"Não te preocupes se teu trabalho não for reconhecido. O sol dá um espetáculo todas as manhãs e a maioria da platéia dorme."
Robertão já disse:
"Querem acabar comigo
Nem eu mesmo sei porque
Enquanto eu tiver você aqui
Ninguém poderá me destruir
Querem acabar comigo
Isso eu não vou deixar
Me abrace assim, me olhe assim
Não vá ficar, longe de mim".
Pois é!
Disseram-me que meu "santo" nome foi muito usado em vão esta semana. Será?
Vejam: o "poesia: deleite-se ou delete-me" nasceu do seguinte:
- quando cheguei na PR-SP alguns servidores se queixavam que alguns procuradores os tratavam como "um lixo", um "ser invisível", pois sequer os cumprimentavam quando entravam no elevador, por exemplo. Por que me disseram isso? Pelo simples fato de minha mãe ter me ensinado a cumprimentar as pessoas.
Depois fui para a PRR3 e... a mesma coisa. "Tem procurador que quase desce do elevador quando nele entra um servidor", me disse uma colega.
Foi, então, que resolvi mostrar que não penso assim. A forma que encontrei foi "distribuir poesias".
Descobri que aquele defeito de funcionamento não é exclusivo de procuradores, infelizmente servidores padecem do mesmo mal!
O que fazer? Lamentar, tão somente.
Em anexo segue, novamente, umas regras para exclusão da lista daqueles que recebem poesias às sextas. Poucas foram as pessoas incluídas, a grande maioria recebe por ser servidor do MPF. Lá tento explicar as razões pelas quais não consigo excluir alguns nomes, por mais importantes que eles sejam.
Dia desses alguém perguntou quem sou eu. Como nem mesmo eu sei quem sou escrivinhei algo que consta em anexo, o que encaminho agora para me apresentar a vocês e dizer que é um prazer conhecer aqueles a quem ainda não tive a honra de conhecer.
Excelente final de semana com os poemas abaixo e alguns anexo.
Abraços,
Osório
Encontro e desencontro
Meus olhos encontraram os seus...
Você parada... perdida em pensamentos...
Um arrepio gelado cheio de adeus...
Uma mistura de vários sentimentos.
A distância seria meu destino.
Você uma mulher sonhadora...
E eu um homem ainda menino.
Perplexo com a trapezista voadora.
Vai e leva todas as ilusões.
Fico preso nas lembranças...
O peito explodindo como canhões:
Detonando as esperanças!
Autor: Miguel Rodrigues de Oliveira Filho - PR/AM
e,
A MULHER DE LOT
Ninguém ainda nos esclareceu
se a mulher de Lot se mudou
em estátua de sal como castigo
da curiosidade irrefreável
e da desobediência somente,
ou se olhou para trás porque no meio
de todo aquele incêndio pavoroso
ardia o coração que mais amava.
AMALIA BAUTISTA, Madrid, 1962 (Colaboração: Demian Pinto)
Em respostas recebemos:
De Astrogildo Cândido da Costa
Para: Osório Silva Barbosa Sobrinho
Data Sex, 13 de Jun de 2008 12:37
Assunto: Re: POESIA: deleite-se ou delete-me
Dr Osório,
Em primeiro lugar gostaria de dizer que era um dos que deletava sem ler os seus E-mails. Entretanto, não sei exatamente porque, resolvi ler o último. Talvez porque contivesse uma explicação para o envio das mensagens. Qual não foi a minha surpresa ao me deparar com a sua Biografia.
Quero consignar que o relato me comoveu muito, especialmente porque tenho uma história de vida parecida e também estou tentando galgar os mesmos passos que o senhor percorreu.
Acredito, como o senhor, que a educação é fundamental para crescermos, e que para quem não nasceu privilegiado o caminho é um pouco mais complicado, mas vale a pena.
Ficaria horas aqui, falando dos meus sapatos furados, da minha vinda da Paraíba para cá, enfim... de dificuldades parecidas com as que o senhor enfrentou, mas acho que ainda não é a hora nem o lugar.
Agradeço a força que o senhor, indiretamente, deu-me com a sua história.
Atenciosamente,
Gildo.
Astrogildo Cândido da Costa
e,
De Bianca dos Santos Gonçalves <Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.>
Para: "=?ISO885915?Q?Os=F3rio=20Silva=20Barbosa=20Sobrinho?=" <Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.>
Data Sex, 13 de Jun de 2008 13:21
Assunto: Re: POESIA: deleite-se ou delete-me
Boa tarde, Dr. Osório.
