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Poesia: deleite-se ou delete-me (29.01.16).

Caroas todoas,

Tatiana 1 

 

                                                                                                                           (https://www.facebook.com/TBBordados/).

Dia desses eu lia no boteco o livro “Sistema da Moda”, de Roland Barthes, quando um amigo garçom, ao ler o título perguntou-me:

“Que que é isso, seu Osório, tá mudando...?”.

Eis a capa da obra:

Sistema da Moda   Roland Barthes 

Tempos depois, ao deparar-me com a poesia abaixo, de autoria do meu colega João Bosco, veio-me à mente o seguinte excerto do precioso livro do francês:

Moda e literatura dispõem, com efeito, de uma técnica comum cuja finalidade é parecer transformar um objeto em linguagem: é a descrição. No entanto, esta técnica exerce-se muito diferentemente num e nou­tro caso. Em literatura, a descrição apoia-se num objeto escondido (quer ele seja real ou imaginário): ela vai fazer com que ele exista. Em Moda, o objeto descrito é atualizado, dado à parte sob a sua forma plástica (e não real, pois não passa de uma fotografia). Assim, as funções da descrição de Moda são reduzidas, mas também, e por isso mesmo, são originais: pelo fato de não nos comunicarem o próprio objeto, as informações que a língua comunica, a não ser que sejam pleonásticas, são, por definição, as mesmas que a fotografia ou o desenho podem transmitir. A importância do vestuário escrito confirma bem a existência de funções específicas da linguagem, que a imagem, seja qual for o seu desenvolvimento na sociedade contemporânea, não poderia transmitir. Quais são, então, particularmente no vestuário escrito, as funções específicas da linguagem em relação à imagem?”. (pp. 25 e 26).

É que criei um liame entre o vestuário (a moda) e o casulo. Como dizer o casulo e de qual casulo se fala, metaforicamente?

Não sei se meu amigo garçom vai lê esta postagem, mas, se o fizer, verá que eu não estou mudando nada: a loucura continua a mesma, talvez tenha aumentado apenas de grau.

Abraços,

Osório

POEMEMOS:

O lupanar

Ah! Por que monstruosíssimo motivo

Prenderam para sempre, nesta rede,

Dentro do ângulo diedro da parede,

A alma do homem polígamo e lascivo?!

Este lugar, moços do mundo, vede:

É o grande bebedouro coletivo,

Onde os bandalhos, como um gado vivo,

Todas as noites vêm matar a sede!

É o afrodístico leito do hetaírismo,

A antecâmara lúbrica do abismo,

Em que é mister que o gênero humano entre,

Quando a promiscuidade aterradora

Matar a última força geradora

E comer o último óvulo do ventre!

Autor: Augusto dos Anjos.

e,

Renascer

Ao poeta ausente

Da fé cega o casulo rompido

Encantada borboleta nasce adulta,

Inocente e altiva, pouco atina o sentido

Do aguçado mal que o mundo lhe oculta.

Certeiro golpe de mãos bondosas

Abate-lhe a inocência o confiado amigo,

E do solo áspero a ferir-lhe as asas

O cérebro ancestral desvela o perigo.

Põe-se em marcha incerta, a intuir

Que a Fênix das cinzas ressurgir,

Mitifica apenas antigo saber:

É preciso morrer pra renascer!

E o poeta restou esclarecido:

O viver somente é querido,

Se, rasgado, o peito livre a bater

Navegar, amar e sofrer!

Recife, 28 de janeiro de 2016.

Autor: João Bosco de Araújo Fontes Júnior.

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