“Quem tem égua não compra cavalo!”
Ainda menino, perdido nas selvas amazônicas, lá em Maraã, ouvi de meu pai a frase acima, a qual nunca esqueci, porém não entendia do que se tratava. Apenas depois de velho a frase começou a fazer sentido para mim!
A égua é a fêmea do cavalo. Ora, quem tem uma égua não precisa comprar um cavalo para com ela cruzar, basta colocá-la para fazê-lo com um cavalo qualquer solto pelo mundo, ou de um vizinho em uma breve escapulida! Ou seja: não precisa investir, gastar dinheiro (investir) comprado um cavalo para emprenhar a égua e dele ter suas crias.
Acho que essa regra do “menor esforço” ou da “esperteza” pode ser aplicada ao homem de um modo geral, da seguinte forma:
“Um homem só trabalha se não tiver um outro que faça isso por ele”!
A frase dita por meu pai cai como uma luva à mão!
Se o malandro tiver onde se encostar, ele se encosta.
Por que as viúvas ricas são tão requisitadas?
(Vamos trabalhar sempre com a regras, pois as exceções são apenas exceções).
Pois bem.
O homem, nós, não sabemos nada sobre nossas origens, menos ainda sobre as origens do universo. Tudo que temos são teorias, todas elas mal elaboradas, pois, são teorias e não “verdades”, se é que a verdade existe.
Se alguma verdade existe, ela ainda não foi provada!
(Adoto esse modo de pensar).
Teorias são como tudo o mais na vida: umas boas, umas razoáveis, outras ruins e algumas péssimas. Mas, enquanto não temos outra melhor, convivemos com o que temos em termos de conhecimento.
Toda teoria bem exposta pelo seu autor, e que recebe apoio de quem tem influência, costuma sobreviver até que uma outra venha e a exploda ou imploda, quando, então ela morre e é substituída (ou não. As vezes ela continua moribunda, mas sem outra para ocupar o seu lugar, pois a sua destruidora apenas a destruiu, mas não a substituiu).
Tudo que sabemos sobre nós mesmos, homens, é tão recente e tão frágil, igual a um bebê humano quando nasce.
Estamos, segundo aquilo que se chama de ciência, há muitos milhões de anos sobre a terra e esta data de bilhões de anos, e tudo sobre o que temos alguma segurança em termos de conhecimento não data de poucos milhares de anos.
Por falta de melhores dados, fiquemos com algo entre dez mil e cinco mil anos para o recuo histórico onde tudo se torna escuridão.
Por que dessas datas?
Há dez mil anos nascia a agricultura!
(Acredita-se).
Há cinco mil anos nascia a escrita! A melhor forma de transmissão de conhecimento até o século XX.
Ou seja, é tudo mundo jovem, recém-nascido para o conhecimento de um mundo tão velho. Mas é o que temos.
Dizem que a origem da vida está localizada da África.
Dizem que os nossos ancestrais africanos viviam em árvores em busca de proteção contra predadores mais fortes que eles.
Das árvores desciam em busca de comida e escolhiam, claro, suas vítimas entre os animais mais fracos que eles.
Aqui já notamos a importância de algo que vai permanecer na história do homem de várias formas: a força!
Domina, em princípio, quem tiver mais força, sendo que, nessa época, a força que contava era a física, os músculos, as mandíbulas e as garras.
Dizem que nossos ancestrais eram nômades, viviam perambulando, andando pelo mundo em busca de comida e abrigo. Éramos animais catadores ou coletores daquilo que precisávamos e que encontrávamos na então farta natureza.
Os alimentos encontrados, inicialmente no meio-ambiente, foram ficando escassos para uma população que só aumentava. Isso levou os homens a se fixarem. E se fixaram para que pudessem plantar e colher.
Eis o nascimento da agricultura para a produção de alimentos.
Com a sua fixação à terra, o homem procura por novas moradas diversas dos galhos das árvores. Primeiro ele habita as cavernas (deixou muitos de seus desenhos e fogueiras nelas). Bem depois constrói cidades.
Podemos perceber, até aqui, algumas das necessidades básicas do ser humano e como ele fazia para satisfazê-la:
Fome – alimento.
Segurança – moradia.
Alimento – trabalho.
Algo que me foge a tudo isso ainda é a procriação humana.
A procriação somente é possível entre um macho e uma fêmea, sendo o hermafroditismo mera ficção.
Como macho e fêmea se atraiam?
Como nasceu o sentimento de “pertencimento” entre os dois membros do par?
Quando nasceu a noção de amor (proteção) aos filhos? De parte da mulher é mais conjecturável, especialmente pelo comparativo que podemos traçar com as outras fêmeas do reino animal, onde o extinto de proteção vai além da própria vida de uma mãe.
A mulher é uma fêmea diferente das demais, até onde sei, pois não tem cio! Vive eternamente no cio, enquanto as outras fêmeas têm em determinado período do ano.
Não sei se a dominação do homem sobre os outros começa com a “apropriação” da mulher por parte dele, embora tudo indique que sim, pois, por ela, o homem perde cidades, estados, reinos, fortunas e outros bens materiais, mas, fundamentalmente, a vida. Vide o duelo que teve existência forte na Europa até o século IX. Euclides da Cunha é o maior exemplo brasileiro.
Mas este é outro caminho, o qual gostaríamos de conhecer com a ajuda de quem souber.
Voltemos para a produção: moradias, roupas (do que ainda não tínhamos falado até agora, mas que é importante para o conforto e a sobrevivência do homem sob determinadas temperaturas) e alimentos.
Ora, é a produção dessa tríade de artefatos que garantem a vida do homem, mas que requerem algo fundamental: o trabalho!
Trabalho é algo, regra geral, cansativo, maçante, desgastante, dolorido, não-querido, limitador e portador de inúmeras outras desvantagens físicas e... psicológicas.
Mesmos os trabalhos que gostamos de fazer, ou que “fazemos com prazer”, são desgastantes e exigem algum descanso depois de outro tempo em que foram executados.
Os trabalhos mais duros – como quebrar pedras para a construção de casas; limpar, arar, semear, colher e beneficiar a colheita –, são os mais desgastantes e brutais que existem, assim como cavar uma mina de carvão durante doze horas por dia a vários metros sob a superfície da terra, sem a luz do sol, com oxigênio de péssima qualidade e sem equipamentos de proteção.
Que homem fará um trabalho desses se tiver um outro homem que o faça por ele?
Aí volta meu pai, Juarez Barbosa de Lima, com: “quem tem égua não compra cavalo”!
Depois continuamos.
Inté,
Osório Barbosa
Obs.: o mais conhecido é o ditado popular: “Quem tem besta não compra cavalo”. Ambos servem. Se você tem um para trabalhar, não precisará do outro.