Sofística
(uma biografia do conhecimento)
126 – Sofística – restauro de seus ensinamentos (reabilitação).
Ensina Guthrie:
“Desde a década de trinta, assistimos, porém, a um movimento vigoroso para restaurar os sofistas e sua parentela como campeões de progresso e ilustração, e um afastamento de Platão como fanático reacionário, que, denegrindo sua reputação, assegurou a rejeição de seus escritos.
(...)
Popper ...Para ele representam os pioneiros do pensamento liberal e democrático na Grécia, ...”hoje a amizade com Platão encontra-se sobretudo entre os estudiosos (e seus amigos e discípulos) cuja visão dele antecipou o surgimento do nazismo”. ...o objetivo do partido nazista alemão, tal como se descreve em seu programa oficial, era produzir “guardiães no sentido platônico mais elevado”.
Psicanalítica ...Platão o homossexual dominado pela culpa com premência irresistível de domínio. (Fonte: Os sofistas, W. K. C. Guthrie, tradução, João Rezende Costa, Paulus, São Paulo, 1995, p. 15).
É Barbara Cassin quem diz:
“Em primeiro lugar, podemos facilmente mostrar que as reavaliações sucessivas que a sofística conheceu são, em resumo, apenas exaltações das desvalorizações primitivas: consistem em atribuir um valor positivo ao que Platão estigmatiza. Assim se explica, por exemplo, o caráter paradoxal de algumas posições modernas, que continuam a utilizar o termo "sofisma" no sentido usual desde Platão, ao mesmo tempo em que propõem uma "reabilitação dos sofistas". [Osório diz: reabilitação “pero no mucho”!].
O passe é feito depressa. No plano teórico, os sofistas tratam de não-ser, e dos fenômenos ou dos acidentes: Hegel, em suas lições sobre a história da filosofia, mostra o quanto Górgias tem logicamente razão em insistir sobre o não-ser do ser, e como Protágoras inaugura "a reflexão na consciência". No plano prático os sofistas platônicos são imorais, preferindo o poder e o dinheiro: Nietzsche, invertendo os valores, faz o elogio de Cálicles não sem propor, dessa vez acompanhando um certo Platão, voltar ao "cuco Sócrates" em toda a sua ambivalência. Enfim, sua habilidade retórica tão perniciosa é valorizada como politicamente necessária ao bom funcionamento das assembléias da democracia, assim como acentua George Grote e, segundo a análise de Heinrich Gomperz, como portadora de normas estéticas e pedagógicas. [Osório diz: o elogio de Cálicles!].
As interpretações mais recentes não são de forma alguma exceção. G. B. Kerferd, por exemplo, em The Sophistic Movement, se surpreende de que, em um mundo tão pouco platônico como o nosso, a rejeição da sofística permaneça tão mal questionada. Mas em sua própria reinterpretação, pinta a imagem de uma sofística hiper-racionalista, aplicando "a razão para buscar a compreensão dos processos tanto racionais quanto irracionais": os sofistas têm finalmente sempre, para Kerferd, como para Platão e Aristóteles, o defeito/o mérito de querer dizer adequadamente a indizível realidade fenomenal.” [Osório diz: Crítica a Kerferd]. (Fonte: Ensaios Sofísticos, Barbara Cassin, Tradução de Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão, Edições Siciliano, São Paulo, 1990,p. 15-16).