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Poesia: deleite-se ou delete-me (24.01.14).

 

Maraãvilhosos,

 

M Rosa

(Arte da minha filha Maria Rosa do Carmo Silva Barbosa, a macuxi).

 

 

Dia desses lhes disse que inicie minhas parcas leituras de poemas por Cruz e Souza, e que este simbolista quase me castra!

Procurando rever meus conceitos sobre o “Cisne Negro”, fui ao Sebo Liberdade e adquiri dois livros sobre o poeta de Desterro e deles colhi os dois poemas abaixo. Vejam-nos e me digam.

O primeiro, sobre o velho, vem ao encontro de algum pensamento que insiste em turvar minha mente. Que ser velho é muito chato e que velho, além de chato, se faz chato!

E não falo da velhice corpórea, pois todos vocês, humanos, irão inexoravelmente envelhecer. Falo da velhice de espírito que é aquela contra a qual tenho minha bronca.

O cara já disse que “é melhor ser alegre que ser triste”, mas os velhos insistem em ser tristes, ranzinzas e agourentos. Não se contentam com sua própria decadência, razão, talvez, da infelicidade, e saem por aí a espalhar mau humor, inúmeras vezes contra crianças! Neste caso, parece, que por verem nos infantes o caminho oposto daquele que trilham, quando, na verdade, o caminho é o mesmo, só que um está no começo e o outro está no fim!

Deveriam saber que a única coisa 100% é a morte, que abraçará a todos!

Entretanto, no intervalo enquanto ela não chega, melhor aproveitar a vida, como se aproveita a última gota de vinho da última garrafa onde não se tem onde comprar outra.

Por falar em beber um vinho, vejam a foto a seguir. Trata-se de uma mesinha e seus bancos sabem onde? No Corcovado, no RJ! Ela passou a fazer parte de um projeto que realizarei em breve: tomar uma (ou mais) garrafa de vinho na companhia de alguém muito especial apreciando aquele cenário feito por mim, ops, digo por... sei lá, mas por alguém que tinha excelentíssimo bom gosto.

Corcovado

O segundo poema abaixo, tem a ver com o tema do assunto tratado no parágrafo anterior, mudando o que deve ser mudado.

 

Abraços,

 

Osório

 

Poememos:

 

 

Velho

 

Estás morto, estás velho, estás cansado!

Como um suco de lágrimas pungidas

Ei-las, as rugas, as indefinidas

Noites do ser vencido e fatigado.

 

Envolve-te o crepúsculo gelado

Que vai soturno amortalhando as vidas

Ante o repouso em músicas gemidas

No fundo coração dilacerado.

 

A cabeça pendida de fadiga,

Sentes a morte taciturna e amiga,

Que os teus nervosos círculos governa.

 

Estás velho estás morto! Ó dor, delírio,

Alma despedaçada de martírio

Ó desespero da desgraça eterna.

 

e,

 

Canção do Bêbado

 

Na lama e na noite triste

Aquele bêbado ri!

Tua alma velha onde existe?

Quem se recorda de ti?

 

Por onde andam teus gemidos,

Os teus notâmbulos ais?

Entre os bêbados perdidos

Quem sabe do teu — jamais?

 

Por que é que ficas à lua

Contemplativo, a vagar?

Onde a tua noiva nua

Foi tão depressa a enterrar?

 

Que flores de graça doente

Tua fronte vem florir

Que ficas amargamente

Bêbado, bêbado a rir?

 

Que vês tu nessas jornadas?

Onde está o teu jardim

E o teu palácio de fadas,

Meu sonâmbulo arlequim?

 

De onde trazes essa bruma,

Toda essa névoa glacial

De flor de lânguida espuma,

Regada de óleo mortal?

 

Que soluço extravagante,

Que negro, soturno fel

Põe no teu ser doudejante

A confusão da Babel?

 

Ah! das lágrimas insanas

Que ao vinho misturas bem,

Que de visões sobre-humanas

Tu'alma e teus olhos tem!

 

Boca abismada de vinho,

Olhos de pranto a correr,

Bendito seja o carinho

Que já te faça morrer!

 

Sim! Bendita a cova estreita

Mais larga que o mundo vão,

Que possa conter direita

A noite do teu caixão!

 

Autor: Cruz e Souza (de ambos).

 

 

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