Tomei a liberdade de responder a esse email para enviar-lhe um convite
(anexo), pois sei que gosta de literatura!
Trata-se do lançamento do terceiro livro de meu irmão, Arlindo
Gonçalves, Desacelerada Mecânica Cotidiana, que se dará hoje, aí em
São Paulo.
Infelizmente não poderei comparecer, pois estou na PRR1...
Se o doutor puder comparecer para pretigiá-lo, não deixe de "dar uma
palavrinha" com ele, não por ser meu irmão, mas ele é muito simpático,
caso não esteja estressado com o lançamento...rs...
Obrigada pela atenção!
Bianca
e,
De "Arivaldo Araujo" <Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.>
Para: <Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.>
Data Sex, 13 de Jun de 2008 14:58
Assunto: Re: POESIA: deleite-se ou delete-me
Deleitei-me...Gostei do seu irmão, o 'Pujucan'...O nome lembrou-me o Darcy Ribeiro, explicando como o seu povo (cearenses e amazonenses) se encontraram naquela terra...imperdível aquelas páginas.
Vai um naco:
Apesar de tudo, a miséria do sertão nordestino, somada aos altos preços da borracha, que excediam a quinhentas libras esterlinas por tonelada, estimulou esse fluxo humano, provendo a necessária mão-de-obra à economia da borracha. Uns poucos que se fizeram bons caçadores e pescadores amazônicos e, além disso, negociantes ladinos para escaparem à exploração, alcançavam saldos que, de volta ao Nordeste, permitiam dar notícias à terra do seu sucesso, provocando novas migrações. Os demais, que eram a imensa maioria, silenciavam seu fracasso. De fato, o que fazia os seringais atrativos era a propaganda oficial e toda uma rede de recrutamento mantida no sertão e nos portos, assim como a própria miserabilidade sertaneja, que não oferecia outra alternativa senão a aventura amazônica. Assim, depois de gastar a população indígena do vale, o extrativismo vegetal desgastou também enormes contingentes nordestinos, sobretudo sertanejos.
Quanto a não saber quem você é, recordei-me da Alice e a Lagarta (Lewis Carrol). Por pertinente - vai o pedaço do texto:
A Lagarta e Alice olharam-se uma para outra por algum tempo em silêncio: por fim, a Lagarta tirou o narguilé da boca, e dirigiu-se à menina com uma voz lânguida, sonolenta.
"Quem é você?", perguntou a Lagarta.
Não era uma maneira encorajadora de iniciar uma conversa. Alice retrucou, bastante timidamente: "Eu * eu não sei muito bem, Senhora, no presente momento * pelo menos eu sei quem eu era quando levantei esta manhã, mas acho que tenho mudado muitas vezes desde então.
"O que você quer dizer com isso?", perguntou a Lagarta severamente. "Explique-se!"
"Eu não posso explicar-me, eu receio, Senhora", respondeu Alice, "porque eu não sou eu mesma, vê?"
"Eu não vejo", retomou a Lagarta.
"Eu receio que não posso colocar isso mais claramente", Alice replicou bem polidamente, "porque eu mesma não consigo entender, para começo de conversa, e ter tantos tamanhos diferentes em um dia é muito confuso."
"Não é", discordou a Lagarta.
"Bem, talvez você não ache isso ainda", Alice afirmou, "mas quando você transformar-se em uma crisálida * você irá algum dia, sabe * e então depois disso em uma borboleta, eu acredito que você irá sentir-se um pouco estranha, não irá?"
"Nem um pouco", disse a Lagarta.
"Bem, talvez seus sentimentos possam ser diferentes", finalizou Alice, "tudo o que eu sei é: é muito estranho para mim."
Desculpe os 'espirros' literários e sociológicos, mas você me inspirou, até porque não sou Procurador, mas a minha distância social incluiu alguns caminhos como os seus...
grande abraço.
Arivaldo - PR/GO
20.06.08
"Osório Silva Barbosa Sobrinho"
20/6/2008 15:00 >>>
Caros todos,
"Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas.
As primeiras, ela chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem para eventos de um fim-de-semana com a proposta de abalar o milênio.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Não quero ver os ponteiros do relógioavançando em reuniões de 'confrontação', onde 'tiramos fatos a limpo'. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: 'as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão-somente andar ao lado do que é justo.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.' O essencial faz a vida valer a pena."
Autor: Rubem Alves (colaboração: Rossanna do Amaral - PGR)
Excelente final de semana a todos.
