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Poesia: deleite-se ou delete-me (20.03.15).

 

Fico a me perguntar: e que mãe não é de ferro?

 

Dica de leitura.

 

Em conversa virtual com o Professor do Instituto Piaget, em Lisboa, o Filósofo José Fernando Vasconcelos Cabral Pinto (autor, dentre outros, do “Sócrates, um filósofo bastardo”), soube que seu filho Felipe Cabral Pinto, também é escritor! Tentei comprar e comprei, mas não recebi, o livro “História de um hipocondríaco que queria pôr o cê de cedilha no alfabeto”. Narrei ao pai a minha desventura com a loja virtual e, então, o genitor me enviou, generosa e gratuitamente, livro do seu pimpolho!

Editado pela editora Pé de Página, minha edição data de 2004.

Me identifiquei com o personagem principal António Antunes, cognominado “homem do Norte”, pois enquanto ele é do Norte de Portugal eu sou do Norte do Brasil.

Na história do livro acontece um acidente com uma moça, Teresa Teixeira. O mesmo acidente eu tinha imaginado com uma moça na minha cidade, Maraã, quando ela tomava banho de rio, como fazíamos todos por lá. Ela veio a cair, de nádegas, sobre o galho de uma árvore submersa, que a gente chama de toco, e machucou-se, de leve, mas ficou com a lembrança do acidente para sempre, pois neste acidente perdeu a virgindade!

Outra identificação ocorreu pelo fato de o personagem travar uma luta pela inserção do “cê de cedilha no alfabeto português”, pois neste não está, e, não estando, logicamente, não pode ser usado! Como se usa algo que não existe?!

O mesmo fiz eu profissionalmente, ao contestar o uso (ou aplicação) da reforma ortográfica promovida pelo novo acordo da língua portuguesa que estamos usando sem que esteja em vigor! Minhas razões, para tanto, são as seguintes:

 

OSÓRIOSILVABARBOSASOBRINHO, brasileiro, solteiro, Procurador Regional da República, com domicílio profissional a Av. Brigadeiro Luis Antônio, nº 2020, 14º andar, Gabinete 142 – Bela Vista, São Paulo – Capital, vem respeitosamente perante Vossa excelência oferecer

 

REPRESENTAÇÃO

 

com o escopo de instauração de procedimento acerca de eventual violação aos dispositivos da Constituição Federal de 1988 c/c Lei nº 8.666/93, notadamente quanto aos gastos públicos relativos aos livros utilizados na rede de ensino pública atualizados com o novo acordo ortográfico brasileiro (promulgado pelo DECRETO Nº 6.583, DE 29 DE SETEMBRO DE 2008) ainda não vigente, por determinação do Decreto nº 7.875, de 27 de dezembro de 2012, conforme as questões de fato e de direito a seguir expostas:

 

DOS FATOS

 

Brasil e Portugal firmaram tratado em 1990 unificando a ortografia da língua portuguesa, sendo promulgado no Brasil pelo Decreto nº 6.583/2008, e conhecido como o “novo acordo ortográfico da língua portuguesa”.

 

Ocorre que o citado decreto determinava o prazo fatal do ano-calendário 2012 para o uso obrigatório da nova ortografia oficial, o que foi postergado pelo Decreto nº 7.875/2012 para 31 de dezembro de 2015.

 

Conforme se depreende da leitura de ambos decretos, até a data fatal fixada para 31/12/2015, é correto utilizar-se tanto a antiga ortografia quanto a nova, cabendo ao bom senso do leitor/escritor optar por utilizar integralmente em seus textos apenas uma, evitando confusão ortográfica.

 

Porém, o Ministério da Educação expediu em 2008 resolução autorizando a impressão e alteração dos livros adotados nas redes públicas de ensino, para que os estudantes já fossem se adaptando às novas regras ortográficas. Vejamos:

 

Resolução/CD/FNDE17,de7demaiode2008

AutorizaaadequaçãodoslivrosescolaresdeensinofundamentalemédioàsmudançasimplementadaspeloAcordoOrtográficodaLínguaPortuguesa.

