Sofística
(uma biografia do conhecimento)
10 – O que é a Sofística?
A Sofística é a reunião, o conjunto dos Sofistas!
Esse movimento, Sofística, contudo, não formava uma escola, nos moldes que vieram a existir as escolas de filosofia e medicina, posteriormente.
Os sofistas acorreram para Atenas vindo dos lugares mais distantes e opostos da Grécia!
E, lembre-se, estamos falando da Grécia antiga, onde os meios de comunicação eram extremamente precários, de modo a não permitir entre eles a discussão e aceitação de temas comuns!
Aliás, muitos dos sofistas defendiam pensamentos diametralmente opostos.
Mesmo assim, num acaso da sorte, seus pensamos acabam por se encontrar e produzem o que há de mais belo e racional no pensamento da humanidade, como se, pela coerência e honestidade com que expunham seus saberes, estes acabassem encontrando, por si mesmos, os pontos de contatos necessários capazes de dar unidade e harmonia entre eles, para nossa sorte.
Seus pensamentos, como os mitos gregos, parecem ser, atemporais, não cronológicos, tanto assim que um pensamento posterior pode ser justificado por um pensamento que lhe é anterior!
Exemplo maior disse, cremos, é a proposta de Protágoras (anterior) para “salvar do desastre total” das teses avassaladores de Górgias a possibilidade de, mesmo sem conhecer, ser possível a vida em sociedade, que sempre foi o objetivo maior de seus ensinamentos, sempre dentro da maior igualdade possível, pois eram democratas, e igualdade era, e é, nada mais, nada menos que a Justiça.
É Barbara Cassin quem diz:
“‘Uma semelhança como aquela entre o lobo e o cão, o mais selvagem e o mais domesticado’ Platão, Sofista, 231a. [Osório diz: semelança entre Filosofia e Sofística]
O sofista, mestre de sabedoria, não é o filósofo, amante que não ousa pretender possuir todo o seu objeto: a sofística se constituiu e foi constituída em alter ego (1) da filosofia. É por isso que ela é não apenas um fato de história, mas também um fato de estrutura.
Fato de história: a sofística é de início esse movimento do pensamento que, na aurora pré-socrática da filosofia, seduziu e escandalizou a Grécia inteira. Hegel qualifica os primeiros sofistas, na Atenas de Péricles, de ‘mestres da Grécia’: ao invés de meditar sobre o ser como os eleatas, ou sobre a natureza como os físicos da Jônia, eles escolhem ser educadores profissionais, estrangeiros itinerantes que comerciam sua sabedoria, sua cultura, suas competências, como as heteras [Osório diz: cortesãs ou prostitutas elegantes e instruídas da Grécia antiga), seus charmes, Mais são também homens de poder, que sabem como persuadir juízes, comover uma assembléia, executar bem uma embaixada, dar suas leis a uma cidade nova, formar para a democracia, em suma, fazer obra política. Essa dupla mestria [Osório diz: perícia] tem sua única origem na mestria da linguagem, sob todas suas formas, da linguística (morfologia, gramática, sinonímia) à retórica (estudo dos tropos [Osório diz: emprego de palavra ou expressão em sentido figurado], da sonoridade, da pertinência do discurso e de suas partes).
E,
A tradição dominante, platônico-aristotélica, forma na verdade com a sofística um duplo tanto mais inquietante porque mais difícil de distinguir dela mesma, como o lobo do cão e a má intenção da boa. A filosofia institui assim seus próprios limites e tenta forcluir [Osório diz: negar a existência apresentando como] como ‘sofisma’ por exemplo, qualquer outro discurso que não o seu: "Aqueles que colocam a questão de saber se é preciso ou não honrar os deuses e amar seus pais têm apenas necessidade de uma boa correção, e aqueles que se perguntam se a neve é branca ou não têm apenas que olhar’ (Aristóteles, Tópicos, I, 105a5-7).
E,
Nessa perspectiva, compreende-se o interesse de estudar os retornos da coisa sofística, a maneira pela qual ela não cessa de desfazer a censura filosófica, particularmente com o movimento que se designa a si mesmo, em pleno período imperial – ou seja, cinco séculos depois de Protágoras e Górgias – como "segunda sofística”. Diferente da filosofia, diferente da metafísica, de Platão e de Aristóteles até Hegel, e entretanto nada de pura e simplesmente irracional: eis porque a sofística é uma questão sempre atual. Sem dúvida, não se cessa de puxá-la de um lado ou de outro: primeiro esboço da Aufklärung [Osório diz: iluminismo ou esclarecimento. Aclaração, esclarecimento, iluminação], primeiro existencialismo trágico. Mas, através das contradições da crítica, a heterodoxia sofística faz ainda perceber o caráter de artefato da fronteira racional/irracional.” (Fonte: Ensaios Sofísticos, Barbara Cassin, Tradução de Ana Lúcia de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão, Edições Siciliano, São Paulo, 1990,p. 9).
1 1 Pode ser entendido literalmente como outro eu, outra personalidade de uma mesma pessoa. O termo é comumente utilizado em análises literárias para indicar uma identidade secreta de algum personagem ou para identificar um personagem com sendo expressão da personalidade do próprio autor de forma geralmente não-declarada. Para a psicologia, o alter ego é um outro eu inconsciente.
(Fonte: http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20090509021538AA2Af2G)