Sofística
(uma biografia do conhecimento)
44 – A ficção e o fim-ruptura com a Filosofia.
É Barbara Cassin quem diz:
“Compreendamos a que ponto todas essas teses estão ligadas. A ficção da palavra assinala a ruptura com a filosofia ("Como vos tirar dá cabeça o emprego filosófico de meus termos, quer dizer, o emprego sujo?" Roma, 544), portanto a nova situação do discurso (nos sons) e do pensamento ("nos músculos cuticulares da fronte", como no ouriço, Roma, 544). Desaparece o objeto subsistente e substancial, em benefício do efeito e da eficácia desse efeito:
O objeto a ... é o objeto sobre o qual exatamente não há nenhuma ideia (é o que justifica minhas reservas acerca do pré-socratismo de Platão) ... O simbólico, o imaginário e o real são o enunciado daquilo que opera efetivamente na fala de vocês quando vocês se situam no discurso analítico, quando analistas vocês são. Mas esses termos só emergem verdadeiramente por e para esse discurso (Roma, 546-7),
Foi assim que Górgias, pensando como sofista com seus gestos, seus achados e suas aliterações, fez com que Helena fosse inocente e a natureza, o que brota e o que cresce, fosse não-ente.” (Fonte: Ensaios Sofísticos, Barbara Cassin, Tradução de Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão, Edições Siciliano, São Paulo, 1990, p. 307-308).