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Uma investigação pela saudade! (procurando um desconhecido: Cosmo!)

 

 

Cosmo Alfarrábio

 

Uma investigação pela saudade!

(procurando um desconhecido: Cosmo!)

 

Meu conhecido Isildo consultava-me sobre sua possível ida à Manaus para conhecer a cidade. Disse-me que gostaria de conhecer suas livrarias e sebos.

 

Respondi-lhe que Manaus tem poucas livrarias e menos sebos ainda! Que, ao que me lembrava, tem dois sebos, um deles, o maior, situado na av. Getúlio Vargas, de nome Alfarrábio.

 

Isildo pulou na cadeira e, apontando para o outro lado da rua, onde localiza-se uma lanchonete, comentou:

 

- Você lembra do Alfarrábio que frequentava o BH?

 

- Quem?!

 

- Um senhor de barbas longas que caminhava com uma bengala e sempre estava ali, apontou novamente.

 

Bingo!

 

O processador entrou em funcionamento e lembrei-me da figura!

 

Um homem baixinho e de cabelos e barbas longas e bigode curto, pois, este, sempre estava aparado. Além de ser mais escuro que o restante de seus pelos.

 

Chamava-me a atenção o fato de ele parecer com a figura de Antônio Conselheiro, o homem de Canudos.

 

Comecei a vê-lo na região da rua Augusta há cerca de quinze anos, mas não o vejo mais na área há cerca de uns oito anos!

 

Nos perguntamos: onde ele está? O que aconteceu com ele?

 

Atravessei a rua e fui até uma banca que fica ao lado da mesa em que o dito homem sempre ocupava e perguntei ao proprietário, o Reinaldo, sobre a dita figura, que apenas descrevi, pois até então não sabia o seu nome. Foi, então, que o Reinaldo me disse que ele se chama Cosmo, mas que também não sabia mais nada sobre ele, apenas que tinha sumido da região.

 

Com esses poucos dados, dois, três dias depois, fui à internet, google, e busquei por “Cosmo Rua Augusta” e tchan, tchan, tchan, aparece-me na tela do celular o “Cosmo em pessoa”!

 

Feliz, no dia seguinte mostrei a foto para o Isildo, Reinaldo e outros que também conhecem o Cosmo.

 

Finalmente tínhamos algo sobre a ilustre figura que enfeitava a esquina das ruas Augusta com Luís Coelho.

 

Alguns dias depois, Reinaldo me chamou e me apresentou a um senhor de nome Canuto, amigo do Cosmo da época em que este trabalhava na rua Augusta.

 

O simpático Canuto disse-me que Cosmo tinha uma loja, de número 16, na Galeria “Augusta Shops”, na própria rua Augusta, e que agora estava internado numa casa para idosos no bairro do Pari.

 

Essas novas informações trouxeram-me à mente o fato de Cosmo, depois de “abandonar” a galeria, ter passado a vender seus livros na esquina das ruas Augusta com Antônio Carlos, e lá cheguei a comprar alguns livros com ele, que sempre estava muito sério. Nenhum mísero sorriso, como a não deixar brecha para o pedido de desconto.

 

No sítio onde encontrei a foto do Cosmo (http://zadoque.com/2011/Prefeitura-contra-as-bancas-01.php), a chamada da matéria na qual ele é entrevistado diz: “Prefeitura contra as bancas de sebos e de revistas usadas”. Então passei a imaginar uma das possíveis causas para a ausências de Cosmo do seu cantinho favorito no final das tardes para seu happy hour!

 

Às segundas-feiras jogo futebol e fico os outros dias da semana mancando, pois aos cinquenta e quatro anos as coisas já não estão tão azeitadas como a gente queria e, foi ao me ver mancando, que Reginaldo, na presença de Canuto, comentou:

 

- Você está igual ao Cosmo, baixinho e mancando!

 

Rimos.

 

- Mas, no meu caso, mancar vem de eu ser um craque do e no futebol.

 

- Melhor assim, disse Reginaldo, pois no caso dele é gota.

 

Com mais uma informação sobre o prontuário de Cosmo, fui conhecer o Pari à procura da tal casa para idosos.

 

Antes de ir ao Pari, perguntei a um conhecido, o chileno Ludwig, que vende periscópio na Rua Augusta, se ele conhecia o Cosmo. Ele disse que sim e que tinha estado com ele fazia poucos dias!

 

Fiquei feliz e combinamos uma visita ao Cosmo, já que o meu informante disse que sabia chegar ao local, mas não sabia dizer o nome da rua, pois não sabia, acrescentando que também era difícil chegar lá.

 

Marcamos para uma manhã de segunda-feira, mas, por um motivo qualquer, não fomos. Além do mais, nossos horários não combinam. Estou na região da rua Augusta durante o dia e o Ludwig à noite.

 

Pedi ajuda ao senhor Nardinho, que tem uma oficina que conserta radiadores no Pari, onde já levei um de meus carros. Ele me disse que não conhecia nenhum abrigo na área, mas ficou com meu telefone e disse que se soubesse de algo me avisaria. Não avisou.

