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72 – Igualdade econômica.

Sofística

(uma biografia do conhecimento)

 

72 – Igualdade econômica.

 

Ensina Kerferd:

 

Seja como for, a importância do termo para meu presente propósito é que ele introduz pelo menos alguns aspectos do conceito de igualdade política na arena da discussão política no século V a.C. Naturalmente, uma vez introduzido, o conceito de igualdade política podia ser aplicado de inúmeras maneiras diferentes, e será conveniente examinar algumas delas, uma por uma. Primeiro, igualdade econômica ou financeira. A importância das diferenças em riqueza como fonte de dissensão política era, naturalmente, coisa corriqueira. Mas era comumente tratada como um problema moral em vez de como um problema a ser resolvido mediante a abolição das desigualdades. Platão, entretanto, de fato sugeriu que os guardiães filosóficos não deveriam possuir nada de seu a fim de ficarem, o mais possível, livres de ser objetos de suspeita, nesse ponto, por parte dos demais cidadãos. Depois de criticar Platão por essa doutrina, Aristóteles passa a tratar um outro pensador a quem claramente considera anterior a Platão. [Osório diz: democracia e igualdade econômica] e [Osório diz: será que a família pode?]

O que ele nos diz é que havia alguns que sustentavam que as disposições convenientes em relação à propriedade eram politicamente mais importantes do que qualquer outra disposição, porque essa era a fonte de toda dissensão política. Assim Faleas de Calcedônia, que foi o primeiro a sugerir a introdução de regulamentações sobre a propriedade, propôs que todos os cidadãos deveriam ter quantidades iguais de propriedade. Ele supunha que isso não seria difícil de se conseguir na fundação de uma nova colônia, mas muito menos fácil nas comunidades já estabelecidas. Mesmo aí, isso poderia ser realizado se os ricos dessem dotes de casamento aos pobres, e o inverso se aplicava no caso dos que eram pobres, isto é, eles receberiam dotes mas não dariam dotes aos ricos (Política II, 7.2-3 = DK 39.1). A referência às colônias indica com certeza que o que está em questão, aqui, é a propriedade em terras, e não outras formas de riqueza. A exigência de uma redistribuição da terra nas cidades já existentes, frequentemente acompanhada da exigência do cancelamento das dívidas aos cidadãos privados, parece ter-se tornado quase que uma parte normal dos ataques aos proprietários de terra, e ambas as demandas foram condenadas no juramento Heliástico feito pelos jurados em Atenas, preservado em discurso na coleção que chegou até nós sob o nome de Demóstenes (XXTV, 149). [Osório diz: Faleas de Calcedônia, o Marx ateniense! Já?!].

Comparada a esses gritos de guerra, a abordagem de Faleas é realmente de caráter moderado e reformista. Embora não seja nomeado como sofista no sentido de um mestre profissional, Faleas pertence quase que certamente à última parte do século V a.C. e portanto deve ser considerado como fazendo parte do movimento sofista. Que estava interessado na educação é evidente pela afirmação de Aristóteles (Pol. II, 7.8), segundo a qual ele propusera não apenas igualdade em propriedade, mas também igualdade de educação [Osório diz: será que os sofistas ofereciam bolsas de estudo?]. Infelizmente não nos é dito de que forma ele supunha que isso seria organizado. Poderia ter sido baseado na prática em Esparta, mas mais provavelmente contempla a educação pública gratuita e universal [Osório diz: proposição sofística]. Se ela fosse concebida como se estendendo até a educação provida pelos sofistas, envolveria uma mudança na situação contemplada por Protágoras, na qual são os ricos que podem obter a melhor educação para seus filhos (Platão, Prot. 326c3-4). Em termos modernos, isso seria o equivalente à educação universitária para todos financiada pelo Estado.” (Fonte: O movimento sofista, G. B. Kerferd, tradução de Margarida Oliva, Loyola, São Paulo, 2003, p. 261-263).

 

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