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21 – Antístenes era um sofista?

Sofística

(uma biografia do conhecimento)

 

21 – Antístenes era um sofista?

 

Nos diz Guthrie sobre Antístenes:

 

Fundador da escola cínica.

Todavia viveu no auge dos tempos sofísticos, provavelmente um pouco mais velho do que Pródico e Hípias, e, como vimos, esteve envolvido profundamente no debate sobre o uso da linguagem e sobre a possibilidade de contradição que formava parte do contexto teórico da retórica do séc. V, no qual Protágoras desempenhou papel de liderança. [Osório diz: a própria disposição dos sofistas na casa de Cálias, mostra que não formavam uma escola, pois estava cada qual no seu canto fazendo a “sua” exposição]

Antes de entrar sob a influência de Sócrates, era retórico e aluno de Górgias. [Osório diz: fez o mesmo que Crítias?]

O veredito de Popper, segundo o qual ele foi o único sucessor digno de Sócrates, o último da “Grande geração” (…) foi prefigurado por Grote: “Antístenes, e seu discípulo Diógenes, foram em muitos aspectos aproximações mais estritas de Sócrates do que Platão ou qualquer outro dos companheiros de Sócrates”. [Osório diz: quem retrata mais fielmente Sócrates?]

Schmid [sobre Antístenes, diz que] “sua filosofia andou pela vereda de livre-pensador indisciplinado contra o qual Platão teve que enfaticamente se precaver” (Gesch. 272s).

Diz-se que era filho de ateniense e escrava trácia, e, sendo assim, não era cidadão ateniense.

Cerca de 455 a 360 não deve estar longe da duração de sua longa vida.

Foi retórico e aluno de Górgias, a quem depois atacou.

Mais tarde se tornou amigo e admirador fanático [Osório diz: fanatismo que se tornou contagiante!] de Sócrates.

Nunca houve uma escola cínica no sentido literal em que a Academia, o Liceu e a Stoá eram escolas. [Osório diz: como também nunca existiu uma escola sofística antes, mas o autor não esclarece esse pormenor fundamental].

Cinosargers (p. 282) [Este era o ginásio destinado a bastardos, ou homens de descendência mista (Demóst. 23.213 e fontes posteriores), que corresponde ao relato de sua origem meio estrangeira. Mas D.L. ou sua fonte [p. 282] tenta por todos os meios apresentá-lo como o fundador do cinismo. "Cinosarges" introduz-se como origem alternativa para o nome, e D.L. imediatamente continua dizendo que o próprio Antístenes era chamado Haplokyon (da mesma forma como foi chamado Kyon por Heródico no séc I a.C. ap. Aten. 216b), ao passo que pode haver pouca dúvida de que o Cão original foi Diógenes. Aristóteles já o conheceu pelo nome (Ret. 1411a24), mas falou dos seguidores de Antístenes como Antistheneioi. A estória em D.L. (loc. cit.) segundo a qual tinha poucos alunos porque, como ele disse, "os afugentava com uma vara de prata", se tiver base no fato, implica que, apesar de seu socraticismo, cobrava tanto que muitos não queriam pagar. Teria aprendido a agir desta maneira como retórico e aluno de Górgias. [Osório diz: D.L = Diógenes Laércio / Tudo que não presta vem dos Sofistas! Ainda bem que, cada vez mais me convenço que Sócrates era um deles, e isso é uma prova de tal entendimento]]

Cínicos [ (Os cínicos eram notoriamente caracteres “difíceis”).]

Ele se chamou o mais rico dos homens, porque a riqueza residia nas almas dos homens, e não em seus bolsos, e equiparava pobreza com independência. Dos homens que faziam tudo para aumentar suas fortunas ele tinha dó como se fossem doentes. Sofriam como se fossem homens cujos corpos nunca estavam satisfeitos por mais que comessem. A felicidade não está em ter grandes posses, e sim em perder o desejo delas.

Existe um toque especialmente cínico em sua referência ao sexo como uma necessidade meramente corporal, para cuja satisfação qualquer mulher serviria. [Osório diz: esta deve ser a primeira manifestação da “mulher objeto”!]

Quando, ao falar do apetite sexual – ele diz que preferiria satisfazê-lo sem prazer, uma vez que o prazer intenso derivado dele é prejudicial. De modo semelhante, devia-se comer e beber somente para afastar a fome e a sede. O único prazer que se pode recomendar é o que segue do trabalho duro (fr. 113) e que não traz nenhum arrependimento. (p. 283) [Osório diz: A briga contra o prazer! Isso me lembrou de um episódio do “Hora de aventura”, no qual o homem Banana diz: “não posso namorar, pois isso vai gastar o tempo em que eu podia estar trabalhando”!]

Através dos cínicos supôs-se também ter sido fundador do estoicismo antes de Zenão, e os escritores que sucederam, como nos apresenta Diógenes Laércio, adotaram uma linha direta de mestre e aluno: Antístenes-Diogenes-Crates-Zenão. Se, como em geral se supõe hoje, isso não é estritamente histórico, provavelmente é certo que ele deu impulso a uma característica saliente de cada um deles: isto é, como o apresenta Diógenes Laércio, “a indiferença de Diógenes, o autodomínio de Crates, e a resistência de Zenão” – todos traços que ele próprio afirmara ter encontrado em Sócrates. Com sua doutrina da virtude como o fim da vida (fr. 22) certamente antecipou Zenão. A virtude pode ser ensinada e uma vez adquirida não se pode perder (frs. 69, 71). [Osório diz: o ensino da virtude/arete, diz Antístenes] É ensinada pela ação e pelo exemplo mais do que pela argumentação e erudição, e é suficiente em si mesma para assegurar a felicidade. A virtude não precisa de longos discursos.

