Enquanto outros preferem outras drogas, eu fico com o “livro”! De preferência aquele com gosto de celulose, ou seja, em papel!
Mesmo com a mirrada falta de espaço, continuo a comprar livros!
Costumo seguir indicações em minhas leituras, de amigos, de colegas, e até de desconhecidos, estes quando os ouço, sem querer, comentando alguma obra. Sigo, também, o que dizem os jornais, embora com as opiniões destes eu seja mais reticente, pois a imprensa é hábil, quando quer, em construir e destruir reputações de escritores e editores que com ela não se afinam.
Assim é que, cheguei ao livro citado acima.
Já tinha uma obra de Alberto da Costa e Silva e, ao ler um jornal, vi a indicação do livro de poemas do autor.
Encomendei-o – a livraria Cultura, em São Paulo, não tinha em estoque, isso será um mau sinal, como verei no futuro – e esperei por mais de uma semana pela chegada.
Recebi a obra e fui para casa lê-la.
Não costumo ler prefácios e apresentações, pois, acredito, as vezes eles nos induzem por caminhos que mostrar-se-ão atalhos que não levam ao fim almejado (as vezes julgamos ruim o que é bom, ou vice-versa), mas resolvi abrir uma exceção, mesmo diante da minha ignorância sobre o Marco Lucchesi, o prefaciador.
O prefácio concordou com o que dissera o jornal e contribuiu para minha felicidade em ter encontrado o filão que me renderia muito ouro, ou até pensei ter encontrado a “pedra filosofal” dos poemas!
Iniciei a leitura, mas ela avançou a duras penas. Tanto assim que a obra de 99 páginas, algumas impressas apenas em uma das faces, levou vários dias para ter sua leitura concluída! Recebi-a em 07.07.14 e terminei no dia 20! Claro que, neste intervalo não me dediquei integralmente a ela, a despeito de ter planejado concluí-la no dia da aquisição.
Esclareço: não sou crítico, sou apenas um mero leitor que costuma apaixonar-se pelas obras que adquire, lê e gosta.
É certo que os críticos não sabem fazer melhor que os autores, mas, as vezes, sabem sentir a obra, assim como eu, leitor, as sinto.
No filme Ratatouille, da Disney, há algo muito interessante sobre o trabalho dos críticos (Vejam em: http://osoriobarbosa.com.br/node/392).
Tenho que toda arte é bela, mas algumas nos prendem mais a atenção, nos dando maior prazer pela e em sua companhia!
Com isso reforço que leitor não é crítico, a não ser para si mesmo.
Me marcaram, ou, se salvaram, da obra, 2 poemas, sendo um deles uma parte de um todo, obviamente, maior em extensão, mas menor em sua capacaide de transmitir emoção. São eles:
Ao lado de Vera
I
Usa o meu coração se o teu já tens gasto,
feito a pedra de mó que a faca alisa, cava
e parece estender como massa de trigo
sobre a mesa molhada. Usa o meu coração
como o trapo que limpa a sujeita das tábuas
e enegrece de pó, e se pui, e se esgarça,
se com ele se invertem este dia adverso
e esta perversa. Usa o meu coração
para nos esconder, como aos olhos as pálpebras,
do cansaço do tempo, do bolor nos retratos,
e jogar para os céus, ao abrir as janelas,
qual um sonho ou um parto, os pardais e os canários.
...
e,
5 de setembro
Quando nos criaram
as mãos do deus já estavam
cansadas.
Por isso,
somos frágeis e mortais. E amamos,
para resgatar o que no deus
foi sonho.
O primeiro trecho é citado no prefácio e foi meu induzidor a um julgamento antecipado e favorável!
É, ou foi, um livro que não me deixou saudades para uma próxima visita a ele, como ocorre, por exemplo, com o Quixote, que sempre o releio, ou com Bandeira e Quintana.
A fama do autor, neste caso, foi menor que sua obra.
Se “Vera” tiver a minha expectativa – que era grande – e o meu gosto – mau –, ficará decepcionada com a homenagem que lhe foi prestada enquanto musa do autor.
Que outros, no entanto, leiam e tirem suas próprias conclusões, já que não podem tirar a dos e pelos outros!
Milton Hatum, certa feita, quando o importunei durante um voo São Paulo-Manaus, me disse que “somente devemos ler o que gostamos”, quando lhe falei do, para mim insuportável, “Ulisses”, do Joyce.
Mas a ponderação do ilustre autor amazonense, vale apenas para o leitor, uma vez que o crítico, por obrigação, é um escravo do autor, vai ser seu cativo por intermédio da obra cuja leitura terá que concluir.
No caso, como gosta o autor, Alberto, da história da escravidão africana, talvez ele esteja, no seu “Ao lado de Vera”, mais para feitor!
Se a livraria não tinha a obra em seu estoque, daí o mau sinal, só entendi a razão ao final da maçante leitura!
Por fim, saiba quem se der ao trabalho de ler estas notas, que não procuro erros nas obras que leio, mas apenas e fundamentalmente, o prazer da leitura.
Abraços,