Em anexo o seguinte:
1 - "A revanche", para mostrar à colega que questionou se eu sou machista, em razão de mensagem da semana passada;
2 - Foto do meu Maverick, que estou vendendo por R$ 30.100,00. Os 100 é a única coisa que podemos negociar (NÃO FOI A FOTO. TÁ MUITO GORDINHA);
3 - Um "alvará" interessante;
4 - Uma visão sobre o casamento, e
5 - "seus poblemas acabaram.
Abraços,
Osório
A bola azul
Entrei no campo, ainda menino,
E a bola era azul...
Chutei-a para o infinito...
Corri de norte a sul.
E eu era o craque sonhador.
E vi uma torcida gritando meu nome,
Mas os olhos se abriram,
Descobri que eu era lobisomem.
E a lua atraia meu uivo.
E eu me encantei com seu brilho.
Não vi a estrela brilhante...
Um trem desgovernado fora dos trilhos,
Que segue a vida errante.
Cujos olhos perderam as cores, os brilhos...
Autor: Miguel Rodrigues de Oliveira Filho - PR-AM.
25.07.08
"Osório Silva Barbosa Sobrinho"
25/07/2008 10:56 >>>
Caros todos,
Beijos!
Osório
Amor e Medo
Quando eu te vejo e me desvio cauto
Da luz de fogo que te cerca, ó bela,
Contigo dizes, suspirando amores:
-"Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!"
Como te enganas! meu amor é chama
Que se alimenta no voraz segredo,
E se te fujo é que te adoro louco*
És bela - eu moço; tens amor, eu - medo*
Tenho medo de mim, de ti, de tudo,
Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes.
Das folhas secas, do chorar das fontes,
Das horas longas a correr velozes.
O véu da noite me atormenta em dores
A luz da aurora me enternece os seios,
E ao vento fresco do cair das tardes,
Eu me estremeço de cruéis receios.
É que esse vento que na várzea - ao longe,
Do colmo o fumo caprichoso ondeia,
Soprando um dia tornaria incêndio
A chama viva que teu riso ateia!
Ai! se abrasado crepitasse o cedro,
Cedendo ao raio que a tormenta envia:
Diz: - que seria da plantinha humilde,
Que à sombra dela tão feliz crescia?
A labareda que se enrosca ao tronco
Torrara a planta qual queimara o galho
E a pobre nunca reviver pudera.
Chovesse embora paternal orvalho!
Ai! se te visse no calor da sesta,
A mão tremente no calor das tuas,
Amarrotado o teu vestido branco,
Soltos cabelos nas espáduas nuas!*
Ai! se eu te visse, Madalena pura,
Sobre o veludo reclinada a meio,
Olhos cerrados na volúpia doce,
Os braços frouxos - palpitante o seio!*
Ai! se eu te visse em languidez sublime,
Na face as rosas virginais do pejo,
Trêmula a fala, a protestar baixinho*
Vermelha a boca, soluçando um beijo!*
Diz: - que seria da pureza de anjo,
Das vestes alvas, do candor das asas?
Tu te queimaras, a pisar descalça,
Criança louca - sobre um chão de brasas!
No fogo vivo eu me abrasara inteiro!
Ébrio e sedento na fugaz vertigem,
Vil, machucara com meu dedo impuro
As pobres flores da grinalda virgem!
Vampiro infame, eu sorveria em beijos
Toda a inocência que teu lábio encerra,
E tu serias no lascivo abraço,
Anjo enlodado nos pauis da terra.
Depois* desperta no febril delírio,
- Olhos pisados - como um vão lamento,
Tu perguntaras: que é da minha coroa?*
Eu te diria: desfolhou-a o vento!*
Oh! não me chames coração de gelo!
Bem vês: traí-me no fatal segredo.
Se de ti fujo é que te adoro e muito!
És bela - eu moço; tens amor, eu - medo!*
Autor: Casimiro de Abreu
01.08.08
"Osório Silva Barbosa Sobrinho"
1/8/2008 10:35
Caros todos,
Há cerca de dois dias saía eu da PRR3 para almoçar e, logo a minha frente, caminhava uma colega, a qual se destaca dos demais mortais por duas razões: pela beleza e por medir cerca de dois metrinhos de altura!
Quando chegou ao cruzamento o semáforo estava vermelho e ela parou, motivo pelo qual a alcancei. Olhei para a esquerda, para ver se vinham carros, e eis que me deparo com uma cena da qual somente tinha ouvido falar:
- o rosto da moça recebia e emitia eflúvios, dos quais nos fala o filósofo Empédocles.
Seus olhos brilhavam e sorriam na mesma cadência dos lábios, sua face enrubesceu, seus cabelos esvoaçaram, suas sobrancelhas se delinearam em curva de alegria e seus dentes de marfim pareciam estrelas em noite escura.