 

OPRESIDENTEDOCONSELHODELIBERATIVODOFUNDONACIONALDEDESENVOLVIMENTODAEDUCAÇÃOFNDE,nousodasatribuiçõeslegaisquelhesãoconferidaspeloartigo14,CapítuloV,SeçãoIV,doAnexoI,doDecreton.º6.319,de20/12/2007,eosartigos3º,edoAnexodaResolução/CD/FNDE31,de30/09/2003,e

 

CONSIDERANDOaconveniênciaeaoportunidadedaatualizaçãodoslivrosutilizadosporalunoseprofessoresdaEducaçãoBásicaàsnovasregrasortográficas,queentramemvigorapartirde2009,emcumprimentoaoAcordoOrtográficodaLínguaPortuguesa,assinadoemLisboa,em16dedezembrode1990,eaprovadopeloDecretoLegislativo54,de18deabrilde1995,publicadonoDiárioOficialdaUnião,Seção1,Página5585,de20/04/1995,enoDiáriodoCongressoNacional,Seção2,Página5837,de21/04/1995.

 

RESOLVEADREFERENDUM:

 

Art.AutorizaraadequaçãodasobrasdoProgramaNacionaldoLivroDidático(PNLD),doProgramaNacionaldoLivroparaoEnsinoMédio(PNLEM)edoProgramaNacionalBibliotecadaEscola(PNBE)àsmudançasimplementadaspeloAcordoOrtográficodaLínguaPortuguesa.

 

Art.Oslivrospodemserobjetodeconversãoouadaptaçãoparadistribuiçãoaosalunoseprofessoresdaredepúblicadeeducaçãobásica,desdequenãoocorraalteraçãononúmerodepáginasdecadalivro,emqualquerhipótese.

 

§Aconversãoconsistenasubstituiçãodetodasaspalavras,fraseseexpressõesgrafadasnaformacorrentepelanovagrafiaoficial.

 

§Aadaptaçãosignifica,nasobrasdocomponentecurriculardeLínguaPortuguesa,aconversãodetermosdescritanoparágrafoanterior,etambémasupressãoouinclusãodefrasesoutextosqueenunciamregrasgramaticaisrespectivamenterevogadasouintroduzidaspelanovanorma.

 

Art.Adistribuiçãodoslivrosadequadosàsnovasnormasortográficaspodeocorrerparautilizaçãoapartirdoperíodoletivode2009,considerandoaspeculiaridadesdecadaprogramaeosciclosdeprodução,distribuição,reposiçãoecomplementação.

 

§Adecisãoderealizaraadequaçãodasobrasànovanormaoudemantersuaformaoriginal,talcomoinscrita,avaliadaeaprovadanoPNLDenoPNLEM,édecompetência,iniciativaeresponsabilidadeexclusivasdecadadetentordedireitoautoral.

 

§Asobraspodemserfornecidaspelaseditorasdevidamenteconvertidasouadaptadasparaoatendimento:

 

dadistribuiçãorelativaaoProgramaNacionalBibliotecadaEscola,noperíodoletivode2009;

dareposiçãoecomplementaçãodassériesfinaisdoensinofundamentalasérieouaoanonosperíodosletivosde2009e2010;e

daprimeiradistribuiçãoetambémdareposiçãoecomplementaçãodoensinomédio,nosperíodosletivosde2009,2010e2011.

§Oslivrosadequadosconformedefinidonoparágrafoanteriordeverãoestarassimidentificadosporumselopadronizado,aserfornecidopeloFNDEparaestefim.

 

§Ficavedadaaadequaçãodeobrasdareposiçãoecomplementaçãodassériesiniciaisdoensinofundamentalasérieouaoanonoperíodoletivode2009.

 

§NãocaberáqualquerinterferênciaouresponsabilizaçãoaoMinistériodaEducaçãosobreoprocessoouoresultadodaadequaçãodasobrasdidáticas,observadoodispostonoartigodestaResolução,especialmentenoqueserefereaonúmerodepáginas,parafinsdecontroledequalidadeecumprimentocontratual.

 

Art.AsobrasaseremproduzidasparaoseditaisdoPNLD2010,PNLD2011,PNLEM2012,PNBE2010eseguintesdevemestarobrigatoriamenteadequadasàsnovasregrasortográficas,conformeespecificaçãonosrespectivoseditaisouseustermosaditivos.