 

No bar Monarca, em 06.05.14, eu e Isildo fomos acompanhados por um parceiro, o professor Jair, que estava, por sua vez, acompanhado de um amigo. Na hora que esse amigou foi se despedir de todos, disse, não lembro a razão, que morava no Pari.

 

Perguntei, imediatamente, se ele conhecia alguma casa de acolhimento de idosos no bairro. Ele disse que tinham várias! Acrescentou que um deles era mantido pelo poder público. Ele, então, me disse que sabia onde tinha um desses abrigos:

 

- Na praça Cantuta, tem o IFESP e, ao lado dele, tem um abrigo.

 

- Como faço para chegar lá?

 

- Do que você vai?

 

- De metrô.

 

- Desça na estação Armênia e pegue a avenida Cruzeiro do Sul, que fica a esquerda de quem desce da estação e vá em frente. No final dela está a praça. É onde se reúnem os bolivianos para venderem coisas da sua terra e conversarem.

 

Agradeci e ele se foi.

 

Num sábado, 17.05.14, depois de ter procurado sem sucesso na internet os abrigos públicos para idosos no Pari e não ter conseguido, munido da fotografia do Cosmo baixada da internet, me aventurei na empreitada investigativa.

 

Desci na estação Armênia do metrô. Segui, a pé, pela avenida Cruzeiro do Sul, que é a principal. Andei bastante, pois a praça fica bem distante da estação. Cheguei ao IFESP e uma moça foi até o portão e, gentilmente, tentou me ajudar. Disse-me que eu tinha passado em frente a um abrigo, que ficava na mesma calçada.

 

Agradeci e voltei.

 

Dois homens, conversavam no portão. Pelo teor da conversa percebi que eram moradores de rua. Um deles dizia que estava querendo voltar para aquele abrigo, já que aquele em que ele estava dormindo era muito ruim, “tem um cara lá que é muito chato!”, disse.

 

Esperei, sentido o cheiro forte de álcool que eles exalavam, que parassem por um instante a conversa entre eles para que eu pudesse perguntar como fazia para me informar sobre um possível morador do local. Aberta a brecha, perguntei e um deles indicou-me a campainha. Toquei e logo em seguida veio um homem de cerca de 30 anos me atender.

 

Um dos homens se antecipou e perguntou se podia passar a noite ali. O rapaz disse que ele voltasse depois das 19 horas.

 

Perguntei, então, mostrando a foto, se Cosmo morava ali. O rapaz respondeu negativamente. Indaguei-lhe se existiam outros abrigos na região. Ele disse que sim. Na mesma calçada, depois da praça tinham mais dois abrigos. Rumei para lá. Parei em um boteco e perguntei a um garçom, mostrando-lhe a foto, se ele conhecia aquele homem. Ele respondeu que não, mas que eu podia ser informado no abrigo ao qual eu tinha visitado a pouco. Agradeci e caminhei.

 

Já estava escuro. A noite chegou mais cedo!

 

No outro abrigo, que fica na mesma rua, só que bem distante do primeiro, fui atendido por uma jovem senhora, que me disse não conhecer o homem da foto, portanto, que Cosmo não estava lá. Um jovem, cerca de 18 anos, morador do abrigo e engraxate, vi pela caixa pendurada em seu ombro, aproximou-se de nós e disse-nos que já tinha visto aquela pessoa nas redondezas, só não lembrava onde. Perguntei onde era o terceiro abrigo. “O senhor sai e vira a esquerda, depois esquerda de novo. Fica atrás deste aqui, só que não tem passagem de um para o outro”. Agradeci e fui para lá.

 

Pessoas dormiam sobre colchões e catres jogados pelas calçadas. Fumavam e bebiam. Alguns acendiam seus cachimbos para fumar “crack”. Fiquei com medo, mas não fui incomodado, sequer por um pedido do que quer que seja.

 

No abrigo fui atendido por um casal de funcionários que ao olharem a foto disseram-me que ali não morava tal pessoa. Antes, contudo, quiseram saber qual o motivo da minha busca por aquela pessoa, especialmente quando eu disse que não era parente do Cosmo.

 

Respondi rapidamente e saí.

 

A escuridão da rua era quase total. Fiz o percurso inverso: direita e direita e cheguei novamente à avenida Cruzeiro do Sul, mais iluminada, porém deserta! Também não fui incomodado no meu regresso, apesar das muitas pessoas que eu supus serem moradoras de rua.

 

Voltei ao segundo abrigo que visitara.

 

Disse ao jovem engraxate que o recompensaria se ele localizasse o Cosme.

 

... continua em: https://www.youtube.com/watch?v=rPo_CVn5zZA&t=135s.

 

Obs.: ainda devo o passeio ao Cosmo, o qual, após meus guere-gueres de saúde, espero pagar este ano, com a ajudado do Ludwig Henriquez Ravest!

 

Inté,

 

Osório Barbosa

 

P.S.: o escrito acima foi publicado, inicialmente, em 16 de janeiro de 2017, recentemente o amigo Sebastian Moraes me disse que o Cosmo faleceu. Infelizmente não paguei minha promessa para com ele!