Foi uma cena para a qual palavras ainda não foram buriladas e nem o subscritor sabe manejá-las apropriadamente.
Do outro lado da rua um rapaz de mesma idade e estatura sorria para ela, e, então, compreendi o motivo do milagre que eu acabara de presenciar.
Ele atravessou a rua, beijou-a levemente ("selinho"), deram-se as mãos e seguiram pela calçada em que ela estava. Acordei do meu torpor contemplativo e fui em frente a cata de alimento para o corpo, pois a alma estava saciada pela beleza da cena que registrara para sempre!
Dois dias depois, tornei a ver a protagonista do meu filme particular e contei o fato (meu registro) a ela, ao que me respondeu:
- Espero que ele também tenha visto!
- A quanto tempo vocês namoram?
- Três anos e meio.
- É! Ele ainda deve perceber, retruquei. Parabenizei-a e parti.
Três anos e meio! Será que um homem, depois desse tempo, ainda percebe a alegria que é capaz de causar numa mulher que o ama?
Pode ser que sim, mas, depois desse lapso temporal, dificilmente. Infelizmente!
Portanto, a poesia de hoje, abaixo, vai para a inspiradora desde escrito.
Excelente final de semana a todos.
Abraços,
Osório
Boas-vindas e despedida
O coração palpitou-me: - A cavalo depressa!
Quase antes do pensado. Ei-lo já feito.
A tardinha embalava já a terra,
E a noite reclinava-se nos montes:
O roble, já em vestes de nevoeiro,
Eis se erguia, gigante como torre.
Ali onde as trevas de entre as moitas
Olhavam com um cento de olhos negros.
A lua, duma colina de nuvens,
Das névoas emergia melancólica;
Os ventos agitavam asas brandas,
Cercavam-me os ouvidos de terrores;
Paria a noite monstros aos milhares,
Mas minh'alma estava alegre e alerta:
Que fogo não ardia em minhas veias!
Que ardor em meu coração!
Eis te vi, e a alegria generosa
Sobre mim do teu doce olhar vertia;
A teu lado todo o meu coração 'stava,
E cada hálito meu só pra ti era.
Um ar primaveril e cor de rosa
Aureolava o teu formoso rosto;
E tal ternura para mim * ó Deuses!
Se a esperava, não a merecia!
Porém, aí! já ao sol-nascer
Me aperta o coração a despedida:
Nos teus beijos * que delícias!
E que dor no teu olhar!
Parti, tu ficaste a olhar pra o chão,
E teus olhos com lágrimas seguiram-me:
E contudo, que ventura ser amado!
E amor, ó Deuses! que ventura!
Autor: Goethe (tradução: Paulo Quintela)
Em resposta, recebi:
De "Thais Moraes"
Para: "Osório Silva Barbosa Sobrinho"
Data Sex, 1 de Ago de 2008 11:13
Assunto: Re: POESIA: deleite-se ou delete-me
Dr. Osório,
Que belo texto! Alegrou a sexta-feira!
Obrigada..
Thais De Vito Moraes
Blumenau
10.10.08
"Osório Silva Barbosa Sobrinho" - 10/10/2008 13:42 >>>
Caros todos,
Abaixo a forma que sempre encontro para desejar-lhes um final de semana divino.
Abraços,
Osório
Nossa senhora dos hesitantes
anjo destruidor dos dilemas
neste momento de agonia
ajoelho meus tormentos
e a inércia no existir
sob o bálsamo de tua mão...
Que cola o partido
emenda o rasgado
desfaz o desterro
de uma vida esgarçada
até o impossível devir...
Desde o pó do passado
estende teu manto
sobre o abismo que vejo
entre a Amazônia e o Saara:
Com meu corpo,
agasalha minh'alma.
Autora: Naamir
e,
A mulher no banho
Como é bonita a mulher que se banha.
Seus movimentos são milimétricos e constantes.
Indicador e médio eretos,
Anelar e mínimo curvados, estando aquele preso sob o polegar.
O instrumento formado pelos dedos é uma escova de plumas em eterno [vai e vem.
Acaricia o pescoço levemente longo e convidativo.
Esfrega o dorso;
Escorrega pelo calcanhar, suporte do troféu pedólatra.
Os movimentos são suaves e sensuais,
Provocam admiração, ais ...
Quisera-me eunuco?
Assim teria tua confiança?
Banhar-te-ia, substituindo teus movimentos pelos meus?
Precisaria ser cego para ser teu cativo?
