Ganhar o Prêmio Maraã de Poesia... o que isto significa mesmo?
Difícil, difícil tarefa de explicar.
Mas poderia tentar incorporar essa questão.
Pensaria então em uma resposta possível e precária
[sempreabertura
[ressonância
[na pele que chamo
[minha, por enquanto
Ganhar o Prêmio Maraã de Poesia foi sentir poeticamente a realização de um encontro do meu ser que lê com meu ser que escreve: descolamento vibrátil, contunde ainda os sentidos.
Ganhar o Prêmio Maraã de Poesia: agenciar, em certa medida, um “sentido emocional” em que a afetividade não se dá necessariamente no “estado de alma” da poeta, mas pela manifestação de um sensível do corpo poético parido, feito carne; convite também à leitura, mesmo que...
Ganhar o Prêmio Maraã de Poesia: assimilar tensamente uma relação imanente e, por vezes, doloridamente orgânica
ainda que necessária
com os poemas, também corpos.
Ganhar o Prêmio Maraã de Poesia: situação de impasse [dos bons].
Ganhar o Prêmio Maraã de Poesia? Partilha bem-vinda, embora surpresa [sempre grata].
Ganhar o Prêmio Maraã de Poesia? Saltar em um devir meio monstro.
Portar amigos novos e antigos, transcrever contradições internas e, sobretudo: estar prenhe de potência de esperançar [a despeito de peixes alados e pássaros marinhos].
Ganhar o Prêmio Maraã de Poesia!
Ganhamos. Assim seja.
[Nathaly Felipe, outubro de 2020].
e,
Desde a infância, a música foi um fator constante e importante na minha vida. Na época de faculdade de jornalismo, tive algumas bandas. Assim, comecei a experimentar com a escrita criativa. Também era a época da explosão de blogs na internet. Com o recorte das letras de música para essa plataforma, continuei a escrever mesmo com o fim dos conjuntos; porém, muito mais esporadicamente.
Nos últimos anos, entretanto, retomei de forma mais intensa esta relação com a poesia. Comecei a participar de oficinas, ouvir saraus, estudar e trocar ideias com pessoas. No início de 2019, recolhi boa parte do que havia produzido neste processo e comecei a estruturar alguma relação entre os textos.
Passei alguns meses trabalhando numa seleção de poemas que imaginei pudessem construir este corpo do livro. Pude contar com o auxílio de pessoas muito bacanas, em oficinas ministradas por Angélica Freitas, Ricardo Domeneck, Fabrício Corsaletti, Fabiano Calixto. Ismar Tirelli Neto me ajudou a fazer a última lapidação. Daí, quase que simultaneamente, abriram as inscrições do Prêmio Maraã de Poeisa.
Eu já conhecia o concurso e pensei: “por que não tentar?”. Mas sabia que seria muito difícil. Alguns poetas que conheço com trabalhos muito bacanas tinham se inscrito e imaginava que outros tantos do Brasil também o fariam. Este é, afinal, se não o principal, um dos mais importantes concursos de poesia para autores não publicados.
De modo que não imaginava ganhar. O que só aumentou a minha felicidade quando recebi a ligação do Marcelo Nocelli, editor da Reformatório, num domingo, me informando que “textos para lembrar de ir à praia” tinha sido selecionado. É um sentimento muito forte depois de uma trajetória longa. Comemorei muito. O trabalho que produzi pode passar por olhares atentos e criteriosos e fora selecionado, junto com o da Nathaly Felipe.
Isto foi uma coisa bacana também, poder dividir com ela o caminho desde então. As inseguranças sobre poemas, os caminhos que se abriam; as alegrias sobre o desenvolvimento. Ter conhecido os outros ganhadores também foi bem legal; me senti acolhido pela família Maraaense, desde seu Patrono Osório Barbosa.
A proximidade com a obra finalizada vai aumentando a expectativa. É um processo novo esta transformação de uma seleção num objeto físico, com uma “cara”. Poemas de quatro, cinco anos atrás ao lado de textos mais recentes. Mas ao mesmo tempo prazeroso e estimulante. Pude contar com a contribuição de duas grandes poetas para a confecção da orelha e de um texto de apresentação. Natália Agra e Jeanne Callegari ofereceram olhares muito generosos sobre o livro.
E isto tudo, todo este percurso, as pessoas envolvidas, as que sequer sabem disso – que talvez tenham feito uma observação numa oficina, dito algo num bate-papo informal – faz parte desta obra que lançaremos em breve. Cada dúvida e cada decisão, tudo nítido e imortalizado em cada folha. Desse jeito, o livro é o resultado de um trabalho afetivo muito grande, com um selo que legitima ainda mais esta felicidade.
Rodrigo Luiz P. Vianna.