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18 – Os sofistas eram (são) Filósofos?

Sofística

(uma biografia do conhecimento)

 

18 – Os sofistas eram (são) Filósofos?

 

Kerferd ensina:

 

É provável que a importância histórica e intelectual dos sofistas seja agora mais geralmente reconhecida do que era antes. É indiscutível que eles ensinaram e discutiram gramática, teoria linguística, doutrinas filosóficas e morais, doutrinas sobre os deuses e a natureza e a origem do homem, crítica e análise literária, matemática e, pelo menos em alguns casos, os elementos da teoria física sobre o universo [Osório diz: o que discutiram os Sofistas?]. Mas eram eles filósofos? Isso ainda não é geralmente admitido. [295] Depende, em parte, da definição de filosofia. Aqui o fantasma do platonismo ainda está ativo. Para Platão, os sofistas rejeitavam o que ele considerava ser a realidade última e estavam tentando explicar o universo em termos de seus aspectos fenomenais apenas. Para Platão, o mundo fenomenal era um mundo falso, sem realidade e, portanto, sem o requisito essencial para ser um genuíno objeto de conhecimento. Mas no mundo moderno, onde os especialistas, na maioria, não são platônicos e, de modo geral, nem mesmo querem procurar a realidade na direção em que Platão acreditava que ela devia ser encontrada, é algo paradoxal que a condenação platônica ainda permaneça em grande parte indiscutível. Já vai longe o tempo em que a rejeição de qualquer realidade transcendente podia ser tomada como indício de que a busca da verdade fora abandonada. [Osório diz: Platão e a modernidade! / O problema, creio eu, ainda é de financiamento: as religiões continuam “bancando” a educação e, consequentemente, as pesquisas, além de condenando!].

Tudo bem, pode-se responder. De fato pode-se procurar a verdade sem compromisso com uma realidade transcendente. Mas e se os sofistas fossem o equivalente dos modernos jornalistas ou publicitários, no que têm de pior – não interessados na realidade transcendente, com certeza, mas igualmente não interessados também nas verdades empíricas, simplesmente preocupados com o que pode ser revestido de suficiente aparência de verdade para persuadir ou enganar o público? Isso bastaria para explicar a vasta série de assuntos discutidos pelos sofistas. Essa é, de fato, a opinião tradicional sobre a natureza do movimento sofista.

Tal alegação se relaciona em parte com os motivos dos sofistas individuais e isso é difícil de ser determinado por nós. Mas, na medida em que envolve um juízo sobre os escritos [296] existentes dos sofistas, essa alegação comporta uma resposta categórica. Se tivéssemos mais de seus escritos poderíamos esperar que a resposta fosse clara e inquestionável. Com aquilo que temos, precisamos, como é frequente nos estudos da Antiguidade, proceder por inferência a partir de testemunhos inadequados e incompletos. Isso significa que há campo para desacordo. O que me parece impressionante, contudo, são as claras indicações, que sobrevivem, de uma série de doutrinas técnicas em discussão nas que hoje chamaríamos de esferas da filosofia e da sociologia.

Vivemos numa época de ceticismo e desconfiança, e às vezes parece que expressar admiração por alguma coisa ou alguém é se expor a acusações de ingenuidade ou desonestidade. Expressões tais como a glória da Grécia ou a grandeza da época de Péricles, em Atenas, não estão mais exatamente na moda. Também é suspeita a ideia de que a Grécia atingiu o seu mais alto ponto de cultura e civilização na segunda metade do século V a.C. e que a isso se seguiu um longo declínio, resultante acima de tudo do enfraquecimento de Atenas, depois da sua derrota na Guerra do Peloponeso. Apesar disso, é ainda legítimo expressar cautelosa aprovação das conquistas atenienses, na arte e na arquitetura, durante esse período. Da mesma forma, a literatura da época e, acima de tudo, as tragédias de Esquilo, Sófocles e Eurípides exercem uma infinda fascinação. A estatura de Tucídides como historiador não diminuiu em nada. O que é preciso é que se reconheça que os sofistas foram, com toda a probabilidade, parte não menos notável e importante do progresso da Atenas de Péricles — importantes por si mesmos e também na história [297] da filosofia. Em vista da natureza do testemunho, essa opinião requer mais estudo para ser consolidada. Esperamos que o presente estudo possa ter feito algo para sugerir que, pelo menos no seu plano geral, essa opinião está correta.” [298]. (Fonte: O movimento sofista, G. B. Kerferd, tradução de Margarida Oliva, Loyola, São Paulo, 2003, p. 295 a 298).

 

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