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41.55 - Filosofia - diferença da dialética e da sofística, para Aristóteles.

Sofística

(uma biografia do conhecimento)

 

41.55 - Filosofia - diferença da dialética e da sofística, para Aristóteles.

 

É Barbara Cassin quem diz:

 

Eis aqui um indício: os dialéticos e os sofistas se insinuam sob a mesma máscara que o filósofo; pois a sofística é uma sabedoria somente aparente e os dialéticos fazem dialética sobre tudo sem exceção; ora, o ente é comum a tudo, e eles fazem dialética sobre tudo, manifestamente, pois é bem esse o domínio da filosofia. Pois sofística e dialética giram em torno do mesmo gênero que a filosofia, mas esta difere da dialética pela orientação de seu poder, e da sofística pela escolha do modo de vida; a dialética põe à prova onde a filosofia conhece, a sofística parece mas não é (1004b 17-26)

Aí se vê, confirmando nossa interpretação do texto 2, que a dýnamis caracteriza a dialética, e que o "aspecto", a "orientação" que toma essa capacidade é a experimentação "peirástica"; da mesma forma, é a "intenção", "a escolha do modo de vida", que define a sofística. Dialética e sofística podem ambas "se insinuar sob a forma da filosofia", "tomar-lhe a máscara", mas na medida em que a diferença de intenção, ao contrário da diferença de método, não é discernível do exterior, é manifesto que a sofística é, ainda mais que a dialética, indiscernível da filosofia, que "se apresenta" (phainoméne) exatamente como ela, de modo que a metáfora lhe convém ainda melhor.

Dir-se-á então, por superposição com o texto l, que a retórica está para a política assim como a sofística está para a filosofia. Mesma postura de usurpação. Mesmo fundamento para a semelhança: a identidade de objeto — a sofística trata, como a filosofia, de todo o ente (ela "gira em torno do mesmo gênero"); a retórica, que trata também de tudo à sua maneira, é, como a política, ao menos uma ciência dos "caracteres". Mesmo erro ético presidindo à usurpação: a intenção, a pretensão "hibrística".

A analogia encontra entretanto aqui seu limite. Pois a intenção da sofística é, por definição, má, não a da retórica. Só há, no sentido ético do termo, bons dialéticos, pode haver bons oradores, não poderia haver bons sofistas. Ou ainda: é somente quando a retórica baralha os domínios e não consente em dar lugar à política que ela é sofística, mas a sofística é bem evidentemente sempre sofística, não consente jamais em dar lugar à filosofia. Se a forçamos a isso, como em Gama, ela não é mais sofística, porém filosofia (e desumanidade, se persiste a se recusar), ao contrário da retórica que pode, e deve, permanecer retórica, ao lado ou no interior da política. (Fonte: Ensaios Sofísticos, Barbara Cassin, Tradução de Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão, Edições Siciliano, São Paulo, 1990, p. 124-125).

 

 

 

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