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Poesia: deleite-se ou delete-me (02.09.16).

Poesia: deleite-se ou delete-me (02.09.16).

 

Maraãvilhosos,

Escultura cabeça   Adriano Barbosa

                                                                                 

 (Imagem presenteada por Adriano Barbosa. Obrigado)

 

Seu Chico Preto”.

 

Seu Chico Preto” chamava-se “Francisco Anselmo dos Santos”, um cearense negro, o que era muito raro, cuja idade, pensava-se que passava dos cem anos quando eu tinha apenas 7 anos!

Papai dizia que o conheceu quando ainda era menino e ele já velho.

Contava que matou muita gente.

Andava com os bolsos da camisa, e todas elas tinham dois, do mesmo tecido ou de outro que ele mandava costurar/fazer, cheios de orações que ele não mostrava para ninguém e as mantinha enroladas em lenços vermelhos, cujas pontas ficavam para o lado de fora dos bolsos. Dizia que elas mantinham o seu corpo fechado para armas de fogo (balas) e armas brancas (facadas)!

Guardava algum dinheiro por tanto tempo até perderem o valor corroído pela inflação!

Dizia que o primeiro homem que matou o fez por este ter-lhe oferecido cachaça, como ele recusou, o ofertante jogou o "precioso" líquido em seu rosto. Morreu!

Quando morávamos no Bom Futuro ele morava em Tabóca, rio acima mas bastante próximo. Quanto ele ia voltando para sua casa, saído do Bom Futuro, nós, meninos, íamos jogar “pedras” (pedaços de barro duro) nele. Ele dizia que ia contar para nossos pais, mas parece que sempre esquecia, pois não mirávamos a ele, mas mas apenas nos fazíamos de 'almas penadas' para assim lhe inculcar medo.

Algo interessante nele é que remava colocando o remo apenas do lado esquerdo da canoa! Nunca remada do lado direito, que é o comum dos caboclos para manter a direção da proa da canoa: dá-se algumas remadas de um lado e depois se muda para o outro para dar outras tantas e assim seguir um rumo mais ou menos aprumado, retilíneo. Com “seu Chico” não tinha nada disso! E ao não remar como os demais, isso lhe consumia mais energia, pois tinha que “puxar” a proa da canoa para a direção desejada com mais dificuldade.

Seu Chico” só se banhava nas margens (beiras) dos rios completamente vestido de Adão antes do pecado original, ou seja, completamente nu! Perguntado o motivo ele respondia: “quem já viu não se admira, quem nunca viu não sabe o que é”. Era um escândalo, pois ele era bem-dotado.

Dizia ele que participou da revolta de “Remate de Males, onde hoje é Benjamin Constant”, no Amazonas.

Parênteses: nunca tinha encontrado nada nos livros que li sobre “Remate de Males” mas, dia desses, encontrei algo em: http://www.cidadesdomeubrasil.com.br/AM/atalaia_do_norte.

De lá colho:

O mais antigo núcleo de povoamento é Remate de Males, que, aliás, foi durante vários anos, de 1898 a 1901 e de 1904 a 1928, sede do município de Benjamim Constant. Não se sabem precisamente a data de sua fundação.”.

Ele nos dizia que trocaram muitos tiros e ocorreram várias mortes, mas não lembro mais dos detalhes.

Parece que era empregado pelos seringalistas para matar os seringueiros que tiravam saldo ou tentavam fugir do regime de escravidão em que viviam.

Contava ele, também, uma fábula em que era, pelo que me lembro, mais ou menos a seguinte: “um novo escravo foi 'contratado' e dentre suas tarefas estava a de dar banho na rainha (ou na sua 'empregadora' que eu não lembro quem era). Depois de um tempo, num dos banhos, ele beliscou o pé dela. Ela não reclamou. Então, ele, a cada novo banho, foi subindo os beliscões. Passou pelo joelho e, salvo engano, já estava no umbigo”, mas aí acaba a fita da minha memória.

Mesmo já idoso, “seu Chico” era muito ágil. Rápido mesmo. Lembro que as pessoas, de propósito, apenas para ver sua destreza, deixavam xícaras e copos caírem da mesa e, antes que chegassem ao chão ele os aparava!

