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O Totalitarismo de Hannah Arendt na obra "1984" de George Orwell, por Márcio J. S. Lima

Hannah Arendt e George Orwell

O Totalitarismo de Hannah Arendt na obra "1984" de George Orwell

 

Márcio J. S. Lima1

 

RESUMO: Por muitas vezes a literatura funciona como um reflexo do pensamento filosófico. Enquanto obra de arte, ela opera como um dispositivo capaz de expressar na prática aquilo que, em certa medida, os conceitos filosóficos não conseguem explicar. A literatura, então, acaba por se tornar um modo prático pelo qual o pensamento filosófico pode ser compreendido. Com base no exposto, o presente artigo tem como objetivo apresentar o totalitarismo segundo Hannah Arendt para, em seguida, relacioná-lo com o ambiente distópico encontrado na obra 1984. Em outras palavras, buscaremos analisar o conceito de sistema totalitário à luz do pensamento da filósofa e depois comprovar se este sistema pode ser encontrado na obra literária de George Orwell. Para tanto, utilizaremos duas obras em nosso estudo: As Origens do Totalitarismo, de Hannah Arendt e 1984 de George Orwell. Como se trata da análise conceitual de uma obra literária, advertimos o leitor para a presença de spoilers.

Palavras-chave: Totalitarismo. As origens do Totalitarismo. 1984

 

INTRODUÇÃO

 

As Origens do Totalitarismo foi publicado em 1951, com o título O Fardo de Nossos Tempos. Nele Hannah Arendt traça um panorama histórico e conceitual dos movimentos políticos totalitários existentes no século XX: o nazismo na Alemanha e o bolchevismo na Rússia. Já o livro 1984, publicado em 1949, apresenta os possíveis desdobramentos desses [Osório diz: Ainda não li as duas obras citadas! Aliás, como tantas outas… Entretanto, se não o fiz, muito se deve ao seguinte: George Orwell, salvo engano é um comunista arrependido! Essas são terríveis quando começam a cuspir no prato que comeram. Isso não significa que Stalin seja alguém a ser aplaudido, digo apenas que ambos (Stalin e Oewell) tinham algo em comum e uma hora trilharam caminhos opostos, pelo que “ouvi dizer”. Quero ler a biografia do “cara de cavalo” para formar uma opinião, digamos, mais consistente dessa afirmativa. Quanto à Hannah Arendt, segundo li em: https://www.osoriobarbosa.com.br/artigos/contos-escritos-de-amigos/item/3203-as-contradicoes-de-hannah-arendt-po-russel-jacoby, ela nunca concluiu nenhuma obra, no que se pode comparar a Leonardo da Vinci, dizem. Mas, o que mais me chama a atenção, é o seu “amor” por Martin Heidegger um nazista que nunca renunciou ao nazismo e é tido pelo filósofo mais importante do século XX. Eu desconheço qualquer crítica dela ao filósofo]

[97]

 

movimentos situados numa sociedade marcada pelo controle, pela propaganda e pelo uso do terror.

 

Tanto na obra de Arendt quanto na de Orwell, podemos perceber as características mais relevantes dos regimes totalitários: a figura marcante do líder, o poder da propaganda, a manipulação das informações e a exigência constante da guerra. [Osório diz: Tudo que os USA e outros democráticos não façam hoje (2021)!]

 

As respectivas obras, cada qual seguindo um gênero específico, mostram como o domínio e a busca pela manutenção do poder foram capazes de maltratar a natureza humana no século XX. Além das duas grandes guerras, o século em questão deixou sua marca na história como aquele em que surgiram os sistemas totalitários. A impressão que fica é que pela primeira vez o controle, a dominação e o terror foram utilizados racionalmente para subjugar e cercear a liberdade em prol de um Estado totalitário. [Osório diz: A dominação econômica o USA pratica no mundo todo e o terror, em especial, no Oriente Médio. Qual a diferença].

 

É neste sentido que nos propomos analisar os textos supracitados nas linhas que se seguem. Nosso escopo é dissecar as obras 1984 e As Origens do Totalitarismo no sentido de extrair delas os pontos de convergências daquilo que se refere ao totalitarismo. Nossa metodologia será a análise das obras com a finalidade de apresentar as duas versões da história por meio de prismas diferentes: a literatura de Orwell e a filosofia de Arendt [Osório diz: Este alerta é importantíssimo, já que pessoas tomam 1984 como uma descrição fática! Arendt, salvo engano, não dizia filósofa!, mas isso nada tem de especial, pois filósofo não é dono de verdade alguma...]. Com esse intuito, pretendemos corroborar a hipótese de que, tanto numa quanto na outra, estão presentes as características daquilo que, do século XX em diante, convencionou-se chamar totalitarismo.

 

1 O TOTALITARISMO E SUA RELAÇÃO COM A LITERATURA

 

Em sua obra As Origens do Totalitarismo, Hannan Arendt (1989, p. 375) define o totalitarismo como “a dominação permanente de todos os indivíduos em toda e qualquer esfera da vida”. Dessa forma, o totalitarismo penetra todo o âmbito social, cultural e econômico do Estado suprimindo a liberdade do individuo e determinando sua conduta. Para tanto, o uso do terror se torna um elemento de fundamental importância, tanto na legitimação quanto na manutenção do sistema. O terror deixa de ser apenas um meio de extermínio e amedrontamento da oposição, como era nas tiranias do passado, e se torna um instrumento cotidiano de manipulação e controle das massas [Osório diz: Isso não vale apenas para Stalin e Hitler, mas para Bush Jr. e Trump também! Ou não?].

[98]

 

Assim sendo, fora a vigilância permanente exacerbada, o totalitarismo apresenta certas peculiaridades, que podem ser facilmente relacionadas com a obra 1984, e que são próprias do seu modo de proceder tais como: a figura central de um líder; a manipulação e divulgação da informação através da mentira e de uma imprensa própria; e necessidade da guerra [Osório diz: As lições de “Stalin e Hitler” se perpetuaram nos seus sucessores ao redor do mundo!], entre outros. Estes fatores são perceptíveis na obra de George Orwell. Mas de que modo o totalitarismo pode ser relacionado com o livro 1984? O que podemos encontrar na leitura do romance de Orwell que pode ser comparado ao Totalitarismo de Hannan Arendt? Há um totalitarismo, tal como descreve Hannan Arendt em As Origens do Totalitarismo, na obra de George Orwell? Acreditamos que, pelo menos de maneira genérica, ninguém negue isto.