 

Art.EstaResoluçãoentraemvigornadatadesuapublicação.

 

FERNANDOHADDAD

 

Ora, como é possível modificar todas as edições e todos os livros de ensino fundamental e médio utilizados nas escolas públicas sem haver aumento nos gastos de produção, alteração e impressão?

 

Conforme alhures destacado, o novo acordo ortográfico só entra em vigência a partir de 31 DE DEZEMBRO DE 2015, após o novo decreto assinado pela atual Presidente Dilma Rousseff.

 

Logo, a utilização de livros já alterados com a nova ortografia quando esta ainda sequer é obrigatória contraria os princípios administrativos da eficiência, economicidade, proposta mais vantajosa de licitação, eis que a simples leitura da resolução acima colacionada denota que não houve nova seleção de editoras através da devida licitação em busca do melhor para os estudantes brasileiros, o que já evidencia a confusão causada pela referida reforma!

 

DO DIREITO

 

Dispõe a Constituição Federal Brasileira:

 

Art.37.AadministraçãopúblicadiretaeindiretadequalquerdosPoderesdaUnião,dosEstados,doDistritoFederaledosMunicípiosobedeceráaosprincípiosdelegalidade,impessoalidade,moralidade,publicidadeeeficiênciae,também,aoseguinte:

[...]

 

XXI-ressalvadososcasosespecificadosnalegislação,asobras,serviços,comprasealienaçõesserãocontratadosmedianteprocessodelicitaçãopúblicaqueassegureigualdadedecondiçõesatodososconcorrentes,comcláusulasqueestabeleçamobrigaçõesdepagamento,mantidasascondiçõesefetivasdaproposta,nostermosdalei,oqualsomentepermitiráasexigênciasdequalificaçãotécnicaeeconômicaindispensáveisàgarantiadocumprimentodasobrigações.

 

Art.208.OdeverdoEstadocomaeducaçãoseráefetivadomedianteagarantiade:

[...]

VII-atendimentoaoeducando,emtodasasetapasdaeducaçãobásica,pormeiodeprogramassuplementaresdematerialdidático escolar,transporte,alimentaçãoeassistênciaàsaúde.[grifosnossos]

 

Já a Lei nº 8.666/93 determina os casos da necessidade de licitação:

 

Art.14.Nenhumacompraseráfeitasemaadequadacaracterizaçãodeseuobjetoeindicaçãodosrecursosorçamentáriosparaseupagamento,sobpenadenulidadedoatoeresponsabilidadedequemlhetiverdadocausa.

 

Art.15.Ascompras,semprequepossível,deverão:

 

I-atenderaoprincípiodapadronização,queimponhacompatibilidadedeespecificaçõestécnicasededesempenho,observadas,quandoforocaso,ascondiçõesdemanutenção,assistênciatécnicaegarantiaoferecidas;

 

II-serprocessadasatravésdesistemaderegistrodepreços;

 

III-submeter-seàscondiçõesdeaquisiçãoepagamentosemelhantesàsdosetorprivado;

 

IV-sersubdivididasemtantasparcelasquantasnecessáriasparaaproveitaraspeculiaridadesdomercado,visandoeconomicidade;

 

V-balizar-sepelospreçospraticadosnoâmbitodosórgãoseentidadesdaAdministraçãoPública.

 

§1oOregistrodepreçosseráprecedidodeamplapesquisademercado.

 

§2oOspreçosregistradosserãopublicadostrimestralmenteparaorientaçãodaAdministração,naimprensaoficial.

 

§3oOsistemaderegistrodepreçosseráregulamentadopordecreto,atendidasaspeculiaridadesregionais,observadasasseguintescondições:

 

I-seleçãofeitamedianteconcorrência;

 

II-estipulaçãopréviadosistemadecontroleeatualizaçãodospreçosregistrados;

 

III-validadedoregistronãosuperioraumano.

 

§4oAexistênciadepreçosregistradosnãoobrigaaAdministraçãoafirmarascontrataçõesquedelespoderãoadvir,ficando-lhefacultadaautilizaçãodeoutrosmeios,respeitadaalegislaçãorelativaàslicitações,sendoasseguradoaobeneficiáriodoregistropreferênciaemigualdadedecondições.

