Pródico Fragmentos

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Pródico de Ceos.

 

Pródico de Ceos.

 

Pródico, originário da ilha de Ceos, no arquipélago das Cíclades, nasceu provavelmente entre 470 e 460 a. C. e vivia ainda a à data da morte de Sócrates, em 399.

 

Exerceu a atividade de embaixador e nessa condição esteve várias vezes em Atenas.

 

No Protágoras platônico, refere-se a sua voz cava e o reconhecido virtuosismo, com que distingue termos (diairein ton onomaton) aparentemente semelhantes. De fato, Pródico empenhou-se na análise semântica de expressões afins, distinguindo as diferentes acepções de vocábulos tidos como sinônimos, quer os de uso corrente quer sobretudo os de registro ético. Fazia as referidas distinções a partir de noções opostas, e a destrinça de significações (diairesis), em que foi exímio, terá sido apresentada, por alguns estudiosos, como um antecedente do método de divisão, procedimento decisivo da dialética platônica, no período da maturidade. Mas o objectivo de Pródico não visava diretamente inquirir a essência correspondente a um determinado nome e dividir cada noção, dicotomicamente, em subespécies; procurava, antes, demonstrar que não eram sinônimos os termos vulgarmente considerados como tal, baseando-se no confronto dos mesmos e investigando o que os diferenciava entre si, para lá das semelhanças. Essa comparação entre nomes afins, que poderiam ser dois ou em número superior tinha como finalidade mostrar que a cada um desses nomes correspondia um sentido próprio, o que, de certa maneira, redundava na pesquisa das respectivas definições. Pródico defendia, tal como Antístenes, que a aprendizagem da correção dos nomes é o princípio de toda a educação. A referida “correção” inseria-se no âmbito da busca de exatidão (akribologia) no uso da linguagem, como instrumento ao serviço de um determinado modelo de paideia, a que não seriam alheios os motivos ético-políticos.

 

(...) Na obra de Pródico intitulada Estações, é ressaltado o elemento dramático inerente à opção por um gênero de vida, manifesto na escolha de Héracles entre a Virtude (Areth, Arete) e o Vício (kakia, Kakia).

 

A Pródico são-lhe imputadas duas teorias respeitantes às origens dos deuses: 1º os homens primitivos teriam encarado como divinas as coisas que os alimentam e as que, de alguma forma, lhes são benéficas, incluindo nesse inventário o Sol, a Lua, os quatro elemento, o pão, o vinho, etc.; 2.° também constituíram em objeto de culto aqueles que descobriram formas de fazer progredir a vida humana, novos procedimentos técnicos, com particular destaque para a introdução de novos cultivos e novas práticas agrícolas.

 

(...) As características peculiares da religião grega, sem um conjunto unitário de dogmas, sem uma classe sacerdotal, sem qualquer tipo de estrutura eclesiástica rígida, permitiam a eclosão de formas diversificadas de culto e de versões mitológicas, sem que as críticas racionais ao politeísmo antropomórfico implicassem uma recusa frontal na crença da existência dos deuses.

 

Na obra Teeteto, de Platão, o personagem Sócrates “elogia, ironicamente, as vantagens de que os jovens menos dotados para a filosofia podem usufruir na convivência com Pródico. Por um lado, o ensino de Pródico, nas áreas da sua competência específica, é objeto de referência positiva; por outro lado, isso não impede que seja sublinhado o contraste entre a educação filosófica e a educação sofística e o méritos de cada uma delas. A primeira obriga a que o discípulo seja capaz de expressar, por uma elaboração pessoal, as definições das verdades que tem na alma. Na segunda, na educação sofística, o discípulo recebe passivamente os ensinamentos que lhe são transmitidos do exterior.

 

Afirma Marcelino, na sua obra Vida de Tucídides (36) que: “Tucídides procurou imitar, em pequena medida, como diz Antilo, os isocolos e as antíteses de palavras usados por Górgias de Leontinos, nessa altura muito em voga entre os Gregos, assim como também o rigor dos termos de Pródico de Ceos.

 

A aprendizagem dos nomes, to peri ton onomaton, é a aprendizagem da correção dos nomes, temática central no estudo sofístico da linguagem.