Ele tinha um filho (“Seu Pretinho”) e netos, os quais foram morar longe dele (na Vila Bitencourt, uma guarnição do Exército no Rio Japurá acima, na fronteira do Brasil com a Colômbia) e ele ficou conosco até não poder mais caminhar. Morreu miseravelmente e abandonado em uma rede.

Acho até que, muitas vezes, esquecíamos de levar comida para o infeliz!

A morte para ele foi um alívio e, acho até, que tiraram de seus bolsos as orações que carregava, tudo para ver se ele realmente morria, pois seu estado era lastimável.

Declamava um poema que era mais ou menos o seguinte:

 

Eu queria ter minha mãe,

nem que fosse um espinheiro,

pois mesmo me espinhando,

era mãe por derradeiro”!

 

Ao rever este meu escrito (o escrevi em cerca de 2003!) acabo de encontrar (01.09.2016) alguém (Maria Natercia) que também conhece os versos acima! Ela os publicou em: https://plus.google.com/101462163390792490148.

Gostava de ouvi-lo declamar, vindo daí o meu primeiro contado com a poesia e, talvez, o meu gosto para com ela.

 

Zé Levi e o Bom Futuro”.

 

José (Zé) Levi era de uma família de negros retintos, o que é raro no Amazonas, especialmente no Rio Japurá, e também prefeito do Município de Japurá, quando este tinha por sede a localidade denominada Acanauí. Certa vez ele, descendo o rio na direção de Tefé, parou seu barco no local onde morava o “seu Chico Preto” e, segundo este, travaram o seguinte diálogo:

 

- Como vai o Bom Futuro, ‘seu Chico’?

- Tá bem!

- Aquilo ali deveria se chamar era ‘Mau Futuro’, ‘seu Chico’!

- Mau futuro será o seu, seu cabra safado”.

 

E assim encerram a conversa.

Tempos depois, não recordo o motivo (vivíamos em plena ditadura militar), a polícia deu uma surra de gente grande no Zé Levi em Tefé, prendendo-o e torturando-o por longos dias, que somente foram interrompidos por pedidos de uma irmã dele que era freira, a Irmã Corina.

Seu Chico”, quando soube da história, comentou:

- Eu disse para ele quem é que teria um mau futuro!”.

 

Até mais,

Abraços,

 

Osório

 

POEMEMOS (hoje em homem e “mulhernagem” à primavera que só quem é de setembro entende. Rs):

Sol de Primavera



Quando entrar setembro

E a boa nova andar nos campos

Quero ver brotar o perdão

Onde a gente plantou

Juntos outra vez



Já sonhamos juntos

Semeando as canções no vento

Quero ver crescer nossa voz

No que falta sonhar



Já choramos muito

Muitos se perderam no caminho

Mesmo assim não custa inventar

Uma nova canção

Que venha nos trazer

Sol de primavera

Abre as janelas do meu peito

A lição sabemos de cor

Só nos resta aprender.



 

 

Autores: Beto Guedes e Ronaldo Bastos (para ouvir: https://www.youtube.com/watch?v=8CoEa3uD_7g).



 

 

e,





Primavera



Quando o inverno chegar

Eu quero estar junto a ti

Pode o outono voltar

Eu quero estar junto a ti



Porque (é primavera)

Te amo (é primavera)

Te amo, meu amor



Trago esta rosa (para te dar)

Trago esta rosa (para te dar)

Trago esta rosa (para te dar)



Meu amor

Hoje o céu está tão lindo (vai chuva)

Hoje o céu está tão lindo (vai chuva)



Hoje o céu está tão lindo (vai chuva)

Hoje o céu está tão lindo (vai chuva).



 

 

Não sei quem é o autor, mas sei que Tim Maia canta e encanta (se desejar ouvir: https://www.youtube.com/watch?v=V1bwmkdCMfg).



 

e,



Fiz uma releitura de Drummond para meus filhos:



 

"No meio do deserto tinha areia,

tinha areia no meio do deserto.

No meio do deserto, não tinha água".

 





 



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