 

§5oOsistemadecontroleoriginadonoquadrogeraldepreços,quandopossível,deveráserinformatizado.

 

§6oQualquercidadãoépartelegítimaparaimpugnarpreçoconstantedoquadrogeralemrazãodeincompatibilidadedessecomopreçovigentenomercado.

 

§7oNascomprasdeverãoserobservadas,ainda:

 

I-aespecificaçãocompletadobemaseradquiridosemindicaçãodemarca;

 

II-adefiniçãodasunidadesedasquantidadesaseremadquiridasemfunçãodoconsumoeutilizaçãoprováveis,cujaestimativaseráobtida,semprequepossível,medianteadequadastécnicasquantitativasdeestimação;

 

III-ascondiçõesdeguardaearmazenamentoquenãopermitamadeterioraçãodomaterial.

 

§8oOrecebimentodematerialdevalorsuperioraolimiteestabelecidonoart.23destaLei,paraamodalidadedeconvite,deveráserconfiadoaumacomissãode,nomínimo,3(três)membros.

 

Art.16.Serádadapublicidade,mensalmente,emórgãodedivulgaçãooficialouemquadrodeavisosdeamploacessopúblico,àrelaçãodetodasascomprasfeitaspelaAdministraçãoDiretaouIndireta,demaneiraaclarificaraidentificaçãodobemcomprado,seupreçounitário,aquantidadeadquirida,onomedovendedoreovalortotaldaoperação,podendoseraglutinadasporitensascomprasfeitascomdispensaeinexigibilidadedelicitação.(RedaçãodadapelaLei8.883,de1994)

 

Parágrafoúnico.OdispostonesteartigonãoseaplicaaoscasosdedispensadelicitaçãoprevistosnoincisoIXdoart.24.(IncluídopelaLei8.883,de1994).

 

Ocorre que, como é sabido, alguns colégios aderiram ao FNDE (Fundo Nacional do Livro Didático) que, em apertada síntese, corresponde ao fornecimento em ciclos dos livros necessários aos alunos da rede pública seguindo os editais e resoluções do MEC que determina as obras necessárias ao apropriado ensino nas escolas, conforme consulta ao sitehttp://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/livro-didatico-funcionamento.

 

Porém, de acordo com a Resolução nº 17/2008, anteriormente colacionada, os livros fornecidos às escolas públicas deverão estar de acordo com o novo acordo ortográfico a partir de 2009!

 

Assim, tal procedimento é contrário ao disposto no Decreto nº 6.583/2008, alterado pelo Decreto nº 7.875/2012 , tendo em vista que o novo acordo ortográfico entraráemvigênciaesetornaráobrigatórioapartirdedejaneirode2016.

 

DESTAFORMA,OACORDOORTOGRÁFICOÉVÁLIDO,MASAINDANÃOÉVIGENTEENEMEFICAZ,OQUEDEMONSTRAOABSURDOEMALTERARTODOOMATERIALDIDÁTICOESCOLAREMFUNÇÃODEUMANORMAQUEAINDANÃOÉEXIGÍVEL!

 

E, não obstante o até aqui exposto, tal acordo tem sido motivo de debate junto ao Senado1, ou seja, A POSSIBILIDADE DE HAVER MAIS ALTERAÇÕES O QUE RESULTARÁ EM MAIS GASTOS PÚBLICOS PARA REIMPRESSÃO DE TODO MATERIAL!!!

 

Neste diapasão, patente a violação aos dispositivos da Constituição Federal de 1988 e Lei nº 8.666/93, sendo medida de rigor a apuração e regularização da situação ora colocada sob apreciação.

 

Sob o signo do provisório: de todo o acima narrado, fica patente que, no tema ora exposto, o Brasil, como quase sempre, está vivendo sob o signo do provisório! Sob o signo do “se”!

 

Está-se usando um acordo que não está em vigor e que poderá nunca vir a estar, bastando, por exemplo, sua prorrogação “sinedie”, sem dia determinado, ou que o Senado Federal reveja o decreto e que um dia venha a pô-lo em vigor!