 

Sinônimos: Platão, na sua obra Protágoras (337 a). Discurso de Sócrates: Depois de ele dizer isto, Pródico retorquiu: “Parece-me que tens razão, Crítias. Os que se apresentam nestes debates devem ser imparciais para ambos os adversários, mas não devem ser neutros pois não é o mesmo. É preciso que ouçamos imparcialmente ambos os lados. Não convém que façamos igual juízo dos dois, mas que atribuamos mais crédito ao mais sábio e menos ao menos avisado. Também eu próprio penso que é correto que vós, Protágoras e Sócrates, vos ponhais de acordo e que discutais um com o outro, sem disputardes. É com benevolência que os amigos discutem com os amigos; rivais e inimigos, pelo contrário, já disputam entre si. E, assim, a nossa reunião tornar-se-á muito agradável, pois vós que falais encontrareis antes de tudo em nós, que vos escutamos, estima e não louvores. A consideração encontra-se, de fato, nas almas dos ouvintes sem fingimento, enquanto o louvor está não raro nas palavras dos que se pronunciam falsamente contra a sua opinião. E nós que ouvimos sentiremos sobretudo regozijo em vez de prazer 27. O regozijo relaciona-se com a aprendizagem ou com a participação da inteligência na própria mente, enquanto o prazer está relacionado com a alimentação ou com a experiência física.” Depois de Pródico acabar de falar, muitos dos que estavam presentes aplaudiram. [Osório diz: o início da lição é perfeito para os julgadores. O mais, para os bajuladores.]

 

Pródico distingue dois conceitos cuja significação afim é susceptível de ser confundida: koinos (imparcial) não significa o mesmo que isos (neutro).

 

Importa compreender a diferença entre amphisbetein (“discutir”) e erizein (“disputar”): o primeiro procedimento é o que mais convém nas conversas entre amigos; o segundo é adotado pelos “erísticos”, que apenas se interessam por “vencer” nas lutas de argumentos.

 

Hedu (“agradável”) pode ser designado como “o que dá prazer”, terpnon, ou como “o que causa regozijo”, charton.

 

Boulesthai (“querer”) e epithymein (“desejar”) correspondem a cambiantes volitivos.

 

O interesse dos sofistas pela questão da linguagem centrava-se, de forma privilegiada, na problemática da correção dos nomes. Confira o importante ensaio de C. J. Classen, “The Study of Language amongst SocratesContemporaries”, em Sophistik, cit, pp. 213-247.

 

Platão, na sua obra Cármides (163 a-b), faz Sócrates dizer: “Diz-me, tu não empregas da mesma maneira “executar” e “fazer”? Crítias: - Certamente que não. Nem sequer trabalhar é o mesmo que executar. Aprendi-o com Hesíodo, que diz que o trabalho não é uma desonra. Pensas que, se ele chamasse trabalho a “trabalhar” e “fazer”, como tu referiste, afirmaria que não é uma desonra para ninguém o ofício de sapateiro ou de comerciante de peixe salgado ou do que está deitado na alcova? É necessário que não penses nisso, ó Sócrates. Também ele, penso, julgava que a execução 38 é diferente da ação e do trabalho e que a obra executada é uma ignomínia sempre que não existe o belo. O trabalho, todavia, jamais é uma ignomínia. Chamava trabalhos ao que era executado com beleza e utilidade, sendo trabalho e ação a execução de tais coisas. 163 d. Sócrates: - Eu ouvi bem umas mil vezes Pródico a distinguir os termos.

 

Aristóteles, no seu Tópicos (2, 6, 112 B 22) fiz: “e ainda há o caso de alguém tomar uma característica acidental como diferente dela própria, por o nome ser diferente, como Pródico fez ao distinguir os prazeres, “alegria”, “deleite” e “satisfação”; tudo isto são designações do mesmo, do prazer. Alexandre de Afrodísio, Tópicos, 181, 2. Pródico tentou atribuir a cada um destes termos a sua particularidade distintiva, como fazem os estóicos, ao dizer que a alegria é uma exaltação em consonância com a razão, enquanto o prazer é uma exaltação contrária à razão; o deleite, um prazer relacionado com a audição; a satisfação, um prazer relacionado com as palavras. Isto é próprio daqueles que estabelecem normas, mas que nada dizem de sensato.

 

Platão, no Fedro (267 b), afirma: “Ouvindo-me dizer isto um dia, Pródico riu-se e afirmou ter descoberto sozinho a arte dos discursos que é necessária: os discursos não devem ser nem longos nem breves, mas de justa medida.

