ainda que ninguém o ouvisse, estaria obrigado a proferir palavras entre dentes, com as quais de todo o coração se lhe encomendasse; do que vemos inumeráveis exemplos nas histórias. Não se há-de entender por isto que hão-de deixar de encomendar-se a Deus, que tempo e lugar lhes ficam para o fazerem no decurso do conflito.
— Seja assim — respondeu o outro — mas ainda me fica um escrúpulo. Muitas vezes tenho lido que se travam ditos entre dois andantes cavaleiros, que de palavra em palavra se lhes chega a acender a cólera, voltam os cavalos, tomam o campo, e para logo, sem mais nem menos, a todo o poder deles, tornam a encontrar-se, e no meio da corrida se encomendam às suas damas. O que do recontro costuma resultar é que um cai pelas ancas do cavalo, passado de parte com a lança do outro; e ao outro sucede também que, a não se agarrar às crinas do seu, não pudera deixar de vir também a terra. Não sei como o morto poderia ter azo para se recomendar a Deus no decurso de tão acelerado feito. Melhor fora que as palavras, que na carreira gastou em se encomendar à sua cortejada, as empregasse no que estava obrigado como cristão. E demais, eu tenho para mim que nem todos os cavaleiros andantes hão-de ter damas a quem se encomendem, porque nem todos serão enamorados.
— Nisso é que vai o erro — respondeu D. Quixote; — digo que não pode existir cavaleiro andante sem dama, porque tão próprio e natural assenta nos que o são serem enamorados, como no céu o ter estrelas; e onde com efeito se viu nunca história de cavaleiro andante sem amores? se os não tivesse, não fora tido por legítimo cavaleiro, senão por bastardo, e que entrou na fortaleza da dita cavalaria não pela porta, mas por alguma fresta como ladrão.
— Apesar de tudo — replicou o caminheiro — parece-me (se bem me lembra) ter lido que D. Galaor, irmão do valoroso Amadis de Gaula, nunca teve dama em particular, a quem pudesse encomendar-se; e nem por isso foi tido em menos conta, e foi muito valente e famoso cavaleiro.
Ao que respondeu o nosso D. Quixote:
— Senhor meu, uma andorinha só não faz primavera; quanto mais, que eu sei que esse cavaleiro estava secretamente enamorado, e muito enamorado; e, demais, aquilo de querer bem a todas quantas lhe pareciam bem a ele era gênio seu, e não lhe podia resistir. Mas afinal de contas, averiguado está já que tinha só uma a quem fizera senhora ao seu alvedrio, e a quem se encomendava a miúdo e muito secretamente, porque timbrava de sisudo cavaleiro.
— Visto isso, sendo essencial que todo o cavaleiro há-de ser por força enamorado — disse o outro — também o é por ser da profissão; e a não ser que Vossa Mercê capriche em ser tão de segredo como D. Galaor, com o maior empenho lhe rogo, em nome de toda a companhia, e no meu próprio, nos diga o nome, pátria, qualidade, e formosura da sua dama; ditosa se julgaria ela de que o mundo todo soubera que é amada e servida por um tal cavaleiro como Vossa Mercê parece.
Aqui soltou D. Quixote um grande suspiro, e disse;
— Não poderei afirmar se a minha doce inimiga gosta, ou não, de que o mundo saiba que eu a sirvo. Só posso dizer, em resposta ao que tão respeitosamente se me pede, que o seu nome é Dulcinéia, sua pátria Toboso, um lugar da Mancha; a sua qualidade há-de ser, pelo menos, Princesa, pois é Rainha e senhora minha; sua formosura sobre-humana, pois nela se realizam todos os impossíveis e quiméricos atributos de formosura, que os poetas dão às suas damas; seus cabelos são ouro; a sua testa campos elísios; suas sobrancelhas arcos celestes; seus olhos sóis; suas faces rosas; seus lábios corais; pérolas os seus dentes; alabastro o seu colo; mármore o seu peito; marfim as suas mãos; sua brancura neve; e as partes que à vista humana traz encobertas a honestidade são tais (segundo eu conjecturo) que só a discreta consideração pode encarecê-las, sem poder compará-las.
— Estimaríamos saber a sua linhagem, prosápia e nobreza — replicou Vivaldo.
Ao que D. Quixote respondeu:
— Não é dos antigos Cúrcios, Gaios, e Cipiões romanos; nem dos modernos Colonas e Ursinos; nem dos Moncadas e Requesenes, de Catalunha; nem dos Rebelas e Vilanovas, de Valência; Palafozes, Nuzas, Rocabertis, Corelas, Lunas, Alagões, Urreas, Fozes e Gurreas, de Aragão; Cerdas, Manriques, Mendonças, e Gusmões, de Castela; Alencastres, Palhas, e Meneses, de Portugal; porém descende dos de Toboso da Mancha, linhagem, se bem que moderna, tal, que pode dar generosa raiz às mais ilustres famílias dos vindouros séculos. E não me repliquem a isto, a não ser com as condições que pôs Cervino ao pé do troféu das armas de Orlando, que dizia:
........Ninguém as mova
que entrar não possa com Roldão em prova.
— Se bem que o meu sangue é dos ínclitos Cachopins de Laredo — respondeu o caminhante — não me atreverei a confrontá-lo com o dos de Toboso de la Mancha, ainda que, para dizer toda a verdade, semelhante apelido ainda até hoje não tenha chegado aos meus ouvidos.
— Apelido semelhante a este, bem o podereis dizer — replicou o cavaleiro D. Quixote.
Com grande atenção iam escutando todos os mais o diálogo dos dois; e até os mesmos cabreiros e pastores conheceram a excessiva falta de juízo de D. Quixote. Somente Sancho é que pensava ser verdade tudo que o amo dizia, aliás quem ele era, e tendo-o conhecido de nascença; em que punha alguma dúvida era crer naquilo da linda Dulcinéia del Toboso, porque nunca tal nome nem tal Princesa lhe havia chegado à notícia, com ser Toboso tão à beira da terra dele.
Nestas práticas iam, quando viram que na quebrada de dois montes altos vinham uns vinte pastores, todos com pelicos de lã preta e coroados de grinaldas, que (pelo que depois se reconheceu) eram umas de teixo, outras de cipreste.
