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45.32 – Protágoras e a Democracia.

Sofística

(uma biografia do conhecimento)

 

45.32 – Protágoras e a Democracia.

 

Diz-nos Guthrie:

 

Protágoras tem posição difícil de defender, e fá-lo com surpreendente habilidade. Se admitisse que virtude (para usar a tradução comum para arete) é dote natural de todo o gênero humano, antes que algo adquirido por treinamento, teria argumentado que estaria fora de sua tarefa, pois treinamento na virtude é o que acabara de dizer que era sua ocupação. De outro lado, esforçou-se para justificar o princípio subjacente à democracia ateniense, de que questões de política pública não são de nenhum modo técnicas, de sorte que o conselho de um “ferreiro ou sapateiro” pode ser tão bom como qualquer dos outros, que parece implicar que as virtudes necessárias são inatas em todo homem antes ministradas por instrução. Ambas as posições são mantidas no mito e na explicação que lhe segue.

Sagacidade técnica (entechnos sophia) é inata ao homem desde o começo, pois no mito ela é concedida por Prometeu no momento em que os primeiros homens vêm a luz.

Participariam dele tanto no sentido de que a razão era o dom de Prometeu, um ser divino, e de que a posse da razão se pensava como marca de parentesco com os deuses.

(...)

O decreto de Zeus está pelo que, nas antropologias não-míticas (e na mente de Protágoras) era o trabalho do tempo, da experiência amarga e da necessidade [Ao escrever o que isso, percebi que esta observação, que agora escapa até à maioria dos estudiosos, foi feita bastante tempo atrás por Kaerst em Zeitschr. f Pol. 1909, 513, n. 1: "Der Umstand, dass im Mythos des Protagoras erst durch Hermes die dike und aidos an die Menschen verteilt werden, so11 natürlich nur die unbedingte Notwendigkeit der Allgemeinheit der Rechts — und Schamgefühle für das Bestehen des Staates veranschaulichen".] A estória ensina duas coisas sobre as "virtudes políticas": (a) o mundo civilizado todos as possuem até certo grau (amos ge pos, 323c), b) mas não são inatas ao homem desde o começo. Na explicação que segue ao mito, ele retoma estes dois pontos. O primeiro justifica que os atenienses exijam perícia nas artes técnicas, porém não na arte política, para a qual os primeiros requisitos são justiça e moderação. Todos acreditam, com efeito, que estas virtudes são partilhadas por todos. Um homem inteiramente desprovido de dom artístico — por exemplo, música — é lugar-comum, mas um homem inteiramente sem qualidades morais não poderia levar vida humana, e todo aquele cujo caso fosse este, pensar-se-ia que era louco (322a-c). Se Sócrates encontrasse alguém deste tipo — que ex hypothesi vivesse isolado, sem educação, tribunais de justiça, leis ou qualquer outra das restrições da vida civilizada — consideraria os mais empedernidos criminosos de Atenas como virtuosos em comparação com eles. Em segundo lugar, porém, embora os atenienses como quaisquer outros acreditem que todos têm certa participação nas virtudes políticas, não pensam que são inatas ou automáticas, mas adquiridas por ensino e esforço (323c: estes correspondem, portanto, ao decreto de Zeus no mito). A educação começa na infância com a mãe, a babá e o pai, e continua pelo empenho dos mestres-escola, e na vida adulta pelo Estado, que provê em (p. 67) suas leis padrão segundo o qual viver. De mais a mais, os cidadãos a lembram uns aos outros, pois é de nosso interesse que nossos próximos entendam as normas da vida social organizada (327a-b). Neste processo contínuo é difícil destacar uma classe de mestres de virtude, mas isto não é mais prova de que não pode ser ensinada do que a falta de instrutores em nossa língua nativa provaria o mesmo sobre a fala.” (Fonte: Os sofistas, W. K. C. Guthrie, tradução, João Rezende Costa, Paulus, São Paulo, 1995, p. 66 e 67).

 

 

 

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