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Sofística

(uma biografia do conhecimento)

 

41.62 - Pólis - significado.

 

É Barbara Cassin quem diz:

 

É a partir dessa expressão que Heidegger escolhe, por exemplo na Introdução à Metafísica, interpretar o sentido da palavra pólis:

 

"Traduz-se pólis por Estado e cidade: isso não dá conta do sentido pleno. Pólis significa antes o lugar, o aí, no qual e em virtude do qual o ser-aí é historial. A pólis é o lugar da pro-veniência, o aí no qual, a partir do qual e para o qual a pro-veniência pro-vém. A esse lugar da história pertencem os deuses, os templos, os sacerdotes, as festas, os jogos, os poetas, os pensadores, o rei, o conselho dos anciãos, a assembléia do povo, o exército e a marinha. Se tudo isso pertence à pólis, é político, e não porque tudo isso comece a ser político ao entrar em relação com um homem de Estado, um estrategista e os assuntos do Estado. Ao contrário, tudo isso é político, quer dizer, no lugar da história, na medida em que por exemplo os poetas são somente poetas, mas verdadeiramente poetas, os pensadores somente pensadores, mas verdadeiramente pensadores, na medida em que os sacerdotes são somente sacerdotes, mas verdadeiramente sacerdotes, os reis somente reis, mas verdadeiramente reis”. (Fonte: Ensaios Sofísticos, Barbara Cassin, Tradução de Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão, Edições Siciliano, São Paulo, 1990, p. 97).

 

 

 

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Sofística

(uma biografia do conhecimento)

 

41.61 - Paradoxo do mentiroso.

 

É Barbara Cassin quem diz:

 

Paradoxo do mentiroso – formulado por Luciano de Samósata, em seu História verdadeira, diz o seguinte:

 

"Decidi mentir, mas com mais honestidade que os outros, pois há um ponto sobre o qual eu direi a, verdade, é que eu conto mentiras". (Fonte: Ensaios Sofísticos, Barbara Cassin, Tradução de Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão, Edições Siciliano, São Paulo, 1990,p. 15).

 

O paradoxo nasce, justamente, por não deixar saída a quem o conhece!

No caso de Luciano, acima, por exemplo, se ele estiver dizendo a verdade, ele está dizendo a verdade, mas se ele estiver mentindo, ele também está dizendo a verdade!

Costumo fazer uma analogia do paradoxo com algumas palavras, tais como: saras, ana, arara, osso, reler, ovo e várias outras.

Seria isso um mini-paradoxo?

(Estas palavras, e existem até mesmo frases, que podem ser lidas da direita para a esquerda, como lemos normalmente, ou da esquerda para a direita, são denominadas de Palíndromos, ou Bifrentes ou Anacíclicos).”

 

 

 

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Sofística

(uma biografia do conhecimento)

 

41.60 - Mundo - modelos - físico e político.

 

É Barbara Cassin quem diz:

 

Opõem-se assim não somente duas modalidades discursivas, mas, mesmo, dois modelos de mundo; um modelo físico, onde se trata de determinar os princípios da natureza imutável graças a demonstrações conformes a seu desdobramento; e um modelo político, onde se trata de produzir, ocasião após ocasião, valores comuns, permitindo a criação contínua de um consenso que constitui toda a identidade da cidade.” (Fonte: Ensaios Sofísticos, Barbara Cassin, Tradução de Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão, Edições Siciliano, São Paulo, 1990, p. 239).

 

 

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Sofística

(uma biografia do conhecimento)

 

41.59 - Monopólio - invenção do.

 

É Barbara Cassin quem diz:

 

Tales, jogando com a previsão e com a lei da oferta e da procura, inventa o monopólio: assim fazendo, diz-se que ele "faz epídeixis — mostra, prova, exposição —, de sabedoria" (19). (Fonte: Ensaios Sofísticos, Barbara Cassin, Tradução de Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão, Edições Siciliano, São Paulo, 1990, p. 237).

 

 

 

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Sofística

(uma biografia do conhecimento)

 

41.58 - Historiador - contra a Sofística.