 

 

No domínio da arte retórica, valoriza-se a habilidade em controlar a duração das intervenções, consoante as circunstâncias e as exigências dos diferentes contextos.

 

Xenofonte, registrou em suas Memoráveis (2, l, 21-34) o ensinamento de Pródico sobre Héracles (...) que diz: “Héracles, ao sair da infância e ao entrar na adolescência, altura em que os jovens, sendo já auto- -suficientes, mostram caminharem na vida pela senda da virtude ou do vício, dirige-se a um lugar tranquilo e senta-se, sem saber para qual dos dois caminhos se voltar. (22) Então aproximaram- -se duas mulheres de elevada estatura: uma tinha uma aparência esbelta e nobre de nascimento, a cor da pele adornada com pureza, recatada no olhar, modesta nos adornos e uma veste branca; a outra era bem nutrida em carnes lânguidas, com a pele empoada [para parecer] mais branca e rosada do que era, uma figura mais esguia do que era próprio da sua natureza, tinha os olhos provocantes e uma veste na qual facilmente transpareciam as suas formas juvenis. Observava-se a si mesma com cuidado e observava também se alguém olhava para ela: muitas vezes desviava os olhos para ver a sua própria sombra. (23) Quando ficaram mais perto de Héracles, a primeira avançou mantendo os mesmos modos, e a outra, querendo antecipá-la, correu em direção a Héracles e disse-lhe: 'Vejo-te, Héracles, sem saber para que caminho te deves voltar na vida. Se me fizeres tua amiga e me seguires, conduzir-te-ei pelo caminho mais agradável e mais fácil; não existirá prazer que não experimentes e viverás sem conhecer a dificuldade. (24) Primeiro, não te preocuparás com guerras, nem com negócios, mas estarás sempre ocupado a descobrir o prazer quer da comida quer da bebida, o que apraz à tua vista ou ao teu ouvido, o que apraz ao teu olfacto ou ao teu tacto, com que jovens te dará mais satisfação ter intimidades, como te deitarás para dormir com todo o conforto, como obterás tudo isto sem nenhum esforço. (25) Se algum dia tiveres uma suspeita de falta dos meios que proporcionam estes bens, não tenhas receio, que eu te levo a consegui-los sem penares e sofreres no corpo e na alma; servir-te-ás do produto do trabalho dos outros e não te absterás de nada que te possa trazer algum proveito. Eu ofereço aos que convivem comigo a possibilidade de desfrutar de todos os lados. (26) Então Héracles, depois de ouvir isto, perguntou: 'Mulher, como te chamas?' Ela respondeu: 'Os meus amigos chamam-me Felicidade, os que me odeiam, para me irritar, dão-me o nome de Vício'. (27) Entretanto a outra mulher aproximou-se e disse: 'Venho também ao teu encontro, Héracles, por saber quem te gerou e ter observado o teu carácter durante a tua educação. Por isso tenho esperança de que, se tomares o caminho que te conduz a mim, te tornarás egrégio autor de belas e veneráveis obras, e eu aparecerei ainda mais honrada e mais ilustre pelos meus bens. Não te iludirei com promessas ' de prazer, mas com verdade te contarei a realidade, conforme os deuses a estabeleceram. (28) Nada do que é bom e belo os deuses concedem aos homens sem esforço e empenho, mas, se queres que os deuses te sejam propícios, deves honrá-los; se queres ser estimado pelos amigos, deves agir bem com os amigos; se desejas ser homenageado por alguma cidade, deves prestar serviços à cidade; se pretendes ser admirado por toda a Hélade pela tua virtude, deves tentar fazer bem à Hélade; se queres que a terra produza copiosos frutos, deves semear a terra; se pensas que precisas de enriquecer com o gado, deves cuidar do gado; se ambicionas granjear renome com a guerra e queres ter o poder de Jiberíar os amigos e submeter os