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Eu + tu ≠ NÓS. (eu mais tu "é" diferente de nós!)

Eu tu NÓS 

Eu + tu ≠ NÓS.

(eu mais tu "é" diferente de nós!)

 

O homem não sabe quando aprendeu a pensar.

O homem não sabe quando aprendeu a falar.

O homem não sabe quando aprendeu a escrever.

Mas muitos homens acham que sabem de alguma coisa!

Muitos homens acham que conhecem a verdade!

Em um templo grego, dizem, tinha a seguinte inscrição: “Conhece-te a ti mesmo”.

Essa lição é interessante, pois é um roteiro: antes de tudo precisamos conhecer a nós mesmos.

Se não conhecemos a nós mesmos como conhecer outras pessoas ou coisas?

Passados muitos anos, especialmente depois da invenção da escrita, marco na transmissão do conhecimento, o homem continha sem nada conhecer.

Em todos os livros de todos os autores encontra-se a seguinte observação: “Não temos a pretensão de esgotar o tema que hora expomos.”

Ora, nem que ele tivesse a pretensão de esgotar ele conseguiria, pois os temas são inesgotáveis!

Mesmo assim, e dizendo que não querem ser donos da verdade, alguns autores posam como tais!

Dito isto, fica a dica: EU NÃO SEI DE NADA!

Vivo tentando seguir a frase do templo, ou seja, tentando me conhecer.

 

Li, certo dia, a seguinte frase:

O homem é um ser tão dependente que até para ser corno ele precisa da ajuda de uma mulher.”

Há muita sabedoria, aliás, uma enorme sabedoria na dita “sabedoria popular”, sem problema com a redundância.

Embora a sabedoria popular costume ser rebaixada, depreciada pela dita sabedoria dos doutores.

É o mesmo que, até pouco tempo, ocorria na medicina, que costuma desprezar as curas efetuadas pelos remédios populares, vindos dos curandeiros, benzedeiras e dos pajés etc., situação que evoluiu e que elevou a chamada ciência em busca desses conhecimentos.

Usei a frase acima para afirmar a constatação que costumamos esquecer: o homem não é nada sem outro homem!

Do berço (mãe) ao túmulo (parentes ou amigos) ele depende de outras pessoas, embora costume se julgar uma autarquia (aquilo que não depende de outro para sua existência), e assim o faz por vaidade ou burrice, ou os dois juntos.

O homem é o mais frágil dos animais em seus primeiros instantes de vida! Sem a ajuda de outra pessoa morre em poucos instantes.

Aquelas histórias de pessoas criadas por animais são meras criações da mente humana em sonhos ou delírios.

Uma criança costuma criar um animal, com sua carne, não o contrário.

Daquilo que conhecemos da evolução histórica do homem, podemos fazer algumas afirmações, mas todas elas bastantes precárias e sujeitas a correções, obviamente.

Aliás, as pessoas não gostam muito de ouvir isso: que irão ouvir coisas que não são verdadeiras ou que podem não ser verdadeiras. As pessoas gostam de ouvir “a verdade”, seja lá o que isso signifique para elas, mas, geralmente, significa que a pessoa que disse merece confiança. Assim, a verdade vale mais por conta de quem disse do que por ela mesma.

Entretanto, a verdade não vale nada nem por ela mesma nem por quem a disse!

É que a verdade não é algo que se “ache”, que se “encontre”, aquilo que podemos chamar de verdade é algo sempre construído.

Quando se fala em verdade sempre se pensa em algo duro, fixo, rijo, imutável, quando, depois que se começa a entender sobre o tema, descobre-se que ela é algo mutável, flexível, inconstante, fluido, fugaz, maleável, incerta.

A terra já foi o centro do universo! Primeira verdade.

O sol já foi o centro do universo! Segunda verdade.

O sistema solar é só uma das muitas galáxias existentes. Terceira verdade.

Ou seja, temos, no exemplo acima, três verdades para uma mesma coisa!

Não se sabe quando, o homem percebeu que ele pensa! Isso parece tão simples e vulgar que sequer costumamos prestar atenção nisso, mas isso foi revolucionário em algum momento de nossa bilenar existência (o homem talvez exista há bilhões de anos).