 

É Barbara Cassin quem diz:

 

Da mesma forma o paradigma da verdade se encontra transformado. A sofística não é mais avaliada pela autenticidade filosófica, e sim doravante, pela exatidão do fato histórico. É agora o olhar historiador que traz para a sofística, e para a sua parentela filosófica e literária, a acusação de pseûdos. Desse novo conflito é testemunho, por exemplo, o texto de Luciano, Como escrever a história: o historiador, cujo julgamento deve ser um "espelho brilhante, sem mancha e bem centrado" (50), se opõe ponto por ponto ao poeta que, à diferença de Tucídides, tem o direito de "derrubar com um traço de pena a fortaleza dos Epípolas" (38). O historiador se define por não ser romancista. [Osório diz: o historiador contra a sofística (segunda)].

Entretanto Luciano faz sofística sobre a própria sofística; sua ironia, na História verdadeira chega a pôr en abîme ["Cair no abismo"] sua própria prática, "Decidi mentir, mas com mais honestidade que os outros, pois há um ponto sobre o qual eu direi a, verdade, é que eu conto mentiras". Jogando assim como paradoxo do mentiroso a história "verdadeira" opõe à história dos cronistas e à narrativa fiel dos acontecimentos a força inigualável da invenção. [Osório diz: a força da invenção!]

A primeira sofística, face à filosofia, prefere ao discurso conforme ao ente, ou ao ser do ente, um discurso criador de consenso. É esse deslocamento mesmo, da adequação ao consenso político e cultural, que se repercute no deslocamento da oposição pertinente: história, e não mais filosofia, face à segunda sofística. Passa-se assim da ontologia às ciências humanas, e da sofística à literatura.” [Osório diz: ser do ente: “ser daquilo que cresce e vem à presença”] e [Osório diz: tudo que tratam a primeira e a segunda sofística]. (Fonte: Ensaios Sofísticos, Barbara Cassin, Tradução de Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão, Edições Siciliano, São Paulo, 1990, p. 14-15).

 

 

 

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Sofística

(uma biografia do conhecimento)

 

41.57 - Heidegger sofista.

 

É Barbara Cassin quem diz:

 

Mas eu seria tentada por uma outra abordagem, que partiria dessa vez do Acheminement vers Ia parole. "Nosso pensamento atual, diz Heidegger, tem como tarefa tomar o que foi pensado de maneira grega para pensá-lo de uma maneira ainda mais grega" (trad. Beaufret, Brokmeier, Fédier, p. 125). Deve então haver uma maneira possível de ser pré-socrático de outra forma: sendo, como Heidegger, ainda mais pré-socrático. Gostaria de propor ler em conjunto alguns fragmentos sofísticos e trechos do Acheminement, sem esconder nem por um instante a unilateralidade das minhas escolhas: trata-se simplesmente de sugerir que uma certa linha mais pré-socrática de Heidegger é de tipo sofístico.

Com o mais matinal daquilo que, através do pensamento ocidental, chegou a se fazer ouvir, há a relação da coisa e da palavra, e a verdade sob a figura da relação do ser e do dizer. Essa relação assalta o pensamento de uma maneira tão desconcertante que se anuncia em uma só palavra: lógos. Essa palavra fala simultaneamente como nome do ser e como nome do dizer. Contudo, ainda mais desconcertante para nós é o fato de que, apesar disso, nenhuma experiência com a fala é feita —nenhuma experiência onde a própria fala viesse propriamente à fala na medida dessa relação (p. 169).

Podemos adiantar entretanto que é essa experiência cuja impossibilidade, o "interdito", faz parte da própria fala, que tentam, como dois extremos que aí se encontrassem, tanto a sofística quanto o Acheminement. Ambos praticam a palavra não enquanto ela expressa ou significa, maneira moderna e redução do aristotelismo, tampouco a palavra na medida em que o ser nela se diz na co-filiação que abrigaria precisamente o Poema e de onde deverá se seguir a adequação: eles praticam "a palavra pela palavra". Légein lógou chárin, bastião da resistância sofística contra Aristóteles; ora, diz Heidegger, a propósito do poema de Stefan George,

 

a palavra pela palavra não se deixa encontrar em nenhum lugar onde o destino concede ao ente a fala que o nomeia e o institui, a fim de que ele seja e, sendo, brilhe e desabroche. A palavra pela palavra — um tesouro, na verdade... (p. 176).

 

A palavra, o dizer, não tem ser: "ela dá" (es gibi) e "ela é". "A palavra: o que dá. Dá o quê? Segundo a experiência poética e segundo a mais antiga tradição do pensamento, a palavra dá: o ser" (p. 178). Essa supremacia do lógos que faz com que ele ocupe o lugar do ser na medida em que ele se apaga ou se nega, face ao ente que corre o risco de se tornar o ser ao qual dá lugar, essa potência poética na qual Heidegger insiste, não estaria mais próxima de uma demiurgia discursiva à moda de Górgias ("o lógos é um grande soberano que com o corpo mais minúsculo e o mais imperceptível finaliza os atos mais divinos", Elogio de Helena, 8, 82b, 11D.K. II, 190) do que da mesmidade parmenideana? Bem entendido, podemos ao final, como logo de início, alegar a diferença de intenção, tanto mais que ela é muito precisamente — e é mais do que nunca de primeiríssima importância — diferença de linguagem: entre efeito e dispensa, discurso e fala. Mas para concluir sobre o caráter perpetuamente equívoco da própria estrutura, basta ler por inteiro o fragmento de Novalis intitulado "Monólogo", de onde parte e para onde volta Heidegger em sua última conferência, "O Caminho para a fala" (1959). Por inteiro ou quase, para contextualizar também como sofística a única frase que apoia aqui a meditação de Heidegger:

 

É no fundo uma coisa engraçada falar e escrever; a verdadeira conversação, o diálogo autêntico, é um puro jogo de palavras. Pura e simplesmente assombroso é o erro ridículo das pessoas que pensam falar pelas próprias coisas. Mas o próprio da linguagem, a saber, que ela só se ocupa simplesmente de si mesma, todos ignoram [Precisamente o que a fala tem de próprio, a saber, que ela só se preocupa com ela mesma, ninguém o sabe (trad. de Acheminement, p. 227 e 253)]. É por isso que a linguagem é um mistério tão maravilhoso e tão fecundo: é justamente quando alguém fala simplesmente por falar que realmente exprime as mais magníficas verdades. Mas que queira ao contrário falar de alguma coisa de preciso, eis logo a língua maliciosa que lhe faz dizer os piores absurdos, as patranhas mais grotescas. Também é daí que vem o ódio que tantas pessoas sérias têm da linguagem. Sua petulância e sua traquinice elas notam; mas o que elas não notam é que a tagarelice atabalhoada e seu desleixo tão desdenhoso são justamente o lado infinitamente sério da língua... (Oeuvres Completes, trad. Guerne, II, p. 86).

 

Assim sendo, talvez não fosse errado propor, para caracterizar ao mesmo tempo o último Heidegger e a sofística, o nome comum de "logologia" ousado por Novalis.” (Fonte: Ensaios Sofísticos, Barbara Cassin, Tradução de Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão, Edições Siciliano, São Paulo, 1990, p. 70-72).

 

 

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Sofística

(uma biografia do conhecimento)

 

41.56 - Heidegger contra Aristóteles - falar por falar.

 

É Barbara Cassin quem diz:

 

Mas eu seria tentada por uma outra abordagem, que partiria dessa vez do Acheminement vers Ia parole. "Nosso pensamento atual, diz Heidegger, tem como tarefa tomar o que foi pensado de maneira grega para pensá-lo de uma maneira ainda mais grega" (trad. Beaufret, Brokmeier, Fédier, p. 125). Deve então haver uma maneira possível de ser pré-socrático de outra forma: sendo, como Heidegger, ainda mais pré-socrático. Gostaria de propor ler em conjunto alguns fragmentos sofísticos e trechos do Acheminement, sem esconder nem por um instante a unilateralidade das minhas escolhas: trata-se simplesmente de sugerir que uma certa linha mais pré-socrática de Heidegger é de tipo sofístico.

 

Com o mais matinal daquilo que, através do pensamento ocidental, chegou a se fazer ouvir, há a relação da coisa e da palavra, e a verdade sob a figura da relação do ser e do dizer. Essa relação assalta o pensamento de uma maneira tão desconcertante que se anuncia em uma só palavra: lógos. Essa palavra fala simultaneamente como nome do ser e como nome do dizer. Contudo, ainda mais desconcertante para nós é o fato de que, apesar disso, nenhuma experiência com a fala é feita —nenhuma experiência onde a própria fala viesse propriamente à fala na medida dessa relação (p. 169).

 

Podemos adiantar entretanto que é essa experiência cuja impossibilidade, o "interdito", faz parte da própria fala, que tentam, como dois extremos que aí se encontrassem, tanto a sofística quanto o Acheminement. Ambos praticam a palavra não enquanto [p. 70] ela expressa ou significa, maneira moderna e redução do aristotelismo, tampouco a palavra na medida em que o ser nela se diz na co-filiação que abrigaria precisamente o Poema e de onde deverá se seguir a adequação: eles praticam "a palavra pela palavra". Légein lógou chárin, bastião da resistância sofística contra Aristóteles; ora, diz Heidegger, a propósito do poema de Stefan George,

 

a palavra pela palavra não se deixa encontrar em nenhum lugar onde o destino concede ao ente a fala que o nomeia e o institui, a fim de que ele seja e, sendo, brilhe e desabroche. A palavra pela palavra — um tesouro, na verdade... (p. 176).

 

A palavra, o dizer, não tem ser: "ela dá" (es gibi) e "ela é". "A palavra: o que dá. Dá o quê? Segundo a experiência poética e segundo a mais antiga tradição do pensamento, a palavra dá: o ser" (p. 178). Essa supremacia do lógos que faz com que ele ocupe o lugar do ser na medida em que ele se apaga ou se nega, face ao ente que corre o risco de se tornar o ser ao qual dá lugar, essa potência poética na qual Heidegger insiste, não estaria mais próxima de uma demiurgia discursiva à moda de Górgias ("o lógos é um grande soberano que com o corpo mais minúsculo e o mais imperceptível finaliza os atos mais divinos", Elogio de Helena, 8, 82b, 11D.K. II, 190) do que da mesmidade parmenideana? Bem entendido, podemos ao final, como logo de início, alegar a diferença de intenção, tanto mais que ela é muito precisamente — e é mais do que nunca de primeiríssima importância — diferença de linguagem: entre efeito e dispensa, discurso e fala. Mas para concluir sobre o caráter perpetuamente equívoco da própria estrutura, basta ler por inteiro o fragmento de Novalis intitulado "Monólogo", de onde parte e para onde volta Heidegger em sua última conferência, "O Caminho para a fala" (1959). Por inteiro ou quase, para contextualizar também como sofística a única frase que apoia aqui a meditação de Heidegger:

 

É no fundo uma coisa engraçada falar e escrever; a verdadeira conversação, o diálogo autêntico, é um puro jogo de palavras. Pura e simplesmente assombroso é o erro ridículo das pessoas que pensam falar pelas próprias coisas. Mas o próprio da linguagem, a saber, que ela só se ocupa simplesmente de si mesma, todos ignoram [Precisamente o que a fala tem de próprio, a saber, que ela só se preocupa com ela mesma, ninguém o sabe (trad. de Acheminement, p. 227 e 253)]. É por isso que a linguagem é um mistério tão maravilhoso e tão fecundo: é justamente quando alguém fala simplesmente por falar que realmente exprime as mais magníficas verdades. Mas que queira ao contrário falar de alguma coisa de preciso, eis logo a língua maliciosa que lhe faz dizer os piores absurdos, as patranhas mais grotescas. Também é daí que vem o ódio que tantas pessoas sérias têm da linguagem. Sua petulância e sua traquinice elas notam; mas o que elas não notam é que a tagarelice atabalhoada e seu desleixo tão desdenhoso são justamente o lado infinitamente sério da língua... (Oeuvres Completes, trad. Guerne, II, p. 86).

Assim sendo, talvez não fosse errado propor, para caracterizar ao mesmo tempo o último Heidegger e a sofística, o nome comum de "logologia" ousado por Novalis.” (Fonte: Ensaios Sofísticos, Barbara Cassin, Tradução de Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão, Edições Siciliano, São Paulo, 1990, p. 70-72).

 

 

 

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Sofística

(uma biografia do conhecimento)

 

41.55 - Filosofia - diferença da dialética e da sofística, para Aristóteles.

 

É Barbara Cassin quem diz:

 

Eis aqui um indício: os dialéticos e os sofistas se insinuam sob a mesma máscara que o filósofo; pois a sofística é uma sabedoria somente aparente e os dialéticos fazem dialética sobre tudo sem exceção; ora, o ente é comum a tudo, e eles fazem dialética sobre tudo, manifestamente, pois é bem esse o domínio da filosofia. Pois sofística e dialética giram em torno do mesmo gênero que a filosofia, mas esta difere da dialética pela orientação de seu poder, e da sofística pela escolha do modo de vida; a dialética põe à prova onde a filosofia conhece, a sofística parece mas não é (1004b 17-26)

Aí se vê, confirmando nossa interpretação do texto 2, que a dýnamis caracteriza a dialética, e que o "aspecto", a "orientação" que toma essa capacidade é a experimentação "peirástica"; da mesma forma, é a "intenção", "a escolha do modo de vida", que define a sofística. Dialética e sofística podem ambas "se insinuar sob a forma da filosofia", "tomar-lhe a máscara", mas na medida em que a diferença de intenção, ao contrário da diferença de método, não é discernível do exterior, é manifesto que a sofística é, ainda mais que a dialética, indiscernível da filosofia, que "se apresenta" (phainoméne) exatamente como ela, de modo que a metáfora lhe convém ainda melhor.

Dir-se-á então, por superposição com o texto l, que a retórica está para a política assim como a sofística está para a filosofia. Mesma postura de usurpação. Mesmo fundamento para a semelhança: a identidade de objeto — a sofística trata, como a filosofia, de todo o ente (ela "gira em torno do mesmo gênero"); a retórica, que trata também de tudo à sua maneira, é, como a política, ao menos uma ciência dos "caracteres". Mesmo erro ético presidindo à usurpação: a intenção, a pretensão "hibrística".

A analogia encontra entretanto aqui seu limite. Pois a intenção da sofística é, por definição, má, não a da retórica. Só há, no sentido ético do termo, bons dialéticos, pode haver bons oradores, não poderia haver bons sofistas. Ou ainda: é somente quando a retórica baralha os domínios e não consente em dar lugar à política que ela é sofística, mas a sofística é bem evidentemente sempre sofística, não consente jamais em dar lugar à filosofia. Se a forçamos a isso, como em Gama, ela não é mais sofística, porém filosofia (e desumanidade, se persiste a se recusar), ao contrário da retórica que pode, e deve, permanecer retórica, ao lado ou no interior da política. (Fonte: Ensaios Sofísticos, Barbara Cassin, Tradução de Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão, Edições Siciliano, São Paulo, 1990, p. 124-125).

 

 

 

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41.54 - Fazer ver o que se diz.

 

É Barbara Cassin quem diz:

 

2. Fazer ver o que se diz: a retórica de Aristóteles e a dos sofistas

 

É apoiando-se nessa diferença entre duas vertentes da fenomenologia, a ontologia e a logologia, que gostaria de opor, não mais dois modelos filosóficos (dizer o que se vê), mas dois regimes retóricos (fazer ver o que se diz). Trata-se de contrastar dois estilos que se poderiam reconhecer, ainda hoje em dia, sob seus avatares: o de Aristóteles e o dos sofistas. Estudaria assim dois sistemas de exposição: a apódeixis, ou demonstração, e a epídeixis, ou prestação, e, correlativamente, dois tropos paradigmáticos: a metáfora, e a ékphrasis, descrição, para tentar contrastar a ciência de colocar diante dos olhos, e o prazer de encher os olhos.

 

2.1. Apódeixis e epídeixis, demonstração e prestação

 

A deîxis é o ato, e a arte, de mostrar sem palavra, com seu índex estendido como Crátilo, o fenômeno fugaz, ou com um gesto soberano, como Justiça no Poema de Parmênides, o caminho do ser. A apódeixis é a arte de mostrar a partir do que é mostrado, apoiando-se nele, de de-monstrar. A epídeixis é a arte de mostrar diante, em presença de um público, de exibir e, simultaneamente, de se servir daquilo que se mostra como de um exemplo, de mostrar a mais, além de supervalorizá-lo.” (Fonte: Ensaios Sofísticos, Barbara Cassin, Tradução de Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão, Edições Siciliano, São Paulo, 1990, p. 234).

 

 

 

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41.53 – Ente – significado.

 

É Barbara Cassin quem diz:

 

o que cresce e vem assim à presença: o ente.

 

Todos esses físicos, e entre todos Parmênides, designam por natureza o que cresce e que vem assim à presença: o ente. (Fonte: Ensaios Sofísticos, Barbara Cassin, Tradução de Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão, Edições Siciliano, São Paulo, 1990, p. 10 e 25).

 

 

 

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