Entre seis deles traziam umas andas cobertas de muita diversidade de flores e ramos.
Vendo aquilo um dos cabreiros, disse:
— Os que ali vêm são os que trazem o corpo de Crisóstomo; e ao pé daquela montanha é o lugar onde ele ordenou o sepultassem.
Deram-se portanto pressa em chegar; e foi a tempo, que já os que vinham tinham posto as andas em terra e quatro deles estavam cavando a sepultura ao lado de uma penha.
Receberam-se uns aos outros cortesmente; e logo D. Quixote e os que vinham com ele se puseram a considerar as andas, e nelas descobriram, amantilhado com flores, um defunto vestido de pastor, de idade (o parecer) de trinta anos, que, apesar da morte, mostrava que em vida havia sido de rosto formoso e disposição galharda. À roda de si tinha nas mesmas andas alguns livros e papéis, uns abertos, e outros fechados; e tanto os que aquilo contemplavam, como os que abriam a cova, e todos os mais que ali eram, guardavam um maravilhoso silêncio; até que um dos que trouxeram o morto disse para outro:
— Repara bem, Ambrósio, se será aqui o lugar que disse Crisóstomo, pois quereis que tão pontualmente se cumpra o que determinou.
— É este mesmo — respondeu Ambrósio — que muitas vezes aqui me contou o meu desditoso amigo a história da sua desgraça. Aqui me disse ele que viu pela primeira vez aquela inimiga mortal da raça humana; e foi também aqui que pela primeira lhe declarou seu pensamento tão honesto como enamorado; e aqui, finalmente, foi a última vez que Marcela o acabou de desenganar do seu desdém, de modo que terminou a tragédia da sua vida miserável. Por isso aqui foi, em memória de tantas desditas, que ele determinou o depositassem nas entranhas do eterno esquecimento.
Voltando-se para D. Quixote e para os assistentes, prosseguiu, dizendo:
— Este corpo, senhores, que estais vendo com olhos piedosos, depositário de uma alma em que o céu encerrou infinita parte das suas riquezas. Esse é o corpo de Crisóstomo, que foi único em engenho, único em cortesia, extremo em gentileza, fênix na amizade, magnífico sem senão, grave sem presunção, alegre sem baixeza, e finalmente, primeiro em tudo que é ser bom, e sem segundo em tudo que é ser desafortunado. Quis bem, foi aborrecido; adorou, foi desprezado; rogou a uma fera, importunou a um mármore, correu atrás do vento, deu brados à solidão, serviu ao desagradecimento, e alcançou por prêmio ser despojo da morte no meio da carreira da sua vida, à qual deu fim uma pastora, a quem ele procurava eternizar para que vivesse na memória das gentes; o que bem poderiam mostrar esses papéis que estais vendo, se ele me não tivesse recomendado que os entregasse ao fogo logo que o seu corpo tivesse sido dado à terra.
— Maior rigor e crueldade usareis vós com eles — disse Vivaldo — que o seu mesmo dono, pois não é justo nem acertado se cumpra a vontade de quem ordena o que é tão fora de todo o discorrer assisado; e errado andaria Augusto César, se consentisse em que se executasse o que o divino Mantuano tinha recomendado no seu testamento. Portanto, senhor Ambrósio, já que dais o corpo do vosso amigo à terra, não queirais dar também os seus escritos ao esquecimento. Ele ordenou, como agravado, o que não é bem que vós cumprais por indiscrição. Fazei antes, dando a vida a estes papéis, que fiquem para todo sempre lembrando a crueldade de Marcela, para exemplo aos que vierem, que se apartem e fujam de cair em semelhantes despenhadeiros. Eu e quantos aqui somos já sabemos a história deste vosso enamorado e atribulado amigo, assim como sabemos a vossa lealdade, a ocasião da sua morte, e a sua última vontade. De toda esta lamentável história se pode concluir quanta não foi a crueza de Marcela, o amor da sua vítima, o extremo do vosso bem-querer, e o fim a que vão dar os que à rédea solta correm pela senda que o amor desvairado lhes abre diante dos olhos. Ontem à noite soubemos a catástrofe de Crisóstomo, e que neste lugar havia de ser enterrado; e assim, por curiosidade e lástima, deixamos o caminho em que íamos, e assentamos em vir ver por nossos olhos o que tanto nos tinha consternado quando o ouvimos; e em paga desta paixão e do desejo que em nós outros nasceu de remediarmos o que pudéssemos, te rogamos, ó discreto Ambrósio (ao menos eu to suplico da minha parte) que, deixando de abrasar estes papéis, me consintas levar alguns deles.
Sem esperar resposta do pastor, estendeu a mão, e tomou alguns dos que mais perto lhe estavam.
Vendo aquilo Ambrósio, disse:
— Por cortesia, senhor meu, consentirei que fiqueis com os que tomastes; mas cuidardes que hão-de deixar de arder os que restam é pensamento vão.
Vivaldo, que desejava ver o que os papéis rezavam, abriu logo um deles, e viu que tinha por título: Canção desesperada.
Ouviu Ambrósio, e disse:
— Esse é o último papel que o sem-ventura escreveu; e para que vejais, senhor, o extremo em que o tinham as suas desgraças, lede-o de modo que sejais ouvido; bem vos dará tempo a demora de se abrir a sepultura.
— Da melhor vontade o farei — respondeu Vivaldo. E como todos os circunstantes tinham o mesmo desejo, puseram-se-lhe em derredor, e ele, lendo em voz clara, viu que falava assim:
CAPÍTULO XIV
Onde se põem os versos desesperados do pastor defunto, com outros imprevistos sucessos.
Pois desejas, cruel, que se publique
de boca em boca, e vá de gente em gente,
do teu rigor a nunca vista força;
farei que o mesmo inferno comunique
a este peito aflito um som veemente,
e à minha voz o usual estilo torça.
E a par do meu desejo, que se esforça
a contar minha dor e tuas façanhas,
da voz terrível brotará o acento;
e nele envoltos por maior tormento
pedaços destas míseras entranhas.
