Sofística
(uma biografia do conhecimento)
41.58 - Historiador - contra a Sofística.
É Barbara Cassin quem diz:
“Da mesma forma o paradigma da verdade se encontra transformado. A sofística não é mais avaliada pela autenticidade filosófica, e sim doravante, pela exatidão do fato histórico. É agora o olhar historiador que traz para a sofística, e para a sua parentela filosófica e literária, a acusação de pseûdos. Desse novo conflito é testemunho, por exemplo, o texto de Luciano, Como escrever a história: o historiador, cujo julgamento deve ser um "espelho brilhante, sem mancha e bem centrado" (50), se opõe ponto por ponto ao poeta que, à diferença de Tucídides, tem o direito de "derrubar com um traço de pena a fortaleza dos Epípolas" (38). O historiador se define por não ser romancista. [Osório diz: o historiador contra a sofística (segunda)].
Entretanto Luciano faz sofística sobre a própria sofística; sua ironia, na História verdadeira chega a pôr en abîme ["Cair no abismo"] sua própria prática, "Decidi mentir, mas com mais honestidade que os outros, pois há um ponto sobre o qual eu direi a, verdade, é que eu conto mentiras". Jogando assim como paradoxo do mentiroso a história "verdadeira" opõe à história dos cronistas e à narrativa fiel dos acontecimentos a força inigualável da invenção. [Osório diz: a força da invenção!]
A primeira sofística, face à filosofia, prefere ao discurso conforme ao ente, ou ao ser do ente, um discurso criador de consenso. É esse deslocamento mesmo, da adequação ao consenso político e cultural, que se repercute no deslocamento da oposição pertinente: história, e não mais filosofia, face à segunda sofística. Passa-se assim da ontologia às ciências humanas, e da sofística à literatura.” [Osório diz: ser do ente: “ser daquilo que cresce e vem à presença”] e [Osório diz: tudo que tratam a primeira e a segunda sofística]. (Fonte: Ensaios Sofísticos, Barbara Cassin, Tradução de Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão, Edições Siciliano, São Paulo, 1990, p. 14-15).