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POESIA: deleite-se ou delete-me (26.10.12)

Caraos todaos,

 

Mesmo depois de mais de dez leituras, o Quixote sempre é uma novidade.

Sexta mais que buena!

 

Abraços,

 

Osório

 

quixote1

 

Don Quixote de la Mancha:
argumentos.

 

 

 

 

Num lugar da Mancha, de cujo nome não quero lembrar-me...

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- Mau cristão és tu - replicou D. Quixote - que nunca te esqueces da injúria que uma vez te fizeram; pois sabe que não é de peitos nobres e generosos fazer caso de ninharias. Ficou-te coxo algum pé? quebrada alguma costela, ou a cabeça aberta, para te ficar tão gravado na memória aquela zombaria?

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 — Adverte, Sancho — respondeu D. Quixote — que há duas formosuras: uma da alma, outra do corpo; a da alma campeia e mostra-se no entendimento, na honestidade, no bom proceder, na liberalidade e na boa criação, e todas estas partes cabem e podem estar num homem feio; e, quando se põe a mira nesta formosura e não na do corpo, o amor irrompe então com ímpeto e vantagem. Bem vejo, Sancho, que não sou formoso, mas também conheço que não sou disforme; e basta a um homem de bem não ser monstro, para ser querido, contanto que tenha os dotes da alma que te disse já.

 

 

Bem vejo, Sancho, que não sou formoso, mas também conheço que não sou disforme; e basta a um homem de bem não ser monstro, para ser querido, contanto que tenha os dotes da alma que te disse já.

 

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— Agora digo eu — interrompeu D. Quixote — que quem lê muito e viaja muito, muito vê e muito sabe. Digo isto, porque ninguém seria capaz de persuadir-me que houvesse macacos no mundo que adivinham como agora vi com os meus olhos; porque sou, efetivamente, o D. Quixote de la Mancha, que esse bom animal disse, ainda que exagerou um pouco os meus louvores; mas, seja eu quem for, dou graças ao céu, que me dotou de um ânimo brando e compassivo, inclinado sempre a fazer bem a todos e mal a ninguém.

 

Porventura é assunto vão, ou é tempo desperdiçado o que se gasta em vaguear pelo mundo, não procurando os seus regalos, mas sim as asperezas por onde ascendem os bons à sede da imortalidade? Se me tivessem por tonto os cavaleiros, os magníficos, os generosos, os de alto nascimento, considerá-lo-ia eu afronta irreparável; mas que me tenham por sandeu os estudantes, que nunca pisaram a senda da cavalaria, pouco me importa; cavaleiro sou e cavaleiro hei-de morrer, se aprouver ao Altíssimo: uns seguem o largo campo da ambição soberba, outros o da adulação servil e baixa, outros o da hipocrisia enganosa, e alguns o da verdadeira religião; mas eu, guiado pela minha estrela, sigo a apertada vereda da cavalaria andante, por cujo exercício desprezo a fazenda, mas não a honra. Tenho satisfeito agravos, castigado insolências, vencido gigantes e atropelado vampiros: sou enamorado, só porque é forçoso que o sejam os cavaleiros andantes, e, sendo-o, não pertenço ao número dos viciosos, mas sim ao dos platônicos e continentes.

 

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- Ó idiota - exclamou aqui D. Quixote - aos cavaleiros andantes não pertence averiguar se os afligidos, acorrentados e opressos, que se encontram pelas estradas, vão daquela maneira por suas culpas, ou por serem desgraçados; só lhes toca ajudá-los como necessitados que são, considerando-lhes as penas, e não as tratantadas.

 

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 — Senhor, as tristezas não se fizeram para os brutos, e sim para os homens; mas se os homens sentem demasiadamente, embrutecem; Vossa Mercê tenha conta em si e colha as rédeas a Rocinante, reviva e desperte, e mostre aquela galhardia que costumam ter os cavaleiros andantes. Que diabo é isso? que descaimento é esse? Estamos aqui ou em França? Diabos levem quantas Dulcinéias houver no mundo, pois vale mais a saúde só de um cavaleiro andante, que todos os encantamentos e transformações da terra.
 
 
Saiba, Sancho, que não é um homem mais que outo se não faz mais que esse outro. Todas as tempestades pelas quais passamos são sinais de que logo há de serena o tempo e hão de suceder-nos bem as coisas; porque não é possível que o mal nem o bem sejam duráveis, e daí se segue que, tendo durado muito o mal, o bem já está perto.

 

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Don Quixote é um ser generoso sem limites, que um bom dia decide dar sua vida pelos demais e lutar por todas as causas perdidas que encontre.

 

Sua maior LOUCURA está nessa generosidade extrema que o distingue de todos os que o rodeiam e que lhe leva a esquecer seu interesse e sua “fazenda” para lançar-se a “desfazer os tortos” e socorrer aos mais débeis.

Ele não pensa se suas aventuras lhe recompensarão com benefícios ou lhe trarão conta ou não.

E é que Don Quixote jamais busca seu próprio proveito e rechaça a crua realidade que move aos demais.

 

O mundo de hoje, mais que nunca, necessita de cavaleiros andantes (mulheres e homens) em todos os rincões da terra.

 

A “LOUCURA” SE APODERE DE TODOS

 

A LOUCURA da paz,

No ludar da loucura da guerra.

A LOUCURA do perdoar,

no lugar da loucura de culpa.

A LOUCURA de querer ser eu,

no lugar da loucura de querer que sejas como eu.

A LOUCURA de amar,

no lugar da loucura do possuir.

A LOUCURA de ser amado,

no lugar da loucura do ser possuído.

A LOUCURA de nos sabermos LOUCOS,

no lugar da LOUCURA de nos crermos lúcidos.

 

Uma delícia, uma maravilha de expressar-se com Cervantes.

 

Obrigado ao amigo: Manolo pelo belos presentes, como o acima!

 

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