Escuta pois, e presta atento ouvido,
não a aprazíveis sons, sim ao ruído,
que desde o abismo do meu triste peito,
obrigado de indômito delírio,
sai para meu martírio e teu despeito.
O rugir do leão; do lobo fero
o ulular temeroso; o silvo horrendo
da escamosa serpente; o formidável
som de algum negro monstro; o grasno austero
da gralha, ave de agouro; o mar fervendo
em luta co’um tufão incontrastável
de já vencido touro o inamansável
bramido; os ais da lúgubre rolinha
na viuvez; o consternado canto
do aborrecido mocho, a par co’o pranto
do inferno todo, soem na dor minha,
e saia com esta alma exasperada
uma explosão de música aterrada,
de confusão para os sentidos todos;
pois a pena cruel que em mim padeço
pede co’o seu excesso estranhos modos.
De confusão tamanha ecos sentidos
pelas praias do Tejo não ressoem;
nem do Bétis nos ledos olivedos;
por ali meus queixumes esparzidos
por cavernas e penhas não ecoem
para o mundo os terríveis meus segredos;
vão por escuros vales, por degredos
de ermas praias a humano trato alheias,
ou por onde jamais se enxergue dia,
ou pela seca Líbia, onde se cria
venenosa ralé de pragas feias;
que inda que nesses páramos sem termo
ninguém me escute os ais do peito enfermo,
nem ouça o teu rigor tão sem segundo,
por privilégio de meus curtos fados
serão levados aos confins do mundo.
São veneno os desdéns; uma suspeita,
ou verdadeira ou falsa, desespera;
e os zelos matam com rigor mais forte.
Ausência larga à morte nos sujeita;
contra um temer olvido não se espera
remédio no esperar ditosa sorte.
No fundo disso tudo há certa a morte;
mas eu (milagre nunca visto!) vivo
zeloso, ausente, desdenhado, e certo
das suspeitas a que anda o peito aberto,
e do olvido em que o fogo em dobro avivo.
E entre tanto tormento, ao meu desejo
nem uma luz de alívio ao longe vejo,
nem já sequer fingi-la em mim procuro;
antes, para requinte de querela,
estar sem ela eternamente juro.
Pode-se juntamente, porventura,
esperar e temer? e onde os temores
têm mais razão que a esp’rança, há-de esperar-se?
Debalde os olhos furto à sina escura;
pelas feridas d’alma os seus negrores
não cessam um momento de mostrar-se.
Quem pode à desconfiança recusar-se,
quando tão claramente se estão vendo
os desdéns e os motivos de suspeitas?
Ai verdades em fábulas desfeitas!
ai câmbio infausto, lastimoso horrendo!
Ó do reino de amor eros tiranos
zelos! dai-me um punhal; desdéns insanos,
um baraço! um baraço! ai sorte crua
celebras tua última vitória;
não há memória atroz igual à tua.
Eu enfim morro e por que nunca espere
que a morte me ressarça o mal da vida,
persistirei na minha fantasia.
Direi que anda acertado quem prefere
a tudo o bem-querer, que a mais rendida
alma é a que de mais livre se gloria.
Direi que a minha algoz não acho ímpia
senão que de alma, qual de corpo, é bela
que eu tenho a culpa, eu só, de sua fereza;
que os males que nos causa com certeza
não se opõem ao tão justo império dela.
Com esta crença e um rigoroso laço,
da morte acelerando o extremo passo,
a que me hão seus desprezes condenado,
darei pendente ao vento corpo e alma
sem louro ou palma de outro e melhor fado.
Com tantas sem-razões, puseste clara
a causa por que odeio e enjeito a vida
e pelas próprias mãos a lanço fora.
De tudo hoje razão se te depara:
profunda e peçonhenta era a ferida;
de não mais a sofrer me eximo agora.
Se por dita conheces nesta hora
que o claro céu dos olhos teus formosos
não é razão que eu turbe, evita o pranto;
tudo que por ti dei não vale tanto
que mo pagues com olhos lacrimosos.
Antes a rir na ocasião funesta
mostra que este meu fim é tua festa.
Louco é quem aclarar-to assim se atreve
sabendo ser-te a ânsia mais querida
que a negra vida me termine em breve.
Vinde, sedes de Tântalo; penedo
de Sísifo; ave atroz que róis a Tício;
vem, roda de Egion com giro eterno;
vinde a mim, vinde a mim; não é já cedo,
tartáreo horror do mais cruel suplício,
urnas de ímpias irmãs, cansado inferno.
Quantos sofrem tormento mais interno,
vejam que igual cá dentro me trabalha;
e se a suicida exéquias são devidas,
cantem-nas em voz baixa, e bem sentidas,
ao morto, a quem faltou até mortalha.
E o porteiro infernal dos três semblantes,
co’os outros monstros mil extravagantes,
soltem-me o de profundis, pois entendo
ser esta a pompa única devida
do amante suicida ao caso horrendo.
Canção desesperada, não te queixes
quando a chorar na solidão me deixes;
se a glória dela no meu mal consiste,
e o perdimento meu lhe traz ventura,
já minha sepultura é menos triste.
Bem pareceu aos ouvintes a canção de Crisóstomo, ainda que o leitor disse que a achava dissonante do que tinha ouvido do recato e bondade de Marcela, porque nos versos o autor se queixava de zelos, suspeitas e de ausência, tudo em menoscabo do bom crédito e fama de Marcela. Ao que Ambrósio respondeu como quem era sabedor dos mais escondidos pensamentos do amigo:
— Senhor, para satisfação dessa dúvida haveis de saber que, o tempo em que o infeliz isto escreveu, estava ausente de Marcela, de quem se tinha apartado por vontade, a ver se a ausência usaria com ele o que tem por costume; e porque ao namorado ausente não há coisa que o não dessossegue, nem temor que lhe não chegue, assim a Crisóstomo o ralavam os zelos imaginados, e as suspeitas, como se foram verdades. E com isto já fica ileso o crédito que a fama pregoa da bondade de Marcela, a quem nem a mesma inveja pode pôr pecha alguma, à exceção de ser cruel, um pouco arrogante, e muito desdenhosa.
— É verdade — respondeu Vivaldo.
E querendo ler outro papel dos que havia salvado do fogo, veio atalhá-lo uma visão maravilhosa (que tal se representava) a qual apareceu ali inopinadamente.
Por cima da penha, a cujo sopé se cavava a sepultura, apareceu a pastora Marcela, tão formosa, que até a sua fama escurecia. Os que ainda a não tinham visto encaravam nela com admiração e silêncio; e os que já estavam acostumados a vê-la não ficavam menos atônitos que os outros. Ambrósio, tanto como a avistou, disse num ímpeto de indignação:
— Vens experimentar, fero basilisco destes montes, se com a tua presença verterão ainda sangue as feridas deste miserável, a quem a tua crueldade tirou a vida? ou vens vangloriar-te, contemplando as cruéis façanhas da tua índole? ou desejas observar dessa altura, como Nero o incêndio de Roma, os efeitos da tua barbaridade? ou pisar arrogante este desastrado cadáver, como a ingrata filha fez ao de Sérvio Túlio? Dize já a que vens, ou o que é que mais te agrada, que por eu saber que os pensamentos de Crisóstomo nunca em vida deixaram de te obedecer, farei que, ainda depois da sua morte, por ele te obdeçam os que se chamaram, e foram seus amigos.
— Não venho, Ambrósio, a nada disso que dizes — respondeu Marcela — venho só a defender-me, e mostrar quão fora de razão andam todos os que me culpam do que penam, e da morte de Crisóstomo. Por isso, rogo a quantos aqui sois me atendais, que não será necessário muito tempo, nem muitas palavras, para persuadir de tão clara verdade os assisados. Fez-me o céu formosa, segundo vós outros encareceis; e tanto, que não está em vossa mão o resistirdes-me; e, pelo amor que me mostrais, dizeis (e até supondes) que esteja eu obrigada a corresponder-vos. Com o natural entendimento que Deus me deu, conheço que toda a formosura é amável; mas não entendo que em razão de ser amada seja obrigada a amar, podendo até dar-se que seja feio o namorado da formosura. Ora sendo o feio aborrecível, fica muito impróprio o dizer-se: “quero-te por formosa; e tu, ainda que eu o não seja, deves também amar-me”. Mas, ainda supondo que as formosuras sejam de parte a parte iguais, nem por isso hão-de correr iguais os desejos, porque nem todas as formosuras cativam; algumas alegram a vista, sem renderem as vontades. Se todas as belezas enamorassem e rendessem, seria um andarem as vontades confusas e desencaminhadas, sem saberem em que haviam de parar; porque, sendo infinitos os objetos formosos, infinitos haviam de ser os desejos; e, segundo eu tenho ouvido dizer, o verdadeiro amor não se divide, e deve ser voluntário, e não forçado. Sendo isto assim, como julgo que é, por que exigis que renda a minha vontade por força, obrigada só por dizerdes que me quereis bem? Dizei-me: se, assim como o céu me fez formosa, me fizera feia, seria justo queixar-me eu de vós por me não amardes? E de mais, deveis considerar que eu não escolhi a formosura que tenho; que, tal qual é, o céu ma deu gratuitamente, sem eu a pedir nem a escolher; assim como a víbora não há-de ser culpada da peçonha que tem, posto matar com ela, em razão de lhe ter sido dada pela natureza, tão pouco mereço eu ser repreendida por ser formosa, que a formosura na mulher honesta é como o fogo apartado, ou como a espada aguda, que nem ele queima, nem ela corta a quem se lhes não aproxima. A honra e as virtudes são adornos da alma, sem os quais o corpo não deve parecer formoso, ainda que o seja. Pois se a honestidade é uma das virtudes que ao corpo e alma mais adornam e aformosentam, por que há-de perdê-la a que é amada por formosa, para corresponder à intenção de quem, só por seu gosto, com todas as suas forças e indústrias, aspira a que a perca? Eu nasci livre; e para poder viver livre escolhi as soledades dos campos; as árvores desta montanha são a minha companhia; as claras águas destes arroios, meus espelhos; com as árvores e as águas comunico meus pensamentos e formosura. Sou fogo, mas apartado; espada, mas posta longe. Aos que tenho namorado com a vista, tenho-os com as palavras desenganado; e se os desejos se mantêm com as esperanças, não tendo eu dado nenhuma a Crisóstomo, bem se pode dizer que o matou a sua teima, e não a minha crueldade; e se se me objeta que eram honestos os seus pensamentos, e que por isso estava obrigada a corresponder-lhes, digo que, quando, neste mesmo lugar, onde agora se cava a sua sepultura, me descobriu a bondade dos seus intentos, eu lhe respondi e declarei que os meus eram viver em perpétua soledade, e que só a terra gozasse o fruto do meu recolhimento, e os despojos da minha formosura; e se ele, com todo este desengano, quis aporfiar contra a esperança, e navegar contra o vento, que muito que se afogasse no meio do golfão do seu desatino!? Se eu o entretivera, seria falsa; se o contentara, desmentiria a melhor intenção e propósito. Desenganado, teimou, desesperou sem ser aborrecido. Vede agora se é razão que da sua culpa se me lance a mim a pena. Queixe-se o enganado, desespere-se aquele a quem faltaram esperanças que tanto lhe prometiam. O que eu chamar, confie-se; o que eu admitir, ufane-se; porém não me chame cruel nem homicida aquele a quem eu não prometo, nem engano, nem chamo, nem admito. O céu por ora não tem querido que eu ame por destino; e o pensar que hei-de amar por eleição é escusado. Este desengano geral sirva a cada um dos que me solicitam para seu particular proveito; e fique-se entendendo daqui avante que, se algum morrer por mim, não morre de zeloso, nem desditado, porque quem a ninguém quer a ninguém deve dar ciúmes; desenganos não se devem tomar por desdéns. O que me chama fera e basilisco, deixe-me como coisa prejudicial e ruim; o que me chama ingrata, não me sirva; quem me julga desconhecida, que me não conheça; quem desumana, que me não siga. Esta fera, este basilisco, esta ingrata, esta cruel, e esta desconhecida, nem os há-de buscar, nem servir, nem conhecer, nem seguir de modo algum. Se a Crisóstomo o matou a sua impaciência e arrojado desejo, por que se me há-de culpar o meu honesto proceder e recato? Se eu conservo a minha pureza na companhia das árvores, por que hão-de querer que eu a perca na companhia dos homens? Tenho riquezas próprias, como sabeis, e não cobiço as alheias; tenho livre condição, e não gosto de sujeitar-me; não quero nem tenho ódio a pessoa alguma; não engano a este, nem solicito a aquele; não me divirto com um, nem com outro me entretenho. A conversação honesta das zagalas destas aldeias, e o trato das minhas cabras, me entretêm; os meus desejos têm por limites estas montanhas; e, se para fora se estendem, é para contemplarem a formosura do céu. São estes os passos contados, por onde a alma caminha para a sua morada primeira.
