Morávamos no interior do Amazonas e minha mãe tinha um irmão que foi para a segunda guerra lutando na Itália, Francisco (Chico) Cavalcante!
Eu ainda menino, costumava ouvi-la cantar a música "Na Serra da Mantiqueira", de Gastão Formenti, que em uma estrofe diz:
"Na Serra da Mantiqueira / Sob a fronde da mangueira / Que ela em moça viu plantar, / Sentadinha no seu banco, / Lá na encosta do barranco, / Mãe Maria vai sonhar."
Já homem visitei pela primeira vez Poços de Caldas-MG, justamente na Serra da Mantiqueira, e minha mãe e sua música voltaram-me à mente, se é que de lá um dia saíram!
As distâncias entre Norte e Sudeste, as voltas que a vida dá me encheram de melancolia, somente recompensada pela beleza da cidade!
Uma cidade limpa! Bem conservada e atenciosa com o seu maior produto: o turismo!
Como os mineiros daquelas bandas atendem bem! Isso quando conseguimos entender o "minerês"!
Seus monumentos bem conservados; parques e praças limpos e preservados. Os brinquedos, mesmo antigos, todos pintadinhos, convidativos ao seu público e aos pais desse público!
Um passeio de charrete – veículo respeitado pelos demais com muitos cavalos, e ela com apenas um –, puxada pelo "Pirulito", guiado e freado pelos beijos do "Purguinha", cujo nome custamos a entender, mas que nos conquistou com sua gentileza!
Me diverti junto com meus filhos (4 e 8 anos) dando comida aos patos, marrecos e gansos enquanto passeávamos num bote no lago do parque!
Comida boa, doces melhores ainda! "Lá não se contam calorias, contam-se causos"!
A bandinha no coreto no final da tarde reúne os pés de valsa da cidade, em especial os de mais idade que dão um show a parte com seus rebolados e piruetas, com os machos a pavonearem-se para as belas damas, algumas com salto 15 e mais de 70 aninhos. Um luxo só e uma alegria contagiante.
E o melhor: voltei de lá – eu que sou formado em Direito –, "Doutor em Medicina"! É que estou servindo aos amigos, sem receita, "Pinissilina", uma cachaça da melhor qualidade e que é um antibiótico a curar todos os males da alma!
Voltei também meio deus grego, pois trouxe "Ambrosia" que será, de agora em diante, meu alimento!
Você quer ser feliz?
Visite Poços e a bela Mantiqueira! Vale a pena.
Abraços,
Osório
POEMEMOS:
Aumapassante
A rua em torno a mim era um só alarido.
Linda, leve, de luto, em sua dor majestosa,
Uma mulher passou e com a mão preciosa
Erguia e balançava a barra do vestido.
Ágil, nobre, escultura de beleza inata,
E eu sorvia – embevecido e a alma sedenta,
Em seu lívido olhar onde dorme a tormenta –
A doçura que encanta e o prazer que mata.
Um clarão... e foi só! Fugitiva beldade,
Cujo olhar permitiu-me nascer outra vez,
Só te verei de novo na eternidade?
Longe daqui, tarde demais, nunca talvez!
Não saberás de mim nem eu onde estarias,
Tu que eu teria amado, oh tu que o sabias!
Autor: Charles Baudelaire (Fonte: “O prazer do poema: Uma antologia pessoal”. Organização e traduções por Ferreira Gullar. Rio de Janeiro, 2014, p. 325).