Sofística
(uma biografia do conhecimento)
41.11 – Alguns nomes de personagens gregos seriam inventados?
Nos ensina Guthrier:
“Demos, o filho de Pirilampes, padrasto de Platão, e sua amizade com Ândron, que foi um dos Quatrocentos estabelecidos no poder na revolução oligárquica de 411, e seu orgulho de sua descendência menciona-se em 512d.
Muitos nomes gregos têm sentido transparente, e podem ser muito desconcertantes. Alguns parecem apropriados demais para ser verdadeiros, p. ex., Thrasy-machus dito de um caráter de têmpera fogosa (cf. Ar. Rhet. 1400b 19), Aristo-teles de filósofo teleológico, Demo-sthenes do mais famoso orador de sua época, Dio-peithes de caçador de ateus. Por que, de outro lado, deveria um homem de antiga e nobre família chamar o seu filho de Demos?” [Osório diz: Nomes gregos que parecem inventados propositalmente para preencher uma necessidade que vai além do nomear uma pessoa]. (Fonte: Os sofistas, W. K. C. Guthrie, tradução, João Rezende Costa, Paulus, São Paulo, 1995, p. 99).
É Barbara Cassin quem diz:
“Com o título de "Dubitação", entre "Protestação" e "Narração", Dom Pio, aliás Charles Nodier, proclama sua desconfiança em relação à história e à doxografia; uma desconfiança que focaliza os nomes próprios, a forma pela qual sua etimologia se faz sempre, e com sucesso demais, eponímia adequada, assinalando, assim, a ficção que preside à suposta verdade histórica.
Tenho horror a essas ficções sem naturalidade onde o nome do personagem principal vos indica antecipadamente o assunto e o objetivo da narrativa, sem levar em consideração a ilusão que faz todo o seu charme.
E qual interesse quereis que eu conceda à morte de um Hipólito, aos infortúnios de Édipo e aos combates de Diomedes, quando estou tão bem advertido de que o primeiro perecerá vítima de seus cavalos furiosos, que os pés inchados do segundo terão sido atravessados na juventude por alguma correia ensanguentada, e que o terceiro está nominalmente predestinado a triunfar sobre os próprios deuses?
(...) Não tenho objeção a fazer contra Nícias, pois parece que é em razão de seu nome que ele foi levado ao comando da guerra da Sicília.
(...) Mas encontrareis pessoas que tiveram, por outro, lado, muito bons estudos e que acreditam sinceramente que o homem cuja eloquência foi durante muito tempo a força do povo se chamava Demóstenes desde o berço, e que a natureza tivesse inscrito os títulos do modelo dos sábios na certidão de batismo ou, se quiserdes, no registro de nascimento de Aristides.
(...) Qual crítico criterioso seria tão crédulo para adotar a individualidade de um escritor conciso, quase enigmático, cuja arte é esconder muitas ideias sob poucas palavras, e que se chamaria Tácito?
(...) Invenções de estudiosos mandriões que se abandonam sabiamente aos aborrecimentos do ofício, compondo clássicos latinos para uso da posteridade ignorante...
(Histoire du rói de Bohème et de ses Sept Châteaux, Paris, 1830, ed. Plasma 1979, pp. 47-50).” (Fonte: Ensaios Sofísticos, Barbara Cassin, Tradução de Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão, Edições Siciliano, São Paulo, 1990, p. 130-131).