inimigos, deves aprender as artes bélicas com os que as conhecem e exercitar o seu uso, como é necessário; se queres ter o domínio do teu corpo, deves habituar-te a submeter o corpo ao espírito e a exercitá-lo com fadigas e suores.' (29) Então o Vício retomando a palavra disse, segundo Pródico afirma: 'Compreendes, Héracles, como é penoso e longo o caminho de que esta mulher te fala para chegares à bem-aventurança? Eu conduzir-te-ei à felicidade por um caminho mais fácil e mais curto.' (30) A Virtude retorquiu então: 'Desgraçada, que bem é que tu possuis? Que prazer conheces, se não queres fazer nada por isso? Tu que não aguardas sequer o desejo de prazer, mas antes de sentir desejo te enches de tudo; tu que comes antes de sentir apetite; tu que bebes antes de ter sede; e, para comeres com prazer, providencias cozinheiros; e, para beberes com prazer, providencias requintados vinhos e andas às voltas à procura de neve no Verão; e, para dormires com prazer, não só providencias colchas macias, como leitos e robustas traves que sustentem os leitos; desejas o sono não por aquilo que penaste, mas por não teres nada que fazer; forças o prazer sexual antes da sua altura própria, recorrendo a Ioda a espécie de estratagemas e servindo-te de mulheres e de homens; assim educas os teus amigos, induzindo-os a excessos de noite e fazendo-os dormir no período mais útil do dia. (31) Apesar de imortal, foste afastada do convívio com os deuses e és desprezada entre os homens de bem. Aquilo que é mais agradável de se ouvir, o teu próprio elogio, jamais o ouves, aquilo que é mais agradável de se ver jamais o vês: nunca viste uma bela ação feita por ti. Quem poderá acreditar nas tuas palavras? Quem virá em teu socorro quando necessitares de algo? Quem, em pleno juízo, ousará pertencer ao teu cortejo? Os teus seguidores, sendo jovens, são débeis de corpo, ao tornarem-se velhos ficam insensatos de espírito; tendo sido criados quando jovens na abundância, sem conhecerem fadigas, passam a velhice na indigência, em fadigas, envergonhados com as ações passadas e carregados com o fardo das ações presentes; durante a juventude correram em busca dos prazeres, para a velhice reservaram as dificuldades. (32) Pelo contrário, eu convivo com os deuses e convivo com os homens bons; não há uma bela ação, seja divina seja humana, em que eu não participe. Sou a mais honrada de todos, quer entre os deuses quer entre os homens de bem. Para os artesãos sou uma ajudante estimada; para os senhores, uma fiel guardiã das casas; para os escravos, uma benévola protetora; uma boa auxiliar nos trabalhos da paz; uma firme aliada nos feitos da guerra; uma excelente companheira na amizade. (33) Os meus amigos desfrutam tranquilamente da comida e da bebida, pois contêm-se quando ficam saciados. Gozam de um sono mais doce do que o dos preguiçosos; não lhes custa interrompê-lo, nem por causa dele negligenciam o que têm de fazer. Os jovens alegram-se com os elogios dos mais velhos, os mais velhos rejubilam com as honras prestadas pelos jovens. Recordam-se com prazer das ações passadas e comprazem-se em realizar as ações presentes; graças a mim, são amigos dos deuses, estimados pelos seus amigos, honrados pelos concidadãos. Sempre que chegar o inevitável fim não jazem esquecidos e sem honras, mas a sua memória floresce para todo o sempre através de hinos. É-te possível, Héracles, filho de nobres pais, alcançar a suprema felicidade se te esforçares por isso'.” (34) Mais ou menos do mesmo modo, Pródico expõe a educação de Héracles ministrada pela Virtude; porém, adornou os seus pensamentos com expressões mais solenes do que eu usei agora.

