Sofística
(uma biografia do conhecimento)
66.1 – Igualdade racial, vista pela Sofística.
Nos diz Guthrier:
“Platão, que só admitiria a escravização de bárbaros (República 469b-c) [Platão defendeu a escravidão até o fim de sua vida, nas Leis e também na República. … A passagem em Politicus (262c-e) onde apresenta gregos e bárbaros como exemplo de classificação falha, porque uma raça não-grega difere de outra tanto quanto ambas da grega, tem sido citado como prova de mudança temporária de ideia (Schlaifer, op. cit. 98). Talvez seja duvidoso que a ilustração queira ter mais que sentido lógico formal. Apesar de Skemp ad lac., é difícil ajustar "sarcasmo mordente" aí na visão geral de Platão, que durou até as Leis, e a observação de Platão não envolve negação necessária que todas as diversas raças bárbaras sejam sob certos aspectos inferiores à grega. Vale notar, porém, que em Fedo (78a) ele recomenda buscar não só a totalidade da Grécia mas também todas as nações bárbaras para encontrar uma cura para o medo da morte.] [Osório diz: foi escrito por Platão o autor, Guthrie, quer justificar tudo!]… o tratado hipocrático do séc. V sobre Ares, águas e lugares, faz registro detalhado dos efeitos do clima sobre o caráter e o intelecto como também o físico. As condições na Ásia Menor produz pessoas de bom físico, mas amantes do prazer e carentes de coragem e diligência, os habitantes dos pântanos quentes da região dos Fásis são gordos, lerdos e desaparelhados para o trabalho, e assim por diante. Os gregos, vivendo numa posição geográfica intermediária, possuem inteligência e coragem, que fazem deles uma raça natural de senhores. [Osório diz: no mundo atual, os países ditos desenvolvidos são aqueles de clima frio!].
Distinções de raciais são não-naturais, existentes apenas por nomos, o último esteio teórico da escravidão foi removido, e esta afirmação, como vimos, já fora feita por Antífon [Osório diz: um sofista!].
Num fragmento de Eurípedes (902) encontramos: "o homem bom [em alguns documentos "sábio"], ainda que viva numa terra distante, ainda que meus olhos nunca o encontrem, estimo ser meu amigo", e parece ter sido uma expressão proverbial visando dizer que a terra natal de homem bom era o mundo inteiro.
É importante distinguir entre pan-helenismo e cosmopolitismo mais amplo que abarcava os bárbaros. As relações entre as cidades-Estado gregas eram paradoxais. Independentes e invejosas, guerreavam continuamente entre si, todavia o senso da unidade helênica era forte, e fomentado pelos grandes festivais pan-helênicos em Olímpia, Delfos e o Istmo, pelos quais se afastavam temporariamente querelas e se proclamava uma trégua sagrada. Nestes tempos os laços de uma linguagem comum (mesmo se dividido em dialetos), religião e cultura (tipificada pelos poemas homéricos) superavam as diferenças entre os Estados. [Osório diz: fatores que davam unidade aos gregos para se sentirem tal: linguagem comum, religião e cultura (poemas homéricos)]
Hípias no Protágoras (337c) chama todos os gregos companheiros dos diversos Estados, de “meus parentes e minha família, meus conterrâneos – por natureza, e não por nomos, pois semelhante por natureza é parente e de que se deve gostar, mas o nomos, tirano da humanidade, viola de muitas formas a natureza”. [Osório diz: mesmo que os sofistas não fossem universalistas (cosmopolitas) eles lutavam pela igualdade racial entre os gregos, o que já era algo fundamental e, lembremos, alguém tem que iniciar as conquistas de direitos].
Seria, pois, escandaloso se eles, os mais sábios dos gregos, se desaviessem entre si [Osório diz: os sofistas?!]. Quanto a isso, diferiram as opiniões sobre a questão se está pregando a unidade do gênero humano ou somente dos gregos, ou na verdade dos filósofos, pois pode perfeitamente ser estes que tem em mente ao chamar de "naturalmente semelhantes" (homoioi). 38 [Osório diz: o pensamento dito racional estava nascendo. Era início. Tinham, assim, que começar pela própria casa! No caso, a Grécia. As cidades eram independentes (Estados), portanto, dever-se-ia buscar a unidade entre elas, inicialmente, para depois partir para o mundo. Por fim, Górgias e outros eram estrangeiro e, nessa condição, certamente, não quereria ficar de fora da igualdade].
Sócrates de Platão em Rep. 470c quando ele diz que a raça grega “é uma família e um parentesco”, mas imediatamente acrescenta que gregos e bárbaros não são só estranhos, mas também inimigos naturais. [Osório diz: que beleza! Esse é o homem perfeito!]
Embora nosso conhecimento infelizmente seja escasso, seria estranho se a crença em leis "naturais" universais de comportamento humano não fossem acompanhadas da convicção de que a razão humana é fundamentalmente aparentada. A ideia da igualdade básica do gênero humano estava firmemente enraizada em teoria antropológica. Uma vez que todos os homens vieram originalmente da terra, um subproduto da fermentação de lodo e barro, a natureza não deu a ninguém o direito de se gabar de ter nascido de material melhor do que o dos outros. Esta espécie de distinção apareceu em cena somente mais tarde como produto do nomos. Esta base antropológica para a antítese nomos-physis significa que sua justificação da igualdade é universal, e é razoável supor que um homem, com alguma pretensão a filosofia que achou pertinente a distinção, a tenha aplicado a todos - os de nascimento pobre e os de nascimento nobre, os escravos e os senhores, os atenienses e espartanos, os gregos e os não-gregos.” [Osório diz: aqui Guthrie arrasa Platão e Aristóteles!]. (Fonte: Os sofistas, W. K. C. Guthrie, tradução, João Rezende Costa, Paulus, São Paulo, 1995, p. 150-153).