Esta tesoura ele usava unicamente para cortar os pêlos do nariz e ficava uma fera quando a usávamos para cortar outras coisas, como papel, por exemplo! Ele sempre prometia, mas nunca concretizou, uma boa “pisa” (sova, surra), não por esta desobediência!
A pequena âncora é uma fivela de cinturão comprada de algum colombiano. Vejam que numa extremidade tem uma ponta bastante afiada e que era a que prendia a fivela ao couro. Esta sim, tínhamos medo dela!
Mamãe, como parece ter sido todas as mães de antigamente e muitas das atuais, nos batia com freqüência, embora, por não ter tanta força, não nos machucasse muito! Já o papai batia muito raramente, mas quando batia!, não escolhia instrumento de açoite nem o local onde aplicar as pancadas, era onde “pegasse”.
Isso nos tornava mais obediente a ele que a mamãe, acredito, daí...
A tesoura ainda funciona com a finalidade que lhe foi destinada e a âncora é apenas a lembrança da ameaça memorizada!
Saudade do meu pai e seu sorriso incentivador, para o bem ou para o mal!
Será que deleto tudo que escrevi acima, pois estou sendo injusto com meu pai?
Vou deixar e pedir desculpas ao papai, apenas! É que, na verdade, ele não me deixou apenas aqueles dois objetos! Materialmente pode até ter sido só isso, porém, e o imaterial com o qual ele imantou meu ser, qual Démeter purificava a criança com o fogo?
Seus conselhos para eu estudar e o incentivo para que eu concretizasse esse nosso sonho?
Esse meu bem maior não posso mostrá-los, mas tenho um imenso orgulho dele e, se vivo, papai, certamente, também teria.
Por falar em estudos, Cris escreveu:
“A importância da leitura em minha vida.
A primeira experiência com a leitura que me marcou se deu na pré-escola. A professora convidava a todos para a varanda da sala de aula, sentada no chão deliciava-me com as desventuras de uma lesma para conseguir chegar a tempo em festas na floresta, “Lúcia já vou indo” abriu meus olhos para um mundo no qual eu nunca mais os fechei... vieram os gibis, cartilhas, encartes de lojas e tantos outros veículos que circulam neste fascinante mundo.
Ler é estar inserido num universo muito maior que nossos olhos podem ver é estar perdido com dois meninos numa ilha misteriosa, é dançar com o príncipe escamado no reino das águas claras, é enfrentar moinhos, construir catedrais, jogar o jogo do contente, descobrir o mistério da pedra filosofal, namorar na ilha de Paquetá, brincar com raposas em campos de trigo e festejar cem anos.
Uso a leitura para fugir, para encontrar, para sonhar, para ser... dama, rameira, astronauta, cientista. Ler para compreender, esquecer, viver, aqui, acolá, além-mar.
Ler para entender o ser, eu e você!”
De minha parte, já fiz um milagre terreno! Foi o seguinte:
Alfabetização da Ozita
Ozita é filha do “seu” Epifânio e D. Elza. Morou conosco durante um tempo em Maraã e era analfabeta quando chegou em nossa casa. Tinha algo entre 22 e 24 anos e, eu, uns 9 ou 10.
Não sei como começou mais eu passei à condição de seu alfabetizador, porém com uma condição: “usar a palmatória”!
Ozita aceitou e, após poucos “bolos de palmatória” ela estava alfabetizada e se diz, até hoje, bastante feliz com o nosso aprendizado em comum (ela aprendeu a ler e eu a ser “professor”)!
Olhando a partir de agora, certamente que posso dizer: “já fiz uma mulher feliz na vida!”.
Talvez este tenha sido o maior e mais gratificante gesto que já pratiquei em prol da humanidade.
O Beto, eterno fornecedor de imagem, nos mostra esta:
Que interpretação a obra do artista deve receber? Difícil, pois são infinitas as possibilidades, como em qualquer interpretação, mas proponho uma: “os livros represam a ignorância”!
Qual a sua?
Abraços,
Osório
P.S1.:
(https://twitter.com/olheosmuros/status/190533753276350466)
P.S2.: