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Quarta carta a Fernanda

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Estimada Fernanda,



Depois de um tenebroso calor em São Paulo, que me faz lembrar minha Manaus, e depois de um descanso merecido, volto a falar com você sobre nosso assunto favorito: cultura!

 



Antes quero te dizer que estou namorando uma moça francesa, seu nome é Jacqueline de Romilly e nunca nos vimos, nem nos falamos pela net. Que fique, contudo, este segredo entre nós, pois ela não pode saber, se souber, certamente acabará com o nosso namoro.



Veja algo sobre ela:



JACQUELINE DE ROMILLY nasceu em Chartres, em 1913, filha de Maxime David, professor de Filosofia, e de Jeanne Malvoisin. Casou-se em 1940 com Michel Worms de Romilly. Estudou em Paris no liceu Molière, onde foi laureada no concurso geral no primeiro ano em que as mulheres puderam concorrer, no liceu Louis-le-Grand, na l’École Normale Supérieure e, finalmente, na Sorbonne. Doutorada em Letras e professora agregada de Letras, deu aulas em vários liceus, tendo mais tarde leccionado Língua e Literatura Gregas nas universidades de Lille (1949-1957) e na Sorbonne (1957-1973), antes de ser nomeada professora no Collège de France em 1973, a primeira mulher a conseguir tal distinção, para a cadeira «A Grécia e a formação do pensamento moral e político». Desde o início que Romilly se dedicou à literatura grega clássica, ensinando e escrevendo, fosse sobre os autores do período clássico (como Tucídides, sobre quem fez a sua tese de doutoramento, e os tragediógrafos) ou sobre a história das ideias e da análise progressiva do pensamento grego (a lei, a democracia, a bondade, e até o ensino). Alguns dos seus livros resultam deste quadro académico e humanista. Depois de ter sido a primeira mulher a leccionar no Collège de France, Jacqueline de Romilly foi a primeira mulher membro da Académie des inscriptions et belles-lettres (1975), à qual viria a presidir no ano de 1987. Foi também membro correspondente ou estrangeiro de diversas academias, como a da Dinamarca, a Academia Britânica, a de Viena, de Atenas, a Academia da Baviera, a holandesa, a Academia de Nápoles, de Turim, Génova, a Academia Americana de Artes e Ciências, bem como de diversas Academias provinciais e Doutora honoris causa das universidades de Oxford, Atenas, Dublin, Heidelberg, Montréal e Yale. Foi distinguida pelo Estado austríaco com a condecoração para a Ciência e as Artes e recebeu diversos prémios, entre eles o Prémio Ambatiélos, da Académie des inscriptions et belles-lettres (1948), o Prémio Croiset, do Institut de France (1969), o Prémio Langlois, da Académie française (1974), o Grande Prémio da Academia, atribuído pela Académie française (1984), o Prémio Onassis (Atenas, 1995), entre diversos outros prémios gregos, dos quais se destaca o Prémio do Parlamento Grego em 2008, país de que obteve a nacionalidade em 1995. Jacqueline de Romilly faleceu a 18 de Dezembro de 2010, com 97 anos. Página da autora na Academie Francaise Jacqueline de ROMILLY - Académie Française Celebrated French classics scholar dies _ Reuters DN Cultura Faleceu a académica Jacqueline de Romilly, especialista na civilização e língua gregas Faleceu Jacqueline de Romilly, especialista na civilização e língua gregas - JN France24 - French scholar of ancient Greece Romilly dies at 97 French classics scholar Jacqueline de Romilly dies - Washington Post Jacqueline de Romilly murió a los 97 años _ El Economista LE VISAGE - L'héritage de Jacqueline de Romilly - Actualité France - Monde - La Voix du Nord Faleceu no passado dia 18 de Dezembro de 2010 Jacqueline de Romilly, ilustre filóloga, helenista e académica francesa e um dos maiores vultos mundiais dos estudos gregos clássicos. Foi a segunda mulher a integrar a Academia Francesa (Marguerite Yourcenar foi a primeira) e a primeira mulher a dar aulas no prestigiadíssimo Collège de France, precisamente sobre o seu assunto de eleição e que a apaixonou toda a vida: estudos gregos e clássicos. Personagem de invulgar erudição e dimensão intelectual, para além da vastíssima obra que nos deixa Jacqueline de Romilly foi uma incansável pedagoga, que sempre salientou a importância de se estudar em detalhe a civilização e cultura grega clássicas, que enformaram o universo cultural europeu e humanista. Algumas das suas obras estão publicadas por Edições 70, estando previsto para Abril a publicação do seu "Compêndio de Literatura Grega".

Pedro Bernardo, editor da Edições 70”.



Quando o Pedro Benardo afirma que ela faleceu em 2010 não acredite nele, pois eu converso com ela quase todos os dias. Temos um canal direto entre nós, que são os seus livros. Portanto, para mim, ela está vivíssima em sua obra.



Creio que ela fará parte de nossas futuras missivas.



Mas veja dois “novos” conceitos de cultura que quero te apresentar:



Cultura é o que nos fica no espírito, depois de tudo termos esquecido do que havíamos lido”, Edouard Herriot (citado por Vasco de Magalhães-Vilhena, na obra Pequeno Manuel de Filosofia, Sá da Costa, Lisboa: 1974, p. 10).



Diz-se que uma sociedade tem cultura quando:



... exhiben (...) menos la mayor parte de las características siguientes: sistemas organizados de producción de alimentos y bienes; mercados para su intercambio con una moneda que facilite las transacciones; organización social y política con líderes reconocidos y órganos de administración y justicia; y sistemas organizados de educación, actividad de la sociedad civil, defensa y relaciones exteriores, todo ello con una base mayoritariamente urbana que, a su vez, requiere la división del trabajo, la cualificación y especialización profesional, la existencia de métodos para crear y mantener archivos, y, por ende, la alfabetización, así como el tiempo libre, la riqueza y el interés necesarios para fomentar y sustentar Ias diversas artes.” (Fonte: GRAYLING, A.C. El Poder de Las Ideas. Claves para entender el siglo XXI. España: Editora Ariel, 2010, pp. 84/85).



Outro conceito intimamente ligado ao de cultura é o de civilização e acho este muito interessante:



Civilização, isto é, o conjunto das produções culturais e materiais de uma determinada época, de um determinado povo ou da sociedade em geral. Temos, pois uma acepção positiva do termo, na medida em que ele aponta para a aquisição de conhecimentos e de experiências vitais que enriquecem ou elevam os diferentes povos que as produziram.” é o que nos diz Rogério Miranda de Almeida em “A educação na Alemanha”, publicado em Coleção guias de filosofia: Nietzsche (Revista. Volume III. Editora Escala, São Paulo: sem data).



Hoje, queria te propor a renúncia a algo que parece extremamente contraditório, mas espero que, o evoluir das nossas conversas esclareça melhor minha proposta: renunciemos a busca da “verdade!



Ocorre que, pela história registrada, o homem está a mais de dois mil e quinhentos anos (2.500!) procurando a tal verdade e ainda não a encontrou! Portanto, não somos nós – e acredito que ninguém –, que iremos encontrá-la. Fiquemos, portanto, com algo mais concreto: “é assim e assim está funcionando”! Então, tudo bem! Façamos, mas sem obrigação! Sem fazer da busca um fim em si mesmo.



É que conceitos como o de verdade (o que é a verdade), belo, bom, justo etc., estão aí a desafiar o conhecimento humano sem que se tenha dado uma solução que não seja passível de críticas veementes e fundadas.



Já lembrei o poema da Cecília Meireles sobre a “liberdade”, que é outro conceito com o qual o homem trabalha embora não saiba o que é!



Vejamos algo sobre “a beleza”, a título de exemplo dos demais conceitos acima.



- O que é belo para uns, é extremamente feio para outros!



Lembro que até pouco tempo, quando eu via um quadro do Picasso, por exemplo, me espantava ao ouvir alguém dizer que aquilo era bonito, pois eu tinha tudo aquilo por extremamente feio!



Acredito que me aculturei e passei a ver os quadros do pintor como de extrema beleza. Diferente da beleza de um quadro do Da Vinci, por exemplo, mas ambos belos!



No penúltimo parágrafo, acima, falei em “ver”, “ouvir” e “dizer”.



Veja que coisa interessante: você ver um quadro, que é algo material, depois você “diz” a outro o que viu no quadro. Só que entre ver e dizer tem uma distância quilométrica: pois nas palavras com que você “diz o quadro” não está o próprio quadro, estão apenas palavras, que são fluidas e não algo material como é o quadro!



Você pode transformar o quadro em palavras?



Claro que não! Você pode até descrevê-lo, mas a descrição jamais será o quadro e, sendo assim, você jamais vai informar perfeitamente a pessoa que lhe ouve sobre o quadro!



Ademais, será que seu ouvinte tem conhecimentos suficientes para entender o que você está dizendo?



Que gosto tem o chocolate?



Você vai me dizer que tem o gosto de “chocolate”, que é o que eu sinto também, mas será que sentimos o mesmo sabor quando comemos um chocolate?



Não temos como saber! O que você sente com o paladar, me diz com palavras, mas as palavras não têm sabor e odor!



Estamos presos nos problemas da comunicação!



Mas esses problemas foram criados por nós, homens, que não sabemos como deles sair!



Nos amarramos com correntes feitas de fumaça – como são as palavras –, mas não somos capazes de quebrar os elos que nos prendem, e assim ficamos andando em círculo sem saber que direção seguir.



Alguns insistem: busquemos a verdade, e outros seguem isso, mas não sabemos sequer o que estamos procurando.



Renunciemos, assim, a tudo que não tem resposta (e que não tenha obtido respostas a mais de 2.500 anos), nos preocupemos com nossas vidas, com o hoje, o aqui e o agora.



De qualquer modo, parece que sempre estamos numa encruzilhada! Por exemplo:



- as coisas materiais existem por si mesmas ou existem por que nós, seres humanos (racionais), as percebemos (visão, tato)?



Uma pergunta interessante a ser formulada é a seguinte: você já chutou uma pedra? E um chumaço de algodão? Qual a diferença para seus dedos?



Há uma divergência profunda sobre isso. Os pensadores não se entendem! Como de fato não nos entendemos sobre nada mesmo! Às vezes, para convivermos com outros aceitamos certas coisas, mas, no fundo e no raso, as temos como erradas (ou “menos certas”, como diria o Mega Mente [Mega Mind], no desenho animado com o seu nome).



Alguém dirá que isso não é bom. Que não devemos concordar com o que temos por errado. Errado! Se fizermos isso, não convivemos com os demais, basta ver as “mentiras sociais” do tipo: “seu cabelo tá lindo, querida”; “seus sapatos são divinos” etc., quando, na realidade, se fôssemos dizer a verdade, seríamos tidos por “toscos”, trogloditas etc.



Mas a pergunta fundamental é: por que nos prendemos nas palavras?



O mundo é maior e mais rico que as palavras! Então, não temos saída, mas temos, por outro lado, vergonha de admitir a construção da prisão onde nos encerramos.



Voltando ao tema, acredito (ou aceito) que as coisas somente existem por que nós (humanos) as percebemos.



É que o homem, já disse o grego Protágoras (e por isso é amaldiçoado desde então), “é a medida de todas as coisas”.



É claro que é ele sim a medida de tudo!



Que outro animal valora?



Uma pedra só será uma pedra se um homem a tomar para si ou para jogar na vidraça do vizinho! Caso contrário ela não será nada! Nem sequer será percebida, além de não poder dizer “eu sou uma pedra, falem comigo”.



Mas isso também leva a mais problemas!



Os autores costumam dizer que Descartes “é o fundador da filosofia moderna”, como se isso suplantasse uma “velha filosofia”!



Alerta: penso que é totalmente impróprio falar em “velha filosofia”, pois as questões posta desde o início do que hoje temos por filosofia (… e sua história) são, praticamente, as mesmas! Não são as mesmas por que vieram outras, mas as iniciais continuam sem respostas!



Voltando: e Descartes teria como marco de seu pensar e seria o nascer da “nova” filosofia na frase: “penso, logo existo”, onde a única certeza, então, seria a existência do ser pensante (do homem que pensa).



Mas ele será atacado e nascerá “O erro de Descartes apontado por Nietzsche”!



Tem um livro, “O erro de Descartes”, de autoria do cientista português António Damasio, mas este trata de um estudo na mente por um médico (neurocirurgião)! Não nos interessa no momento.



Copiei e colei a explicação de Nietzsche sobre Descartes. Veja:



Ora, mas para dizer esse 'basta', o que Nietzsche faz para nos convencer? Simples, ele lança mão de duas estratégias. Primeiro: ele ataca a própria figura do sujeito, mostrando-o como alguma coisa que não tem os poderes que a filosofia lhe conferiu. Segundo: ele ataca a noção de verdade dos lógicos, mostrando-a como nada além de mais um artifício retórico. No caso do sujeito, o que ele faz é defender a ideia de que a vontade autônoma, baseada na liberdade, que seria própria de todo e qualquer sujeito, enquanto sujeito filosófico, não existe.

No caso da verdade, o que ele faz é tentar expor como que o conceito de metáfora está presente em qualquer uso de nossa linguagem e, então, também no que batizamos como verdade.

No primeiro caso, o combate de Nietzsche é simples. Ele repete o 'Eu penso' de Descartes para lembrar que ninguém pode, honestamente, dizer essa frase com o grau afirmativo que em principio se diz. Ninguém pode dizer 'Eu penso' isso e aquilo e não aquela outra coisa. Não! Nietzsche lembra que o pensamento ganha do 'eu' pois ele, pensamento, é que vem quando ele deseja, sem seguir o sujeito, o eu, e mesmo sem pedir licença para este. Assim, se notarmos bem a experiência do 'Eu penso', veremos que o cogito que ele apresenta e que se faz modelo da subjetividade moderna, se apresenta já com superpoderes de decisão que não possui. Fala como se estivesse exercendo autonomia em um mundo livre e que lhe dá liberdade, mas isso é uma ilusão. Nenhum de nós decide pensar e o que pensar e consegue assim fazer. No meio do que achamos que decidimos pensar, outros pensamentos que não chamamos, não invocamos, não criamos, surgem e ocupam espaço. Certamente, durante as seis meditações, Descartes pensou muito mais coisa do que aquilo que diz que pensou, no exército do seu 'Eu penso', naquela semana que ficou nu diante da lareira. As Meditações relataram apenas o que foi possível dizer. Como se o Eu fosse determinador e determinante do que foi dito durante aqueles dias.

Assim lembrando, Nietzsche quebrou as pernas do 'eu'. Mostrou que a ideia de um sujeito livre, como uma instância que controla o pensamento e a ação, não se verifica.

Então, a própria noção de sujeito filosófico que por definição, em geral, pode ser vista como 'o eu consciente de seus pensamentos e responsável pelos seus atos', não diz algo que possamos ver efetivamente funcionando. Não se trata de driblar a diferença entre sujeito e individuo psicológico. Não! Trata-se, sim, de mostrar que o sujeito filosófico é definido de um modo que o faz artificial demais. 'Eu penso' implica um ego livre, autônomo. Ora, mas quando fazemos o exercício de pensar, nós mesmos, a partir da experiência de Descartes (que é um eu empírico que tenta aos poucos funcionar como um sujeito filosófico, um avô do sujeito transcendental), percebemos que não exercemos a autonomia com a qual Descartes diz operar já de início. Ficamos desconfiados, então, que embutir a liberdade da vontade no sujeito é uma operação artificial demais.” (Revista. Volume III. Editora Escala, São Paulo: sem data, pp. 78 e 79).



Compreendeu?



Claro, mas tudo pode ser resumido no seguinte:



Nenhum de nós decide pensar e o que pensar e consegue assim fazer”.



Às vezes, dizemos para nós mesmos: vou pensar nisso para não ter medo, mas, quando nos damos conta, estamos pensando no que não queríamos pensar!



Não vou mais pensar no Maraãzinho, meu namorado”, dirá a moça de bom gosto no futuro, “mas o menino não para de vir ao meu pensamento!”, concluirá.



Não existe uma chave no cérebro que a gente possa ligar e desligar para pensar nisso e não naquilo! Felizmente, dirá Nietzsche.



Lembro que uma colega de PUC-SP dizia que, quando leu um livro difícil de determinado autor (Niklas Luhmann, salvo engano), colocava sua mesa numa posição para que, quando ela sentasse na cadeira, ficasse olhando para a parede branca, de modo a “não desviar” o pensamento! Mas, isso, dizia ela, nem sempre funcionava.



Quem escreve poesia sabe: não somos nós que pensamos a poesia, é ela que “nos pensa”! Vem e vai a hora que quer, não na hora que queremos.



Portanto, Nietzsche, que também não é interessante para as religiões, especialmente o cristianismo, é tido como maldito! Mas que ele “pegou o Descartes pelo pé” isso ele pegou!



Não acredite que se peca em pensamento, pois você pensa “sem querer”, logo, não pode ser castigada por algo que você não fez e não tinha como evitar que acontecesse!



Espero que no futuro tenhamos oportunidade de falar mais sobre o outro maldito, Protágoras, pois vale a pena!



A história escrita diz que a filosofia começou na Grécia, já dissemos isso, mas agora é hora de avançar.



Dizem que nasceu com Tales de Mileto.



Naquele tempo as pessoas não tinham sobrenome! O Tales é de Mileto por ter nascido na cidade/colônia grega de Mileto, que ficava na “Ásia Menor”, onde hoje é a Turquia.



É por isso que meu filho chama-se Osório di Maraã, embora ele tenha nascido em São Paulo!



Se eu dissesse para um grego da época o nome do Osório di Maraã, ele pensaria que o pimpolho tinha nascido naquela cidade do Amazonas! Mas estaria sendo enganado pelas palavras, pois, como eu disse, ele nasceu em São Paulo.



Viu como as palavras nos levam por caminhos “menos certos”?



Voltando ao Tales: ele propôs que a essência de todas as coisas, onde tudo tinha origem, ou provinha, era a água!



Hoje alguns costumam rir desta proposta! Parece uma coisa boba!



Mas, quando foi elaborada, isso significou uma revolução!



Outro problema envolvendo o conhecimento está no contexto: quando (data), onde (local), quem disse (autor) e para quem disse (ouvinte) etc.



Eu te amo”.



Esta frase será interpretada de várias maneiras dependo do contexto em que foi externada.



- se dita por um pai para um filho, terá determinado significado,



- se dita pelo namorado à namorada, terá outro.



E assim sucessivamente.





Então, quando Tales disse que tudo vinha da água, por volta do século vi antes da era atual, era isso uma novidade muito grande.



É que ele observou que tudo que tem vida é úmido!



Uma semente, por exemplo, só brota se ele não estiver seca. Acabou a umidade, ela está morta!



Óvulo e espermatozóides vivem em ambientes úmidos!



Tudo parece tão simples hoje, não é mesmo?



Mas é que antes desta proposição de Tales tudo era explicado pelo sobrenatural.



Era um deus que criara o homem a partir do barro; o homem nasceu de um ovo de um cisne; uma mulher foi feita de madeira e uma deusa lhe deu vida etc. Estas eram explicações religiosas e/ou mitológicas.



As explicações mitológicas foram e são muito úteis até hoje. Na falta de uma melhor, elas servem!



Mas o que Tales queria era ir além dessas explicações que dependem mais da ignorância e do medo de que da racionalidade!



É esta exatamente a novidade que ele trará: a racionalidade.





Tales será o primeiro, nos registros da história, a fazer da razão uma ferramenta para explicar tudo, ou, pelo menos, tentar.



Essa foi e é a grande e inestimável contribuição de Tales.



Depois, com o evoluir, a própria razão vai ser posta abaixo e se tornar, ela também, um mito. Mas veremos isso oportunamente.



É claro que, pelo uso da própria razão, depois alguém vai perceber que a teoria de Tales está furada! Como?



É que a água continuou sendo água e nada mais surgia/nascia dela!



(Girinos e aedes aegypti não nascem da água, mas na água! Seus pais são batráquios/sapos e rãs e aedes aegypti, respectivamente, que depositam seus ovos na água, pois ela é o ambiente apropriado).



Quando, então, parou esse processo de tudo vir da água?



Estava derrubada a teoria, mas estava plantado em definitivo o uso da razão para explicar ou tentar explicar tudo que ocorre com o ser humano e ao seu redor.



Mas, por falar em água, será que o Guilherme Arantes, ao compor “Planeta água”, abaixo, pensou no Tales?



Água que nasce na fonte
Serena do mundo
E que abre um
Profundo grotão
Água que faz inocente
Riacho e deságua
Na corrente do ribeirão...



Águas escuras dos rios
Que levam
A fertilidade ao sertão
Águas que banham aldeias
E matam a sede da população...

Águas que caem das pedras
No véu das cascatas
Ronco de trovão
E depois dormem tranqüilas
No leito dos lagos
No leito dos lagos...

Água dos igarapés
Onde Iara, a mãe d'água
É misteriosa canção
Água que o sol evapora
Pro céu vai embora
Virar nuvens de algodão...

Gotas de água da chuva
Alegre arco-íris
Sobre a plantação
Gotas de água da chuva
Tão tristes, são lágrimas
Na inundação...

Águas que movem moinhos
São as mesmas águas
Que encharcam o chão
E sempre voltam humildes
Pro fundo da terra
Pro fundo da terra...

Terra! Planeta Água
Terra! Planeta Água
Terra! Planeta Água...

Água que nasce na fonte
Serena do mundo
E que abre um
Profundo grotão
Água que faz inocente
Riacho e deságua
Na corrente do ribeirão...

Águas escuras dos rios
Que levam a fertilidade ao sertão
Águas que banham aldeias
E matam a sede da população...

Águas que movem moinhos
São as mesmas águas
Que encharcam o chão
E sempre voltam humildes
Pro fundo da terra
Pro fundo da terra...



Terra! Planeta Água
Terra! Planeta Água
Terra! Planeta Água...(2x)”



Espero não ter te cansado. Que esta te encontre com saúde e recomendações à família.



Até mais,



Osório

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