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O Ministério Público, o Congresso Nacional e o POVO! (PEC 75 e tantas outras que virão, após a PEC 37!)

O MP, o Congresso Nacional e o POVO! (PEC 75 e tantas outras que virão, após a PEC 37!)

 

"... donde vinham os gritos.

 

Aos primeiros passos que deu no bosque, viu uma égua presa a uma azinheira, e atado a outra um rapazito (leia-se: Ministério Público - MP) nu da cinta para cima, é de seus quinze anos; era o que se lastimava, e não sem causa, porque o estava com uma correia açoitando um lavrador (leia-se: Congresso Nacional - CN) de estatura alentada, acompanhando cada açoite com uma repreensão e conselho, dizendo:

Boca fechada, e olho vivo!

Ao que o rapaz (leia-se: MP) respondia:

Não tornarei mais, meu amo (leia-se: CN), pelas Chagas de Cristo, prometo não tornar! prometo daqui em diante tomar mais sentido no gado!

Vendo (leia-se: O POVO) aquilo, exclamava furioso:

Descortês cavaleiro (leia-se: CN), mal parece haverdes-vos com quem vos não pode resistir; subi ao vosso cavalo, e tomai a vossa lança — (que arrumada à azinheira estava de feito uma); — eu vos farei conhecer que isso que estais praticando é de covarde.

O (leia-se: MP), que viu iminente aquela figura carregada de armas, brandindo-lhe a lança ao rosto, deu-se por morto, e com reverentes palavras lhe respondeu:

Senhor (leia-se: O POVO), este rapaz (leia-se: MP) que estou castigando é meu criado; serve-me de guardar um bando de ovelhas, que trago por estes contornos; mas é tão descuidado, que de dia a dia me falta uma; e, por eu castigar o seu descuido ou velhacaria, diz que o faço por forreta, para lhe não pagar por inteiro a soldada; por Deus, e em minha consciência, que mente.

Mente na minha presença, vilão ruim?! — disse (leia-se: O POVO) — Voto ao sol que nos alumia, que estou, vai não vai, para atravessar-vos com esta lança; pagai-lhe logo sem mais réplica; quando não, por Deus que nos governa, como neste próprio instante dou cabo de vós; desatai-o de repente.

O (leia-se: CN) abaixou a cabeça, e sem dizer mais palavra desatou o (leia-se: MP).

Perguntou-lhe (leia-se: O POVO) quanto seu amo lhe devia; respondeu ele que nove meses, à razão de sete reales cada mês.

Fez (leia-se: O POVO) a conta, e viu que somava sessenta e três reales, e disse ao (leia-se: CN) que lhos contasse logo logo, se não queria pagar com a vida.

Respondeu o (leia-se: CN), aterrado em tão estreito lance, que já lhe havia jurado (e não tinha ainda jurado coisa alguma) que não eram tantos, porque havia para abater três pares de sapatos que lhe havia mercado, e mais um real de duas sangrias que lhe tinham dado estando enfermo.

Tudo isso está muito bem — respondeu (leia-se: O POVO); — mas os sapatos e as sangrias fiquem em desconto dos açoites que sem culpa lhe destes; porquanto, se ele rompeu o couro dos sapatos que vós pagastes, vós rompestes-lhe o do seu corpo; e se o barbeiro lhe tirou sangue, estando doente, também vós lho tirastes estando ele são; portanto nesse particular não há mais que ver, estamos com as contas justas.

Pior é, senhor (leia-se: O POVO), que não tenho aqui dinheiro comigo; acompanha-me tu a casa, (leia-se: MP), que eu lá te pagarei de contado.

Eu ir com ele? — disse o (leia-se: MP) outra vez — Mau pesar viesse por mim! não senhor; nem pensar em tal. Se se tornasse a ver comigo a sós, esfolava-me que nem um S. Bartolomeu.

Tal não fará — respondeu (leia-se: O POVO); — basta que eu mande, para ele me catar respeito. Jure-mo ele pela lei da cavalaria que recebeu, deixá-lo-ei ir livre, e dou-te o pagamento por seguro.

Veja Vossa Mercê (leia-se: O POVO), o que diz — replicou o (leia-se: MP); — que este meu amo não é cavaleiro, nem recebeu ordem nenhuma de cavalarias; é (leia-se: CN), o rico, vizinho de Quintanar.