Descoberto o pensar, o homem deve ter percebido que pensava apenas para si mesmo. Nesse pensar para si criava figuras em sua mente que imaginou poder compartilhar com outro homem. Mas como fazer isso?

Pela linguagem. Primeiro a gestual, que usamos até hoje, mas, fundamentalmente, pela fala (linguagem vem de língua), pelo dizer.

Ora, mas o dizer não significa se fazer compreender!

Onde o homem começou a dizer e a se fazer compreender pelo outro homem?

Toda essa informação está perdida!

Perdida a informação, o homem passou a conjecturar, fazer suposições sobre a informação que se perdeu. Criar hipóteses, construir teorias.

Mas teorias são válidas até que apareçam outras melhores. Elas trazem em si a marca da incerteza, da instabilidade, o germe de sua superação.

Nesse mundo de incertezas, de ignorância, um Sofista grego, de nome Protágoras cunhou uma frase lapidar! Disse ele:

“O homem é a medida de todas as coisas.”

Ou seja, tudo que é ou existe só é ou existe porque o homem diz que é ou existe, pois nada é ou existe sem que tenha sido o homem quem tenha afirmado.

Protágoras foi o primeiro escritor, ao que se sabe, a registrar esse poder criador do homem, mas que implica, também, a dependência do homem para com outros homens.

De que serviria a linguagem para o homem se não fosse para se comunicar com outro homem?

Quando o homem se comunica com ele mesmo não precisa de linguagem, pois ele se entende sem ela.

A linguagem serve para a comunicação do homem com outro homem, portanto.

Protágoras teve um mito que criou conservado em um escrito de Platão. É o mito de Prometeu e que diz:

Houve um tempo em que os deuses existiam, mas não as raças mortais (Osório diz: nascimento da humanidade). E quando adveio o tempo destinado a sua criação, os deuses moldaram suas formas no interior da terra, misturando terra, fogo e diversos compostos de terra e fogo (Osório diz: de que o homem é feito). Quando estavam prontos para trazer essas criaturas à luz, encarregaram Prometeu e Epimeteu (Osório diz: dois irmãos. O primeiro, Prometeu, prudente e o outro, Epimeteu, o imprudente) de destinar a cada uma delassuas faculdades e capacidades apropriadas (Osório diz: distribuir as ferramentas de que precisaria o homem)Epimeteu implorou a Prometeu o privilégio de atribuir/distribuir as faculdades. 'Quando tiver findado a atribuição', ele disse, 'poderás fazer uma inspeção'. Com a anuência de Prometeu, Epimeteu iniciou a distribuição de faculdades.

A algumas criaturas ele destinou força, deixando-as desprovidas de rapidez (Osório diz: o elefante, por exemplo); às mais fracas ele atribuiu rapidez (Osório diz: ao coelho, por exemplo); a algumas atribuiu armas (Osório diz: tigres), enquanto deixou outras desarmadas (Osório diz: o tatu), porém concebeu para estas (Osório diz: as desarmadas) alguns outros meios para sua preservação. As criaturas de pequenas proporções compensou com asas (Osório diz: pássaros) ou com uma morada subterrânea (Osório diz: ainda o tatu). O tamanho, para aquelas tornadas grandes (Osório diz: elefante) por ele, constituía por si só uma proteção. E mediante esse critério da compensação (Osório diz: com o qual buscava equilibrar vantagens e desvantagens) atribuiu todas as demais propriedades, realizando ajustes e tomando precauções contra a possível extinção de qualquer uma das raças.

Depois de equipá-las com defesas contra aniquilação mútua, concebeu proteções contra as estações (Osório diz: frio e calorordenadas por Zeus, revestindo-as com pelos espessos (Osório diz: ursos) e couros rígidos (Osório diz: focas) suficientes para proteger do inverno e igualmente eficientes contra o calor, além de servirem inclusive de mantas próprias e naturais para quando fossem dormir. Algumas calçou com cascos (Osório diz: cavalos), outras, com garras (Osório diz: águias) e sólidos couros destituídos de sangue (Osório diz: nosso peixe-boi). Na sequência, passou a prover cada uma das raças com seu alimento adequado, umas com pastagem da terra (Osório diz: bois), outras com frutos das árvores (Osório diz: macacos), e outras ainda com raízes (Osório diz: comedores de macaxeira!). E a um certo número de raças disponibilizou como alimento outras criaturas (Osório diz: leões). A algumas atribuiu uma limitada capacidade de reprodução (Osório diz: um filho por cria e por períodos longos, como é o caso do elefante), ao passo que a outras, que eram devoradas pelas primeiras, atribuiu uma capacidade de grande proliferação (Osório diz: os peixes), assegurando assim a sobrevivência dessas espécies.

