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Poesia: deleite-se ou delete-me (28.08.16).

 

Poesia: deleite-se ou delete-me (28.08.16).

Maraãvilhosos,

 Leitura Beto

                                                                       

   Imagem presenteada por Beto Zabrockis.

Livaria Acqua Alta, em Veneza, Italia

 

                                                                         Imagem presenteada por Adriano Barbosa.

Histórias de meu pai que contei a uma amiga de viagem:

“- Claro que são. Vamos lá: certa vez o papai foi para a Colômbia cobrar um colombiano que levara seu gado para vender e esqueceu de voltar para pagar. Nessa viagem ele também esqueceu de voltar e deixou minha mãe e seus quatro filhos menores sem quaisquer recursos para suas manutenções. Nessa época tinha chegado ao Bom Futuro uma tribo de índios que vinha descendo o Rio Japurá a etnia Canamaris) e pediram para ficar, o que, para nossa felicidade, foi consentido. Foram morar na cabeceira do lago do Bom Futuro. Minha mãe resolveu comprar mercadorias e vender para os índios, a fim de que eles colhessem sorva (látex extraído da árvore sorveira, que rapidamente se coagula, sendo acondicionada dentro de paneiros que tinham seu conteúdo interior protegido por palhas e depois por cestos feitos de cipó) e castanha, além de caçarem, pois a caça, a época, ainda era abundante na região. Assim, ela passou a fazer bons negócios, pois tratava o assunto com seriedade. Por exemplo: vendia novamente para o índio que pagasse o débito anterior. Os comerciantes, chamados regatões, o que no sul seriam os mascates, com a diferença que viajavam em barcos, prestigiaram muito minha mãe, pois ela os pagava regular e pontualmente, sempre ficando com saldo credor. Depois de dois anos, meu pai volta, mais pobre do que quando partiu. Encontrou minha mãe com dinheiro sob o colchão e com crédito com os trabalhadores. Gastou o dinheiro encontrado. Passou a administrar os fregueses e os levou a tornarem-se caloteiros e enganadores. Vendia a eles mesmo quando não pagavam a conta anterior. Ensinou-os a colocar barro dentro dos paneiros de sorva, o que trouxe como consequência a vergonha diante dos comerciantes quando estes traziam de volta o material adulterado e a perda do crédito. Resumindo: faliu minha mãe, que morria de vergonha de seus antigos fornecedores.

- Seu pai era danado!

- Ponha danado nisso. Lembro de dois outros episódios que passaram a me encher, também, de vergonha pelas atitudes dele. Na vasta fronteira entre o Brasil e a Colômbia existem várias cidadezinhas fronteiriças, mas duas colombianas, em especial, sempre estiveram presentes na minha infância: Letícia e LaPedrera. Era difícil a comunicação entre as duas cidades e uma das formas de realizá-la era pela navegação. Barcos saiam dos portos dessas cidades e iam para os da outra. Acontece que tinham que passar pelo território brasileiro para atingir esse objetivo. Saiam do porto de Letícia, por exemplo, e logo estavam cruzando o território de Tabatinga, a cidade brasileira que faz fronteira com a dita cidade colombiana. Daí desciam o Rio Solimões até chegar num paraná chamado Auati-paraná, o qual liga o rio Solimões ao Rio Japurá. Ao chegar ao Japurá, a viagem que até então tinha sido a favor da correnteza, passa a ser em sentido contrário. O Bom Futuro fica a poucos metros da boca do Auati-paraná, sendo visível a olho nu as embarcações maiores que passam por ali. Assim, as embarcações colombianas, no Rio Japurá, rio acima, tinham por primeiro porto o Bom Futuro. se comprava e se vendia de tudo. Pois bem. Certa vez uma canhoneira (da marinha colombiana) atracou no Bom Futuro e meu pai vendeu para um dos embarcadiços grande quantidade de peixe-liso, como é conhecido o peixe de pele, aquele que não tem escamas, na Amazônia. O comprador pediu a ele que ficasse com o peixe e fizesse pequenos fardos, na forma de charutos, amarrados com barbante que o próprio deixara, pois ele iria apanhar sua compra na volta (de baixada, como dizem os nativos). Papai realmente fez os fardos, que no interior deles colocou outras carnes menos nobres, apenas cobrindo-os com o peixe que vendera. Entregou os bens fraudados ao comprador que, pouco tempo depois, voltando em outra viagem, trousse todos os fardos de volta! Apenas meu pai, colocando a culpa que era dele em outrem, a pessoa que fizera os fardos sob sua orientação, não ficou mortificado pela vergonha.

- Nossa! Deve ter sido mesmo constrangedor.

- Foi horrível mesmo para mim, que tinha pouca idade, mas não por isso, mas, também, com medo dos militares colombianos. Agora, velho, vejo semelhança entre o agir do Juarez e o de Prometeu ao enganar Zeus, colocando ossos sob a pele do boi no lugar da carne!

Riram.

- E a outra peripécia dele?

- Foi deixada no porto do Bom Futuro uma balsa (uma espécie de casco de barco, geralmente toda fechada, apenas com pequenas escotilhas) de ferro. Logo que os proprietários se afastaram, papai foi conferir se tinha algo no interior da mesma. Descobriu que havia boasobrade petróleo em seu interior (isso foi antes da crise de 73 e a Colômbia era rica em petróleo, ou pelo menos, não era tão pobre quanto alguns países). Com a ajuda de outros, passou a encher vários barris (ou tambores, como chamamos) com diesel, colocando água no lugar do inflamável retirado!

- Nossa!

- Pois é! Não lembro se ele teve que pagar aos proprietários por tal ato, mas me lembro que, ao olhar o que estava sendo feito, ficava bastante constrangido.

- Eu imagino.

- É, Ry, mas dessa época ficaram várias recordações boas e que ainda me perseguem e, certamente, me perseguirão por toda a eternidade.  Veja só: Papai sempre defendeu que a Amazônia brasileira era rica em petróleo. A teoria dele era a seguinte: que a Amazônia colombiana, peruana, equatoriana e venezuelana têm petróleo, por que a brasileira não teria? Será que Deus teria construído um muro separando a nossa Amazônia da demais?

- Mas agora não encontraram petróleo por lá?

- Sim. Especialmente muito gás. Este é explorado amplamente no município de Coari.

- Quer dizer que o enrolão era também profeta?

- Quase, que ele não dispunha de conhecimentos técnicos, mas apenas de suas observações.

- Era curioso.

- Demais.

- Então sei a quem você saiu!

- Pois é...”.

(FIM).

Abraços,

Osório

POEMEMOS:

Ao seu e Alceu!

Ao seu lado me perco,

Alceu lado me acho.

Ao seu lado silencio,

Alceu lado ouço.

Ao seu lado chego,

Alceu lado viajo.

Ao seu lado calo,

Alceu lado canto.

Ao seu lado paro,

Alceu lado danço.

Ao seu ou Alceu?

Ao seu lado esperança,

Alceu Valença.

Ao seu lado parto,

Alceu valha-me e guie-me!

São Paulo, 06.05.15.

 

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