Pouco importa isso, — obtemperou (leia-se: O POVO) — que em Haldudos também pode haver cavaleiros; e demais, cada um é filho das suas obras.

Isso é verdade — acudiu (leia-se: MP); — mas este meu amo, de que obras há-de ser filho, pois me nega a paga do meu suor e trabalhos?

Não nego tal, meu rico (leia-se: MP) — respondeu o (leia-se: CN); — dá-me o gosto de vir comigo, que eu juro por quantas castas de cavalarias haja no mundo, de pagar, como tenho dito, até à última, e em moedinha defumada.

Dos defumados vos dispenso eu — disse (leia-se: O POVO); — dai-lhe os reales, sejam como forem, e sou contente; e olhai lá se o cumpris, segundo jurastes; quando não, pelo mesmo juramento vos rejuro eu que voltarei a buscar-vos e castigar-vos, e que de força vos hei-de achar, ainda que vos escondais mais fundo que uma lagartixa; e se quereis saber quem isto vos intima, para ficardes mais deveras obrigado a cumprir, sabei que sou o valoroso (leia-se: POVO BRASILEIRO), o desfazedor de agravos e sem-razões. Ficai-vos com Deus, e não esqueçais o prometido e jurado, sob pena do que já vos disse.

Com o que, meteu esporas e dispersou-se, e em breve espaço se apartou deles.

Seguiu-o com os olhos o (leia-se: CN), e, quando o viu já fora do bosque, e do alcance, voltou-se para o seu criado (leia-se: MP), e lhe disse:

Vinde cá, meu filho, que vos quero pagar o que vos devo, como aquele desfazedor de agravos me ordenou.

Juro — respondeu (leia-se: MP) — que muito bem fará Vossa Mercê em cumprir o mandamento daquele bom cavaleiro, que mil anos viva, que, segundo é valoroso e bom juiz, assim Deus me dê saúde, como se me não paga, voltará, e há-de executar o que disse.

Também eu o juro — disse o (leia-se: CN); — mas, pelo muito que te quero, vou primeiramente acrescentar a dívida, para ficar sendo maior a paga.

E travando-lhe do braço, o tornou a atar na azinheira, onde lhe deu tantos açoites, que o deixou por morto.

Chamai agora, senhor (leia-se: MP), pelo desfazedor de agravos — dizia o (leia-se: CN); — e vereis como não desfaz este, ainda que, segundo entendo, por enquanto ainda ele não está acabado de fazer, porque me estão vindo ondas de te esfolar vivo, como tu receavas.

Mas afinal desatou-o, e lhe deu licença para ir buscar o seu juiz, que lhe executasse a sentença que dera.

Partiu (leia-se: MP) algum tanto trombudo; prometendo que se ia à busca do valoroso (leia-se: POVO BRASILEIRO), para lhe contar ponto por ponto o que era passado, e dizendo que o amo (leia-se: CN) desta vez lhe havia de pagar sete por um.

Assim mesmo porém foi-se a chorar, e o amo se ficou a rir.

Ora aqui está como desfez aquele agravo o valoroso (leia-se: POVO BRASILEIRO), o qual, contentíssimo do sucedido, por lhe parecer que dera alto e felicíssimo começo às suas cavalarias, ia todo cheio de si, caminhando para a sua aldeia e dizendo a meia voz:

Bem te podes aclamar ditosa sobre quantas hoje existem na terra, ó das belas belíssima (leia-se: República), pois te coube em sorte haveres sujeito e rendido ao teu querer tão valente e nomeado cavaleiro, qual é e será (leia-se: POVO BRASILEIRO), o qual, segundo sabe todo o mundo, ontem recebeu a ordem da cavalaria, e já hoje desfez a maior violência e o pior agravo que a sem-razão formou, e a crueldade cometeu! Sim, hoje tirou das mãos o tagante àquele desapiedado inimigo (leia-se: CN), que tanto sem causa estava açoitando um melindroso infante (leia-se: MP).


 

P.S.: Qualquer coincidência com Cervantes é mera semelhança!!!!!

Paráfrase tirada de D. Quixote de La Mancha - Primeira Parte, Miguel de Cervantes [Saavedra], Tradução: Francisco Lopes de Azevedo Velho de Fonseca Barbosa Pinheiro Pereira e Sá Coelho (1809-1876), Conde de Azevedo Antônio Feliciano de Castilho (1800-1875) Visconde de Castilho.

 

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