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45.25 – Protágoras e a “natureza da verdade”, por Nietzsche.

Sofística

(uma biografia do conhecimento)

 

45.25 – Protágoras e a “natureza da verdade”, por Nietzsche.

 

INTERPRETAÇÃO NIETZSCHEANA – O pragmatismo vital tal como Nietzsche o apresenta parece encontrar a sua fonte no pensamento de Protágoras. A obra do homem superior é criar o que Nietzsche chama o valor, o que não existe como um dado natural; ora, o homem vive num mundo de valores, o homem superior é, portanto, o autor do mundo tal como o homem o vive. Assim, Nietzsche poderia ter escrito que “o super-homem é a medida de todas as coisas” sem sair do pensamento de Protágoras. Já que para o último mais sábio é quem sabe elaborar o discurso forte que os homens partilharão. Da mesma maneira, o super-homem, isto é, para Nietzsche, o homem contemplativo, lega à humanidade o mundo dos valores, de que ele é o poeta: [Osório diz: o que é o super-homem de Nietzsche].

Nós que pensamos e sentimos, somos nós que fazemos e não cessamos realmente de fazer o que não existia antes: este mundo eternamente a crescer de avaliações, de cores, de pesos, de perspectivas, de escalas, de afirmações e de negações (...). Nada que tenha muito ou pouco valor no mundo presente possui este valor; este valor foi-lhe dado, é um presente que lhe foi feito, e os que o fizeram fomos nós. Somos nós que criamos o mundo que diz respeito ao homem. [Osório diz: nada de um deusinho todo poderoso!]

Ora, a verdade é do número destes valores que o super-homem cria para o resto da humanidade. E esta criação não é arbitrária: ela proclama “verdadeiro” o que serve aos interesses e necessidades do homem, o que é exigido pela sua necessidade vital. Encontramo-nos em presença do que Jean Granier chama a verdade útil, e que não é outra coisa senão a expressão da vida. Mas vimos que este tema do útil é central no pensamento de Protágoras; útil é o critério que hierarquiza as diferentes manifestações e faz com que um seja preferível a outra [Osório diz: e não a dita e querida verdade platônica]. A aproximação entre Nietzsche e Protágoras não é arbitrária, pois parece que é o próprio Nietzsche a sugeri-la; determina, efetivamente, o pensamento como fixação dos valores e o valor como expressão do útil, e ao mesmo tempo caracteriza o homem como o ser que, por excelência, mede: “sabe-se que a palavra ‘homem’ significa aquele que mede; quis chamar-se de acordo com a sua maior descoberta.” [Osório diz: Nietizsche protagórico... obviamente!]

Dito isto, uma diferença importante entre Nietzsche e Protágoras; com efeito, Nietzsche interpreta esta verdade-útil como erro-útil e opõe-lhe uma verdade verdadeira, ao passo que Protágoras parece antes ter chamado Verdade à avaliação segundo a utilidade dada pelo homem. Os dois temas da verdade e da utilidade só são incompatíveis se concebermos a verdade como sendo necessariamente absoluta [Osório diz: a possível diferença entre verdade e utilidade]. Protágoras não nega a verdade, nega a verdade absoluta; concebe um verdadeiro não absoluto, ou então um verdadeiro cujo absoluto é como que um horizonte inacessível [Osório diz: a verdade para Protágoras]. A teoria do discurso forte lembra-nos, com efeito, que o universal não é dado, e que há que fazê-lo e fazê-lo pelo homem. Só se poderia esperar uma verdade absoluta se um discurso universal humano tivesse sido efetivamente estabelecido; ainda seria necessário que este discurso se mantivesse no tempo, possibilidade que o tema do útil, acompanhado do de kairós, torna duvidoso [Osório diz: as necessidades para o estabelecimento de uma verdade]. A verdade não absoluta de Protágoras poder-se-ia chamar verdade crítica [Osório diz: adjetivando a verdade!]. Com efeito, interpreta, como vimos, o verdadeiro como valor; ora, a questão crítica por excelência é a questão do valor. De fato, não se pode pôr o valor sem logo pôr em questão o próprio fundamento desta posição, sem perguntar: qual é o valor do Valor? O valor não se legitima pelo simples fato de se pôr; pelo contrário, pelo fato de se pôr é que se põe em questão e imediatamente se interroga sobre a legitimidade do seu território.” (Fonte: Os sofistas, Gilbert Romeyer-Dherbey, tradução João Amado, Edições 70, Lisboa, 1999, p. 32-33).

 

 

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