Sofística
(uma biografia do conhecimento)
41.54 - Fazer ver o que se diz.
É Barbara Cassin quem diz:
“2. Fazer ver o que se diz: a retórica de Aristóteles e a dos sofistas
É apoiando-se nessa diferença entre duas vertentes da fenomenologia, a ontologia e a logologia, que gostaria de opor, não mais dois modelos filosóficos (dizer o que se vê), mas dois regimes retóricos (fazer ver o que se diz). Trata-se de contrastar dois estilos que se poderiam reconhecer, ainda hoje em dia, sob seus avatares: o de Aristóteles e o dos sofistas. Estudaria assim dois sistemas de exposição: a apódeixis, ou demonstração, e a epídeixis, ou prestação, e, correlativamente, dois tropos paradigmáticos: a metáfora, e a ékphrasis, descrição, para tentar contrastar a ciência de colocar diante dos olhos, e o prazer de encher os olhos.
2.1. Apódeixis e epídeixis, demonstração e prestação
A deîxis é o ato, e a arte, de mostrar sem palavra, com seu índex estendido como Crátilo, o fenômeno fugaz, ou com um gesto soberano, como Justiça no Poema de Parmênides, o caminho do ser. A apódeixis é a arte de mostrar a partir do que é mostrado, apoiando-se nele, de de-monstrar. A epídeixis é a arte de mostrar diante, em presença de um público, de exibir e, simultaneamente, de se servir daquilo que se mostra como de um exemplo, de mostrar a mais, além de supervalorizá-lo.” (Fonte: Ensaios Sofísticos, Barbara Cassin, Tradução de Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão, Edições Siciliano, São Paulo, 1990, p. 234).