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63 – Epistemologia (conhecimento) – início.

Sofística

(uma biografia do conhecimento)

 

63 – Epistemologia (conhecimento) – início.

 

É Guthrie quem afirma:

 

Na epistemologia, a filosofia, iniciada por Parmênides e elaborada por Platão, mostra irrestrita confiança nos poderes da razão no homem e em Deus. Parmênides rejeitou inteiramente os sentidos, e não lhe daria papel mais elevado que o papel de ponto de partida que a mente deve deixar atrás o mais depressa possível. Se a eles se dá atenção demasiada, só podem ser empecilho para a compreensão da realidade. O conhecimento só mereceria o nome se fosse absoluto e universal, e para atingir tal conhecimento era necessário transcender a experiência, penetrando o véu do sentido e levando à consciência verdades que estavam latentes na mente porque aquela essência imortal já tinha concedido uma visão direta delas em seu estado desincorporado.

(…)

 

Este relato é tirado de fontes inglesas contemporâneas, mas sua derivação será óbvia a qualquer leitor de Platão; e, embora o autor continue mencionando Descartes, com sua visão de uma “ciência matemática universal”, como protótipo destas noções, os racionalistas do séc. XVII sabiam que também eram de Platão, e sem dúvida o consideravam como seu primeiro predecessor. Esta idéia da matemática como modelo de ciência exata e racional não está, com efeito, ausente de suas obras. É a filosofia platônica que Macaulay destacou com razão como dominante até a época em que Frnacis Bacon lhe imprimiu nova direção.

Dúvidas sobre a adequação de nosso equipamento para atingir a verdade anunciaram-se pela primeira vez em contexto religioso em contraste com a claridade da visão divina, mas em jônios como Anaxágoras e Demócrito vemos antes a modéstia do espírito científico. ...Os sentidos dão um quadro falso da realidade, e não é fácil para a mente provar sob seu “conhecimento bastardo”; …

Até isso foi abandonado por alguns sofistas em favor de um fenomenalismo extremado. Ceticismo radical como o de Protágoras e Górgias dificilmente terá ajudado o progresso do pensamento científico.

(...)

Um fundador da ciência experimental como Francis Bacon sabia bem que as duas escolas competitivas de pensamento em seus dias refletiam semelhante conflito de idéias no mundo antigo. Escreveu, por exemplo, em De augmentis scientiarum:

Por esta razão, a filosofia natural de Demócrito e de outros que afastaram a Deus e a mente da máquina do mundo, que atribuíram a construção do universo a uma infinidade de tentativas e experimentos da parte da natureza (que eles chamavam pelos nomes de oportunidade ou acaso) e adscreveram as causas das coisas em particular à necessidade, sem mistura de causas finais, parecem-me a mim (na medida que podemos conjeturar dos restos fragmentários de sua filosofia) repousar, no que diz respeito a causas físicas, em base muito mais firme, e ter penetrado mais profundamente na natureza do que a filosofia de Platão e Aristóteles; e isto só por uma razão: eles não desperdiçaram pensamento em causas finais, ao passo que Platão e Aristóteles as forçaram sempre que puderam.6

Houve duas linhas principais de evolução através do pensamento europeu na medida que se origina dos gregos, a idealista e a empírica, uma que começou com Platão e a outra com Demócrito. …” (Fonte: Os sofistas, W. K. C. Guthrie, tradução, João Rezende Costa, Paulus, São Paulo, 1995, p. 12,13, 14).

 

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