Ensaboar tuas axilas e teu umbigo.
Mas, se eunuco fosse, como realizaria teu sonho de maternidade?
E se cego fosse, como veria toda a beleza com que te banhas?
Quando entornas sobre o teu corpo a água límpida do rio,
Sinto uma lágrima rolar-me na face,
Vai ela regar meu mundo de esperanças.
Maraã-AM, sem data
Recebi em resposta:
De "Ipolito Francisco Jorge"
Para: "Osório Silva Barbosa Sobrinho"
Data Sex, 10 de Out de 2008 15:29
Assunto: Re: POESIA: deleite-se ou delete-me
Meu caro, grande e poderoso Menestre do Norte.
Linda essa poesia do banho, todavia, gostaria de ter a certeza se aquele verso onde diz: ESCORREGA PELO CALCANHAR, SUPORTE DO TROFÉU PEDÓLATRA... NÃO SERIA PODÓLATRA...???
Veja bem: "PEDO" exprime a idéia de criança
"PODO" exprime a idéia de pé.
Suporte do troféu pedólatra (viciado, adorador de criança)
Suporte do troféu podólatra (viciado, adorade de pé)
A lascívia do poema tendencia mais para o podólatra. Vc. não acha?
Aproveitando o ensejo, congratulo sua exposição a respeito da celuma sobre a Portaria do Horário Legal.
Bom fim de semana e até breve.
Ipólito.
15.08.08
"Osório Silva Barbosa Sobrinho"
15/08/2008 12:32 >>>
Caros todos,
Resolvi pedir a vocês uma calça da diesel de presente, mas, antes, leiam o poema abaixo e tenham todos um excelente final de semana.
Beijos para quem é de beijos,
Abraços para quem é de abraços,
Aperto de mão para quem é de aperto de mão!
Osório
EU ETIQUETA
Em minha calça está grudado um nome
Que não é meu de batismo ou de cartório
Um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
Que jamais pus na boca, nessa vida,
Em minha camiseta, a marca de cigarro
Que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produtos
Que nunca experimentei
Mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
De alguma coisa não provada
Por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
Minha gravata e cinto e escova e pente,
Meu copo, minha xícara,
Minha toalha de banho e sabonete,
Meu isso, meu aquilo.
Desde a cabeça ao bico dos sapatos,
São mensagens,
Letras falantes,
Gritos visuais,
Ordens de uso, abuso, reincidências.
Costume, hábito, permência,
Indispensabilidade,
E fazem de mim homem-anúncio itinerante,
Escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É duro andar na moda, ainda que a moda
Seja negar minha identidade,
Trocá-la por mil, açambarcando
Todas as marcas registradas,
Todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
Eu que antes era e me sabia
Tão diverso de outros, tão mim mesmo,
Ser pensante sentinte e solitário
Com outros seres diversos e conscientes
De sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio
Ora vulgar ora bizarro.
Em língua nacional ou em qualquer língua
(Qualquer principalmente.)
E nisto me comparo, tiro glória
De minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
Para anunciar, para vender
Em bares festas praias pérgulas piscinas,
E bem à vista exibo esta etiqueta
Global no corpo que desiste
De ser veste e sandália de uma essência
Tão viva, independente,
Que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
Meu gosto e capacidade de escolher,
Minhas idiossincrasias tão pessoais,
Tão minhas que no rosto se espelhavam
E cada gesto, cada olhar
Cada vinco da roupa
Sou gravado de forma universal,
Saio da estamparia, não de casa,
Da vitrine me tiram, recolocam,
Objeto pulsante mas objeto
Que se oferece como signo dos outros
Objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mas artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é Coisa.
Eu sou a Coisa, coisamente.
Autor: Carlos Drummond de Andrade.
29.08.08
"Osório Silva Barbosa Sobrinho"
29/08/2008 11:47 >>>
Caros todos,
Abaixo dois lindos poemas, os quais, faz tempo, já circularam por aqui,
masm como alguns não os receberam, vale a pena ler de novo.
Ainda, abaixo, um outro lindo poema da "prata de casa".
Excelente final de semana.
Abraços,
Osório
DESEJO
Desejo primeiro, que você ame,
e que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer
e esquecendo não guarde mágoa.
