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Onde o governo deve cortar seus gastos?

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Onde o governo deve cortar seus gastos?

 

Todos dizem que o governo deve fazer sua lição de casa, cortar seus gastos, pois gastando mais do que arrecada levará o país a bancarrota.

 

 

O governo ouve isso e, então, sob pressão, começam os cortes, para alguns, necessários.

 

Imediatamente após o primeiro corte, o "cortado" começa a reclamar contra o ato governamental dizendo que o corte em sua seara não é cabível!

 

Todos se comportam do mesmo modo!

 

Onde cortar, então?

 

Se depender dos "cortados", em lugar algum!

 

Mas aí vem o dilema: mas vocês não queriam cortes?

 

Sim, mas desde que o "cortado" não seja eu! É a resposta.

 

O protesto acaba virando canalhice!

 

Por exemplo: a pessoa fava mal do programa "Bolsa Família", mas na hora que o governo reajusta o programa (nem chega a cortar) ela diz: tá vendo, o governo está cortando o bolsa família e vai prejudicar milhões de pessoas!

 

Mas não era você quem era contra o programa?

 

Lá na antiguidade, século V antes da era atual, alguém já percebeu o seguinte: se se perguntasse a cada povo qual era a melhor lei a ser aplicada a todos os demais povos, cada qual diria que eram a suas e, assim, todas seriam aplicadas, pois nem uma seria desprezada!

 

Com os cortes governamentais ocorre algo parecido! É que nunca vi ninguém dizer: corte o orçamento destinado ao meu programa!

 

Mas essa é a arte de governar, e quem não estiver preparado, não gostar de cobranças, que dê lugar para outro.

 

O artigo abaixo mostra o protesto de um apoiador dos cortes, desde que não atinja o que ele entende que deva ser preservado!

 

Até mais,

 

 

O golpe do Estado no Sistema S

 

LUÍS EULÁLIO DE BUENO VIDIGAL FILHO

Presidente Emérito da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP)

 

Vi várias crises neste país, todas superadas com muito sacrifício dos setores produtivos e do povo. A atual, porém, apresenta contornos econômicos, políticos e jurídicos muito graves, permeados por equívocos e problemas como o aumento de impostos, clientelismo no Congresso Nacional e corrupção.

 

Analistas internacionais consideram que o lado positivo é o fortalecimento de algumas instituições sérias e competentes. O Ministério Público, a Polícia e a Justiça Federal têm sido alvo de elogios e de manifestações de apoio pela persistente e apurada caça aos malfeitores. Nesse rol de instituições idôneas incluo, sem hesitar, o Sistema S, sobre o qual posso falar, pois acompanho de perto a ação do Senai e do Sesi de São Paulo há pelo menos quatro décadas.

 

O Senai foi criado em 1942 para qualificar trabalhadores da indústria, em pleno período de guerra, por iniciativa e empenho de empresários idealistas e patriotas, destacando-se o líder Roberto Simonsen. Logo depois veio o Sesi, para oferecer assistência aos operários em matéria de educação, saúde, alimentação, cultura e lazer. Dado o êxito desse modelo, foram criadas entidades similares do comércio e serviços, da agropecuária, dos transportes, do cooperativismo e das micro e pequenas empresas. Caracterizam-se por certa estabilidade de receita, gestão privada e estreito relacionamento com os respectivos setores produtivos. Já houve quem definisse essa estratégia como uma cooperativa destinada a apoiar as empresas e formar e assistir os trabalhadores.

 

Sem dúvida, a evolução e a força da indústria paulista devem-se muito às duas entidades que, sempre em sintonia com as tecnologias mais avançadas, buscam atender às demandas das empresas e trabalhadores, por meio de uma rede de centros e escolas e de pessoal habilitado.

 

Em agosto último, testemunhei o brilhante desempenho do Senai, alcançando o primeiro lugar na WorldSkills, a "Copa do Mundo" da formação profissional, superando fortes concorrentes, como a Coreia do Sul, Alemanha, França e China.

 

Lembro, também, que a instituição tem vasta folha de serviços ao governo brasileiro no relacionamento internacional.

 

É evidente que qualquer plano de retomada do crescimento econômico deve ter como um dos fundamentos a indispensável atuação de tais instituições na formação e assistência às empresas e aos trabalhadores. Trata-se, pois, de preservá-las e fortalecê-las.

 

Para surpresa e perplexidade geral, num conjunto de medidas para ajustar e reequilibrar as contas da União, parlamentares e o Governo Federal apresentaram a irracional proposta de confisco de mais de 30% da receita compulsória das instituições do Sistema S. É um desatino. Um ato de desespero semelhante a um abraço de afogado, que ao tentar salvar-se leva ao fundo o próprio salvador.

 

O golpe no Sistema S é fruto da incompetência e da falta de visão do Governo Federal quanto aos reais interesses coletivos do Brasil. Os prejuízos serão irreparáveis. O desenvolvimento nacional será comprometido de modo muito grave. Haverá forte redução dos serviços de assistência e formação técnica e escolar, com perda de profissionais qualificados e ociosidade da capacidade instalada. Os maiores ônus, entretanto, serão da sociedade, empresas, trabalhadores e do País. É melancólico constatar a falta de percepção dos nossos governantes quanto à relevância estratégica de instituições de reconhecido valor econômico e social.

 

Fonte: Folha de São Paulo, 18.10.15.

 

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