 

George Orwell, pseudônimo de Eric Arthur Blair [Osório diz: Também queria saber o que Orwell dizia de Stalin quando este estava aliado da Inglaterra contra Hitler! Calou-se?], publicou o romance 1984 em 1949, marcando, por sua vez, o imaginário social de uma época em que o mundo havia sido aterrorizado pela Segunda Guerra Mundial e que havia se deparado com os regimes do fascismo na Itália, nazismo na Alemanha e comunismo na URSS. Aqui o romance, enquanto expressão artística [Osório diz: Não esqueça disto leitor, em especial que o Orwell talvez, por ter sido um deles, seja um magoado pelo abandono a que foi relegado! A ver.], parece descrever e antever o território distópico em que um Estado Totalitário se apresenta. Descreve porque relata, de modo artístico e fictício, as atrocidades nazi-fascistas que assolaram o século XX. Antevê porque denuncia previamente as consequências daquilo que possa vir a se tornar um Estado Totalitário no futuro.

 

A obra conta a história de Winston Smith, um sujeito de 39 anos de idade que transtornado e inconformado com o sistema sócio-político da Oceania, seu país, começa a desenvolver pensamentos subversivos. Ele é funcionário do Ministério da Verdade [Osório diz: Bem engraçado esse nome pois, mesmo implicitamente todos os ministérios são da verdade, pois ninguém se assume que seja “Ministério da Mentira”] onde realiza a falsificação de arquivos e notícias do governo. Em um determinado momento da narrativa, Winston começa a escrever coisas estranhas:

 

Seus olhos tornaram a focar a página. Descobriu que estivera escrevendo, num gesto automático, ao mesmo tempo que a memória divagava. E não era mais a letra desajeitada e miúda de antes. A pena correra voluptuosamente sobre o papel macio, escrevendo em grandes letras de imprensa:

ABAIXO O GRANDE IRMÃO

ABAIXO O GRANDE IRMÃO

ABAIXO O GRANDE IRMÃO

ABAIXO O GRANDE IRMÃO

ABAIXO O GRANDE IRMÃO

[99]

Muitíssimas vezes, enchendo meia página. (ORWELL, 1996, p. 21).

 

A partir daí a narrativa se desenrola numa atmosfera de frieza, suspense e distopia que é extraordinariamente lapidada pela destreza e maestria do autor.

 

2 A FIGURA DO LÍDER [Osório diz: Bush, Trump etc.]

 

No sistema totalitário, a figura do líder funciona como elemento crucial na legitimação e na execução do poder. Sobre a participação do líder nestes sistemas, Hannah Arendt (1989, p. 414) nos diz que “o caráter totalitário do princípio de liderança advém unicamente da posição em que o movimento totalitário, graças a sua peculiar organização, coloca o líder, ou seja, da importância fundamental do líder para o movimento” [Osório diz: Nos USA essa colocação do líder já faz parte da própria instituição presidencial]. Para Souza (2007, p. 251), “cabe ao líder a tarefa de suprema importância de definir quem é o inimigo a ser liquidado”. Em outras palavras, o líder é aquele que aponta, que traça estratégias de domínio e que manobra o exercício do poder. Geralmente o líder é visto como o herói, o salvador, o messias que vai “libertar” o povo “sofrido” [Osório diz: As democracias, como diz a China, tem se valido dessas guerras com essa mesma finalidade. Veja-se o artigo na nota que se segue]*.

 

Em 1984, a figura do líder é abordada por Orwell a partir do personagem denominado O Grande Irmão. Sobre ele, o autor faz a seguinte descrição: “Em cada patamar, diante da porta do elevador, o cartaz da cara enorme o fitava na parede. Era uma dessas figuras cujos olhos seguem a gente por toda a parte. O GRANDE IRMÃO ZELA POR TI, dizia a legenda”. (ORWELL, 1996, p. 07). O Grande Irmão estava em toda parte. Numa determinada passagem da obra, ele é descrito como alguém de cabelo e bigode negro. Um personagem de força e misteriosa calma. Uma entidade de aspecto quase divino por quem os membros do núcleo do partido tinham grande devoção [Osório diz: Eis o retrato falado do Trump, só muda a cor dos cabelos]. Era o protetor destemido e invencível. Sua postura soava como uma rocha na luta contra os inimigos e quando aparecia na teletela22 arrancava reações emotivas dos que lhe seguia. George Orwell descreve a reação dos membros do departamento ao vê-lo em uma de suas aparições:

[100]

 

Nesse momento, todo o grupo se pôs a entoar um cantochão ritmado “G. I.!... G. I.!... G. I.!” Repetido inúmeras vezes com uma longa pausa entre o G e o I – um som cavo e surdo, curiosamente selvagem, no fundo do qual se parecia ouvir batida de pés nus e o rufo dos atabaques. (ORWELL, p. 20).

 

O comportamento do líder é ardiloso e ao mesmo tempo sutil. Ele não se apresenta para as massas como um tirano ou um déspota. Sua presença não denota sede de poder, nem tampouco, interesse em manipular seus governados. De acordo com Hannah Arendt (2012, p. 455), o líder “é nada mais e nada menos que o funcionário das massas que dirige […]” [Osório diz: Aliás, “todo poder emana do povo”! Este é uma dos tiranos apenas?]. Tal qual o Grande irmão, o líder faz parecer que está à disposição das massas. Ele parece estar pronto para servir, para salvar e para guiar um povo cujo movimento depende unicamente desse funcionário “salvador” [Osório diz: Um político amazonense, anos 80, 90, 2000, 2010, dizia: “Eu não quero, mas se o povo quiser, eu estou aqui”! Grande fdp!].

