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Poesia: deleite-se ou delete-me (27.01.17).

 

Poesia: deleite-se ou delete-me (27.01.17).

Maraãvilhosos,

Asas   1   Beto   usada

                                                         

  Obrigado ao Beto pela imagem. 

Honestidade maraaense!

Seu Epifânio e d. Elza. Eles eram casados entre si e moravam numa localidade de propriedade de meu avô denominada Fortaleza, em homenagem, obviamente, à capital do Estado do Ceará, de onde o colocador/dador de nome, que não sei quem foi, devia ser originário. O casal teve várias filhas: Ozita, Lenita, Célia, Fátima, e outras, mas não conseguiu ter um filho entre si!

Seu Epifânio era homem extremamente honesto. Bom pai e bom marido, acredito.

De sua honestidade lembro do seguinte episódio: ele fazia colheita de castanha no castanhal existente na Fortaleza. Quando papai ia buscar o produto, seu Epifânio dizia quantas caixasmedida padrãode castanha (amêndoas ainda envoltas em sua casca lenhosa), tinham. Mandava embarcá-las sem qualquer conferência quanto à quantidade informada. Certo vez, fomos até a Fortaleza com um comerciante chamado Sabá Franco. chegando papai perguntou quantas caixas de castanhas tinham. Seu Epifânio informou que tintam, por exemplo, trinta caixas, pois não lembro mais a quantidade certa. Papai disse que podia ser procedido o embarque da produção. Sabá Franco protestou, dizendo que precisa medir o produto. Papai calou-se e ficou olhando de longe olhando a medição. Ao final, o total era de cerca de trinta e duas caixas!É, as trinta caixas estão certas, disse Sabá com sorriso amarelo e seu faro de comerciante, ao que papai protestou:Trinta não, trinta e duas. Todos riram.

Depois de alguns anos seu Epifânio e d. Elza foram morar em Maraã, juntamente com as filhas, as quais, crescidas, costumam, apenas elas, pois eram muitas, animar qualquer festa em que compareciam! Festas a que d. Elza também frequentava. Seu Epifânio não era dado a festas. Depois de décadas o casal veio a se separar.

Ozita, que morou em minha casa durante algum tempo, para minha tristeza, faleceu recentemente vítima de malária!

Abraços,

Osório

POEMEMOS

Hino à tarde

Que amável hora!  Expiram os favônios;

Transmonta o Sol; o rio se espreguiça;

E, a cinzenta alcatifa desdobrando

Pelas azuis diáfanas campinas,

Na carroça de chumbo assoma a tarde...

Salve, moça tão meiga e sossegada;

Salve, formosa virgem pudibunda,

Que insinuas cos olhos doce afeto,

Não criminosa abrasadora chama! 

Em ti repousa a triste humana prole

Do trabalho do dia, nem já lavra

Juiz severo a bárbara sentença,

Que há de a fraqueza conduzir ao túmulo. 

Lasso o colono, mal avista ao longe

A irmã da noite coa-lhe nos membros

Plácido alívio: — posta a dura enxada,

Limpa o suor que em bagas vai caindo..

Que ventura!  A mulher o espera ansiosa

Cos filhinhos em braço, e já deslembra

O homem dos campos a diurna lida;

Com entranhas de pai ledo abençoa

A progênie gentil que a olho pula. 

Não vês como o fantasma do silêncio

Erra, e pára o bulício dos viventes? 

Só quebra esta mudez o pastor simples,

Que, trazendo o rebanho dos pastios,

Coa suspirosa frauta ameiga os bosques...

Feliz! que nunca o ruído dos banquetes

Do estrangeiro escutou, nem alta noite

Foi à porta bater de alheio alvergue. 

Acha no humilde colmo os seus penates,

Como acha o grande em soberbões palácios.

Ali também no ouvido lhe estremecem

De mãe, de amigo os maviosos nomes;

Conviva dos festins da natureza,

Vê perfazerem-se as funções mais altas:

— O homem nascer, morrer, e deixar prantos...

Agora ia entre prados, após Laura,

O ardido vate magoando as cordas;

E a selvática virgem, recolhendo

A grave dor cristã, que a assoberbava

Do mancebo cedia à paixão nobre,

Grande e sublime, como os troncos do ermo...

Ai! mísera Atalá!... mas rasga o fogo,

E o sino soa pelas brenhas broncas. 

Tarde, serena e pura, que lembranças

Não nos vens despertar no seio d'alma? 

Amiga terna, diz-me, onde colhes

O bálsamo que esparges nas feridas

Do coração?  Que apenas dás rebate,

Cala-se a dor; só geras no imo peito

Mansa melancolia, qual ressumbra

Em quem sob os seus pés tem visto as flores

Irem murchando, e a treva do infortúnio

Ante os olhos medonha condensar-se. 

Longe dos pátrios lares, quem não sente

Os arrebóis da tarde contemplando

Um súbito alvoroço?  Então pendíamos

Dos contos arroubados que verteram

Propícios deuses nos maternos lábios;

E branda mão apercebia o berço

Em que ternos vagidos

Infausto anúncio de vindouras penas. 

Sobre o poial sentada a fiel serva

Que vezes atentei chamando ao pouso

A ave tão útil que arrebanha os filhos,

E adeja e canta, e pressurosa acode! 

Coa turba de inocentes companheiros,

Agora sobre a encosta da colina,

A casta Lua como mãe saudávamos,

E suplicando que nos fosse amparo,

Em jubilosa grita o ar rompíamos. 

Mas da puerícia o gênio prazenteiro

Já transpôs a montanha; e com seus risos

Recentes gerações vai bafejando. 

A quem ficou a angústia que moderas,

Ó compassiva tarde?  Olha-te o escravo,

Sopeia em si os agros pesadumes:

Ao som dos ferros o instrumento rude

Tange, bem como em África adorada,

Quando (tão livre) o filho do deserto

Lá te aguardava; e o eco da floresta,

Da ave o gorjeio, o trépido regato,

Zunindo os ventos, murmurando as sombras,

Tudo, em cadência harmônica, lhe rouba

A alma em mágico sonho embevecida. 

Não mais, ó musa, basta; que da noite

Os pardos horizontes se tingiram,

E me pesa e carrega a escuridade.

Oh! venha a feliz era que da pátria

Nessas fecundas, dilatadas veigas

Tu mais suave a lira me temperes

Da singela Eponina acompanhado

Na escura gruta que nos cava o tempo

Hei de ao vale ensinar canções melífluas

Nos lindos olhos, nos mimosos beiços,

Nos alvos pomos, no ademã altivo

Irei tomar as cores que retratem

Da natureza os íntimos segredos.

Do ardor da esposa; do sorrir da filha;

Do rio que espontâneo se oferece

Da terra que dá fruto sem o arado

Da árvore agreste que na densa grenha

Abriga da pendente tempestade

A sobreolhar aprenderei haveres,

A fazer boa sombra ao peregrino,

A dar quartel a errado viandante

Lá estendendo pelos livres ares

Longas vistas, nas dobras do futuro,

Entreverei o derradeiro dia...

Venha; que acha os despojos do homem justo

Ó esperança, toma-me em teus braços;

Com a imagem da pátria me consola!

Autor: Odorico Mendes.

Fonte: http://www.jornaldepoesia.jor.br/ome01.html.

Obs.: O maranhense Odorico Mendes é um dos tradutores de Homero e, ao ler o belo poema acima, achei muito clara a influência do poeta grego sobre ele, como, de fato, influência toda a cultura ocidental.

 

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