 

Se tal matéria fosse da área econômica, certamente, que imprensa e capital, que são irmãs gêmeas, já teriam colocado “a boca no trombone” para dizer que no Brasil não se tem segurança jurídica, mas, como o assunto é a educação de milhões de brasileiros que não se quer ver educados, o tema não tem importância alguma, afinal, que importância tem a educação para um país?

 

DO PEDIDO

 

Face ao exposto, pugna-se que este órgão ministerial tome as medidas que entender cabíveis em relação à comercialização e veiculação de material didático já alterado pelo novo acordo ortográfico que não se encontra em vigência em afronta aos princípios da eficiência e economicidade prescritos na CF/88, recomendando ao Ministério da Educação e Cultura - MEC, inclusive, a revogação de editais e resoluções que determinam a citada modificação, assim como afronta direta à Lei de Licitações à medida que despende gastos extras para impressão de novos livros alterados sem a devida regulamentação válida, tudo em prol ao direito fundamental à educação.

 

São Paulo, 16 de outubro de 2014.

 

Osório Barbosa

PROCURADORREGIONALDAREPÚBLICA”.

 

Tenho ou não motivos para me identificar com o António Antunes?

O homem do Norte é hipocondríaco, coisa que acredito não ser, no entanto! Por aí param as nossas coincidências.

Gostei muito da forma como o livro está escrito, a despeito do uso de termos que não usamos normalmente no Brasil, mas que são usados apenas no português de Portugal!

O livro tem, inicialmente, um humor fantástico! A cena do António indo chamar o médico é impagável!

A história começa alegre portanto, depois toma um rumo inesperado.

A tia do hipocondríaco – e sua casa não era bem o que inicialmente pensávamos que fosse – era uma senhora de respeito no desrespeito, os amigos não eram lá tão amigos, enfim, uma reviravolta em tudo muito bem urdida pelo autor.

Mas o que era humor vira consternação! A doença do hipocondríaco, de início engraçada (fechar a porta com o cotovelo para não pegar na maçaneta com a mão lavada e ser novamente infectado por micróbios), agrava-se, e ele, solitário, não tem ajuda de ninguém!

Sua reputação levou-o a separar-se da pessoa que amava e por quem era amado!

Quem poderia ajudá-lo ele afastou de seu convívio e passa, assim, a exagerar nas rotinas, como a de lavar as mãos, por exemplo, cuidados desnecessários, e acaba por martirizar-se com o asseio excessivo que se torna mania e o leva a transformar-se em um Lázaro quando pensa que apenas está afastando-se de vírus e bactérias.

A história de Teresa, a namorada do homem do Norte não é agradável, mas podia ser emocionante, coisa que não é, mas a leitura do livro é impagável.

Atualmente o termômetro que uso para dizer se gostei ou não de um livro é: eu o recomendaria a um filho meu? Se responder-me sim, gostei.

É o caso, este eu recomendaria, mas tomaria cuidado apenas com a idade do rebento.

Assim, se recomendo aos meus filhos, recomendo a você, que ora me lê.

Obrigado pelo presente ao autor, por intermédio de seu genitor, de quem, certamente, herdou o gene de bem escrever.

Espero que o livro saia em novas edições e atravesse o oceano, como fez o outro Cabral, que deve ser parente!

Abaixo alguns excertos da obra para abrir-lhe o apetite:

 

História de um hipocondríaco que queria pôr o cê de cedilha no alfabeto

 

Filipe Cabral Pinto

(Editora Pé de Página Editores, 2004)

 

Queremos realçar a impossibilidade de escrever palavras com letras que não existem. O que será feito da acção, acomodação, criança, vingança, esperança, lembrança e até dos Açores? (p. 12)

 

Nada faria prever que dele fluíssem odores capazes de paralisar os entusiasmos masculinos, não pela qualidade, mas pelo forte problema de flatulência que atormentava a menina Teresa desde a sua adolescência, altura em que, em brincadeira infantil, a virginal rapariga tropeçou e foi cair com o seu lindo rabo em cima de uma garrafa de vinho. Dizem as más línguas que o incidente não se deveu a uma queda em plena brincadeira. Comenta-se em surdina que o episódio revelou a sua vontade precoce de fruir estremecimentos varonis. (p. 13)

