Sofística
(uma biografia do conhecimento)
25 – Sofistas – professores (itinerantes) da Grécia.
Ensina Gilbert Romeyer-Dherbey:
“Antes dos Sofistas, os educadores da Grécia eram os poetas [Osório diz: os educadores da Grécia]. Só no momento em que a recitação de Homero já não constitui o único alimento cultural dos Gregos é que a sofística poderá nascer; este momento coincidirá, como demonstrou Untersteiner, com a crise da civilização aristocrática2. Mas são as instituições democráticas que permitirão o progresso da sofística, tornando-a de alguma maneira indispensável: a conquista do poder exige, de agora em diante, o perfeito domínio da linguagem e da argumentação: não se trata apenas de ordenar, há também que persuadir e explicar. É por isso que os Sofistas, como nota Jaeger, que “saíam todos da classe média”, foram, de uma maneira geral, mais favoráveis, parece, ao regime democrático. É claro que os seus alunos mais brilhantes foram aristocratas, mas foi porque a democracia escolheu, frequentemente, os seus chefes entre os aristocratas, e os jovens nobres que frequentavam os Sofistas eram os que aceitaram submeter-se às regras das instituições democráticas; os outros desinteressavam-se da vida política. [Osório diz: os sofistas e a crise aristocrática! Mesmo que fosse aristocratas, aprendiam uma nova visão, portanto, revolucionária / O que permitiu o nascimento da sofística]
Por outro lado, os Sofistas foram profissionais do saber; os primeiros fizeram da ciência e do ensino o seu ofício e meio de subsistência; neste sentido, inauguraram o estatuto social do intelectual moderno. Parece terem-se interessado por todos os ramos do saber, da gramática às matemáticas, mas estes “filómatos” [Osório diz: filomatia, significa amor à ciência] não procuravam a transmissão de um saber teórico: visavam a formação política de cidadãos escolhidos. [Osório diz: Sofistas os professores da Grécia] [Osório diz: Sofistas e a intelectualidade moderna]. (Fonte: Os sofistas, Gilbert Romeyer-Dherbey, tradução João Amado, Edições 70, Lisboa, 1999, p. 9).
Prossegue Gilbert Romeyer-Dherbey:
“Finalmente, foram pensadores itinerantes, encontrando, apesar de tudo, em Atenas o teatro mais prestigiado do seu sucesso. Ensinando de cidade em cidade, adquirem da vida itinerante um sentido penetrante do relativismo, o primeiro exercício do pensamento crítico. O seu estatuto, de alguma maneira internacional, fê-los sair do quadro apertado da cidade e explica a descoberta do individualismo. Favorecem, de certo modo fisicamente, a circulação das ideias, e é talvez este trabalho de por em circulação que faz com que Platão, para os caracterizar, empregue de preferência metáforas comerciais e monetárias. Garnet mostra exatamente que, entre as definições platônicas do sofista, no Sofista, “haja três, isto é, metade, que se relacionam com a atividade mercantil.” [Osório diz: Professores itinerantes]. (Fonte: Os sofistas, Gilbert Romeyer-Dherbey, tradução João Amado, Edições 70, Lisboa, 1999, p. 11).
Kerferd ensina:
“Seria um engano dar a impressão de que o movimento sofista era alguma coisa confinada em Atenas.
Os sofistas vieram de muitas partes do mundo grego, viajaram longas distâncias, visitando cidades por toda parte (Platão, Ap. 19e5), ou pelo menos as cidades maiores (Platão, Prot. 316c6), das quais, ao que parece, estavam sujeitos a ser expulsos, exatamente como acontecia em Atenas (Platão, Mênon 92b3). Alguns sofistas, contudo, não eram estrangeiros, mas cidadãos das cidades nas quais ensinavam (Platão, Mênon 91c2, 92b3, Sof. 223d5). Quando um sofista viajava, ia provavelmente acompanhado de alunos que, como ele, chegavam como estrangeiros nas cidades que estavam visitando (Platão, Prot. 315a7). Górgias teve alunos em Argos, onde atraiu muita hostilidade da população local (ver DK Vol. II, 425.26), e em outro período de sua vida parece que se fixou em Tessália (DK 82A19). Hípias viajou muito, especialmente no mundo dório e, portanto, até Esparta e Sicília; e Protágoras também viveu por algum tempo na Sicília.” [Osório diz: Os sofistas como professores itinerantes. Embora Atenas, por sua riqueza e poder tenha sido o palco principal deles]. (Fonte: O movimento sofista, G. B. Kerferd, tradução de Margarida Oliva, Loyola, São Paulo, 2003, p. 44).
Prossegue Kerferd:
“Na escola primária, o sistema normal de educação consistia em três partes, cada uma com o seu próprio professor especialista. O paidotribês era responsável pela educação física e pelas atividades esportivas; o citharistês pela música. Em terceiro lugar, o grammatistês ensinava leitura, escrita e gramática e seus alunos tinham de ler e memorizar escritos dos grandes poetas, Homero, Hesíodo e outros, escolhidos por causa da sabedoria moral que continham (cf. Platão, Prot. 325d7-326a4).” [Osório diz: os professores e a educação em Atenas]. (Fonte: O movimento sofista, G. B. Kerferd, tradução de Margarida Oliva, Loyola, São Paulo, 2003, p. 67).