 

Como funcionário, o líder sabe que, ao menor sinal de fracasso ou insucesso, pode ser substituído. Sua estabilidade depende justamente do seu carisma e poder de persuasão. Nesse sentido, ele depende das massas tanto quanto esta depende dele. “Sem ele, elas não teriam representação externa; sem as massas o líder seria uma nulidade”. (ARENDT, 2012, p. 456). Segundo Hannah Arendt (2012, p. 456), foi nesse contexto que Hitler, num discurso perante a SA, proferiu as seguintes palavras: “Tudo o que vocês são, o são através de mim; tudo o que eu sou, sou somente através de vocês” [Osório diz: Qual político não diz isto? Talvez só troquem as palavras!].

 

Outro fator de fundamental importância a se observar na figura do líder totalitário é o seu dom especial para confundir ficção e realidade [Osório diz: É o caso do livro de Orwell, como dito na página 98 deste artigo]. Talvez essa seja uma de suas principais características. Em sistemas totalitários, o líder se apresenta bastante hábil na arte de, dentro das ideologias em curso, elencar os aspectos mais propícios à fundamentação de um mundo completamente fictício; mas que é passado às massas como mundo real, possível e verdadeiro [Osório diz: O que são os projetos dos governos? Em especial aqueles que nem saem do papel, como se diz].

 

Aliás, o próprio conceito de Verdade [Osório diz: mais adiante, em nota de rodapé esse conceito será explicado pelo auro] adquire novos contornos dentro dessa lógica. A Verdade passa a ser aquilo que se encontra em conformidade com a narrativa fundamentada pelo líder. “Sua arte consiste em usar e, ao mesmo tempo, transcender o que [101] há de real, de experiência demonstrável na ficção escolhida, generalizando tudo num artifício que passa a está definitivamente fora de qualquer controle possível por parte do indivíduo”. (ARENDT, 2012, p. 296-297).

 

A totalidade da liderança é proveniente do status quo estabelecido pelo Movimento totalitário. É o Movimento, apoiado pelas massas, que confere ao líder a qualidade de figura suprema e necessária. É o Movimento que, com o apoio das massas, delega o grau de importância do líder. Há, portanto, um jogo de troca e interesse entre o líder e as massas [Osório diz: A democracia (“um homem, um voto”) é o quê? Não existe esse jogo?]. “Comprova essa asserção o fato de que, tanto no caso de Hitler como no de Stálin, o verdadeiro princípio de liderança só se cristalizou lentamente, em paralelo com a gradual ‘totalização’ do movimento”. (ARENDT, 2012, p. 500). Desse modo, na obra de Orwell, tal fato também é digno de constatação, pois o próprio Partido também se encarregava de apresentar, em suas histórias, o Grande Irmão como aquele que havia liderado e protegido a Revolução [Osório diz: Mas isso ocorre apenas nos sistemas totalitários? Por que “Deus deve salvar a rainha”? Ela protege a quem?].

 

3 O PODER DA PROPAGANDA

 

A figura do líder não seria possível sem o trabalho maciço da propaganda. Ela possibilita divulgar, como “verdade”, as mentiras propagadas pelo Partido [Osório diz: Isto me lembra o que disse aquele ministro: “O que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde”! Ele não era ministro de nenhum regime totalitário e, parece, não falava só por si, mas por seus colegas mundo a fora!]. Segundo Hannah Arendt (2012, p. 474), apenas “a ralé e a elite podem ser atraídas pelo ímpeto do totalitarismo; as massas têm de ser conquistadas por meio da propaganda”. A ralé por falta de espírito crítico forte e pensamento reflexivo [Osório diz: Daí não ser interessante educar essa ralé!] e a elite por interesses particulares [Osório diz: Contra os quais “ninguém” ousa escrever! Sob pena de perder os patrocínios e as publicações de suas obras de endeusamento do sistema ao qual servem! Ninguém publica os adversários!]; mas o todo, o maior número possível, a parte inteira... essa só consegue aderir ao totalitarismo por meio de uma ação motivada pela propaganda. O partido necessita chegar até aqueles que consomem outras fontes de informações, aqueles que ainda não foram hipnotizados pelas falsas promessas do movimento totalitário. E essa adesão é conquistada mediante o uso da propaganda [Osório diz: E os valores (monetários) investidos em propagandas? E a indústria cultural? As músicas, os filmes os costumes das metrópoles? Ou neles não estão embutidas propagandas? Ou são propagandas libertárias? kkkk].

 

Em 1984, ao que parece, Orwell não explora com afinco a questão da propaganda [Osório diz: A obra em si já é uma propaganda!]. Na narrativa, o totalitarismo já está consolidado. Hannah Arendt (2012, p. 474) nos relata que:

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Quando o totalitarismo detém o controle absoluto, substitui a propaganda pela doutrinação e emprega a violência não mais para assustar o povo (o que só é feito nos estágios iniciais, quando ainda existe a oposição política), mas para dar realidade às suas doutrinas ideológicas e às suas mentiras utilitárias [Osório diz: Mentiras utilitárias! Mentiras utilitárias! Como mentiras e utilidades podem se dar as mãos! Basta que tais mentiras pertençam ao sistema que apoio?].

 

A fase de angariar novos adeptos à causa já foi superada. Agora só resta manipular e redistribuir as informações. Numa importante passagem da obra, Orwell (1996, p. 41) nos conta como isso acontecia [Osório diz: Aqui o autor parece tomar a fantasia (literatura) por realidade, pois não?]:

 

Assim que fossem reunidas e classificadas todas as correções necessárias a um dado número do Times, aquela edição era reimpressa, destruído o número original, e o exemplar correto colocado no arquivo em seu lugar. Esse processo de alteração contínua aplicava-se não apenas a jornais, como também a livros, publicações periódicas, panfletos, cartazes, folhetos, filmes, bandas de som, caricaturas, fotografias – a toda espécie de literatura ou documentação que pudesse ter o menor significado político ou ideológico.