 

não há bela sem senão (p. 14)

 

corpo magricela que segurava a sua alma (p. 15)

 

Ao espelho justificava-se da sua inépcia: - não tenho menções honrosas nem medalhas de mérito só porque receio o êxito e temo a exposição pública. Arménio Antunes amedrontava-se com a ribalta e refugiava-se no lugar do ponto. O pânico da distinção fustigava-lhe a serenidade. O anonimato escrevia tanto no currículo que não permitia a assinatura do sucesso. (p. 16)

 

Não conseguiu distrair a timidez, sucumbiu à singularidade de um sucesso faltoso e morreu vitimado de fama malfadada. (p. 17)

Na frescura da idade (p. 17)

 

aquela dança laboral (p. 17)

 

Em compensação, os mais novos preparavam-se para uma noite agitada, envolta nos mistérios da sedução. As mulheres embelezavam-se cuidadosamente e insinuavam o desejo de uma noite arrebatada, impregnada de amor. E os varões perfumavam-se sem parcimónia e preparavam-se para a cerimonia com galantearia.

Miguel não conhecia a palavra maldade, mas desconhecia simultaneamente o significado de moral esta conjugação tornava-o num ser saudavelmente perverso, sempre afirmara que se enveredasse por uma carreira no mundo do crime escolheria o ramo de violação. Mas como não possuía em espírito violento limitava-se a pagar para obter os préstimos genitais de acordo com as suas excentricidades. Matias olhava-a com carinho, enquanto mordiscava o lábio roliço, e simulava um beicinho inexistente. (p. 18)

 

às escuras todos os míopes são cegos (p. 22)

 

Os vírus são mais do que muitos (p. 24)

 

O papel rasgado foi para ao cesto de material de reciclar; Antunes era um verdadeiro ecologista

ironia esta que o levava a matar-se por ter medo de morrer! (p. 26)

 

Miguel Matias gostava de olhar para as mulheres feias enquanto caminhava na rua. Quanto mais deformadas e distorcidas fossem mais atenção lhes prestava. Inspeccionava-se de alto e baixo, observava-as ao pormenor, para que reparassem naquela violação profunda e descarada. Era a sua forma de distribuir um pouco de felicidade a quem tinha sido injustiçada pela natureza. Era a sua bondade mais profunda a transbordar para os corpos daquelas infelizes, que se arrastavam pelos passeios esquecidas da sua fealdade, ferindo a estética das cidades. Sentia-se bem como a sua acção digna de um herói, sim, um verdadeiro herói, pois as presas eram a torpeza nmo seu mais elevado aprumo.

Miguel observava fixamente as mulheres com as pernas inchadas que, de tão gordas que eram, se juntavam como se fossem uma só. Babava-se ao ver as bocas desgastadas pela porcaria acumulada nos dentes sujos, de uma cor escura e mal definida. Simulava prazer ao ver caminhar na sua direcção fêmeas completamente curvadas, em jeito de desculpa pela existência precária. Mas a todas Miguel respondia com um sorriso de conquista, um olhar sedutor, uma carícia visual. Era a sua forma de dizer-lhes, não desistam, ainda há a possibilidade de um príncipe encantado se apaixonar pelo vosso físico, afinal, eu estou aqui perfeitamente siderado pela vossa beleza. Continuem, continuem a avançar, um dia chegará o vosso tempo. Elas ruborizavam pressentindo aquela invasão do seu corpo. Sentiam o olhar a subir pelas pernas com meiguice, lentamente, até atingir a zona mais venusta, onde se demorava por alguns momentos, e regozijavam-se com a violação que continuava corpo acima até embater e contornar os seis excessivos ou inexistentes. Atacava-lhes um rubor de penetrante em plena rua, à vista desarmada. E lá continuavam o seu caminho, agora carregado de alguma esperança e harmonia. (p. 31)

 

pequeno-almoço (p. 43)

 

um embaraço explícito. A verdade é que os heróis só existem na nossa cabeça, são criados por nós, mesmo os mais famosos. As lendas não passam de inverdades embelezadas. (p. 48)

 

O documento engorda com algum fastio. O jovem até tem sofrido de alguns contratempos, é certo, como daquela vez em que processou as editoras por usarem o cê de cedilha nos seus textos. O homem do norte argumentou com pertinência: se a letra não está no alfabeto então ela não existe, e se não existe posso registá-la como invenção minha. E foi o que fez, sem reticências. Mas pobre coitado, nem assim conseguiu convencer o juiz. Em vez de receber uma indemnização por uso indevido de uma marca sua, ainda teve de pagar uma avultada verba, pois nenhuma editora lhe perdoou os gravosos insultos que proferiu. (p. 54)

 

Um chocolate prometia amargar a boca do médico no fim da bebida.

