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59.2 – Conhecimento, é possível criticar sem conhecer?

Sofística

(uma biografia do conhecimento)

 

59.2 – Conhecimento, é possível criticar sem conhecer?

 

Pondera Guthrie:

 

Esta é a opinião de larga maioria de estudiosos. Para resumo das opiniões v. Untersteiner, (Sophs. 72, n. 24, que concorda com isso, e Havelock, L. T. 407-9, que não concorda; também O'Brien, Socr. Paradoxos, 62s. Aos que estão em favor pode-se acrescentar Heinimann, N.u. Ph. 115, Schmid, Gesch. gr. Lit. 1.3.1, 17, n. 10, Versényi, Socr. Hum. 23, e Bignone, Studi 22, n. 2; aos que estão contra, - Capizzi, Protagora, 259. Cf. também von Fritz em RE XLV. Halbb. 917.

A oposição de Havelock é até certo ponto baseada na questão retórica (L. T. 88): "Por que... devia um gênio ter a preocupação de propagar em seus próprios escritos um sistema já em circulação e definido por representante de escola de pensamento de que desconfiava?", que por sua vez se apoia em sua crença geral de que "nenhum filósofo em são juízo teria a preocupação de relatar com fidelidade histórica idéias que ele não pode aceitar" (p. 165). O que ele faz é uma "análise crítica" delas. Não se explica como alguém pode propriamente criticar ideias sem ter a preocupação de primeiro relatá-las acuradamente. E possível pensar melhor da filosofia do que isto. Os livros da excelente série Pelican de estudos históricos de filósofos individuais do passado são escritos por filósofos ativos que com certeza não subscreveriam todas estas visões de seus temas. A uma pergunta retórica costuma-se responder com outra, neste caso a de M. Salomon (Savigny-Stift, 1991, 136): "Que interesse pode ter tido Platão, que fala de Protágoras com tão pouco respeito, em impingir sobre ele idéias que distorceriam e falsificariam nossa representação dele?"

A questão foi exaustivamente discutida, e não há interesse em reabri-la. Dois argumentos contra a autenticidade podem-se descartar de imediato: (a) inconsistências internas, pois, um exame do conteúdo mostrará que não há nenhuma que seja séria; (b) a alegação de que é uma paródia ou distorção visando desacreditar o sofista, pois uma leitura com mente aberta do mito e do logos que o segue deixa alguém apenas com sentimentos de profundo respeito por seu autor.” (Fonte: Os sofistas, W. K. C. Guthrie, tradução, João Rezende Costa, Paulus, São Paulo, 1995, p. 65).

 

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