Desejo pois, que não seja assim,
mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
que mesmo maus e inconseqüentes,
sejam corajosos e fiéis,
e que em pelo menos num deles
você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
desejo ainda que você tenha inimigos;
Nem muitos, nem poucos,
mas na medida exata para que, algumas vezes,
você se interpele a respeito
de suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
para que você não se sinta demasiado seguro.-
Desejo depois que você seja útil,
mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
quando não restar mais nada,
essa utilidade seja suficiente
para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante;
não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
mas com os que erram muito e irremediavelmente,
e que fazendo bom uso dessa tolerância,
você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você sendo jovem
não amadureça depressa demais,
e que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
e que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
é preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste;
não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
que o riso diário é bom;
o riso habitual é insosso
e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra,
com o máximo de urgência,
acima e a despeito de tudo, que existem oprimidos,
injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
alimente um cuco e ouça o João-de-barro
erguer triunfante o seu canto matinal;
porque assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
por mais minúscula que seja,
e acompanhe o seu crescimento,
para que você saiba de quantas
muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo outrossim, que você tenha dinheiro,
porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
coloque um pouco dele
na sua frente e diga "Isso é meu",
só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum dos seus afetos morra,
por ele e por você,
mas que se morrer, você possa chorar
sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo um homem,
tenha uma boa mulher,
e que sendo uma mulher,
tenha um bom homem
e que se amem hoje, amanhã e no dia seguinte,
e quando estiverem exaustos e sorridentes,
ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
não tenho nada mais a te desejar.
Autor: Victor Hugo (embora haja controvérsia. Mas, com ou sem, vale a
pena)
Para ouvir: http://recantodasletras.uol.com.br/audio.php?cod=47
E,
Cântico Negro
"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!
Autor: José Régio
E,
Sou assim dois de mim.
Às vezes três quatro... cinco... seis
Sou um por mês.
Me diversifico.
Tem horas que grito. Vivo num conflito.
Mostro ao mundo minha dor . Outras horas, só sei falar de amor.
O mais romântico. Melodramático, estático, choroso e nervoso.
Carente e decadente.
Vingativo e inconseqüente.
Aí quando menos me percebo me transformo em homem cheio de medo.
Cheio de reservas. Coberto de sutilezas. Sério e sem defesa.
No minuto seguinte; no papel de homem fatal; viro logo o tal.
Aí sou dono do mundo: seguro e destemido; altivo e atrevido.
Rasgo meus segredos ao meio. E, exponho num roteiro.
De poesia ou texto agrido, inflamo. Conto o que ninguém tem coragem de
contar.
Explico detalhes que é bom nem lembrar.
Sou assim. Vários de mim.
Sorriso por fora.
Angústia toda hora.
Por dentro um tormento.
No rosto nenhum sofrimento.
No corpo uma explosão de prazer.
Nos olhos, meu desejo deixo perceber.
Melhor nem me conhecer.
Fique com minhas letras.
Com as minhas palavras.
Na vida real sou bem mais complicado.
Sou mil.
E quem tentou, descobriu .
Que viver ao meu lado é viver dentro de um campo minado.
Prestes a explodir.
Mas quem esteve nele; nunca quis fugir...
Autor: José Luciano de Azevedo Junior - PGR.
05.09.08
“Osório Silva Barbosa Sobrinho"
Sex, 5 de Set de 2008 10:44
Caras(os) colegas,
Excelente final de semana!
Abraços,
Osório
Eu Nao Sou Cachorro Não
Eu não sou cachorro, não
Pra viver tão humilhado
Eu não sou cachorro, não
Para ser tão desprezado
Tu não sabes compreender
Quem te ama, quem te adora
Tu só sabes maltratar-me
E por isso eu vou embora.
A pior coisa do mundo
É amar sendo enganado
Quem despreza um grande amor
Não merece ser feliz, nem tão pouco ser amado
Tu devias compreender
Que por ti, tenho paixão
Pelo nosso amor, pelo amor de Deus
Eu não sou cachorro, não
Autor: Waldick Soriano - 13.05.1933 Caetité-BA - 04.09.2008 - Rio de Janeiro - RJ
03.10.08
"Osório Silva Barbosa Sobrinho"
03/10/08 10:54 >>>
Caros todos,
Abaixo, seguem "algos" de Fernando Pessoa juntamente com a torcida por um excelente final de semana para todos!
"Ultimamente" tem aparecido várias obras especializadas em Pessoa, como, por exemplo, "A economia em Pessoa" etc.
Sendo assim, gostaria de solicitar aos especialistas e conhecedores e curiosos em Pessoa que me ajudassem a encontrar "A filosofia em Pessoa", pelo que ficaria muito agradecido.
Como nesta semana foi o dia da Secretária, escrevi o anexo, por sugestão, e gostaria de dividi-lo com vocês.
Abraços,
Osório Barbosa
Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distração animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero.
Quero só Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.
