Histórias de Maraã.
Meu amigo Manoel “Macaco”.
Uma das pessoas que eu gostava de admirar e “malinar”, quando adolescente em Maraã, era o “Manoel Macaco”, casado com D. Neuza (que ele, quando bêbado, chama de “Neuzas”, num plural inexplicado). O casal nunca teve filho, exceto um adotivo, adotado, aliás, quando eu já tinha partido.
Eu admirava do “Macaco” as suas mãos e os seus pés, pois eram de extrema delicadeza, finos em ambos os sentidos: não tinha os pés achatados, o que é peculiar aos nossos conterrâneos, e suas mãos eram macias, nem parecia de quem trabalha empurrando (puxando) carrinho-de-mão carregado de areia e/ou de tijolo e/ou pedra. Dizia ele que quando jovem seus pés foram “acostumados” nos sapatos, daí a beleza de seus dedos sempre juntinhos.
- O povo de Maraã só tem as mãos bonitas? Lembra das do Ramiro? Certa feita perguntou-me uma amiga para quem contava histórias de Maraã e tinha falado das mãos do “seu” Ramiro Ferreira de Mattos.
- Claro. Pois é! As deles eram parecidas. Mas em Maraã todo o conjunto é bonito. Exemplo? Euzinho aqui. Respondi e rimos
- Malinava do “Macaco” por ele usar, diuturnamente, um chapéu (quepe) do Exército brasileiro para esconder sua careca. Quando ele estava sóbrio ninguém ousava “tirar o chapéu do Macaco”, até porque, caso isso ocorresse, ele não faria o escândalo que fazia quando estava bêbado. Os palavrões que ele proferia quando seu chapéu era arrancado são impublicáveis, mas tinham sempre a mãe no meio e suas partes genitais também, além da promessa de uma morte certa e em breve, fato que, felizmente, nunca se concretizou.
Inúmeras vezes levei o “Macaco” bêbado para sua casa, dentro do seu próprio carrinho-de-mão, recebendo o olhar de aprovação de D. Neuza. Quando o casal começava a discussão, comum nestes casos, eu me retirava, sempre feliz pela boa ação, lembrança do meu tempo de escoteiro (“Sempre Alerta!”).
Acredito que o casal, “Macaco” e Neuza, aquele informado por esta como chegara em casa, sempre me tratou bem devido eu levar o marido de volta ao lar, mesmo que antes disso eu tenha tirado o seu chapéu e recebido seus tiros de palavras e sua promessa de uma morte trágica, tudo numa inocência que hoje parece estar perdida. Maraã está muito violento, em relação à minha época de criança por lá!
Atribuo a chegada da televisão por lá a causa de muitos males! A meninada via a cenas de violência e queria repetir na vida real. As meninas passaram a transar adoidamente, pois as meninas da TV faziam isso sem ouvir os conselhos de seus pais, ficaram cheias de filhos.
Até mais,
Abraços,
Osório
POEMEMOS:
Maria
Meus sonhos em ti se materializam.
A tua procura cruzei mares e montanhas.
Ri algumas vezes e em outras tantas chorei.
Isolava-me do mundo para contemplar tua face imaginária.
Ao encontrar-te amalgamei para sempre minh’alma a tua.
São Paulo, 22.09.01.
e,
“A gente fria dessa terra sem poesia
Não faz caso dessa lua nem se importa com o luar
Enquanto a onça lá na verde capoeira
Leva uma hora inteira vendo a lua meditar”.
Versos da música “Luar do sertão”, cujo autor, no momento, desconheço, mas que foi gravada por muitos cantores, dente eles Luiz Gonzaga e Vicente Clandestino, digo Celestino! Na voz deste último constam os versos acima, já na do outro citado não!