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41.73 - Fenomenologia - clareza do seu discurso - contradição.

Sofística

(uma biografia do conhecimento)

 

41.73 - Fenomenologia - clareza do seu discurso - contradição.

 

É Barbara Cassin quem diz:

 

De fato, o estilo, o modo de-expressão, ou, segundo a bela definição da léxis proposta pela Poética, "a manifestação do sentido por meio da colocação em palavras" (16, 1450b13-15), que convém à apódeixis, é sempre caracterizada por sua "clareza" (tà saphés). Isso é manifesto no caso da demonstração científica. Assim, as Segundas Analíticas apresentam as definições claras e os raciocínios concludentes: "Da mesma forma que, nas demonstrações, é preciso que haja clareza" (13, 97b31s.). Ora, chega-se à clareza partindo dos singulares, reagrupando-os em espécies e depois em gêneros, encontrando pois o comum, para alcançar um universal que não seja nem homônimo nem metafórico, mas, como indicam por sua vez os Tópicos (IV, 3, 123a33s., ou VI, 2, 139b 32ss.), kyríos, "propriamente dito"; assim acontece por exemplo com a "temperança", sophrosyne, a virtude por excelência, que, contrariamente ao que pode dizer Platão, não e uma harmonia", já que a harmonia "propriamente dita" só tem lugar entre os sons. Nomes próprios, definições claras, silogismos concludentes: o discurso que ajuda o fenômeno a se desvelar deve ser transparente", a clareza é o estilo do lógos enquanto fenomenológico: enquanto ele desaparece diante desse fenômeno que ele faz ver.

A apódeixis cai também, lembramo-nos, sob a jurisdição da retórica, já que é prova maior e parte essencial de qualquer exposição. O ponto de partida é ainda o mesmo: "(...) a excelência do estilo, é a clareza. Eis aqui um índice: o discurso, se não mostrar, não fará seu trabalho" (Retórica, III, 2, 1404b1-3, remetendo ao início do capítulo 22 da Poética). Só que, na Retórica como na Poética, há um "e": o estilo deve ser claro "e não banal", "não trivial" (me tapeine). Ora, o que salva um estilo da trivialidade, são os tropos e certamente o primeiro de todos, a metáfora. O estilista é assim tomado em um double-bind: é necessário que seja claro — sem metáfora —, mas sem trivialidade — com metáfora. Como se a demonstração se dilacerasse entre a clareza pura mas trivial do conhecimento científico e a clareza enfeitada mas contraditória da poesia e da retórica.” (Fonte: Ensaios Sofísticos, Barbara Cassin, Tradução de Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão, Edições Siciliano, São Paulo, 1990, p. 240).

 

 

 

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