Fernando Pessoa, Obra Poética, Nova Aguilar, volume único, 1997: p. 230.
e,
Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela única grande razão-
Porque não tinha que ser.
Fernando Pessoa, Obra Poética, Nova Aguilar, volume único, 1997: p. 236.
e,
Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Fernando Pessoa, Obra Poética, Nova Aguilar, volume único, 1997: p. 236.
e,
Pouco me importa.
Pouco me importa o que? Não sei: pouco me importa.
Fernando Pessoa, Obra Poética, Nova Aguilar, volume único, 1997: p. 242.
07.11.08
"Osório Silva Barbosa Sobrinho"
11/07/08 12:38 pm >>>
ESTAÇÕES
Como a flor que fenece e a mocidade
Que cede o passo à velhice, a seu tempo
florescem as estações da vida, a sabedoria e a virtude
E não podem durar para sempre.
A cada chamado da vida dispõe-se o coração
Para a despedida e o recomeço,
E assim, com altivez e coragem,
Entregar-se a novos vínculos.
Cada começo tem sua magia,
Que nos protege e ensina a viver.
Atravessemos com alegria todos os espaços
Sem fixar em cada qual a nossa residência.
O espírito universal não nos aprisiona ou acorrenta:
Ele nos quer elevar passo a passo, quer ampliar-nos.
Mal nos familiarizamos a uma nova roda,
Aninhando-nos em seu meio, e já nos ameaça o desânimo.
Apenas aquele que se apresta para a partida
Escapa à rotina que enfraquece.
A hora da morte nos enviará talvez
A novos espaços.
E o chamado da vida não haverá de cessar...
Vai, pois, coração, diz adeus e recobra-te.
Autor: Hermann Hesse, tradução de Tercio Redondo.
Em resposta, recebi:
De "Guilherme Chaibe Montenegro"
Para: "Osório Silva Barbosa Sobrinho"
Data Sex, 7 de Nov de 2008 12:43
Assunto: Re: POESIA: deleite-se ou delete-me
Fantástico poema, Dr. Osório, assim como seu autor. Recomendo um livro de Herman Hesse chamado "Demian", que, não obstante seja prosa, é de um conteúdo singular. Há também outro livro dele chamado "Sidarta" (ou "Sidharta") que dizem (este eu ainda não li) ser também maravilhoso.
Um grande abraço e um ótimo final de semana,
Guilherme
28.11.08
"Osório Silva Barbosa Sobrinho"
28/11/2008 12:31 >>>
Caros todos,
Que o final de semana seja explendoroso.
Abraços,
Osório
Num processo de seleção da Volkswagen, os candidatos deveriam responder a seguinte pergunta:
'Você tem experiência?'
A redação abaixo foi desenvolvida por um dos candidatos. Ele foi aprovado e seu texto está fazendo sucesso, e ele com certeza será sempre lembrado por sua criatividade, sua poesia, e acima de tudo por sua alma.
REDAÇÃO VENCEDORA:
"Já fiz cosquinha na minha irmã só pra ela parar de chorar. Já me queimei brincando com vela. Eu já fiz bola de chiclete e melequei todo o rosto. Já conversei com o espelho, e até já brinquei de ser bruxo.
Já quis ser astronauta, violonista, mágico, caçador e trapezista. Já me escondi atrás da cortina e esqueci os pés pra fora. Já passei trote por telefone. Já tomei banho de chuva e acabei me viciando. Já roubei beijo. Já confundi sentimentos. Peguei atalho errado e continuo andando pelo desconhecido. Já raspei o fundo da panela de arroz carreteiro. Já me cortei fazendo a barba apressado. Já chorei ouvindo
música no ônibus. Já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri que essas são as mais difíceis de se esquecer. Já subi escondido no telhado pra tentar pegar estrela. Já subi em árvore pra roubar fruta. Já caí da escada de bunda. Já fiz juras eternas. Já escrevi no muro da escola. Já chorei sentado no chão do banheiro. Já fugi de casa pra sempre, e voltei no outro instante. Já corri pra não deixar alguém chorando. Já fiquei sozinho no meio de mil pessoas sentindo falta de uma só. Já vi pôr-do-sol cor-de-rosa e alaranjado.
