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Dia desses eu lia no boteco o livro “Sistema da Moda”, de Roland Barthes, quando um amigo garçom, ao ler o título perguntou-me:
“Que que é isso, seu Osório, tá mudando...?”.
Eis a capa da obra:
Tempos depois, ao deparar-me com a poesia abaixo, de autoria do meu colega João Bosco, veio-me à mente o seguinte excerto do precioso livro do francês:
“Moda e literatura dispõem, com efeito, de uma técnica comum cuja finalidade é parecer transformar um objeto em linguagem: é a descrição. No entanto, esta técnica exerce-se muito diferentemente num e noutro caso. Em literatura, a descrição apoia-se num objeto escondido (quer ele seja real ou imaginário): ela vai fazer com que ele exista. Em Moda, o objeto descrito é atualizado, dado à parte sob a sua forma plástica (e não real, pois não passa de uma fotografia). Assim, as funções da descrição de Moda são reduzidas, mas também, e por isso mesmo, são originais: pelo fato de não nos comunicarem o próprio objeto, as informações que a língua comunica, a não ser que sejam pleonásticas, são, por definição, as mesmas que a fotografia ou o desenho podem transmitir. A importância do vestuário escrito confirma bem a existência de funções específicas da linguagem, que a imagem, seja qual for o seu desenvolvimento na sociedade contemporânea, não poderia transmitir. Quais são, então, particularmente no vestuário escrito, as funções específicas da linguagem em relação à imagem?”. (pp. 25 e 26).
É que criei um liame entre o vestuário (a moda) e o casulo. Como dizer o casulo e de qual casulo se fala, metaforicamente?
Não sei se meu amigo garçom vai lê esta postagem, mas, se o fizer, verá que eu não estou mudando nada: a loucura continua a mesma, talvez tenha aumentado apenas de grau.
Abraços,
Osório
POEMEMOS:
O lupanar
Ah! Por que monstruosíssimo motivo
Prenderam para sempre, nesta rede,
Dentro do ângulo diedro da parede,
A alma do homem polígamo e lascivo?!
Este lugar, moços do mundo, vede:
É o grande bebedouro coletivo,
Onde os bandalhos, como um gado vivo,
Todas as noites vêm matar a sede!
É o afrodístico leito do hetaírismo,
A antecâmara lúbrica do abismo,
Em que é mister que o gênero humano entre,
Quando a promiscuidade aterradora
Matar a última força geradora
E comer o último óvulo do ventre!
Autor: Augusto dos Anjos.
e,
Renascer
Ao poeta ausente
Da fé cega o casulo rompido
Encantada borboleta nasce adulta,
Inocente e altiva, pouco atina o sentido
Do aguçado mal que o mundo lhe oculta.
Certeiro golpe de mãos bondosas
Abate-lhe a inocência o confiado amigo,
E do solo áspero a ferir-lhe as asas
O cérebro ancestral desvela o perigo.
Põe-se em marcha incerta, a intuir
Que a Fênix das cinzas ressurgir,
Mitifica apenas antigo saber:
É preciso morrer pra renascer!
E o poeta restou esclarecido:
O viver somente é querido,
Se, rasgado, o peito livre a bater
Navegar, amar e sofrer!
Recife, 28 de janeiro de 2016.
Autor: João Bosco de Araújo Fontes Júnior.