E isto dito, sem querer ouvir resposta alguma, voltou as costas, e se meteu pelo mais cerrado de um monte que lhe ficava perto, deixando a todos admirados, tanto da sua discrição, como da sua lindeza.
Alguns dos feridos com as setas dos seus belos olhos pareceram querer segui-la, sem os deter o formal desengano que tinham ouvido.
Visto aquilo por D. Quixote, entendendo que para ali acertava bem a sua cavalaria, socorrendo as donzelas necessitadas; posta a mão no punho da espada, em voz alta e inteligível disse:
— Nenhuma pessoa, de qualquer estado e condição que seja, se atreva a seguir a gentil Marcela, sob pena de cair na fúria da minha indignação. Já ela mostrou, com razões claras, a pouca ou nenhuma culpa que teve na morte de Crisóstomo, e quão alheia vive de condescender com os desejos de nenhum dos seus arrojados: e por isso é justo que, em vez de ser seguida e perseguida, seja honrada e estimada de todos os bons do mundo, pois mostra que em todo ele é só ela quem vive com tenção tão honesta.
Ou fosse pelas ameaças de D. Quixote, ou porque Ambrósio lhes disse que concluíssem o que deviam ao seu amigo, nenhum dos pastores se apartou nem moveu dali, até que ultimado o sepulcro, e queimados os papéis de Crisóstomo, puseram o corpo na terra, não sem muitas lágrimas dos circunstantes. Taparam a sepultura com uma tosca lousa, à espera de que se terminasse uma campa, que Ambrósio disse tencionava mandar fazer com um epitáfio que havia de dizer assim:
Aqui jaz de um amador
o pobre corpo gelado;
foi ele um pastor de gado,
perdido por desamor.
Morreu às mãos do rigor
de uma esquiva e linda ingrata,
com quem seu reino dilata
o tirano deus Amor.
Espargiram logo por cima da sepultura muitas flores e ramos e dando todos os pêsames ao amigo, se despediram dele. O mesmo fizeram Vivaldo e o seu companheiro, e D. Quixote despediu-se dos seus hospedeiros e dos caminhantes, os quais lhe rogaram fosse com eles a Sevilha, por ser lugar tão asado para aventuras, que em cada rua e a cada esquina se oferecem mais que em outra alguma parte.
Agradeceu-lhes o cavaleiro a recomendação, e o ânimo que naquilo mostravam de lhe dar gosto; e disse que por então não queria nem devia ir a Sevilha, enquanto não tivesse limpado aquelas serras de roubadores malandrins, de que era fama andarem todas inçadas.
Vendo-lhe a boa determinação, não quiseram os caminhantes importuná-lo mais; antes, despedindo-se de novo, o deixaram, e prosseguiram seu caminho, em que lhes não faltou assunto para conversação, tanto na história de Marcela e Crisóstomo, como nos tresvarios de D. Quixote.
O cavaleiro determinou ir ter com a pastora Marcela, e oferecer-lhe tudo quanto podia para a servir; mas não lhe aconteceu como fantasiava, segundo se contará no decurso desta verídica história.”
Fim.
P.S.: ao Cícero, meu carinho sem par. E depois mais direi a razão. Bjs.
19.08.11
"Osório Silva Barbosa Sobrinho"
08/19/11 3:34 pm >>>
Caroas todoas,
TODO CAMBIA
Cambia lo superficial
Cambia también lo profundo
Cambia el modo de pensar
Cambia todo en este mundo
Cambia el clima con los años
Cambia el pastor su rebaño
Y así como todo cambia
Que yo cambie no es extraño
Cambia el mas fino brillante
De mano en mano su brillo
Cambio el nido el pajarillo
Cambia el sentir un amante
Cambia el rumbo el caminante
Aunque esto le cause daño
Y así como todo cambia
Que yo cambie no es extraño
Cambia todo cambia
Cambia todo cambia
Cambia todo cambia
Cambia todo cambia
Cambia el sol en su carrera
Cuando la noche subsiste
Cambia la planta y se viste
De verde en la primavera
Cambia el pelaje la fiera
Cambia el cabello el anciano
Y así como todo cambia
Que yo cambie no es extraño
Pero no cambia mi amor
Por mas lejos que me encuentre
Ni el recuerdo ni el dolor
De mi pueblo y de mi gente
Lo que cambio ayer
Tendrá que cambiar mañana
Así como cambio yo
En esta tierra lejana
Cambia todo cambia
Cambia todo cambia
Cambia todo cambia
Cambia todo cambia
Pero no cambia mi amor
Por mas lejos que me encuentre
Ni el recuerdo ni el dolor
De mi pueblo y de mi gente
Lo que cambio ayer
Tendrá que cambiar mañana
Así como cambio yo
En esta tierra lejana.
Autor: Julio Numhauser.
(Veja e ouça em:
http://www.youtube.com/watch?v=hf2cnIDyKL8&feature=related).
Hoje é sexta! Aproveite o findi e reveja-se e, se for o caso, mude
também!
Abraços,
Osório
P.S: O Sérgio Taboda está querendo "doar poemas"! Tá "pensando umas
ideias..."
Veja maiores detalhes em: http://fastfoodsolidao.blogspot.com/.
Tabu, conte com meu modesto apoio.