Já me joguei na piscina sem vontade de voltar. Já bebi uísque até sentir dormentes os meus lábios. Já olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei meu lugar. Já senti medo do escuro. Já tremi de nervoso. Já quase morri de amor, mas renasci novamente pra ver o sorriso de alguém especial. Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar. Já apostei em correr descalço na rua. Já gritei de felicidade. Já roubei rosas num enorme jardim. Já me apaixonei e achei que era para sempre, mas sempre era um 'para sempre' pela metade. Já deitei na grama de madrugada vi a Lua virar Sol. Já chorei por ver amigos partindo, mas descobri que logo chegam novos, e a vida é mesmo um ir e vir sem razão. Foram tantas coisas feitas, momentos fotografados pelas lentes da emoção, guardados num baú, chamado coração. E agora um formulário me interroga? Me encosta à parede e grita: 'Qual sua experiência?'. Essa pergunta ecoa no meu cérebro: experiência.
Experiência... Será que ser 'plantador de sorrisos' é uma boa experiência?
Não! Talvez eles não saibam ainda colher sonhos! Agora gostaria de indagar uma pequena coisa para quem formulou esta pergunta:
Experiência? Quem a tem, se a todo o momento tudo se renova?"
Em resposta recebemos:
De "Arivaldo Araujo" <Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.>
Para: <Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.>
Data Sex, 28 de Nov de 2008 14:03
Assunto: Re: POESIA: deleite-se ou delete-me
Caro Osório,
Vejo que você está vencendo o seu período 'sabático', a sua caminhada de 'Compostela'...Já conhecia essa pérola, que enviou. Que coisa magnífica. Como é possível ser tão simples e tão profundo? Bom...muito bom.
Não fiz a minha resposta costumeira, porque tive que me recolher depois do 'dia mal'...A minha mãe foi recolhida pelo grande Criador. Faleceu no sábado, 8/11. A dor e a dormência mental e espiritual me paralisou por mais de semana, mas estou de pé ou de joelhos, ainda.
E viva o Osório dos colóquios semanais. A poesia virou informação, cultura e muito mais.
grato.
Arivaldo
05.12.08
"Osório Silva Barbosa Sobrinho"
5/12/2008 13:25 >>>
Caros todos,
Se alguém não teve um final se smana explêndido, na semana passada, deve ao fato de explêndido ser grafado com S, como observou uma colega. De qualquer modo, independentemente do vernáculo, o desejo era verdadeiro, daí, aqueles que não observaram a impropriedade talvez tenham se divertido mais, talqualmente o remetente.
De novo o desejo de excelente final de semana fica renovado! Excelente é com x ou com s? Sei lá!
Abraços,
Osório
Os poemas abaixo são de autoria de José Paulo Paes. O homem é bão!
DE CÚMPLICES (1951)
Madrigal
Meu amor é simples, Dora,
Como a água e o pão.
Como o céu refletido
Nas pupilas de um cão.
DE NOVAS CARTAS CHILENAS (1954)
L'Affaire Sardinha
O bispo ensinou ao bugre
Que pão não é pão, mas Deus
Presente na eucaristia.
E como um dia faltasse
Pão do bugre, ele comeu
O bispo, eucaristicamente.
DE CALENDÁRIO PERPLEXO (1983)
A Verdadeira Festa (12 de junho - namorados)
mas pra que fogueira
rojão
quentão?
basta o fogo nas veias
e a escuridão
coração.
À MODA DA CASA
feijoada
marmelada
goleada
quartelada
SEU METALÁXICO
Economiopia
Desenvolvimentir
Utopiada
Consumidoidos
Patriotários
Suicidadãos
À MINHA PERNA ESQUERDA
Pernas
para que vos quero?
Se já não tenho
por que dançar,
Se já não pretendo
ir a parte alguma.
Pernas?
Basta uma.
Forma epigramática: poemas curtos com um tom de chiste, ironia sutil
O SUICIDA OU DESCARTES ÀS AVESSAS
cogito
ergo
pum!
Recebi em resposta:
"Thiago Xavier Bento" 05/12/2008 16:22
Dr. Osório:
Gostei da observação quanto à grafia do excelente. Se é certo que a vida é feita de pequenos detalhes, não é menos certo que alguns deles, de tão pequenos (e irrelevantes) que são, levam o homem a se esquecer de quão maravilhosa e imensa é a própria vida.
Abraços
TXB
Thiago Xavier Bento
e,
De "Arivaldo Araujo"
Para: <osoriobarbosa
Data 5/12/2008 14:20:20
Assunto: Re: POESIA: deleite-se oi delete-me
Caro Osório.
cogito
ergo
palmas!
Me parece dos pampas o seu poeta. Quem é? Onde acho outras pérolas dessas? Já conhecia o estilo, mas o sarcasmo é único...
Sou grato pelo tempo dispendido no panegírico da sexta passada.
grande abraço.
Final de semana de vitórias.
grato.
Arivaldo