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O DESAFIO DE INOVAR O PENSAMENTO FOSSILIZADO

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O academicismo, paradoxalmente, tem sido apontado, desde há muito, como um empecilho à "divulgação" de pensamento novo. Cervantes, por exemplo, ao trazer ao mundo sua obra imortal, o D. Quixote de La Mancha, se queixava de não ter nenhuma pessoa renomada na qual pudesse apoiar o seu escrito. Graças a Deus não tinha, pois deu no que deu, o Quixote está aí em plena juventude, tendo sido eleito o melhor livro de todos os tempos.

Hoje, ao lermos qualquer obra acadêmica (monografia, na graduação; dissertação para o mestrado e tese no doutorado), bem como os livros voltados para o mundo do Direito, o que vemos é uma repetição infindável de citação de outros autores, em cujo pensamento o novo autor busca encontrar apoio para o seu próprio pensamento. Com essa prática cria-se um círculo vicioso: fulano cita cicrano, que cita beltrano, que cita fulano...

E o novo? E as inovações?

Os próprios mestres chegam a não valorizar as inovações, isso quando lêem os trabalhos de seus orientandos. Costumam, simplesmente, recomendar a supressão das partes que não estejam asseguradas por autoridade de autor renomado.

 

É claro que é muito difícil criar, embora não seja impossível. Podemos constatar essa dificuldade desde os primeiros escritores gregos, que também expunham seus pensamentos sempre contrapondo-os aos pensamentos de outros gregos. Zenão, com seus paradoxos, nada mais fazia que combater os pitagóricos, ou seja, valia-se, aí, também dos pensamentos dos outros, embora para contradizê-los.

Como sair desse círculo?

Creio que isso deva ser buscado com a aceitação do novo, do diferente, e até do absurdo. O que, reconheço, não é fácil, principalmente no último caso. Mas Galileu Galilei não disse o "absurdo", quando asseverou que a terra não era o centro do universo?

Uma questão de difícil resolução é, também, saber o que é o novo, principalmente na exposição de pensamentos. É que, inúmeras vezes, acreditamos, com a mais pura honestidade intelectual, estar dizendo algo inovador, absolutamente ímpar, original, quando, na verdade, estamos, simplesmente, repetindo o que outro pensador já dissera há bastante tempo! É uma frustração, embora reste-nos o consolo de sabermos que pensamos igual a outrem, sem que do pensamento dele tivéssemos conhecimento. Isso é mais comum do que se imagina.

Outro fator de inibição da exposição de pensamentos na cultura latina, acredito, deve-se, ainda, a Cervantes, que impregnou a mente de muitos com a afirmativa genial para seus propósitos quixotescos, mas verdadeiramente tola para a vida, que estudar (ler) muito pode ser causa de loucura, já que o Quixote ficou louco de tanto ler!

Na verdade o cérebro, que funciona como um winchester (disco rígido) de um computador, dele se diferencia, dentre vários outros aspectos, pela sua capacidade infinita de armazenar dados (informações).

Logo, podemos ler a vontade e o quando pudermos, sem medo de enlouquecer, pois é a leitura a principal fonte a exercitar a criatividade. É lendo que somos despertados para a abordagem de aspectos de determinado assunto até então não abordado, ou mesmo para assuntos totalmente inéditos.

Aos nossos leitores, pedimos paciência e perseverança na leitura de nossos escritos, que hoje se iniciam, a fim de que conheçam o nosso pensamento, bem como que sejam críticos sobre o material, pois somente assim seremos despertados para aspectos que não abordamos ou que abordamos de forma equivocada ou, ainda, obscura.

Osório Barbosa
procurador da República e mestre em direito constitucional (PUC-SP)

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