Epimeteu, contudo, insuficientemente sábio (Osório diz: por isso seu nome significa imprudente), de maneira descuidada esbanjou seu estoque de faculdades e capacidades com os animais irracionais. Ficara com a raça humana completamente não equipada e, enquanto circulava desorientado sobre o que fazer com ela, Prometeu chegou para proceder à inspeção de sua distribuição e constatou que, enquanto os outros animais estavam completa e adequadamente providos de tudo, o ser humano encontrava-se nu, descalço, não acamado e desarmado (Osório diz: papai, lá em Maraã, dizia que o ser humano é o mais frágil dos animais e, que, deveria, ter seus filhos como os jabutis têm os seus: vão largando os seus ovos pelo caminho e quando os filhotes nascem “eles que deem o seu jeito”! Papai, irresponsavelmente, era meio jabuti em relação aos seus filhos!). E já era o dia destinado para que o ser humano e todos os outros animais emergissem da terra para a luz. Foi quando Prometeu, em desesperada desorientação quanto a que forma de preservação poderia conceber para a sobrevivência do ser humano, subtraiu de Hefaístos (Osório diz: deus grego do fogo) e Atena (Osório diz: deusa grega da sabedoria e da guerra) sabedoria nas artes práticas juntamente com o fogo, sem o qual esse tipo de sabedoria se mostra factualmente inútil, e os entregou ao ser humano. Mas, embora o ser humano aja com isso adquirido, a sabedoria para preservar sua vida cotidiana, faltou-lhe a sabedoria para a vida cívica em comunidade (Osório diz: justamente, a POLÍTICA!), sabedoria esta de posse de ZeusPois, Prometeu não tinha mais acesso livre à cidadela onde mora Zeus, isso sem considerar, ademais, a presença de seus temíveis guardas. Mas ele conseguiu entrar, sem ser visto, no prédio utilizado conjuntamente por Atena e Hefaístos nas suas atividades, furtando tanto a arte do fogo de Hefaístos quanto todas as artes de Atena e entregando-as à raça humana. Possibilitou com isso a provisão dos recursos que permitem a manutenção da vida humana. Mas Prometeu, por conta do erro de Epimeteu, posteriormente foi acusado por furto (Osório diz: foi acusado e condenado! Foi acorrentado a uma pedra e, todos os dias, uma águia comia o seu fígado, que se refazia durante a noite para, no dia seguinte recomeçar o seu martírio).