Já o Olavo ficou encantado com:
"Já era quase madrugada
Neste querido Riacho Fundo
Cidade muito amada
Que arranca elogios de todo mundo
O plantão estava tranqüilo
Até que de longe se escuta um zunido
E todos passam a esperar
A chegada da Polícia Militar
Logo surge a viatura
Desce um policial fardado
Que sem nenhuma frescura
Traz preso um sujeito folgado
Procura pela Autoridade
Narra a ele a sua verdade
Que o prendeu sem piedade
Pois sem nenhuma autorização
Pelas ruas ermas todo tranquilão
Estava em uma motocicleta com restrição
A Autoridade desconfiada
Já iniciou o seu sermão
Mostrou ao preso a papelada
Que a sua ficha era do cão
Ia checar sua situação
O preso pediu desculpa
Disse que não tinha culpa
Pois só estava na garupa
Foi checada a situação
Ele é mesmo sem noção
Estava preso na domiciliar
Não conseguiu mais se explicar
A motocicleta era roubada
A sua boa fé era furada
Se na garupa ou no volante
Sei que fiz esse flagrante
Desse cara petulante
Que no crime não é estreante
Foi lavrado o flagrante
Pelo crime de receptação
Pois só com a polícia atuante
Protegeremos a população
A fiança foi fixada
E claro não foi paga
E enquanto não vier a cutucada
Manteremos assim preso qualquer pessoa má afamada
Já hoje aqui esteve pra testemunhá
A vítima, meu quase chará
Cuja felicidade do seu gargalho
Nos fez compensar todo o trabalho
As diligências foram concluídas
O inquérito me vem pra relatar
Mas como nesta satélite acabamos de chegar
E não trouxemos os modelos pra usar
Resta-nos apenas inovar
Resolvi fazê-lo em poesia
Pois carrego no peito a magia
De quem ama a fantasia
De lutar pela Paz ou contra qualquer covardia
Assim seguimos em mais um plantão
Esperando a próxima situação
De terno, distintivo, pistola e caneta na mão
No cumprimento da fé de nossa missão
Riacho Fundo, 26 de Julho de 2011
Del REINALDO LOBO
63.904-4"
(Fonte:
http://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/2011/08/delegado-do-distrito-federal-relata-crime-em-forma-de-poesia.html).
Em anexo três coisas legais (um comercial bem criativo e duas peças processuais rimadas).
É isso.
(Cícero, quando tiveres tempo, por favor, traduz o espanhol arriba).
26.08.11
Caroas todoas,
Amar!
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui...além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...
Autora: Florbela Espanca (colaboração do colega: Luiz Simões – PRR2/Rje ES)
Como diz a Ruberli, precisamos renovar as poesias e os poetas! Onde estão os novos poetas?
Quem os conhecer, por favor, nos envie seus poemas! Precisamos fazer com que as editoras não abram suas páginas dizendo: “não editamos poesias”.
Tudo bem que os antigos são muito bons, mas será que com eles morreu também o talento para criar algo novo? Tudo já foi dito?
Quem nos lê apenas pela poesia, pare por aqui!
Aproveite a sexta-feira e volte na segunda xeio de energia!
Abraços,
Osório Barbosa
P.S.: Nós, funcionários públicos, costumamos ouvir inúmeras injustiças a nosso respeito, daí o escrito abaixo:
Ser funcionário público.
Sou funcionário público, mas não tenho orgulho disso, orgulho eu teria mesmo era de ter pais ricos e não precisar trabalhar.
Sempre se ouve três tipos de pessoas falando mal dos funcionários públicos, são elas:
1 – os ignorantes;
2 – os invejosos;
3 – os mal intencionados.
Tentemos explicar o acima.
Primeira coisa: funcionário público é um “servidor público”, ou “servidor do público”, como ensina Hely Lopes Meirelles.
Ou seja, existe para servir! E só tem sentido se servir mesmo ao seu “senhor”, “patrão” ou seja lá que nome receba, mas que pode ser chamado simplesmente de povo!
Funcionário público é um servo do povo!
Ora, se o povo, que é senhor de tudo, criou o serviço público, é porque ele, povo, necessita da existência do serviço público.
Imaginem o que seria ou como seria a vida em sociedade sem polícia, por exemplo! (não esqueçam que os policiais são funcionários públicos).
Quando alguém está muito doente, com os ossos todos quebrados, o que a família e os amigos mais querem é que seja atendido pronta e eficientemente. Quem conhece sabe quais são os melhores hospitais para atender alguém em estado desesperador: são os hospitais público! São os mais bem equipados.
Quem tem filhos entrando para a universidade, quer que eles estudem em universidades públicas!
Por que se gosta tanto de hospitais e universidades públicas? Ambos são feridos por funcionários públicos!
Não sou imbecil o suficiente para dizer que todo serviço público é uma maravilha, mas ouso afirmar que já se caminhou bastante.
Quem conhece sabe que o serviço público municipal praticamente não existe; o estadual dá os primeiros passos e o federal é, com certeza, o mais eficiente dos três. Como avaliar isso empiricamente? Pergunte aos servidores municipais e estaduais. Todos eles, com as honrosas exceções, gostariam de ir trabalhar na área federal. É fato!
Voltemos, agora às afirmações acima.
Os ignorantes ignoram o que é ser servidor público, logo, não sabem sobre o que falam. Portanto, deixemo-los livres para pensar!
Os mal intencionados, geralmente, são os exploradores de todos os trabalhadores da iniciativa privada (comerciantes e industriais, empresários em geral).
Como não podem explorar os servidores públicos, por não estarem estes a eles subordinados (não terem para com eles relação de emprego), passam a falar mal dos servidores públicos, a dizer aos que são seus empregados que os funcionários públicos são a praga do país. E o pior de tudo, o empregado explorado passa a incorporar as mentiras e a repeti-las e acreditar nelas como se fossem a mais pura verdade.
Pobres empregados!
Pobres fundamentalmente de espírito, pois não veem a própria exploração da qual são vítimas!
Pensam que por terem uma vida extremamente sacrificada (saem de casa às quatro da manhã e voltam às vinte e duas horas. Não conseguem conversar com os filhos [saem quando estes estão dormindo, voltam e eles já firam dormir]. Os seus salários não lhes permitem ter lazer e comprar presentes para a esposa e filhos etc.), essa vida deveria ser a de todos os outros, inclusive dos funcionários públicos. Querem nivelar por baixo!