O sábio é auto-suficiente, pois sua riqueza abarca a de todos os homens.

Não há nenhum traço de teoria sistemática nem de qualquer conexão com sua doutrina lógica tal como a encontramos em alguns sofistas.

O homem sábio não age de acordo com as leis estabelecidas, mas de acordo com as leis da virtude. [Osório diz: daí para ele a existência das leis serem indiferentes e, até, prejudiciais! São submetidos a tratamentos destinados a suspeitos. Todos passam a ser suspeitos, como ocorre no caso das portas giratórias dos bancos].

O seu Politikos Logos, como se nos diz, atacou "todos os demagogos de Atenas", e fez de Alcibíades alvo particular (frs. 43, 29, 30). [ ...seu conselho de que deviam elevar pelo voto asnos à posição de cavalos.]

[Este Arquelau era o tirano da Macedônia que o aluno de Górgias, Pólus, afirmou para Sócrates no Górgias de Platão (470d ss) que era homem malvado e não obstante sumamente feliz. Argumentava contra o ensino socrático que era melhor ser vítima do mal do que cometê-lo (Fr. 42.). (Dümmler, com tendência quellenkritisch, afirmou ter encontrado o conteúdo do Arquelau no discurso décimo de Dio Crisóstomo. Veja seu Akad. 1-18).]

Ele pode ter afirmado que a retórica não só era a criadora da persuasão, mas também o critério e o veículo da verdade 94 (p. 284) [Osório diz: no que está correto, já que até hoje não sabemos o que é a verdade].

Não há nada mais, a não ser o relato da réplica bombástica à afirmação de Parmênides da impossibilidade do movimento: não sendo capaz de responder aos argumentos com palavras, ele simplesmente se pôs de pé e andou. [Osório diz: será que andou mesmo?]

A interpretação da poesia, em geral por causa de suas lições morais, formava parte da ocupação de todo mestre grego, e Antístenes não foi exceção. [Osório diz: a poesia na formação dos gregos]

Disse que a razão pela qual o velho Nestor pôde levantar a taça (Il. 11.636) não era porque era excepcionalmente forte, mas porque era o único que não estava bêbado.

Em longa análise de epíteto polytropos aplicado a Ulisses, ele disse que se aplicava tanto ao caráter como ao discurso, o que lhe deu ocasião de introduzir a definição contemporânea do sophos como locutor habilidoso, e daí polytropos porque mestre de muitos tropoi ou jogos de linguagem e argumentos.

Também atualizou Homero introduzindo nos poemas a distinção entre verdade e opinião. [Osório diz: o que não é lá tão distinguível, mas é um início].

Embora não concordasse com Protágoras e Górgias que a opinião era tudo e não havia nenhum critério objetivo de verdade. (p. 285)

Antístenes [e] Platão (…); há boa razão para admitir hostilidade entre os dois. [Osório diz: Platão era desagradável aos seus próprios colegas socráticos].

Muitos estudiosos, sobretudo na Alemanha, pretenderam descobrir ataques velados a Antístenes em vários diálogos de Platão, às vezes sob outros nomes, e, por este meio, reconstruir muita coisa do seu ensino. Gastaram-se grande esforço e considerável ingenuidade nesta tentativa, e há boa razão para admitir hostilidade entre os dois. [Osório diz: como Guthrie chega a esta conclusão? E se há, por que a ingenuidade em procurá-los?]. Além de anedotas, Antístenes escreveu um dialogo insultando Platão sob nome ignominioso de Sathon. [Sathon, aplicado aos nenês, era diminutivo de sathe significando pênis.]

O mesmo se pode dizer da teoria de Joël segundo a qual a descrição que Xenofonte faz de Sócrates não tem nenhum valor histórico, porque fazia dele uma figura essencialmente antistenesiana e cínica. [Osório diz: para o fanático Joël, somente Platão, nada mais que Platão! Mas, isso casa com o que diz Arsitófanes]

[Joël, Der echte u. d. Xenoph. Sokr. Joël sustentou a notável teoria de que Pródico tanto em Xenofonte como em Platão não era Pródico, e sim máscaras para Antístenes, para quem até a fábula da escolha de Hércules se deve transferir. (Veja sobre isso H. Mayer, Prod. 120). O livro foi criticado por muitos, inclusive pelo próprio Joël (v. sua Gesch. 731, n. 3), e uma reavaliação da questão foi agora empreendida por Caizzi, Stud. Urb. 1964, 60-76. [Osório diz: o malcaratismo de Joël].]

Platão não diz mais sobre ele senão mencionar o seu nome entre os amigos íntimos que estiveram presentes com Sócrates na prisão até o momento de sua morte. [Osório diz: Por que?]

 

Diógenes Laércio faz uma lista de cerca de setenta e quatro títulos divididos em dez volumes.

 

Ajax e Ulisses

Hércules

Ciro

Aspasia continha (p. 286) ataques grosseiros a Péricles e seus filhos.

Sathon,

Arquelau,

Politicus.

 

[Escreveu sobre o] monoteísmo e ‘sobre a educação e os nomes’”. (Fonte: Os sofistas, W. K. C. Guthrie, tradução, João Rezende Costa, Paulus, São Paulo, 1995, p. 281 a 287).

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