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POESIA: deleite-se ou delete-me (29.06.12)

Caraos todaos,

Por que a nobreza nos encanta?

  

Nunca entendi o apego humano pela nobreza!

Será que isso é cultural ou é atávico?

 

Quando queremos elogiar alguém ou seu comportamento chamamos de “nobre”.

Quando queremos ofender, também! “Sua atitude não foi nobre”.

As bancas de jornais, todos os dias, praticamente, estão com revistas expostas que trazem alguém da realeza!

A imprensa cobre diariamente a vida das famílias reais.

A princesa Diana, por exemplo, deve ter sido, proporcionalmente, a mulher mais fotografada do planeta! E ela era bonita. Camilla Parker Bowles também é muitíssimo fotografada.

Os castelos costumam receber muitas visitas e pessoas esperam horas e horas, sob sol ou chuva, para verem uma rainha, por exemplo.

As pessoas compram produtos ligados, mesmo que só em modelo, à realeza.

No Brasil a cidade de Petrópolis é sinônimo dessa obsessão.

As histórias e contos de fada sempre têm príncipes e princesas, que sempre são aqueles com o final feliz.

Nas festas de quinze anos, as moças costumam usar coroas, e as misses recebem também esta peça simbólica.

No carnaval, festa maior, temos o Rei Momo e a rainha da bateria...

Quando alguém vence em qualquer modalidade de esporte costuma ser coroado.

Por tudo isso, fiquei encantado com o nosso amigo que me permitiu fotografá-lo durante seu trabalho, quando numa pausa, ele mesmo fez sua coroa.

 Rei(1)

Louros para ele, portanto.

Que a sexta feita seja exitosa!

Osório

P.S.: e a palavra “contraste”? É você vivendo com um “traste”?


P.S2.: Frase legal em uma rua de Manaus:

Frase

 

Vamos aos poemas:


TEXTO DE AUTO-DESPEDIDA

Devia ter estudado medicina, como ambicionava minha mãe. Ou engenharia, como exigia meu pai. Mas não, resolvi me enveredar pelo mundo das letras sonhando ser um escritor: Não deu em nada. Decepção seria se os velhos ainda estivessem aqui. Demorei muito escolhendo entre um curso e outro que não fiz... Esse ócio todo me levou a tomar contato com extraordinários livros, discos, poesias, filosofias, teses políticas e outras leituras que, dizem, só serve, para perturbar a vida dos “trabalhadores de bem” e a paz mundial. Ainda bem que não tive filhos, seria mais gente para decepcionar.

Enquanto escrevo estas linhas, bebo a quarta ou quinta dose de uísque. Já perdi a conta. A garrafa quase no fim. Minhas doses sempre foram bem servidas, transportando-me para um estado onde a vida se torna possível e a angústia parece desaparecer por algum tempo. Meu pai sempre dizia que artistas são, em sua maioria, bêbados, drogados ou homossexuais. Ou tudo isso ao mesmo tempo. Seres tão desprezíveis ao ponto de sua própria criação justapor-se à sua existência. Quem me dera! De qualquer forma, ele viveu apreensivo do que faria, afinal, minha vida, essa possibilidade de me tornar um grande escritor, um artista de verdade, atividade tão objurgada pelo velho, me satisfazia uma ponta de vaidade que nunca consegui reprimir. Quando ele se foi, senti o gosto amargo da derrota por não ter tido em tempo a chance de desapontá-lo. Mas tenho comigo que ele morreu vencedor dessa batalha, sem saber.

Talvez eu tenha optado pelo gênero errado ao definir minha escrita. A prose nunca foi meu forte. Acho que sou apenas um poeta lírico de passagem pela vida. Nunca escrevi poesia. Sempre busquei vivenciá-las. Pena a vida não ser considerada obra literária; me pouparia esforços na busca por construções sintáticas que não deram em grandes feitos. Julgo ter chegado a um estágio em que a gente já sabe aquilo que é. Fui sempre muito intenso. Sem qualquer registro, fora a memória, não encontro a palavra escrita, nem falada e não tenho como comprovar tudo isso para eternizar os versos vividos.

A literatura não se conforma com o vazio que sempre preencheu minha poesia, estrofes que não são suscetíveis de leitura, por isso; encerro aqui este último texto que, como todos os outros, não terá um leitor sequer, para criticá-lo.

 

Autor: Marcelo Nocelli (ainda inédito, mas conseguido com insistência.). Sítio: www.litteracao.com.br

Há um arremedo de leitura em: http://www.youtube.com/watch?v=ZbX-wLJgxPw&feature=youtu.be

e,

ÁLBUM DE FAMÍLIA II:

O HOMEM QUE COMEU MINHA MÃE

o homem que comeu minha mãe -

o primeiro -

era moreno

meio mouro

meio bugre

o cabelo preto muito preto

e uma lábia de vendedor de enciclopédias

o homem que comeu minha mãe

chegou no lombo de uma Caloi

cowboy nordestino

de sapato bico fino

calça pantalona

brilhantina no cabelo

e uma peixeira calibre 22

minha mãe caminhou sobre as águas

tocou banjo com anjos alcoólatras

e passou merthiolate nas chagas de Cristo

o homem que comeu minha mãe

foi embora no intervalo de um Corinthians e Bangu

disse que ia comprar cigarros

e desapareceu numa nuvem de gafanhotos

minha mãe desceu à mansão dos mortos

lambeu as sarnas de Cérbero

e pariu crisântemos nas vielas do inferno

virou uma bruxa chocha com o coração de jiló

que em noites de TPM cospe relâmpagos de sal

às vezes a velha olha através de mim

: tu és a cara do teu pai!

Autor: VLADO LIMA. Pop Para-Choque. São Paulo: Editora Patuá, 2012, p. 16.

Conheci os dois poetas acima no EITA SARAU. Qque tal visitá-los e conhecer outroas (outros+outras). Saiba mais em: http://eitasarau.wordpress.com.

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