Sempre repito, e parece nunca ser demais, que ninguém assume ser dono da verdade, embora sempre queira que prevaleça a sua verdade.
Digo o acima por que o professor não foge a esta regra!
Um professor que admitisse que não conhece determinada matéria seria, simplesmente, para dizer o mínimo, tido por “não professor”, pois o “verdadeiro professor” sabe de tudo!
Entre aceitar a condição humana – ninguém sabe de nada – e ser desprezado pela sociedade ao admitir a limitação de todos, o professor optou por vestir a máscara do “sabe tudo”, e, assim, continuar a merecer o respeito dos seus alunos e pais!
Desde que temos notícias da história do conhecimento humano, podemos dizer que nenhuma questão levantada até agora recebeu uma resposta que seja indiscutível, perfeita e acabada, todas elas estão em aberto a merecer melhoramentos e a sonhada, mas nunca alcançada, certeza.
Podemos parafrasear Salvador Dalí dizendo: “não se preocupe com a certeza, você jamais irá alcançá-la”!
Mesmo já conhecendo a contundente frase do mestre espanhol, certa vez, provei na própria carne, por tê-la esquecido, o mais puro ensinamento sobre leitura, que vale para todo conhecimento. Isso aconteceu quando estranhei que uma pessoa amiga, doutora, inteligente e culta, ainda não tinha lido “Dom Quixote”! Ela simplesmente respondeu-me: “Querido, eu ainda não li tanta coisa que gostaria...”.
Eu morri de vergonha de mim mesmo, pois também padeço do mesmo mal que ela sofre e não me lembrava.
Mas, voltando ao professor, podemos constatar que a tecnologia está, senão matando, pelo menos mudando a concepção que se tinha do que era um professor.
Hoje os alunos vão para a sala de aula com computadores portáteis e podem acessar a internet onde encontram respostas para tudo, tornando obsoleto o conhecimento do professor, pois é humanamente impossível armazenar tantas informações quanto aqueles constantes da rede mundial de computadores.
O professor tradicional deve transformar-se em um “orientador educacional”!
E o que seria um “orientador educacional”, simplesmente aquele que ajuda o aluno, melhor mesmo o estudante, a estudar fazendo suas pesquisas, buscando as respostas mais adequadas.
Hoje o aluno tecnológico se compraz em tentar “enrolar” o professor, trazendo várias teorias para o mesmo assunto que ele capta na internet e na hora em seu computador pessoal, querendo que o professor conheça todas elas, quando qualquer um ser humano conhece uma ou duas, se tanto, mas o mestre não pode parecer que “não sabe” frente ao perguntador, aos demais alunos e a ele mesmo! E isso se torna um exercício de horror e chacota e prepotência pelos atores ali presentes.
Horror por parte do professor, que fica rezando para que não lhe façam perguntas que ninguém sabe responder, mas que ele, como professor, “não pode” admitir.
Chacota por parte dos alunos, que fazem isso apenas para ver a agonia do professor.
Prepotência por parte do professor que, não tendo como responder e sabendo ser vítima da peça pregada pelos alunos, usa seu “poder professoral” para encerrar a conversa impondo o “certo” ou punindo os malvados!
Além do mais, muitos professores, além de não admitirem que não sabem determinados assuntos, são incapazes de admitir que o aluno domina o tema melhor que ele! Isso é inverter a ordem “natural” das coisas! É colocar a terra como centro do universo, apando o brilho do sol professoral!
O professor sequer é capaz de aceitar que existe, para determinado caso, um saber diferente do seu, pois o do professor, se comparado ao do aluno, é sempre o melhor e o “certo”.
A imagem que tenho disso é a seguinte: o professor quer que o conhecimento do aluno se adapte à caixa que ele fornece! É como se o aluno calçasse um sapato número 40 e o professor lhe oferecesse um de número 35 e quisesse que ele o usasse, e sem reclamar, pois ele, professor, sabe o que é o melhor para o aluno!
Dor, transbordamento, nada disso interessa!
Mas, nesse processo amalucado, o professor também é vítima, pois o sistema ao qual ele tem que obedecer também está defasado frente à tecnologia!
O poder público, mantenedor do sistema educativo, em especial, está atrasado anos luz no quesito tecnologia voltada para a educação.
Enquanto o aluno, muitas vezes, possui computador pessoal de última geração, além de telefone celular com acesso à internet, o professor não recebe nenhum equipamento destes do Estado, aliás não recebe sequer salários dignos, que seria o correto, para poder comprar o seu material a ser usado na classe.
O que o Estado faz, em compensação, é, ainda, exigir do professor, que não tem apoio de assistente algum, que preencha longos e medíocres relatórios com os quais o Estado vai montar uma estatística para enganar “a si mesmo”! Isso é de uma desfaçatez que só vendo para crer!
Mas como o que é ruim sempre pode piorar, veja-se o seguinte: o aluno em sua casa, vivia brincando. Corre, pula, senta, levanta, como e bebe na hora que tem fome ou sede. Estuda, sentado, em pé, deitado. Usa seu computador, seu celular, vê TV, brinca no videogame etc. Depois de tudo isso vai para a escola.
Na escola é obrigado a ficar “sentado” por cerca de cinco horas! Tem 15 minutos para lanchar/merendar e voltar a sentar-se!
Na escola não pode fazer nada daquelas atividades que faz, normalmente, em casa, pois tudo é proibido.
E aí!?
Como manter a atenção de uma criança em tais condições?
Ou Estado volta seu olhar para a nova realidade ou vai aumentar o passivo falencial que já é enorme.
Aliás, a dita “nova realidade” nem é tão nova assim! Tanto não o é que Aristóteles, há cerca de 2.500 anos, já ministrava suas aulas, na sua escola de nome Liceu, caminhando com seus alunos, por isso são conhecidos como peripatéticos (palavra que vem do grego “peripatetikós” e significa “o que gosta de passear”).
Que tal unirmos o método de Aristóteles com as tecnologias do século XX!?
Talvez seja “uma” saída, já que, parece, ninguém tem “a” saída.