 

A fábula da escolha de Héracles, que fazia parte de Estações (Horai), exorta um modelo de vida baseado na excelência (arete) e na disciplina do trabalho. A obra continha os principais temas pelos quais o sofista se interessou, tais como a natureza das coisas, os deuses e a ética. A problemática da bifurcação dos caminhos era antiga, e o modelo preconizado ligava-se, de maneira muito próxima, ao de Hesíodo (Os Trabalhos e os Dias, pp. 287-293), como refere o próprio Xenofonte, e estas ideias eram também afins dos modos de ver deste último. É de ressaltar a índole conservadora das opiniões de que Pródico se constitui porta-voz, e os pontos de contacto entre os seus procedimentos metodológicos e as posições defendidas. Nessa perspectiva, destaca-se a harmonia entre os elementos formais, no plano lógico e linguístico, e os conteúdos do ensino ministrado, bem como a subordinação das suas atividades a objetivos genéricos de índole moral.

 

Sexto Empírico, na sua obra Contra os Matemáticos (9, 18), afirma: que Pródico de Ceos diz “Os antigos consideravam deuses o Sol, a Lua, os rios, as fontes e, em geral, tudo aquilo que é vantajoso à nossa vida por causa da sua utilidade, tal como os Egípcios consideravam o Nilo um deus. E por isso Deméter era considerada o pão, Dioniso, o vinho, Posídon, a água, Hefesto, o fogo, e assim cada uma das coisas de que nos servimos”.

 

Segundo o testemunho de Minúcio Félix, Pródico defendeu uma teoria naturalista e sociológica da origem dos deuses. Em primeiro lugar, os homens primitivos consideraram divinas todas as coisas que lhes eram benéficas na vida quotidiana: os alimentos, os astros e as realidades naturais como os quatro elementos (fogo, água, terra e ar). E não só as julgaram “divinas” como também as aproximaram dos deuses, chegando a confundir-se com eles por serem designadas pelos seus nomes. Em segundo lugar, os homens honraram como seres divinos aqueles que fizeram descobertas que conduziram a uma melhoria nas condições de vida, nomeadamente no plano da agricultura e das inovações técnicas. Em ambos os casos, prevalecia o critério pragmático do reconhecimento da utilidade.

 

O recurso a explicações naturalistas acerca da origem dos deuses desencadeou sobre os seus defensores a acusação de “ateus”. Mas a matéria é complexa, já que a religião grega é caracterizada pela abertura às crenças e à pluralidade das formas de culto, por um lado, e pela inexistência de uma classe sacerdotal, por outro. A religião oficial constituía o suporte de cultos que tinham uma função eminentemente cívica e cultural, pois procuravam inculcar determinados comportamentos exteriores, descurando uma conversão intelectual e moral. O desenvolvimento das doutrinas da physis implicava um distanciamento, mais ou menos implícito, da religião tradicional, que levava à acusação de “ateísmo”. Com efeito, está ainda por determinar o alcance, teórico e prático, do referido “ateísmo”, e saber se o que estava em causa era, de facto, a negação da existência dos deuses. Confira sobre este assunto, G. B. Kerferd, The Sophistic Movement, cit., pp. 163-172 (Osódio diz: há tradução da obra para o português.).

 

Temístio, Discursos (30, p. 422) ... Estamos já próximos dos cultos e introduziremos nos nossos discursos a sabedoria de Pródico. Ele deriva todos os sacrifícios da humanidade e os mistérios e os cultos dos benefícios da agricultura, pois pensa que a ideia dos deuses chegou aos homens por esta via e... garante todos os atos de piedade.

 

Afirma Estobeu (4, 20, 65) que Pródico dizia: “o dobro do desejo é o amor, e o amor a dobrar é a loucura”.

 

Fragmentos duvidosos

 

Platão, na sua obra Eríxias (397 d) põe Sócrates a dizer: “Há bem pouco tempo, um homem sábio, Pródico de Ceos, proferiu este discurso no Liceu e parecia estar a dizer fanfarronadas tais que não conseguia persuadir nenhum dos presentes de que falava verdade... (Idem, e). Um jovenzinho perguntou-lhe de que forma pensava que ser rico era um bem e de que forma era um mal. Respondeu-lhe, como tu agora, que era um bem para os homens honrados e bons, que sabiam como deviam usar os recursos, e era um mal para os malvados e para os que não possuíam aquele conhecimento. E disse o mesmo é verdade relativamente a tudo o resto: as coisas são necessariamente em conformidade com a natureza de quem as usa.

 

No fragmento estabelece-se a distinção entre a posse de determinado bem e o saber respeitante ao seu uso adequado. Assim, a ênfase incide na sabedoria que permite gerir os recursos disponíveis, pelo que “viver bem” depende, em última instância, do conhecimento e da escolha.

 

Fragmentos falsos

 

Galeno, afirma em Dos Métodos Médicos, (10, 474 Kühn), o seguinte: “O leite é melhor se se mamar diretamente da teta, como pensam Êurifon, Heródoto e Pródico”.

 

Fonte: todas as informações acima sobre Pródico foram retiradas de: SOFISTAS – testemunhos e fragmentos, tradução e notas: Ana Alexandre Alves de Sousa e Maria José Vaz Pinto, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, Lisboa, 2005, a qual, portanto, deve ser consultada.

 

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