Percebam, companheiros de jornada, que é a vida de vocês, empregados da iniciativa privada, que está errada, e não a dos servidores públicos. Vocês deveriam gozar dos mesmos direitos (lembrem: direitos e não favor ou privilégio!).
São vocês que estão errados, pois continuam sendo escravos dos seus patrões, que apenas trocaram as bolas de ferro em seus pés por crachás nos vossos pescoços!
O crachá é a canga moderna!
Em breve o chip controlará até o tempo que você passa no banheiro!
Os que insistem nessa cruzada contra os servidores públicos (os patrões, dizemos nós) NUNCA fazem seus filhos acordar às quatro da matina para ir ao trabalho e sair às vinte e duas! Geralmente seus filhos estudam no estrangeiro, viajam para ilhas paradisíacas e esquiam na neve. Têm carrões importados e cartões de crédito com magníficos limites (alguns nem limite têm). Mas para que os filhos dos seus patrões difamadores tenham tudo isso é preciso que ele explore os filhos dos outros: os filhos do seu pai e os netos de seu pai também!
Foram essas pessoas, as que não trabalham e só exploram os outros, que inventaram a tese de que “o trabalho dignifica o homem”!
Pois penso que não há nada mais indigno que o trabalho!
A Bíblia, para quem nela crer, o amaldiçoa (“comerás o pão com o suor do teu rosto”).
Todos os nobres (aqueles que ainda hoje, século XXI, chamamos e são atendidos como tais) não trabalhavam/trabalham.
Quem trabalha não tem tempo para pensar/estudar, divertir-se e aproveitar a breve vida.
O homem trabalhador maltrapilho é o primeiro a ser achincalhado pela polícia (criada e guiada pelos patrões para defendê-los), por exemplo, enquanto protege o malandro de terno!
Ninguém arromba as casas dos grandes ladrões do dinheiro público (regra geral eles não são funcionários públicos, mas dirigem os Ministérios, são os ministros, ou exercem os altos cargos de comissionados, não sendo, portanto, tecnicamente, já que não são concursados, funcionários públicos), mas arrombam os barracos dos trabalhadores na periferia.
Ninguém escuta as reclamações de um trabalhador, já o seu patrão fala com o presidente da República a hora que ele desejar, pois foi ele quem o colocou lá na presidência financiando a campanha eleitoral e depois o manda desviar dinheiro público para pagar esse financiamento.
Os patrões exploram seus trabalhadores, por exemplo, impondo metas a serem cumpridas pelos empregados: todo mês têm que vender um percentual maior que o do mês anterior!
Depois ninguém quer curar o trabalhador do estresse!
Trabalhador é gente para ter estresse?!
Aliás, quando admitem que adoeceram o trabalhador querem mandá-lo para o serviço “público” de saúde, já que o empregado não é capaz de pagar um plano de saúde do próprio hospital onde ele trabalha, por exemplo!
São esses mesmos detratores que dizem, em São Paulo, por exemplo, que não é para o consumidor pedir a nota fiscal, pois ele pode ser prejudicado no futuro! MENTIRA, o que eles querem mesmo é continuar sonegando tributos ao não emitirem a nota fiscal.
Aliás, também em São Paulo, criou-se o “impostômetro”, mas não se criou o “sonegômetro”! Por quê? Justamente por ter sido criado pelos sonegadores de sempre.
No Brasil a sonegação é imensa! Penso que talvez seja maior que a parte recolhida.
O ditado inglês já diz que “por trás de toda grande fortuna tem sempre um grande crime”.
É por tudo isso que não me orgulho de ser servidor público, pois faço o trabalho pelo qual recebo e não tenho pais ricos!
O pior de tudo isso é ver o desgraçado do empregado repetindo essas ignomínias!
Aliás, o empregado costuma ser tão cego para o que lhe diz o patrão que, por exemplo, goza de férias, tem determinada carga horária semanal, recebe décimo terceiro salário, tem repouso semanal remunerado e vive praguejando o velho e bom Karl Marx, quando deveria agradecê-lo todas as manhãs, pois foi seu pensamento e ação quem lhes deu tudo isso, mas acham que isso tudo foram benevolências de seus patrões! ACORDEM!
Patrão não dá nada. Patrão só tira.
Empregado é tão idiota, muitas vezes, que num assalto, por exemplo, costuma morrer para defender a propriedade de seu patrão, que depois esquecerá definitivamente os filhos e mulher do finado, obviamente.
Por fim, restam os invejosos: aqueles que falam dos funcionários públicos mas que queriam estar em seus lugares!
A esses o caminho da mina é o seguinte: TODO ANO TEM CONCURSO PÚBLICO. SE PREPAREM/ESTUDEM – MUITO, POIS A CONCORRÊNCIA É GRANDE -, DEPOIS SE INSCREVAM E DEPOIS SEJAM APROVADOS. Fácil assim!
Está cada vez mais difícil o pistolão e o apadrinhamento. Ninguém mais está entrando pela janela! Todos concorrem em igualdade de condições. Portanto, estudar é a única saída... e entrada (pela porta da frente!).
Depois de aprovados vem a nomeação, a posse e a entrada em exercício. No fim do mês os vencimentos. O governo federal nunca atrasa o pagamento de seus servidores, pelo menos não nos últimos vinte anos.
Como veem, as portas do “paraíso” estão abertas para todos, mas é preciso estudar antes (fazer “calo na bunda”, como se diz), só praguejar os que estudaram e foram aprovados não vale. Se você estudou e não foi aprovado, o conselho: estude mais!
Servidor público é santo? Claro que não, é ser humano igual a qualquer outro seu semelhante. Então faz coisas erradas, se corrompe, por exemplo? Sim. Entretanto, comumente, o corruptor é um patrão que devia pagar CEM e corrompe para pagar apenas 30 ou 40% do que deve.
Quando a corrupção é provada, regra geral, não se pune o corruptor! Por quê?
Vejam o depoimento de uma servidora pública, que, para minha felicidade também é Barbosa (Sandra Helena Barbosa de Andrade). Sua história tangencia com a minha:
Bom dia!