 

Entretanto, podemos perceber que o autor faz referências ao Ministério da Verdade. O Ministério da Verdade é o órgão responsável pela instrução, diversão, belas-artes e, principalmente, as notícias. Um dos, ou até mesmo o principal, objetivo das notícias era enfatizar as “glórias” do Grande Irmão e do Partido. É pouco provável que o Ministério da Verdade divulgasse alguma notícia que maculasse a imagem do Grande Irmão ou do Partido. Isso mostra, como a notícia também pode se configurar como um meio propagandístico [Osório diz: Vemos isso todos os dias na Veja, no OESP, na Folha, no Globo etc.]. O próprio Partido também se encarregava dessa manipulação de imagens, pois como Orwell (1996, p. 37) nos relata, “Nas histórias do Partido, o Grande Irmão naturalmente figurava como chefe e guardião da Revolução desde o princípio”.

 

A máquina propagandística do Regime totalitário também não mede esforços para denegrir a imagem daqueles que porventura sejam contrários à sua ideologia [Osório diz: Isso em 2019, 2020, 2021 e nada indica que vá mudar no futuro. Que tal mudar o denegrir, Mestre?]. Utilizam a propaganda para atacar abertamente seus “inimigos”,33 além de esconder os reais problemas sociais da população como a fome e o desemprego [Osório diz: No mundo da “liberdade” (USA, Inglaterra etc., essas mazelas não existem! Todo mundo tem casa, come, bebe e não passa frio! Tinha até um louco chamado “Chaves” (da Venezuela) que enviada combustível para americanos do norte não passarem frio, mas era louco, como se disse!]. Desse modo, a propaganda se constitui como uma ferramenta de apoio ao domínio e ao controle da população.

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Já em outros casos, a propaganda, além de funcionar como uma forma de conquistar apoio entre as camadas que ainda não foram completamente cooptadas; serve também para ganhar visibilidade lá fora, nos países que não são totalitários. “Nesse ponto, os discursos de Hitler aos seus generais, durante a guerra, são verdadeiros modelos de propaganda caracterizados principalmente pelas monstruosas mentiras com que o Führer entretinha os seus convidados na tentativa de conquistá-los”. (ARENDT, 2012, p. 475) [Osório diz: Algum exemplo concreto desses discursos? (Não conheço a língua alemã). E Heidegger, que morreu sem negar o nazismo, nunca viu isso?].

 

Há uma relação muito tênue entre a propaganda e a doutrinação. Porém, tal relação depende da amplitude de seu movimento e da pressão exterior. Por conseguinte, se o movimento é ameno, mais enfático deve ser a prática da propaganda. Do mesmo modo, quanto maior a pressão vinda de fora, maior deve ser a concentração de energia em propagandas. Em Regimes totalitários, propaganda e doutrinação são, portanto, duas faces da mesma moeda. A propaganda é o elemento de visibilidade lá fora. Já a doutrinação, aliada ao terror, é o elemento de dominação interna. “Em outras palavras, a propaganda é um instrumento do totalitarismo, possivelmente o mais importante, para enfrentar o mundo não totalitário; [...]” (ARENDT, 2012, p. 476).

 

Outra característica da propaganda totalitária diz respeito à disseminação do medo e da ameaça. A propaganda comunista de Stalin, por exemplo, ameaçava com a possibilidade de se perder “o trem da história, de se atrasarem irremediavelmente em relação ao tempo de esbanjarem suas vidas inutilmente”. (ARENDT, 2012, p. 478). Já os nazistas ameaçavam com falsos discursos de degeneração da raça, incompatibilidade com as leis da natureza e da vida e com o “perigo” semita [Osório diz: Há quem diga, por pura maldade, claro, que o capital internacional pertence aos semitas!].

 

Na máquina de propaganda totalitária [Osório diz: Na máquina não-totalitária, temos a escravização moderna!], a ciência tem um lugar secundário [Osório diz: No Brasil dos últimos três anos também! Veja-se o caso das vacinas e o governo federal]; ou seja, a propaganda ganha enfoque publicitário e a “obsessão dos movimentos totalitários pelas demonstrações ‘científicas’ desaparece assim que eles assumem o poder”. (ARENDT, 2012, p. 478). Em seu lugar é criada uma pseudociência. Uma falsa ciência [Osório diz: Ciência verdadeira devem ser a Religião e a Astrologia!] que aqui entra em cena com uma única finalidade: legitimar as ideias e o discurso ideológico do Regime. A pseudociência é o ponto crucial para que a propaganda adquira autenticidade. Nela a origem ideológica do bolchevismo ou a teoria da raça pura do nazismo são de pronto justificadas. É aqui que a propaganda alcança um novo estagio, a saber, a criação de um mundo fictício.

[104]

 

O teor científico da propaganda – aqui chamada por nós de pseudociência – possibilita a mentira e, por consequência, a construção da ficção. O que nos tempos atuais conhecemos por pós-verdade [Osório diz: Quais estados/países atuais (2021) usam? Claro que a URSS de Stalin e a Alemanha de Hitler].44 A realidade começa a perder sentido e todo tipo de teoria passa a merecer espaço na propaganda totalitária.

 

A eficácia desse tipo de propaganda evidencia uma das principais características das massas modernas [Osório diz: Isso!]. Não acreditam em nada visível, nem na realidade da sua própria experiência; não confiam em seus olhos e ouvidos, mas apenas em sua imaginação, que pode ser seduzida por qualquer coisa ao mesmo tempo universal e congruente em si. O que convence as massas não são os fatos, mesmo que sejam fatos inventados, mas apenas a coerência com o sistema do qual esses fatos fazem parte. (ARENDT, 2012, p. 485). [Osório diz: Isso em 2021.]

 

E assim a propaganda perpetua a ideologia dominante. Ela se torna, por si só, a responsável pela imagem não apenas do líder, mas também, do Partido e do Regime totalitário [Osório diz: Isso somente nos regimes totalitários. Nada com os Democratas e Republicanos e os líderes que buscam eleger e elegem]. É possível perceber, tanto em 1984 quanto em As Origens do Totalitarismo, que os “autores, apesar das diferenças, abordam o controle dos seres humanos, a destruição da vida pública, da capacidade política e, também, da vida privada pela mentira que se organiza e instrumentaliza pela propaganda e pela ideologia”. (NASCIMENTO, 2020, p. 02-03) [Osório diz: Mundo atual, 2021 ...].

 

4 A MANIPULAÇÃO DE INFORMAÇÕES [Osório diz: O Ministério da Saúde do Brasil em 2020 e 2021 ...]

 

Outra característica forte do totalitarismo concerne à manipulação de informação por meio de uma imprensa própria [Osório diz: Não precisa ser própria, hoje temos a imprensa paga: comerciais, anúncios, divulgação e tantos outros subterfúgios], à supressão do conhecimento e à mentira [Osório diz: Como temos poucos regimes totalitários em 2021, isso seria coisa do passado, mas está mais presente que nunca no mundo atual, o mundo das comunicações]. Aliás, como já vimos, a mentira é a base de fundamento para que o totalitarismo esteja a todo momento se

 

 

 

legitimando. É de forma determinada e obstinada que os líderes estão sempre escolhendo as possibilidades mais provenientes para o desenvolvimento de uma realidade meramente fictícia. Portanto, é preciso a todo instante manipular a verdade e propagar a falta de conhecimento entre a população. O que acontece quase sempre por meio de uma impressa própria [Osório diz: ou paga para isso, sob o nome de patrocínio ou propaganda institucional].

 

Esta manipulação de informação é evidenciada na obra de Orwell por meio do Ministério da Verdade, uma instituição já citada aqui anteriormente, cuja atribuição é o controle daquilo que se deve conhecer. O próprio Winston Smith trabalha no Ministério da Verdade realizando falsificações de notícias e de arquivos oficiais. O Ministério da Verdade determinava os aspectos culturais e sociais da sociedade. Orwell (1996, p. 09-10) diz que era um “dos quatro ministérios que entre si dividiam todas as funções do governo”. Era o Ministério da Verdade responsável pelas “notícias, instrução e belas-artes [...]”.

 

Em 1984 os fatos históricos [Osório diz: Fatos históricos da ficção, da literatura...] são constantemente manipulados. Aos moldes do Regime, o passado é a cada dia atualizado, datado e documentado para que as antigas profecias do Partido não entrem em contradição com a realidade. A história passa então a ser, nas palavras de Orwell (1996, p. 41), “um palimpsesto, raspado e reescrito tantas vezes quantas fosse necessário”. Assim, era impossível que algo saísse do controle. Qualquer fraude ou erro de previsão causado pelo partido, ao ser apagado e reescrito na história, era incapaz de vir a público enquanto verdade dos fatos [Osório diz: Ninguém, ou poucos, diz que Hitler permitiu a retirada de todos os judeus da Alemanha! Golda Meir narra isso! Porfírio Rubirosa, o playboy embaixador da República Dominicana também, tendo sendo este o único país que aceitou receber os judeus].

 

Uma das frases mais célebre de 1984 é exatamente a que define o lema do Partido: “Quem controla o passado, controla o futuro, quem controla o presente, controla o passado” [Osório diz: Isto serve para todos, não apenas para os regimes totalitários e todos se servem disso!]. Em outras palavras, se você controla o presente, controla o passado e se controla o passado, consequentemente irá controlar o futuro. Assim sendo, o modo mais eficaz de se manter o controle é por meio da manipulação de informações, dos fatos e da história [Osório diz: A imprensa, hoje toda ela, praticamente, judaica, aprendeu isso! No que não há o que condenar. A condenação deve ser feita à ralé que não se instrui para poder ver isso]. E é isso que o Regime Totalitário faz na obra orwelliana. Em uma determinada passagem da obra, Winston Smith descreve tal acontecimento:

 

Já não sabemos quase nada sobre a Revolução e os anos anteriores à Revolução. Todos os registros foram destruídos ou falsificados, todo livro reescrito, todo quadro repintado, toda estatua, rua e edifício rebatizados, toda data alterada. E o processo continua, dia a dia, minuto a minuto. A história parou. Nada existe, exceto um presente sem-fim no qual o Partido [106] tem sempre razão. Eu sei naturalmente, que o passado e falsificado, mas jamais me seria possível prová-lo, mesmo sendo eu o autor da falsificação. Depois de feito o serviço não sobram provas. A única prova está dentro de minha cabeça, e não sei com certeza se outros seres humanos partilham minhas recordações. (ORWELL, 1996, p. 145-146)

 

Na análise de Hannah Arendt, os Regimes Totalitários do século XX, também tiveram como objetivo a sujeição do processo histórico. A história oficial, na perspectiva desses regimes, é erroneamente interpretada e necessita com urgência de revisão. Revisar para adequar aos moldes ideológicos que o Regime prega. E assim o faz. Incomensuráveis mentiras e mirabolantes falsidades são criadas a fim de que as afirmações fictícias sejam legitimadas. Os fatos históricos são manipulados e adequados a discursos narrativos de forma quase livre e espontânea [Osório diz: Só pelos regimes totalitários? Claro que não, por todos]. Temos então, o exercício da manipulação do tempo – presente, passado e futuro – de acordo com os anseios, propósitos e objetivos do Regime. Nesse contexto:

 

A essa aversão da elite de intelectuais pela historiografia oficial, à sua convicção de que nada impedia que a história, fraudulenta como era, fosse usada como brinquedo por alguns malucos, deve acrescentar-se o terrível fascínio exercido pela possibilidade de que gigantescas mentiras e monstruosas falsidades viessem a transformar-se em fatos incontestes, de que o homem pudesse ter a liberdade de mudar à vontade o seu passado, e de que a diferença entre a verdade e a mentira pudesse deixar de ser objetiva e passasse a ser apenas uma questão de poder e de esperteza, de pressão e de repetição infinita. (ARENDT, 2012, p. 466). [Osório diz: Algumas leis, em alguns países, já proíbem a contestação de cetos fatos “ditos históricos”! Como sair disso? E não são países totalitários! Quando a verdade vos libertará? kkkk]

 

É dito que a história é escrita pelos vencedores ou por quem está no poder [Osório diz: E no estágio atual (2021), não são os totalitários que mandam no mundo!]. Nos Regimes Totalitários essa máxima é elevada à enésima potência; pois os fatos históricos são manipulados e falseados apenas para legitimar a ideologia propagada pelo Regime.

 

5 A EXIGÊNCIA DA GUERRA [Osório diz: Estados Unidos e Cina na atualidade! A guerra ao Iraque, ao Afeganistão etc. Israel é um Estado Americano feito para isso!]

 

A necessidade de se estar sempre em guerra também é uma constante nos governos totalitários. É próprio do totalitarismo a invasão e dominação dos espaços que estão bem além dos seus limites. A guerra é então o dispositivo encontrado como procedimento para o domínio de toda população, bem como a eliminação de todos aqueles que lhes são

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considerados rivais. Expansão de ideologia, expansão de território [Osório diz: Do dito mercado, que deve ser inesgotável para o capitalismo e a busca por matérias primas], eis o escopo dos regimes totalitários. Uma luta diária pelo domínio e pela perpetuação do poder. Para tanto, mesmo que o regime esteja plenamente consolidado, necessário se faz a criação de um inimigo popular [Osório diz: Os Estados Unidos e a sua “Guerra ao terror”!], a ideia de expansão e a exigência da guerra.

 

Na narrativa de Orwell, o cenário mundial é marcado pela disputa perene entre três superpotências. Três blocos hegemônicos que dominam o mundo: a Oceânia, a Lestásia e a Eurásia. Enquanto a primeira está em guerra com a segunda, a terceira permanece em paz, como aliada de uma delas. Mas logo que a guerra acaba, a potência inimiga se torna aliada e a potência aliada se torna inimiga. Uma nova guerra tem início. Deste modo, o regime está sempre a combater algum “mal”, algum “inimigo” e, com isso, se manter sempre na tensão, sempre no poder [Osório diz: USA e seus antigos aliados: Iraque e Afeganistão!].

 

Procedendo assim, em determinado período a Lestásia e a Eurásia se tornam aliadas e lutam contra a Oceania. Tempos depois, a Eurásia se une a Oceania e guerreia contra a Lestásia. Em seguida, a guerra acaba e a Oceania se torna aliada da Lestásia e enfrenta a Eurásia. Assim, a guerra entre os blocos acontece de forma ininterrupta. Numa hora são aliadas, na outra são inimigas [Osório diz: Iraque e Afeganistão]. Contudo, Orwell (1996, p. 35) chama atenção para o fato de que em “nenhuma manifestação pública ou particular se admitia jamais que as três potências se tivessem agrupado diferentemente”. Como vimos anteriormente, a manipulação da história era uma constante nesses regimes que, por meio do encobrimento das informações, controlavam o presente por meio da manipulação do passado.

 

No que concerne à questão da guerra constante entre as superpotências, podemos afirmar que esta técnica ajuda o Regime Totalitário [Osório diz: Só a eles? Essa leitura nega os acontecimentos recentes!] a estar sempre no controle das massas; pois o terror psicológico, o “medo” da invasão [Osório diz: Estados Unidos usa Cuba como o inimigo! Pode a micro ilha promover uma invasão a qualquer momento!] e a presença constante de uma superpotência inimiga unem a população em torno do regime dominante, fazendo deste o grande “protetor” da nação. Na obra orwelliana, a guerra pode até nem estar acontecendo. Pode ser que seja mais uma das mentiras forjadas pelo partido e seu regime, mas a notícia e a atmosfera de guerra precisam estar no ar. “Não importa que de fato haja uma guerra e, como não é possível uma vitória decisiva, pouco importa que a guerra vá bem ou mal. O que importa é que possa existir o estado de guerra” [Osório diz: No Brasil e outros países latinos americanos o tal inimogo é o: COMUNISMO!]. (ORWELL, 1996, p. 180).

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A Ideologia dominante do Estado Totalitário é a ideologia do “nós contra os outros”. Uma vez no poder, o regime trabalha, desesperadamente, pela adesão das massas na sua causa. O indivíduo, enquanto parte constitutiva das massas, é convidado a todo tempo a aceitar e colaborar com a idéia de que o mundo, a sua volta, tornou-se seu inimigo e precisa, a qualquer custo, defender-se do mal. Aqui entra mais uma vez a fidelidade ao partido e aolíder que propagam as idéias de guerra, de domínio e de expansão territorial, pois é o discurso criado pelo partido e divulgado pelas massas que vai legitimar a idéia de dominação.

 

A luta pelo domínio total de toda a população da terra, a eliminação de toda a realidade rival não totalitária, eis a tônica dos regimes totalitários, se não lutarem pelo domínio global como objetivo último, correm o serio risco de perder todo o poder que porventura tenham conquistado. (ARENDT, 2012, p. 531) [Osório diz: … e dos Regimes Econômicos também!].

 

Desse modo, se na ficção de Orwell um Estado Totalitário, vale-se da guerra – ainda que nem sempre seja real – para se manter no poder e no controle; em As Origens do Totalitarismo, Hannah Arendt (2012, p. 554) nos mostra que “literaturas nazista e bolchevista provam repetidamente que os governos totalitários visam conquistar o globo e trazer todos os países para debaixo do seu jugo” [Osório diz: Os Estados Unidos fazem isto: nada fora dos interesses de suas empresas!]. A guerra, portanto, faz parte da manutenção dos Regimes Totalitários.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A obra As Origens do Totalitarismo é um registro histórico de um evento. Nela está exposto todo mecanismo por traz de um acontecimento marcante no século XX. Sua linguagem é marcada pelo método analítico, suas abordagens são conceituais e seus dados são levantados segundo o rigor da pesquisa científica [Osório diz: Não é isso que diz Russel Jacoby em “As contradições de Hannah Arendt”, como indicamos acima, mas como é briga de “cachorros grandes”, pulo essa parte!]. Aqui Hannah Arendt esclarece, para as gerações posteriores, o modus operandi do totalitarismo no século XX.

 

1984 é um livro literário, ou seja, um livro no qual o autor não tem compromisso com a rigidez dos conceitos nem com o tratamento de dados técnicos. Trata-se, portanto, de [109] uma obra de arte, e a arte não possui fidelidade à metodologia científica. A literatura é livre. Não está presa às regras, métodos ou modelos. Enquanto arte, ela apenas flui [Osório diz: Muito bom ouvir isto, já que alguns, de má-fé, leem a obra citada do tal Orwell como uma descrição da verdade nua e crua, como fazem, aliás, com o gravador eletrônico Platão! Resumo: é só uma criação mental do autor! Pode até ser boa, mas é uma mera ficção, embora o mundo capitalista a venha empregando cada vez mais e seus arautos escondendo isso].

 

Entretanto, há um fato inegável nas duas obras. Tanto em 1984 quanto em As Origens do Totalitarismo observamos os efeitos devastadores dos sistemas totalitários. Orwell e Arendt, cada qual ao seu modo, abordam de forma clara e concisa as consequências de se levar, de maneira radical, o homem a servo do Estado [Osório diz: O homem só existe por conta da existência do Estado, embora eu vá ficar mal com os “anarquistas”, mas isso é papo para outro dia!].

 

As duas obras possuem como legado, a virtude de sempre estar a nos lembrar o quanto os sistemas totalitários podem nos ser nocivo. Cada obra, a sua maneira, seja de modo filosófico seja de modo literário, ficou registrada em nossa história como guardiões de memória. São como lembretes fundamentais para que jamais esqueçamos daquilo que outrora produzimos.

 

[Osório diz: Quem tiver a honra de me dar a hora de ler minhas ponderações poderá pensar que sou um advogado do “Regimes Totalitário”, porém nego isso veementemente! Apenas quis mostrar que a arma do argumento e da opressão é usada por todos os regimes, inclusive por aqueles que se dizem libertários. Com José Régio, em seu “Cântico negro”, digo:

Vem por aqui” — dizem-me alguns com olhos doces,

Estendendo-me os braços, e seguros

De que seria bom se eu os ouvisse

Quando me dizem: "vem por aqui"!

Eu olho-os com olhos lassos,

(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)

E cruzo os braços,

E nunca vou por ali...

 

A minha glória é esta:

Criar desumanidade!

Não acompanhar ninguém.

Que eu vivo com o mesmo sem-vontade

Com que rasguei o ventre a minha mãe.

 

Não, não vou por aí! Só vou por onde

Me levam meus próprios passos...

 

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,

Por que me repetis: "vem por aqui"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,

Redemoinhar aos ventos,

Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,

A ir por aí...

 

Se vim ao mundo, foi

Só para desflorar florestas virgens,

E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!

O mais que faço não vale nada.

 

Como, pois, sereis vós

Que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem

Para eu derrubar os meus obstáculos?...

Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,

E vós amais o que é fácil!

Eu amo o Longe e a Miragem,

Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

 

Ide! tendes estradas,

Tendes jardins, tendes canteiros,

Tendes pátrias, tendes tetos,

E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.

Eu tenho a minha Loucura!

 

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,

E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

 

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.

Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;

Mas eu, que nunca principio nem acabo,

Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

 

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!

Ninguém me peça definições!

Ninguém me diga: "vem por aqui"!

A minha vida é um vendaval que se soltou.

É uma onda que se alevantou.

É um átomo a mais que se animou...

Não sei por onde vou,

Não sei para onde vou,

Sei que não vou por aí.]

 

REFERÊNCIAS

 

ARENDT, Hannah. As origens do totalitarismo. Tradução de Roberto Raposo, São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

NASCIMENTO, Carlos Eduardo Gomes. Ideologia e propaganda: a educação como resistência à mentira organizada a partir do pensamento de Hannah Arendt. Revista Interdisciplinar em estudos de Linguagem. Disponível em: <https://ojs.ifsp.edu.br/index.php/riel/article/view/1309/977> Acesso em: 27 jun 2020.

ORWELL, George. 1984. Tradução de Wilson Velloso, 23. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1996.

SOUZA, Ricardo Luiz de. Hannah Arendt e o totalitarismo: o conceito e os mortos. Revista Politeia: Hist. e Soc. Vitória da Conquista v. 7 n. 1 p. 243-260. 2007. Disponível em: < http://periodicos2.uesb.br/index.php/politeia/issue/view/292> Acesso em: 27 fev 2020.

 

Fonte: Revista Paranaense de Filosofia, v. 1, n. 2, p. 97-110, Jul./Dez., 2021. ISSN: 2763-9657. Universidade Estadual do Paraná.

1 1 Doutor em Filosofia pelo Programa Integrado de Doutorado em Filosofia UFPB-UFPE-UFRN. Graduado em História e Filosofia. Professor da SEECT do Estado da Paraíba. E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

* O 'neocolonialismo' disfarçado de democracia.

 

Yang Wanming

(é embaixador da China no Brasil - 2021)

 

No passado, os colonizadores ocidentais saqueavam recursos e riquezas, impunham religião e cultura e destruíam brutalmente civilizações tradicionais ao redor do mundo, deixando uma página sombria na História da humanidade. [Osório diz: Quem poderá, de boa fé, negar isto?]

 

No século XXI, o colonialismo e o hegemonismo continuam a resistir aos avanços da nossa era. Certos países estão obcecados pela ideia de "superioridade civilizacional", engajam-se em grupos hegemônicos sob o pretexto da democracia, tentando ditar o progresso mundial, seguindo uma agenda própria, e consagrar seus valores como único critério universal. Usar a “democracia" para praticar a hegemonia é uma violação dos valores democráticos e, em essência, constitui um “neocolonialismo". [Osório diz: Quem poderá, de boa fé, negar isto?]