Entretanto, agora que o ser humano passara a compartilhar com os deuses de algo que antes fora exclusivo destes últimos, ele, primeiramente,devido a uma espécie de afinidade ou proximidade com os deuses (Osório diz: imagem e semelhança?), tornou-se o único animal que os venerava, tendo erigido altares e confeccionado imagens sagradas; em segundo lugar, não demorou a capacitar-se, em função de sua habilidade, a articular a voz e as palavras (Osório diz: somos os únicos animais que falamos), e a inventar casas, roupas, calçados, leitos e nutrir-se dos alimentos provenientes da terra (Osório diz:início da agricultura). Equipados com isso,os seres humanos no começo viviam esparsos e isolados, não havendocidades (Osório diz: dado importante, pois somente nas cidades pode haver POLÍTICA)Nessa situação, eram destruídos por animais selvagens, visto serem estes em todos os aspectos mais fortes do que a humanidade. E embora a habilidade humana nas atividades manuais bastasse para prover o alimento, mostrava-se deficiente no que tangia à luta contra os animais selvagens.A razão disso era carecerem ainda da arte política (Osório diz: eis a conscientização da necessidade da POLÍTICA), da qual a arte da guerra constitui uma parteTentaram assim viver unidos e garantir a sobrevivência fundando cidadesEntretanto, tão logo passaram a viver juntos, começaram a cometer injustiças entre si, já que lhes faltava a arte política (Osório diz: “a arte de viver em comunidade numa sociedade organizada civil (cidade-Estado) regida por leis)O resultado foi voltarem a se dispersar e serem destruídos. Zeus, temeroso que nossa raça estivesse ameaçada de completa extinção, enviou Hermes (Osório diz: filho de Zeus e seu mensageiro) para instaurar senso de pudor e de justiça (Osório diz: os dois ingredientes fundamentais para a POLÍTICA) entre os seres humanos, de modo que passassem a existir ordem nas cidades e laços de amizade que as unissem.E Hermes indagou a Zeus comodistribuir justiça e pudor entre os seres humanos'Deverei distribuí-loscomo o foram as artes?Esse aquinhoamento foi feito de sorte que um indivíduo detentor da arte da medicina é capaz de tratar muitos indivíduos comuns, o mesmo acontecendo com os outros profissionais. Deverei colocar entre os seres humanos justiça e pudor igualmente desse modo, ou distribuí-los a todos?' 'A todos', respondeu Zeus, 'e que todos tenham deles um quinhão, pois não é possível que as cidades sejam formadas se apenas alguns poucos tiverem uma porção de justiça e pudor, como de outras artes (Osório diz: assim, em questão de POLÍTICA, todos os homens são iguais, pois receberam os mesmos bens necessários em quantidades iguais, por isso todos podem participar da vida política). E estabelece a seguinte lei determinada por mim: Aquele que não conseguir partilhar pudor e justiça deverá morrer, por ser uma pestilência para a cidade' (Osório diz: aqui Zeus impõe a necessidade de obediência as leis. Mas que leis? Aquelas leis que forem criadas pelos próprios homens em benefícios deles).

Consequentemente, Sócrates, ocorre que as pessoas nos Estados, e particularmente em Atenas, julgam que cabe a uns poucos aconselharem relativamente à excelência na marcenaria ou naquela relativa a qualquer outro ofício profissional, de maneira que, se qualquer um que não esteja entre esses poucos se pronunciar a respeito da matéria em pauta, não o admitem, como dizes, e não sem razão, segundo penso (Osório diz: nem todos sabem debater problemas técnicos-profissionais). Mas quando o debate envolve a solicitação de um aconselhamento que diz respeito à virtude cívica, esfera em que podem ser inteiramente norteadas pela justiça e o bom senso, as pessoas admitem naturalmente o aconselhamento de quem quer que seja, na medida em que se pensa que todos são aquinhoados com essa virtude (Isto é, a virtude política ou cívica), pois caso contrário os Estados não existiriam. Eis aí a explicação, Sócrates (Osório diz: diferentemente das questões técnicas, em política todos podem opinar e debater. Nem todos sabem desenhar, mas todos sabem discutir seus interesses políticos).

E para que não penses que estás sendo ludibriado, ofereço-te uma prova adicional de que todos os seres humanos verdadeiramente creem que todos possuem um quinhão da justiça e do restante da virtude cívica (Osório diz: de política, portanto)Em todas as demais artes acompanhadas de suas virtudes, tal como dizes, quando alguém afirma ter competência quanto a tocar flauta ou em qualquer outra arte e não a tem, torna-se alvo de zombaria, desprezo ou indignação, sua família dele se aproximando e o censurando como se houvesse enlouquecido. Mas quando se trata da justiça ou de qualquer outra virtude política ou cívica, mesmo que saibam que um determinado indivíduo é injusto, se este confessar publicamente a verdade sobre si mesmo, classificarão essa sinceridade de loucura, ao passo que na situação anterior (Ou seja, com referência às atividades artísticas profissionais) a classificariam como bom sensoAfirmam que todos devem professar serem justos, quer sejam ou não, e que todo aquele que não reivindicar de algum modo ser justo é destituído de senso, visto que necessariamente todos, de umaforma ou outra, possuem algum quinhão da justiça, ou não pertenceriam à espécie humana.