Primeiramente, gostaria de me apresentar. Estou no MPF há 4 anos. Antes de ser aprovada no concurso público do MPF trabalhei na iniciativa privada em várias empresas. Trabalhei como recepcionista, como bancária, gerente, já tive uma academia de ginástica, perdi tudo na época de minha separação, recomecei e meu último emprego antes deste era de telefonista na Probank. Meu salário na época girava em torno de R$ 400,00. Havia acabado de me separar e já estava com meu filho, na época com 2 anos de idade.
Minha origem é humilde, não tinha ninguém me bancando para estudar para os concursos, ou melhor tinha apoio espiritual e motivador por parte dos meus maravilhosos e abençoados pais, mas eles não tinham dinheiro.
Quando me diz que estas pessoas merecem ganhar um salário mais justo concordo, mas quando diz que não merecemos o aumento, fico sinceramente espantada e ofendida até. Sabe por quê? Porque não cheguei até aqui de graça. Na verdade eu fiz muito além do que a maioria se dispõe a fazer.
Demorava de três horas e meia a quatro no trajeto de ida e volta e todos os dias ia estudando no ônibus e na Van, mesmo quando ia a pé. Fim de semana e tempo livre, me dividia entre atender meu filho e estudar para concursos - vários. O que mais ouvia das pessoas em geral é que eu estava me matando a toa e que nunca conseguiria passar pois a maior parte dos concorrentes de peso passavam o dia inteiro estudando e fazendo cursos. Enfim, o que quero dizer é que você esqueceu do mérito de seus colegas. Passar no MPU não é tarefa fácil e exige muito esforço e qualificação. O salário maior é pago justamente por esta qualificação (exemplo: é justo um médico ganhar o mesmo que um garçom? As duas profissões são muito respeitáveis para mim, mas percebo que em uma delas foi necessário um investimento bem maior pra ser exercida e provavelmente se o salário fosse igual, não teríamos médicos) porque não fosse isso, qual a motivação para ser um servidor público passando por severa prova de conhecimento e persistência? Quando diz que "não merecemos aumento" parece pensar que todos nasceram servidores públicos, quando na verdade somos sobreviventes desse mercado de trabalho que acabou de citar, que fizeram além do esperado para ter uma oportunidade de conquistar uma vida mais digna. Você não ajuda ninguém, rebaixando a conquista dos que se esforçaram. Seria mais útil incentivar a todos que se esforcem em melhorar e fazer por merecer. Eu sempre achei que os concursos públicos são a maneira mais justa e democrática para uma pessoa, principalmente as de origem simples, buscarem uma vida melhor pois depende de cada um se empenhar em alcançar.
Outra coisa, também tenho a impressão de que você acha que o serviço público não tem importância e que para realizá-lo não existe a necessidade de tanta qualificação, que qualquer um pode executá-lo.
Veja, nosso país é nosso tesouro e por sinal, já tem bastante gente de olho nele. Acredito que você tem conhecimento de diversos rombos e vergonhosas (e criminosas) ações de que o dinheiro e patrimônio público é vítima - consequentemente OS BRASILEIROS. Acha que se abaixarmos a retaguarda, colocarmos pessoas sem qualificação comprovada tudo vai melhorar? (porque quem está mais preparado exige mais e em compensação pode fazer melhor).
Devemos lutar por melhora no ensino, na saúde, por justiça, por reconhecimento e não nivelar por baixo tirando o mérito de quem conquistou e a fé de quem ainda pode sem dúvida vir a conquistar, da maneira certa, correta, UM FUTURO MELHOR!!!
Sandra”.
Portanto, meu até então inconsciente amigo (depois da leitura deste você só continuará inconsciente se agir de má-fé), não queira mal aquele que só tem um dever na vida: servi-lo!
Não pense no bombeiro apenas quando sua casa estiver pegando fogo!
É isso o que penso. E você?
Abraços,
Osório Barbosa
P.S.: Ter orgulho de ser funcionário público eu não tenho, mas tenho um puta orgulho de ter chegado lá! Foram horas não dormidas; funks não frequentados; praias esquecidas e muitas outras renúncias, mas o sorriso e a alegria dos meus pais, que me ajudaram muito, não tem preço.
P.S2.: Por último quero oferecer o acima dito a Ricardo Alves de Santa Rosa (http://intranet.prr3.mpf.gov.br/boletim/anoviii/boletim152.htm) pessoa que, por sua gentileza, encanta todos aqueles que têm a felicidade de encontrá-lo no seu posto de trabalho na PRR3 quando aqui adentram. É exemplo de alegria e educação contagiante! Ricardo, obrigado por me mostrar que a minoria faz a diferença!
P. S2.: Tudo o que os homens dizem em relação às mulheres vale no sentido inverso (é a famosa “faca de dois legumes”). Vejam essa pílula nova:
P.S.3.: Matemática Simples para paulistas...
Desculpem os paulistas que adoram contar piada de gaúcho e sacanear os nordestinos, mas ... amigos, Matemática Pura (onde 1+1=2; 2+2=4 ... e assim vai).
Acompanhe o raciocinio: se considerarmos 800.000 pessoas na PASSEATA GAY de São Paulo, a que conclusão poderemos chegar ???
1º) Sabemos que a população da capital é cerca de 20.000.000 de pessoas (vinte milhões);
2º) Destes, 55% são mulheres (11.000.000);
3º) 17% são de idosos sem aptidões sexuais (3.400.000);
4º) 23% estão na faixa etária até 12 anos, portanto sem prática ou preferencia sexual (4.600.000);
5º) 1% da população são de pessoas sem qualquer contato com a sociedade e vivem internadas em hospitais, manicomios, etc. (200.000);
6º) Restam portanto apenas 800.015 pessoas, quase que exatamente o numero de participantes da PASSEATA GAY de São Paulo.
CONCLUSÃO LÓGICA:
Tirando uns 15 paulistas que estão de férias no nordeste ou viajando a trabalho,
TODO o paulista é VIADO !!!
REALMENTE, TÁ AQUI O PORQUÊ DO RECALQUE DOS PAULISTAS !!!
Passe pra toda a sua lista e faça este e-mail correr o Brasil !!! Se não passar é porque é paulista ....
02.09.11
Caroas todoas,
Sou (mais quem não é?), assumidamente, brega! Digo isso para que não venha a acusação! Sou réu confesso!