 

Um fato que lhe conferia um certo estatuto (p. 57)

 

simpática indelicadeza (p. 58)

 

num futuro o roçar o presente (p. 62)

 

É só uma boca a comer, mas são dois braços a trabalhar (p. 92)

 

que de virtudes nunca ouvira falar

fez um zigue quando devia ter feito um zague (p. 92)

 

dedicou-se à amargura de quem dos horrores sofre calada (p. 97)

 

e a dependência ganhou autonomia (p. 99)

 

Sem perder tempo com charadas

 

serei distante como um jornalista deveria serenidade (p. 100)

 

o óptimo é inimigo do bom (p. 101)

 

a mais velha profissão do mundo deixou de ouvir falar dela (p. 104)

 

maleta de médico onde escondia o material necessário à profissão (p. 106)

 

A manhã surgiu tristonha e vestia de escuro (p. 107)

 

nunca mais chega o fim do mês (p. 114)

 

De uma voz nascem vozes e de muitas vozes nascem verdades, já se diz na minha terra ou, se não de diz, vai passar a dizer-se. (p. 121)

 

deu-lhe tofo amor, e, deu-lhe tanto que ficou sem nenhum (p. 127)

 

A raiva é a paixão dos traídos(p. 128)

 

O senhor Rodrigues resolveu aproveitar o final da sua estadia naquela casa para ir visitar uns familiares que viviam no norte, ou seria no sul? Se o próprio senhor Rodrigues não sabe onde moram os seus familiares, por que hei-de eu saber, se sou simplesmente o narrador desta história que já foi longa? (p. 130)

 

O esquecimento de quem está vivo apaga em definitivo a lembrança dos mortos.

 

vento leve, esse mesmo, o que nunca se cansa de passear pela casa. (p. 133)

 

Um hipocondríaco é um doente sem doença. Pedro Antunes que sofria de tudo e não sofria de nada. (p. 137)

 

a barriga burguesa (p. 146)

 

Mas o clímax tardava e, tal como Deus, falhava. (p. 157)

 

Rejeitavam tudo aquilo que os obrigasse a pensar, ou a agir. (p. 167).”.

 

Até mais,

 

Abraços,

 

Osório

 

POEMEMOS:

 

Amor latino

 

Sim, disse ele.

Não, disse ela.

No silêncio, os olhos dialogam.

Sim, disse ela.

Não, disse ele.

Outra vez o silêncio.

Outra vez o diálogo.

Agora, dos corpos!

 

O silêncio latino

fomenta o “amor de perdição.”

Camilo não sabe disso!

A pressa é tanta

que cede espaço à imoralidade.

A degradação moral dos homens

é o passo seguinte.

 

E surgem os filhos do acaso:

José Solidão.

Violeta Diu,

Sinésio Mal Amado,

Pedro do Desespero,

Venância Distração,

Augusto Leviana,

Agenor Terceira Dose,

Francisco Boa Cantada,

Genésio da Tentação Morena,

Eunice Dias de Férias,

Natalino Real,

Severino Erro de Tabela,

Geraldo do Esquecimento,

Claudionor da Imploração,

Silviano Camisinha,

Custodio do Amor Sonhado,

Antônio Volkswagen,

Manoel da Brincadeirinha...

 

A diarréia do mundo

fomenta o amor latino.

 

Autor: Paulo Bonfim (Fonte: Juarez de Oliveira, Café com Leite – Encontro Poético do Paulista Paulo Bonfim e do Mineiro Juarez de Oliveira, Ed. Juarez de Oliveira Ltda, p. 259/260).

 

 

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