Este é, portanto, meu primeiro ponto, ou seja, é razoável admitir que todos os homens (Platão retrata Protágoras tomando como modelo uma Assembleia popular de um Estado sob o regime democrático [como a Atenas de seu tempo]sejam conselheiros no que toca a essa virtude, na medida em que todos (Ou seja, todos os homens que, na qualidade de cidadãos, participam da Assembleia do povo, solicitando conselhos sobre as matérias para posterior deliberação) creem que todos os seres humanos possuem alguma parcela dela (Osório diz: da virtude política). O próximo ponto que tentarei demonstrar, obtendo para ele convencimento, é que essas pessoas não consideram essa virtude como natural ou de geração espontânea, mas como algo que é produto do ensino e adquirido após cuidadoso preparo por aqueles que o adquirem (Osório diz: portanto para adquiri-la, temos que estudar).

No caso de males que os seres humanos universalmente consideram que atingiram seus semelhantes por força da natureza ou da sorte, ninguém jamais se indigna com os atingidos, ou os reprova, adverte, pune ou procura corrigi-los. Tornam-se tão-só objeto de compaixão. Ninguém, em seu juízo, tentaria agir de tal maneira em relação a alguém que é feio, esquelético ou fraco(Osório diz: o sofista defendendo o direito das minorias e a igualdade. Não o feito pela natureza, mas o feito pelo homem é que é passível de ação)A razão, suponho, é se saber que as pessoas são atingidas por esses males naturalmente ou por força do acaso, [na verdade] tanto os males quanto seus opostos. No que se refere, contudo, a todos os bens que se supõe que as pessoas obtêm através de aplicação, prática e ensinamento, se alguém não os possui, mas somente seus opostos, ou seja, os males, tornar-se-á certamente objeto de ódio, castigo e reprovação. Entre esses males encontram-se a injustiça e a impiedade e, em síntese, tudo aquilo que se opõe à civilidade (A virtude cívica); essas ofensas atraem sempre ódio e reprovação claramente porqueessa virtude é considerada algo que se adquire através da aplicação e do aprendizadoSe examinaresa punição Sócratese o controle exercido por esta sobre os malfeitores, os fatos te dirão queos seres humanos consideram a virtude algo obtido mediante aprendizadoDe fato, ninguém irá punir um malfeitorexclusivamente em função de ter observado o mal ou em função do próprio mal cometido, salvo que se esteja meramente praticando a vingança irracional de um animal selvagem. A punição racional não se identifica com vingança pessoal por uma injustiça perpetrada, pois não se pode desfazer o que foi feito (Osório diz: o sofista ensinando Direito Penal)A punição racional é, sim, empreendida com vistas ao futuro, no sentido de intimidar tanto o malfeitor quanto qualquer pessoa que assista a ele ser punido por reincidir no crimeEssa postura que encara a punição como intimidação implicao caráter de aprendizado da virtude. Essa é a postura, a opinião aceita, de todos os que buscam o revide na vida privada ou pública. Geralmente, todos os seres humanos buscam o revide e a punição daqueles que acham que os injustiçaram, o que se aplica especialmente aos atenienses, teus concidadãos, de forma que com base em nosso argumento também os atenienses partilham da opinião de que a virtude é adquirida e ensinadaAssim, tenho como demonstrado que é com o respaldo da razão que teus concidadãos admitem os conselhos de um ferreiro ou de um sapateiro em matéria de assuntos do Estado (Osório diz: em matéria política), e que consideram a virtude como ensinada e adquirida. E me parece, Sócrates, que disso também forneci suficiente demonstração.