 

O neocolonialismo está bem presente. Tenta implementar o neomonroísmo na América Latina. Plantou "revoluções coloridas” na Eurásia e instigou a “Primavera Árabe" no Oriente Médio. Entre seus efeitos, há atentados à soberania nacional, confrontos entre diferentes religiões e culturas, escalada de hostilidades regionais e tumultos sociais, assim como numerosas crises humanitárias. Sob o disfarce de democracia, o "neocolonialismo" é a origem de muitas turbulências no mundo de hoje. [Osório diz: Quem poderá, de boa fé, negar isto?]

 

 

A História e a realidade demonstram que o “padrão democrático" não passa de desculpa usada por certos países para promover o "neocolonialismo", além de uma ferramenta para alcançar seus interesses estratégicos. O uso de meios desprezíveis, como infiltração e opressão, intervenção militar, subversão política e sanções econômicas a fim de promover uma “transformação democrática” noutros países é, por si só, uma traição aos valores da democracia. Com a convocação da Cúpula dos Líderes sobre Democracia, Os Estados dos Unidos julgam os méritos da democracia dos outros países por seus próprios parâmetros e tornam a democracia uma arma para dividir o mundo em blocos confrontantes. [Osório diz: Quem poderá, de boa fé, negar isto?]

 

Os Estados dos Unidos julgam os méritos da democracia dos outros países por seus próprios parâmetros

 

A democracia é um valor comum de toda a humanidade, e não um privilégio de determinado país. Com diferentes percursos históricos, os países têm culturas, sistemas sociais e valores diferentes, e não será possível existir uma única forma de praticar a democracia. Da mesma forma, cabe ao povo de cada país avaliar a qualidade da democracia aplicada pelo Estado. Enquadrar todos os países num único modelo, ou até usar a força para impor o próprio modelo democrático, só conseguirá prejudicar a diversidade civilizacional e cultural do mundo. [Osório diz: Quem poderá, de boa fé, negar isto?]

 

A China sempre desenvolve a democracia socialista, ou seja, uma democracia popular em todo o processo, cobrindo todos os aspectos democráticos, como eleições, consultas políticas, tomada de decisões, governança e supervisão. O povo chinês tem garantido por lei o direito de votar e participar da gestão do Estado, desfrutando amplos, reais e efetivos direitos democráticos. Nos assuntos internacionais, a China defende a construção de uma comunidade global de futuro compartilhado, bem como os valores comuns de humanidade de paz, desenvolvimento, equidade, justiça, democracia e liberdade. Respeita o direito de cada nação a explorar e desenvolver uma via de democracia de forma soberana, advoga a democracia e o Estado de Direito nas relações internacionais, além de combater toda formade hegemonismo e política de poder. [Osório diz: Quanto a isso já não sei opinar!]

 

Numa época em que se sobrepõem mudanças sem precedentes nos últimos cem anos e a pandemia do século, todos os povos, mais do que nunca, são interdependentes, e seus destinos estão interligados. A China está disposta a trabalhar com a comunidade internacional para resistir às práticas de falsa democracia, que abrem o caminho para o neocolonialismo, preservar os valores comuns de toda a humanidade e levar adiante o progresso humano. [Osório diz: Temos que avaliar bem isso! A China tem uma população de bilhões, a precisar de alimentos e matérias-primas. Será que também não age por interesses próprios e, se possível, invade e domina outros “Tibet”? Isso não desdiz os pontos acima em que ela aponta para Inglaterra e Estados Unidos, os maiores ladrões do mundo, até agora!]

22 Artefato tecnológico cuja finalidade se encerrava em transmitir a programação oficial do governo (para disciplinar), bem como filmar tudo aquilo que acontecia a sua frente (para punir aquele que porventura descumprisse as normas estipuladas pelo sistema). Desse modo, o aparelho se tornava uma ferramenta completa de vigilância, pois ao mesmo tempo ordenava também observava o comportamento da população. As teletelas eram acessórios obrigatórios em todas as residências e não podiam ser desligadas. A ideia de uma sociedade vigiada e disciplinada, mesmo que abordada de forma diferente, foi, posteriormente, tratada e explorada por Michel Foucault, sobretudo, em sua obra Vigiar e Punir. Nela o filósofo francês analisa a vigilância e a punição do ponto de vista das diversas entidades estatais como: os hospitais, as escolas e, principalmente, as prisões. De acordo com Foucault, mesmo as sociedades ditas democráticas, praticam, de forma muito sutil, o processo de vigilância e punição dos corpos por meio de tais entidades [Osório diz: Esse artefato, hoje, é o celular e o Facebook! Mas, alguns, dizem que isso é coisa do Stalin e do Hitler! Pode até ser, mas quem os usa, hoje, 2021, não são eles! Os “totalitários” parecem ter sido excelentes professores aos homens da atualidade! Veja-se isso sobre a democrática Londres: https://epocanegocios.globo.com/colunas/IAgora/noticia/2021/02/surpreendentemente-londres-tem-mais-cameras-de-vigilancia-do-que-pequim.html] .

3 3 Esses “inimigos” são criados como bode expiatório para assegurar o apoio incondicional e o controle da população. Hannah Arendt (2012, p. 489) conta que a “mais eficaz ficção da propaganda nazista foi a história de uma conspiração mundial judaica”. Assim, Hitler tinha os judeus, Stalin tinha a conspiração trotskista e, na obra 1984 de Orwell, o Grande Irmão tinha Goldstein como seu grande inimigo.

4 4 O termo pós-verdade é um neologismo utilizado para descrever determinadas informações em que fatos são criados e modelados com o objetivo de convencer a opinião pública. Na pós-verdade, os eventos são distorcidos para que, por meio de um forte apelo às emoções e às crenças particulares, as pessoas sejam convencidas da narrativa criada. Mesmo sendo muito citada no campo político, atualmente, a pós-verdade também se estende para outras esferas propagadoras de informações como: institutos de pesquisas, jornais e até pessoas comuns que embasam suas ideias pela distorção dos fatos, pela exacerbação do senso comum e, na maioria dos casos, pela má-fé [Osório diz: Aqui o autor me poupou todo o trabalho, em especial de contestar o “conceito de verdade” da página 101].