2 – Você acredita que por trás da eleição de qualquer homem público só existem interesses desinteressados, voltados para o bem comum de todos ou que quem se elege privilegia seus financiadores de campanha?
3 – Você acredita que no capitalismo qualquer bem ou valor, inclusive o pessoal, como o corpo, por exemplo, pode ser negociado, vendido?
4 – Você conhece Armínio Fraga?
Vejam o que escreveu o jornalista Elio Gaspari recentemente:
“O exemplo de Michael Bloomberg
Depois de governar a cidade de Nova York por 12 anos, o bilionário Michael Bloomberg pegou o metrô e foi para casa. Além de uma grande administração, deixou um exemplo. Durante o tempo em que ocupou a prefeitura gastou US$ 650 milhões do próprio bolso. Sabia-se que voava em jatinhos e helicópteros de sua propriedade (alô Sérgio Cabral). Sabe-se agora que seu gosto por aquários no gabinete custou-lhe US$ 62.400. O café da manhã e almoços frugais para a equipe saíram por US$ 890 mil. Uma viagem ao exterior custou US$ 500 mil (alô, Cid Gomes). Seu salário na prefeitura era de um dólar por ano.
Com uma fortuna avaliada em US$ 31 bilhões, Bloomberg gasta como quer. Já deu um bilhão à universidade onde estudou. (No ano seguinte à sua formatura, quando era um duro, deu cinco dólares.) Começou a vida no papelório, deixou a Salomon Brothers com US$ 10 milhões e fundou o império de meios de comunicação que leva seu nome.
Para quem gosta de depreciar o Brasil, ele seria um exemplo de políticos que faltam por aqui. É verdade, mas o casal Clinton está milionário e suas origens são semelhantes às de Bloomberg, sem que tenham produzido um só parafuso. Lyndon Johnson endinheirou-se na política e seus mensalões fariam corar o comissariado petista.
A diferença entre o serviço público americano e o brasileiro está no exemplo. Indo-se para o século 19, Dolley Madison, mulher do presidente James Madison, a primeira locomotiva social de Washington, morreu em absoluta pobreza, eventualmente ajudada por um escravo liberto que trabalhara para ela na Casa Branca. Em 1979, quando Paul Volcker foi nomeado presidente do Federal Reserve Bank, perdeu 50% de sua receita e foi morar numa quitinete de estudante em Washington. Sua mulher ficou em Nova York e equilibrou as contas alugando um quarto de seu apartamento.
No Brasil foram muitos os milionários que passaram por governos. Nenhum soltou a bolsa da Viúva. Em muitos casos as fortunas foram acumuladas por inexplicáveis multiplicações ocorridas durante o exercício dos cargos. Exemplo como o de Bloomberg, nem pensar.” Fonte: FSP, 05/01/2014.
Quem é Michael Bloomberg?
Simplesmente um bilionário!
Diz o ditado, salvo engano de autoria de Dostoievski, que “por trás de toda grande fortuna, há sempre um grande crime”!
Pode não ser verdade, sem dúvidas, mas, trabalhando honestamente, ficar rico é como ganhar na loteria acumulada! Vejam o bilionário espanhol dono da rede Zara que, de tão moderno, ainda tem até escravos.
Salomon Brothers, Salomon Brothers...
Quanto às perguntas inicialmente formuladas, voltemos a elas.
Armínio Fraga era um empregado de um grande banco americano e, na época que aqui interessa, morava em Nova Iorque, num endereço chique, e ganhava cerca de 1 milhão de dólares por ano. Convidado, aceitou vir para o Brasil ser presidente do Banco Central. Assim, trocou a “admirada” cidade cultural americana por Brasília! Deixou de ganhar seu 1 milhão de dólares para ganhara cerca de cento e poucos mil por ano!
O que muitos viram como ato de “patriotismo” e inteligência, honestamente, chamei de burrice!
Portanto, Elio equivoca-se ao esquecer o grande exemplo de Armínio Fraga, que sacrificou-se pelo seu país, embora, hoje, tenha uma banda (ou banco) de consulta a render-lhe milhões, mas, logicamente, sem nenhum conhecimento privilegiado que tenha levado da função pública, obviamente.
No capitalismo, desde que alguém se predisponha a comprar, se vende de tudo, absolutamente tudo. Assim, a eleição do tal Bloomberg foi vendida para quem queria comprar um candidato que fosse defender os interesses das imobiliárias, por exemplo, ou dos “meios de comunicação”, pois ele, certamente, não financiou suas eleições com o dinheiro do próprio bolso apenas para ajudar os miseráveis de Nova Iorque.
Aliás, se Bloomberg fosse um homem caridoso, não tinha acumulado os seus 31 bilhões de dólares.
A grande glória dos Estados Unidos, decantada em prosa e verso pelos próprios americanos e seus porta vozes pelo mundo a fora, é que lá o capitalismo é o capitalismo! Portanto, não é lugar para ninguém fazer bondades, a não ser que o faça com o chapéu alheio, como parece ser o caso narrado tão entusiasticamente.