Resta ainda ocupar-me de tua dificuldade, a saber, o problema que levantaste com respeito a homens bons, que promovem a educação de seus filhos nos cursos regulares dos mestres, propiciando-lhes os conhecimentos nas matérias ministradas nesses cursos, mas que não conseguem que se destaquem nas virtudes em que eles próprios se destacam (Osório diz: a virtude não é hereditária).Neste caso, Sócrates, renunciarei ao mito e te oferecerei um argumentoObserva o seguinte:Há ou não há uma coisa que todos os cidadãos precisam possuir para que possa existir um Estado?Encontra-se aqui e em nenhum outro lugar a solução de teu problema. De fato, se houver essa coisa, ela será, em vez da arte do carpinteiro, da do ferreiro, ou da do oleiro, a justiça, o auto-controle e a devoção – em suma, aquilo que posso combinar e chamar globalmente de virtude de um homemE se é essa coisa que todos devem partilhar e com o que todos os indivíduos devem atuar sempre que desejarem aprender algo ou realizar algo, não devendo agir sem poder contar com ela, e se devemos instruir e punir os que dela não têm um quinhão, quer seja uma criança, um homem ou uma mulher, até que a punição destes os tenha tornado melhores, e devemos desterrar de nossas cidades ou executar, como incuráveis, aqueles que não conseguirem responder a essa punição e instrução – se assim for, se esta for a natureza dessa coisa, e os homens bons educam seus filhos em tudo exceto nela, então devemos cair em pasmo diante do quão bizarro é o comportamento dos homens bons! Pois demonstramos que encaram essa coisa como passível de ensino tanto na vida privada quanto na pública. Como pode ser algo ensinado e cultivado, é possível que providenciem o ensino aos seus filhos de tudo cuja ignorância não os faça incorrer na pena de morte, enquanto numa matéria cuja a ausência de instrução e cultivo (isto é, a virtude) resulta na execução ou exílio de seus filhos – e não só na morte, como também no confisco das propriedades e praticamente numa total catástrofe familiar – não providenciem a educação deles e não tomem com eles o máximo cuidado? É imperioso concluirmos que sim, Sócrates.

Fonte: Protágoras – Platão, tradução de Edson Bini, Edipro, Bauru, 2007: p. 265/271.

 

Na atualidade, o escrito que, a nosso pensar, no momento, melhor desenvolveu os fragmentos de Protágoras foi o francês Jean-Paul Sartre.

Sartre afirma que o homem somente se conhece em outro homem. Ele precisa de outro homem para conhecer a si próprio.

Aristóteles, depois de Protágoras (e de Górgias, sobre quem falaremos em outra oportunidade), já tinha afirmado que o homem é o único animal que pensa.

Ora, sendo o homem o único animal que pensa e tendo ele necessidade de outro homem para se reconhecer, fica claro que homem, ao pensar e comunicar esse pensamento a outro homem é capaz de fazer com que este pense igual, parecido ou diferente dele.

Pensando igual, nada há a construir inicialmente.

Pensando parecido ou diferente, os homens podem construir um acordo, um pacto entre eles que seja capaz de pôr fim às divergências.

Mesmo que não se ponha fim às divergências, o homem sabe o que o outro pensa sobre o tema e ambos são capazes de agir melhor com esse conhecimento.

Ou seja, até para constituir a divergência o homem precisa de outro homem!

É impossível ser feliz ou infeliz sozinho!

Sartre diz que “A essência é precedida pela existência”!

O que isso, no contexto deste escrito, significa?

O homem, por pensar, tem se preocupado, há muitos milênios, em saber a origem das coisas, de onde tudo vem (alguém disse, por exemplo, que tudo vinha da água. Tales de Mileto o disse), isso de onde tudo provém é a essência!

Até agora não se achou a origem/essência de nada! Mas não desistamos.

Ora, mas para que se pense em encontrar a essência, é necessário que, antes da essência, se... pense!

Como somente o homem pensa, é necessário que ele tenha existência (existe), para somente após seu existir seja capaz de pensar na essência!

Sem a existência, que se confunde com o penar, é impossível existir essência, pois é o pensar (o existir) quem diz a essência, e não o contrário.

Essência sem pensamento não existe!

Com isso volta-se a Protágoras: “o homem é a medida de todas as coisas”, portanto, também da essência!

Por fim, dizem que Sartre teria dito: “Não posso ser fiel a uma única mulher, pois isso implicaria em ser infiel a todas as outras.”

Caso a frase seja de sua autoria (pois é verdadeira, no sentido de existir), Simone de Beauvoir, com quem Sartre conviveu até sua morte, em 1980, deve ter aceitado o pacto, mas não se sabe em que termos, mas que aponta para duas possibilidades: ela aceitar a infidelidade dele sem também ser infiel ou ambos aplicarem a mesma máxima!

Entretanto, nos resta como conclusão: os homens vivem dos pactos que fazem entre eles.

Assim, não existe, na vida social (e somente nela a vida existe), o EU ou o TU, mas apenas o NÓS!

É que EU sem TU e TU sem EU não existimos!

O diálogo, liga que nos une, só é possível entre NÓS!

 

Inté,

 

Osório Barbosa