É sabido, outrossim, que as denominadas “boas ações” por meio de doações, atualmente, servem mais como investimento para melhoria da imagem do doador/empresário/político, do que verdadeiro ato de caridade ou solidariedade. A respeito do tema, confira-se o seguinte trecho da lavra de Steve Shipside:
“Independentemente do que Marx teria pensado sobre isso, o fato é que a empresa moderna ignora as questões de sustentabilidade e responsabilidade social por sua conta e risco. Não é necessário ter uma tendência para abraçar árvores para ver o porquê – mesmo o executivo corporativo mais cínico pode perceber que trazer uma dimensão ética para o comércio e realizar negócios com responsabilidade social são pré-requisitos que possuem, cada vez mais, rentabilidade positiva. Em uma época de conscientização dos consumidores e da mídia (e o surgimento da internet tornou os dois praticamente idênticos), um negócio que opera de maneira “selvagem” corre o risco de perder parceiros, enfrentar boicotes comerciais, sofrer processos judiciais, perder funcionários, atrair a atenção de grupos de interesse, lidar com críticas negativas na imprensa ou ter leis desaprovando-o.” (Steve Shipside – O Capital de Karl Marx: uma interpretação moderna e prática – São Paulo: Saraiva, 2010, p. 18.).
Tanto isso é verdade, que os grandes “doadores” nos EUA fazem questão de aparecer, vincular sua imagem a uma ação social, enquanto que os verdadeiros abnegados em relação às causas sociais - em sua maioria - agem de anonimamente.
Bill Gates, um suposto doador, criou uma fundação que leva o seu nome, veio pessoalmente ao Brasil para tentar convencer o governo federal a não abandonar seu programa para computadores por um programa gratuito! Quanta bondade do homem mais rico do mundo!
Segundo Joel Bakan, em seu livro “A Corporação”, as boas práticas no capitalismo, fatalmente, levam à falência!
O conceituado Elio, aliás, parece que na ânsia de admirar, acabou cometendo inúmeras injustiças com milhões de brasileiros, pelos quais eu não coloco a mão no fogo, mas dos quais se diz o seguinte, contrapondo ao que diz o insigne jornalista:
“Durante o tempo em que ocupou a prefeitura gastou US$ 650 milhões do próprio bolso. Sabia-se que voava em jatinhos e helicópteros de sua propriedade (alô Sérgio Cabral). Sabe-se agora que seu gosto por aquários no gabinete custou-lhe US$ 62.400. O café da manhã e almoços frugais para a equipe saíram por US$ 890 mil. Uma viagem ao exterior custou US$ 500 mil (alô, Cid Gomes). Seu salário na prefeitura era de um dólar por ano.”
Restou veiculada reportagem no Jornal “Folha de São Paulo” de 9 de março de 2014, p. C11, com os seguintes destaques: “Os milionários não doam quase nada à pesquisa no Brasil” e “Brasileiro doa mais para mendigos e igrejas, diz estudo”. Diante de tais fatos, afigura-se, no mínimo, injusto os apontamentos levado a efeito por Elio.
Inicialmente, o estarrecedor, é um servidor público ganhar um salário de um dólar por ano! Além da ridícula insignificância, demonstra que, diretamente, o servidor dele não precisava. Mas o servidor que não precisa do salário, regra geral, encontra outras formas de se recompensar.
Pense-se naqueles que acham que os vereadores não deveriam ser pagos pelos cofres públicos, como exemplo de moralidade. Eu digo: se o Estado não os pagar, o prefeito o fará, juntamente com empresários que precisam da aprovação de leis que os beneficie.
Depois: existem inúmeros servidores públicos brasileiros que vão trabalhar em seus automóveis, sem que o Estado pague por isso. A mesma coisa ocorre com os tais aquários. Portanto, nenhuma novidade, exceto para...
Embora no Brasil exista o “vale-alimentação”, inúmeras vezes o servidor público paga além do valor que ele corresponde, pois costuma ser quase que irrisório. Portanto...
Tirando o tal Gomes, incontáveis servidores públicos brasileiros viajam ao exterior com recursos próprios. Logo...
“Para quem gosta de depreciar o Brasil, ele seria um exemplo de políticos que faltam por aqui. É verdade, mas o casal Clinton está milionário e suas origens são semelhantes às de Bloomberg, sem que tenham produzido um só parafuso. Lyndon Johnson endinheirou-se na política e seus mensalões fariam corar o comissariado petista.”
Portanto, jogamos, aqui, de igual para igual. O certo seria desclassificar os dois times.
“A diferença entre o serviço público americano e o brasileiro está no exemplo. Indo-se para o século 19, Dolley Madison, mulher do presidente James Madison, a primeira locomotiva social de Washington, morreu em absoluta pobreza, eventualmente ajudada por um escravo liberto que trabalhara para ela na Casa Branca. Em 1979, quando Paul Volcker foi nomeado presidente do Federal Reserve Bank, perdeu 50% de sua receita e foi morar numa quitinete de estudante em Washington. Sua mulher ficou em Nova York e equilibrou as contas alugando um quarto de seu apartamento.”
Armínio Fraga é o novo Paul Volcker, então!
E a mulher do Garrastazu que ninguém nem sabe quem era!
“No Brasil foram muitos os milionários que passaram por governos. Nenhum soltou a bolsa da Viúva. Em muitos casos as fortunas foram acumuladas por inexplicáveis multiplicações ocorridas durante o exercício dos cargos. Exemplo como o de Bloomberg, nem pensar.”
Mario Andreazza, que construiu imensas obras, nunca foi acusado de nada [sic].
Deixando a piada acima de lado, de Itamar Franco, na democracia, também não se disse nada quanto à sua honestidade.
Portanto, parece que, nesse jogo, estamos empatados.
A história narrada lembrou-me Madre Teresa de Calcutá, que também era tida como caridosa, exceto para aquele jornalista infame Christopher Hitchens, que diz que ela era uma verdadeira lavadeira, em especial de ditadores.
Não sei o porquê, mas gosto mais da irmã Dulce.